Quem acusar a revista de papel LivreMercado de qualquer coisa que ligue ao descrédito a iniciativas inéditas ou não para dinamizar a economia da região é provavelmente uma combinação de ignorante e maledicente. O texto abaixo, da jornalista Vera Guazzelli, publicado na edição de julho de 2000, mostra o quanto a publicação acreditava na possibilidade de reversão do quadro de empobrecimento regional. E não fora a primeira vez que LivreMercado trocava o ceticismo certeiro pelo otimismo lotérico.
O texto que se segue traçava perspectiva que jamais se confirmou, porque os agentes responsáveis pelo empreendimento não foram além de palavras.
Mais que isso: o local da exposição, de propriedade do empresário Sérgio De Nadai, mais tarde metido em falcatruas de merenda escolar, virou empreendimento imobiliário de confirmadíssimas irregularidades denunciadas por este jornalista. Nada se apurou para valer e aquelas torres residenciais que saltaram espaço aéreo acima, mesmo como diagnósticos corrosivos, seguem ocupadas. O terreno contaminado de uma indústria química jamais passou por reparação.
Esta é a centésima-quinquagésima-sétima edição da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País -- de LivreMercado e CapitalSocial.
Exposição mostra
caminho das pedras
VERA GUAZZELLI - 03/07/2000
A 1ª Santo André Expo, que mobilizou 54 expositores no Espaço De Nadai, antiga fábrica da Atlantis, permite reflexão quase irônica sobre o momento econômico vivido pela cidade. Justamente num dos muitos galpões desocupados e onde funcionou tradicional empresa química, Santo André descobriu com quase 20 anos de atraso que é possível interagir, fortalecer o marketing institucional e se mostrar à comunidade utilizando o potencial do próprio Município.
Apesar de modesta, a feira contou com estrutura e organização profissionais e procurou despertar a região para o turismo de negócios e para o fortalecimento de relações entre as próprias empresas locais. Afinal, não é de hoje que se discute a necessidade de o Grande ABC contar com um centro de convenções à altura da tradição empreendedora para fomentar empregos, economia e impostos.
Desde que a Vera Cruz entrou em obras para resgatar a origem cinematográfica, a região perdeu espaço que sediava precariamente exposições, sobretudo do setor moveleiro, e passou a organizar feiras em áreas ainda mais improvisadas. Concebida como institucional, a Expo Santo André teve a missão de mostrar, também em local pouco apropriado, que com profissionalismo é possível atrair público e expositores, mesmo em espaços infinitamente menores que o Anhembi, por exemplo. Balanço preliminar indica que 22 mil visitantes estiveram na Expo Santo André.
Mais no próximo ano
Os organizadores planejam repetir o evento no próximo ano. Caminho, aliás, considerado ideal por especialistas no assunto, para criar tradição e fidelização. Somente cronograma elaborado com antecedência pode conquistar público habituado a expor e frequentar feiras de negócios nas grandes metrópoles brasileiras e do Exterior. "A perspectiva para a continuidade é total. Se o espaço for ampliado com a utilização de áreas ociosas as possibilidades se ampliam para eventos culturais e até sociais" -- analisa a representante da Frate Promoções e Eventos, responsável pela organização da Expo, Andrea Lemos Brito.
Como a Expo foi apenas um passo, também seria inconsequente comparar os aproximados cinco mil metros quadrados do espaço disponível para exposição -- 1,3 mil metros quadrados utilizados na Expo Santo André -- com os 67,6 mil metros quadrados do Pavilhão do Anhembi. "Sou favorável à continuidade da feira no local, porque há condições de ampliar a área para exposições" -- enfatiza o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Nelson Tadeu Pereira.
O empresário Sérgio De Nadai, proprietário do espaço onde foi realizado a Expo Santo André, anunciou a intenção de oficializar o centro de convenções, enquanto pensa na melhor forma de adequar a estrutura do antigo galpão da Atlantis. "Durante a feira, recebi quatro solicitações de locação para eventos similares. Além disso, quero dobrar a capacidade de expositores para a próxima Expo" -- festeja.
Só feiras
Muitas cidades se tornaram famosas mundialmente por aprimorarem a estrutura de eventos. Hannover, cidade alemã com 350 mil habitantes, vive das feiras e para as feiras. São 16 megaeventos por ano, que ocupam 26 pavilhões com 730 mil metros quadrados de áreas de exposição, além de outros 950 mil metros quadrados de apoio. A cidade de São Paulo, que conta com pelo menos 10 espaços para feiras e convenções, recebe 28,63% de turistas a negócios e outros 4,95% exclusivamente para feiras e congressos.
Direta e indiretamente, o turismo de eventos fatura anualmente em São Paulo US$ 2,8 bilhões e é responsável pelo recolhimento de US$ 110 milhões em impostos. Os números são pequenos se comparados aos dos Estados Unidos, que movimentam US$ 83 bilhões por ano em feiras, congressos e convenções. Valores que, sem dúvida, servem de estímulo a quem não pode acomodar-se na história de sucesso da indústria tradicional e busca alternativas para permanecer como referência no cenário econômico.
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