A jornalista Vera Guazzelli mostrou na edição de setembro de 2000 da revista LivreMercado o movimento de dinheiros em investimentos no Grande ABC. Os empreendedores se concentravam nas áreas de serviços e varejo. Afinal, todos estavam atentos à importância de uma população consumista de mais de 2,4 milhões de então. Mas a jornalista também registrava aporte industrial de uma das montadoras.
A diferença, registrada em forma de análises ao longo dos anos de circulação da revista, é que na maioria dos casos o setor industrial investia para ganhar competitividade. E as medidas geravam contragolpes de produtividade em forma de desemprego.
Esta é a centésima-sexagésima-sexta edição da série 30ANOS do melhor jornalismo regional do País – os 19 anos de LivreMercado de papel e os também e parcialmente sobrepostos 19 anos de CapitalSocial digital.
Naufrágio em meio
a muitos milhões
VERA GUAZZELLI - 05/09/2000
É bastante dinheiro. O movimento anunciado nos setores de varejo e serviços no Grande ABC em agosto movimenta cifras que ultrapassam R$ 300 milhões para os próximos dois anos. Apesar do impacto positivo dos números, do anúncio oficial da inauguração do Auto Shopping Global dia 16, em Santo André, e do início das obras do Mauá Plaza Shopping, em Mauá, há uma baixa a lamentar. O Promoshopping, que desembarcou em Diadema em novembro do ano passado e prometia integrar a cidade ao circuito dos granes centros de compra, fechou as portas. Antes mesmo de completar um ano, o empreendimento sucumbiu, vítima provavelmente pela ineficácia de planejamento e decisões administrativas equivocadas.
Concebido para seguir o conceito de comercialização dos outlets, o Promoshopping abriu as portas com a projeção de atender 250 mil pessoas por mês, mas naufragou na precipitação. Depois de quase oito anos de obras paralisadas, a Maxinvest Participações, que iria construir shopping tradicional na área, decidiu redirecionar o empreendimento e em pouco mais de dois meses colocou para funcionar espaço de seis mil metros quadrados de área construída com 223 lojas tipo boxes.
Cobrança desestimuladora
A formatação não atraiu comerciantes e grifes tradicionais. A única exceção ficou por conta de quiosque do Mc Donalds, cujas dimensões não configuravam chamariz. A cobrança do estacionamento acabou desestimulando o público. Com 1.250 vagas rotativas, o shopping não apresentava procura maior que oferta, fato que justificaria o pagamento.
Com mix formado basicamente por microempresários, entusiasmo inicial passou tão rápido quanto a sazonalidade das vendas de final de ano, quando foi inaugurado. Os contratos de locação de apenas quatro meses acabaram confundidos com espaço temporário de feiras. Não houve renovação e nem chegaram novos inquilinos. O problema não foi a localização. O endereço chegou a ser escolhido pela rede Pão-de-Açúcar, pouco antes da aquisição do Barateiro, para instalação de supermercado. "Acredito que ainda seja possível redirecionar o empreendimento, o que seria muito importante porque Diadema tem mercado potencial e carece de centros de compra mais arrojados" -- analisa Filipe dos Anjos Marques, membro do Conselho Consultivo da Acid (Associação Comercial e Industrial de Diadema).
Mauá prepara shopping
Décima-oitava colocado no ranking estadual do índice de Potencial de Consumo da Target, Diadema amarga a perda do Promoshopping. Já Mauá, 15ª no mesmo ranking e com perfil socioeconômico semelhante, comemora o início das obras do Mauá Plaza Shopping.
Idealizado pelo Grupo Peralta, terá quatro âncoras -- Telhanorte já está confirmada -- 153 lojas satélites, 15 fast-foods, 31 lojas de serviço, área de diversões e cinema, 2.721 vagas de estacionamento, além do Hipermercado Extra que inicia as atividades em abril de 2001, seis meses antes do restante do shopping.
O projeto, concebido para demanda diária de 30 mil consumidores, é o primeiro do gênero na cidade. Com investimentos estimados em R$ 50 milhões, o shopping vai provocar remodelação no complicado sistema viário central. Além das pistas de desaceleração, o Grupo Peralta assumiu a construção de duas novas avenidas para facilitar o acesso e auxiliar a ligação entre os dois lados do Município cortados pela ferrovia.
Constam também do projeto torre com escritórios comerciais e um hotel. No final do ano passado, a Prefeitura de Mauá doou cerca de um terço da área para que o Grupo Peralta pudesse complementar os 93,6 mil metros quadrados de área total construída.
Shopping de veículos
Outro empreendimento sai do papel dia 16, depois de sucessivos adiamentos nos últimos dois anos. O Auto Shopping Global na Avenida dos Estados, em Santo André, reúne 50 lojas de veículos seminovos multimarca e outras 54 ligadas ao setor automotivo -- despachantes, reparos e serviços. Com mais de mil vagas de estacionamento, o Auto Shopping já tem 80% dos espaços ocupados e inicia atividades com oferta de aproximadamente 500 veículos para público estimado em seis mil consumidores/dia. A projeção de R$ 500 milhões anuais de faturamento e três mil automóveis vendidos mensalmente tem base em estatísticas do próprio setor. Em 1999, para cada veículo novo foram vendidos 3,06 seminovos com até sete anos de uso. "Nossos veículos terão garantia de câmbio, motor e procedência" -- garante o administrador Rubens Simonsen.
O Auto Shopping Global é empreendimento da Funcef (Fundação dos Economiários Federais) e está absorvendo R$ 55 milhões. A entidade já anunciou que está disposta a investir outros R$ 150 milhões em complexos de negócios, lazer e compras que prevê mais três shoppings -- de decoração, lazer e convencional --, pavilhão de exposições, hotéis e torres para escritórios.
Todo o projeto foi remodelado pelo arquiteto Rui Otake para se integrar ao Eixo Tamanduatehy. A Prefeitura de Santo André já recebeu o master plan atualizado, que prevê ligação com a vizinha Cidade Pirelli, megaempreendimento do setor de serviços cujas obras também já foram iniciadas.
Outros investimentos
A terceira loja do Sé Supermercados abriu as portas no Shopping ABC, com investimentos de R$ 5 milhões e 11 mil itens. O grupo chegou à região no ano passado quando montou as lojas de Mauá e São Bernardo e planeja investir mais R$ 21 milhões até o final do ano para ampliar a rede regional. Estão previstas mais uma unidade no Bairro jardim, em Santo André, e outra em São Caetano. Em 1999, as 55 lojas de rede faturaram R$714 milhões.
O Shopping ABC ainda aguarda para o final deste mês a inauguração da Tok & Stok, que completa com as lojas Renner e o Sé o trio de âncoras a ocupar o espaço deixado pelo Mappin. Enquanto isso, dois outros centros comerciais anunciam investimentos para atrair grandes lojas. O Shopping Santo André deve aplicar perto de R$ 700 mil para mudar o layout e oferecer lojas com áreas locáveis entre 70 a 100 metros quadrados. Com estratégia, os administradores esperam aumentar de 55% para 85% a área ocupada até o final do ano.
O Golden Shopping, de São Bernardo, também está de olho nos grandes. Foram anunciados R$ 3 milhões a partir deste mês em modernização do visual para atração de três âncoras, um supermercado e seis salas de cinema. A modificação prevê também a mudança da razão social do shopping para sociedade anônima. Os lojistas proprietários dos espaços passariam a ser investidores. Em tese, haveria maior mobilidade para mudanças e facilidades para captação de recursos.
A rede de materiais de construção Center Líder também chegou à região, instalada em área anexa ao Carrefour da Avenida Pereira Barreto, em São Bernardo. A loja consumiu 1,5 milhão e projeta atender de 2,5 mil a 5 mil consumidores por dia, porque se beneficiará do público cativo do hipermercado. Já a associação entre o Grupo Cyrela e Brazil Reality e a Setin Empreendimentos Imobiliários vai resultar em empreendimento hoteleiro ao lado do ABC Plaza Shopping, em Santo André. O complexo será destinado a pool de investidores e terá 306 apartamentos, divididos entre as grifes Ibis e Mercure. Com investimentos de R$ 20 milhões, os hotéis suprem carência do Grande ABC, servido por apenas meia dúzia de hotéis e flats services.
A Mercedes Benz encerrou o quadro de anúncios positivos do mês ao assinar protocolo de intenções com o governo do Estado e a Prefeitura de São Bernardo para implantação de nova unidade no Município. A fábrica de motores para caminhões deve consumir R$ 50 milhões, mas não gerará novos empregos.
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