Tenho uma boa e uma má notícias para quem quer saber para onde está indo a economia e a sociedade do Grande ABC. É bom se preparar para a informação porque o que temos não é uma abordagem adocicada, comum na mídia triunfalista. Os dois lados da moeda precisam ser considerados. O que é positivo hoje pode ser uma parte, apenas uma parte, do que foi destrutivo hoje. É exatamente o caso de que trataremos.
A boa notícia é que São Bernardo retomou a vitalidade industrial perdida de forma mais acentuada com a crise econômica iniciada no governo Dilma Roussseff, quando o PIB (Produto Interno Bruto) mergulhou nos anos 2015 e 2016 e ainda não conseguiu dar um cavalo de pau de avanço. Até porque o complicador da pandemia do Coronavírus apareceu para explodir a dívida pública.
A má notícia é que, mesmo com a recuperação industrial da Capital Econômica do Grande ABC, ainda não voltamos aos números atualizados monetariamente de 2014, quando o PIB Nacional avançou mísero 0,5%.
Buraco a ser tapado
Temos uma Santo André de produção industrial em forma de buraco a ser tapado. É melhor não acreditar que conseguiremos chegar a tanto num horizonte próximo. Uma Santo André de buraco a ser tapado significa que toda a produção industrial da cidade durante um ano é o tamanho do rombo na geração de riqueza industrial no Grande ABC quando se comparam os resultados de 2014 com os de 2018.
Traduzindo: nos últimos 48 meses, a produção industrial do Grande ABC foi impactada com a perda equivalente a uma Santo André inteira. Sobraram, portanto, os outros seis municípios. Ter Santo André de volta é uma dureza. Quase impossível ante o quadro político-institucional do Grande ABC.
Aqui, como se sabe, o Clube dos 38%, ou seja, o Clube dos Prefeitos (os 38% se referem à média de votos disponíveis alcançados pelos novos e prefeitos reeleitos em novembro último) é especializado em aparecer nas páginas de jornais de papel e virtuais. Faz muita marola, mas os resultados econômicos nunca aparecem. Como mostram os dados do PIB Industrial ao longo dos anos.
Acompanhamento histórico
Há 30 anos nas páginas da revista de papel LivreMercado e nas páginas digitais de CapitalSocial acompanho o desenrolar desse jogo bruto de capturar e metabolizar o PIB do Grande ABC e de outras geografias para que o entendimento do que somos e o que nos espera no futuro não seja um lance de cartomancia bem ao gosto de políticos sem compromisso social e acadêmicos preocupados com o próprio currículo e uma boquinha nos partidos políticos e seus tentáculos.
A retomada de São Bernardo em 2018 (os dados se referem ao mais atualizado mapa do PIB dos Municípios Brasileiros, divulgado anteontem pelo IBGE) foi expressiva a bordo da indústria automotiva. Aliás, como revelei ontem ao publicar o desempenho do PIB Geral do Grande ABC naquela temporada, aonde a vaca automotiva vai, São Bernardo vai atrás. E os demais municípios locais também, embora com menos intensidade.
O crescimento da produção industrial de São Bernardo em 2018 foi estonteante. Nada menos que (sem considerar a inflação dos 12 meses) 30,91% em relação a 2017. Os sete municípios do Grande ABC apresentaram crescimento médio na temporada de 2018 de 13,63% na geração de riqueza industrial, carro-chefe do Desenvolvimento Econômico regional.
O problema é que ao se compararem os dados industriais de 2018 com quatro anos antes, em 2014, divisor de águas de um País que entrou em aguda crise econômica, a situação é diversa e preocupante: ainda acusamos perda de 15,72% na indústria de transformação. Isso significa, em valores de dezembro de 2018, R$ 5.804.076 bilhões de defasagem. Uma dinheirama que se rivaliza com o PIB Industrial de Santo André da temporada de 2018, pouco mais de R$ 6 bilhões.
Atrás do prejuízo
Ou seja: o Grande ABC industrial precisa correr muito atrás do prejuízo para, nos próximos anos, voltar ao que era em 2014 na geração de riqueza. Em 2018 o setor representou 24,57% do PIB Geral Regional. Muito acima da média nacional, entre 10% e 12%.
Acompanhe o PIB Industrial individual dos sete municípios do Grande ABC no setor industrial tendo como ponto de largada a temporada de 2014 e como ponto de chegada 2018, em números conclusivos que consideram a inflação do período de 25,64%, medida pelo IPCA do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
Santo André contava com PIB Industrial de R$ 5.366.370 bilhões em 2014 e passou a contar com R$ 6.168.5125.196.162 bilhões em 2018. Perda real de 8,51% no período.
São Bernardo contava com PIB Industrial de R$ 12.497.851 bilhões em 2014 e passou a contar com R$ 12.026.855 bilhões em 2018. Perda real de 23,40%.
São Caetano contava com PIB Industrial de R$ 3.620.810 bilhões em 2014 e passou a contar com R$ 3.133.206 bilhões em 2018. Perda real de 45,19% no período.
Diadema contava com PIB Industrial de R$ 4.026.316 bilhões em 2014 e passou para R$ 4.023.650 bilhões em 2018. Perda real de 25,72%.
Mauá contava com PIB Industrial de R$ 3.112.873 bilhões em 2014 e passou para R$ 4.989.657 bilhões em 2018. Crescimento real de 27,58%.
Ribeirão Pires contava com PIB Industrial de R$ 596.947 milhões em 2014 e passou para R$ 624.802 milhões em 2018. Perda real de 20,03%.
Rio Grande da Serra contava com PIB Industrial de R$ 156.377 milhões em 2014 e passou para R$ 139.187 milhões em 2018. Queda de 41,16% no período.
Mauá sobrevive
Como se observa, apenas Mauá ultrapassou a linha de sobrevivência nos últimos 48 meses medidos pelo IBGE ao registrar saldo de crescimento positivo no PIB Industrial. A Doença Holandesa Químico/Petroquímica explica a situação. Mauá é dependente demais do Polo Petroquímico de Capuava, na divisa com Santo André. O Valor Adicionado da atividade infla o PIB Industrial e ameniza estragos em outros setores de produção industrial.
A Doença Holandesa que impacta Mauá é menos intensa na vizinha Santo André, também beneficiária do Polo Petroquímico. Por isso Santo André perdeu menos que São Bernardo e São Caetano quando se coloca no mesmo ringue métrico o comportamento do PIB Industrial. Ou seja: a Doença Holandesa Químico/Petroquímica mascara a realidade industrial de Santo André. As pequenas e médias indústrias praticamente desapareceram do Município. Mas as grandes e o Polo Petroquímico mitigam as perdas industriais.
Segurando as pontas
O crescimento de 13,63% do PIB Industrial do Grande ABC entre 2017 com 2018 evidencia que a atividade sustentou o avanço do PIB Geral da região no período. Como mostrei ontem, o PIB Geral do Grande ABC cresceu em termos reais, descontada a inflação, 2,85% sobre 2017. Bem menos, portanto, que o PIB Industrial.
Veja o comportamento do PIB Industrial do Grande ABC entre 2017 e 2018:
Santo André contava com PIB Industrial de R$ 5.196.162 bilhões em 2017 e passou para R$ 6.168.513 bilhões em 2018. Crescimento nominal de 18,71%. Crescimento real, descontada a inflação de 3,75%, de 14,42%.
São Bernardo contava com PIB Industrial de R$ 9.186.786 bilhões em 2017 e passou para R$ 12.026.855 bilhões em 2018. Crescimento nominal de 30,91%. Crescimento real, descontada a inflação do período, de 26,18%.
São Caetano contava com PIB Industrial de R$ 2.904.912 bilhões em 2017 e passou para R$ 3.133.206 bilhões em 2018. Crescimento nominal de 7,86%. Crescimento real, descontada a inflação, de 3,81%.
Diadema contava com PIB Industrial de R$ 3.240.519 bilhões em 2017 e passou para R$ 4.023.650 bilhões em 2018. Crescimento nominal de 24,16%. Crescimento real, descontada a inflação, de 19,68%.
Mauá contava com PIB Industrial de R$ 6.017.985 bilhões em 2017 e passou para R$ 4.989.657 bilhões em 2018. Queda nominal de 17,09%. Queda real, descontada a inflação, de 34,01%.
Ribeirão Pires contava com PIB Industrial de 659.196 milhões em 2017 e passou para R$ 624.802 milhões em 2018. Queda nominal de 5,50%. Queda real, descontada a inflação, de 32,55%.
Rio Grande da Serra contava com PIB Industrial de R$ 168.059 milhões em 20178 e passou para R$ 139.187 milhões em 2018. Queda nominal de 20,74%. Queda real, descontada a inflação, de 25,27%.
Aguardem mais capítulos sobre o PIB do Grande ABC.
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