Os dois primeiros anos já apurados em nível nacional do PIB do governo Jair Bolsonaro vão ser mensurados em termos regionais apenas nos próximos 20 meses (em dezembro deste ano relativo a 2019 e em dezembro do ano que vem relativo a 2020). Mas vou especular com fundamentação. Vamos perder algo como um PIB Geral de São Caetano ao fim das duas temporadas do novo governo federal. Nada comparável ao que perdemos na grande recessão de Dilma Rousseff entre 2014-2015.
Em suma, estou antecipando o PIB Geral do Grande ABC de 2020. Há risco no diagnóstico, mas nada que seja erro clamoroso. Longe disso. Confio no meu taco.
É claro que a pandemia terá influência fortíssima no comportamento da economia do Grande ABC nos dois anos já consumados e a serem exumados do governo de Jair Bolsonaro. Terá relativamente o mesmo peso das comodities no segundo mandato do governo Lula da Silva. Os asiáticos, sobretudo os chineses, catapultaram o crescimento extraordinário no período, média superior a 4%. Tudo desfeito nos anos seguintes por Dilma Rousseff, em ações próprias e de gastança do antecessor.
Quero brincar um pouco com os leitores a respeito do PIB do Grande ABC de forma a tornar mais interessante a aridez econômica compulsória do tema.
Geográfico e econômico
Os leitores saberiam distinguir o que é mapa geográfico de mapa econômico para, num passo seguinte, desfazer-se ou deixar de lado o primeiro desenho de espaços relativos do território de cada Município da região e adotar um segundo desenho em que prevaleçam os espaços relativos do poderio econômico?
No mapa geográfico e no mapa econômico São Bernardo é carro-chefe do Grande ABC. A participação territorial é de 49,45% do universo regional de 828.190 quilômetros quadrados. Santo André vem em seguida com 21,11%. Os 30% restantes ficam com São Caetano (apenas 1,85%), Diadema (3,71%), Mauá (7,47%), Ribeirão Pires (11,97%) e Rio Grande da Serra (4,43%).
No mapa geográfico não há como alterar a configuração do desenho territorial individual dos sete municípios e tampouco o encaixe de quebra-cabeça de regionalidade física que dá uma configuração conhecida à identidade visual do espaço regional na Região Metropolitana de São Paulo.
Essa tipologia de mapa é conhecidíssima mesmo para quem não dá a menor bola à geometria de conurbação espacial. Agora nestes tempos de pandemia a mídia regional explora as linhas geográficas que remetem à soma dos sete municípios, respeitando-se as divisas cartográficas.
As escolas de Primeiro Grau deveriam catequisar os alunos a olharem o Grande ABC como território de interesse geral sem quebrar a coluna cervical do municipalismo, hoje monopolista e provinciano. Estamos produzindo desde sempre jovens que mal sabem quais são os municípios da região no entorno de seus domicílios.
Efeitos geométricos
Já o mapa econômico, estritamente econômico, do Grande ABC é invenção deste jornalista neste exato momento. Gráficos que apontam dados econômicos são uma coisa. Mapa econômico é outra. Vou desconsiderar a derrocada da economia da região ao longo das décadas em confronto com o crescimento do País. Manterei o formato geral da soma dos sete municípios.
Entretanto, redesenharei a geometria interna em relação ao mapa geográfico para dar ênfase individual dos municípios. Traduzindo: o espaço físico-territorial geral é sustentado em relação à distribuição espacial na Grande São Paulo ou a qualquer outro confronto, mas, internamente, altera-se de acordo com o PIB dos Municípios.
Espero que os leitores estejam gostando da brincadeira que, mais que didática, é também ou principalmente emblemática da realidade que nos cerca.
Menos desigual
O mapa econômico do Grande ABC tem São Bernardo com 39,95% de controle espacial. Menos, portanto, que no mapa geográfico, de quase 50% da região. Santo André ocupa o segundo lugar do mapa econômico com participação de 22,90%, ante 21,11% do territorial. Praticamente não sofre mudança. São Caetano, Diadema e Mauá são trigêmeos. O mapa econômico de São Caetano ocupa 10,62% do território regional, ante 11,59% de Diadema e 12,07% de Mauá. São Caetano é bem maior na economia do que na geografia, portanto, Ribeirão Pires não passa de 2,48% do mapa econômico (bem menos que no mapa geográfico) enquanto Rio Grande da Serra não registra mais que 0,48%, dez vezes menos que no mapa geográfico.
Quem tiver o cuidado de comparar o mapa geográfico dos mais de 800 quilômetros quadrados do Grande ABC com o mapa econômico vai notar que há os extremos que separam São Bernardo de Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, uma segunda força ocupada por Santo André e os demais (São Caetano, Diadema e Mauá) praticamente empatados.
Agora vou chegar ao ponto pretendido: em dezembro de 2022, quando o PIB dos Municípios Brasileiros de 2020 for revelado oficialmente, perderemos em valores monetários o equivalente ao mapa econômico de São Caetano. Serão entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões. Talvez não haja mudança significativa no formato geométrico do mapa econômico, mas haverá a confirmação do quanto o Grande ABC empobreceu por força sobretudo da pandemia ora perturbadora.
Âncora garantidora
Essa medição do PIB Geral do Grande ABC, que abrange o período de 2019 e 2020, é uma licença poética com grau de segurança. Não costumo fazer projeções do PIB Municipal porque há intrincadíssimos senões de alerta. Mas como já tem gente palpitando com estofo acadêmico, sinto-me no direito de explorar essa veia especulativa. Sem correr grandes riscos.
Há uma âncora tão facilmente disponível que seria jumentice aguda não a utilizar. Mas tão simples, tão simples que dispensa maiores elucubrações. É colocá-la à disposição do pragmatismo.
Teremos, portanto, um mapa econômico regional praticamente preservado nas linhas divisórias entre os sete municípios, porque não haveria uma perda desatada individual, mas a robustez seria mais uma vez impactada.
Suspense novelesco
Numa linha do tempo, à qual vou me debruçar numa próxima edição sobre o PIB Geral do Grande ABC, mostrarei o quanto se alterou o desenho do mapa do desenvolvimento econômico regional que leva em conta essa vertente de medição de riqueza produzida. Houve grandes transformações, claro. Santo André e São Caetano perderam territórios para Diadema e Mauá.
A descentralização de riqueza gerada na região combinou ao longo do tempo com a desindustrialização. Parte minoritária das evasões se deu em direção a Mauá e a Diadema. Melhor para os positivistas. Terrível para quem enxerga a diferença entre investimentos novos e canibalismo econômico.
Deixei para a edição de amanhã o resultado previsível da queda do PIB do Grande ABC durante os dois primeiros anos do governo de Bolsonaro. Um pouco de suspense não faz mal. O problema todo é que este capítulo deixa uma expectativa de horror que o próximo, infelizmente, confirmará.
Diferentemente, portanto, das telenovelas que, para sustentar audiência, ameniza na noite seguinte o drama sob suspense da noite anterior.
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