Se você acha que é muito ou é pouco o que está na manchete de hoje de CapitalSocial certamente terá razões para questionar. Se tiver, e se as razões forem consistentes ou não, parabéns. Mas fale agora ou cale-se para sempre. O resultado oficial, do IBGE, só vai ser conhecido em dezembro do ano que vem. Mas antecipamos a perda do PIB do Grande ABC porque gostamos de emoção com racionalidade. Há um risco de erro que não desprezo, por isso o desafio.
Perderemos 10% -- praticamente o equivalente à geração de riqueza de São Caetano. Ou seja: perderemos o correspondente a um dos sete municípios no critério de geração de riqueza, na geometria econômica.
É dinheiro para ninguém botar defeito. Estou me referindo aos dois primeiros anos do governo Jair Bolsonaro. De Jair Bolsonaro é força de expressão: o resultado refletirá a longa temporada do vírus chinês, que arregaçou o PIB Mundial, mais para alguns, menos para outros.
Ataque pandêmico
Não há quem resista ao ataque pandêmico. Ainda mais o Grande ABC, entre os piores endereços internacionais de letalidade, de gente que morreu e morre sem parar, embora não falte prefeito que doure a pílula e, pior que isso, se ache a cereja do bolo de combate à pandemia. Subestima as estatísticas e o senso crítico.
Fiz umas contas sobre o que será o PIB do Grande ABC entre 2019-2020 e cheguei à conclusão de dois dígitos iniciais de perda de dinamismo econômico. Como estamos em pleno 2021, a conclusão é simples: vivemos em tempo real a queda de mais de R$ 13 bilhões em forma de transformação do produto, que gera salários, impostos e tudo o mais, tendo 2018 como referencial. Isso é PIB.
Por isso, quem olha para as ruas do Grande ABC e imagina que é apenas por conta do Coronavírus que estamos numa pindaíba de dar dó não entende o fulcro da economia regional. Estamos na roça.
Mercado mercantilista
Por exemplo? O mercado imobiliário está uma lástima. Entretanto, alguns irresponsáveis seguem a tentar traduzir o setor como o último bastião de integralidade econômica. São arautos de um mercantilismo repulsivo quando se traça uma linha de horizonte que ofereça responsabilidade social como meta.
Aliás, o mercado imobiliário estava caindo pelas tabelas muito antes da pandemia chegar. Os bons resultados de uns poucos empreendedores são exceção à regra de uma maioria aniquilada. A desigualdade social se reflete em todos os setores econômicos. Os pequenos morrem de brutalidade concorrencial que inclui o jogo sórdido do poder econômico nas esferas públicas municipais, donas das regras das terras de terceiros.
Como sempre, os industrializadores de mentiras ocupam os jornais para vender ilusões. Nada mudou, como se vê, desde os tempos de Milton Bigucci à frente do Clube dos Construtores. Aliás, a hierarquia familiar não perde espaço no que alguns chamam de entidade, mas prefiro denominar de extensão mais caótica da baixa institucionalidade regional. Mas esse é outro assunto.
Mercado automotivo
Testei várias fórmulas para chegar à conclusão de que o PIB de 2020 será pelo menos 10% inferior ao PIB de 2018, que corresponde ao governo Michel Temer com fortes rescaldos do desastroso governo Dilma Rousseff. E está justamente no desempenho dos dois anos da petista apeada do poder a estrutura lógica e matemática à derrocada dos dois anos de Jair Bolsonaro, pandemia e tudo.
Será muito difícil sair da rota automotiva como a principal razão do desabamento do Produto Interno Bruto do Grande ABC. Somos movidos ainda e duramente pela Doença Holandesa Automotiva, que afeta mais profundamente São Bernardo, Diadema e São Caetano, com estilhaços e derrapagens nos demais municípios.
Quando o mercado automotivo fracassa, fracassamos mais ainda porque, proporcionalmente, dependemos muito mais dos humores e horrores do setor do que qualquer outra região do País.
Doença Holandesa
A participação nacional do mercado automotivo do Grande ABC não ultrapassa 20%, mas em termos locais, com reflexos em outros setores, praticamente alcança a metade do PIB. Mesmo o setor de serviços de pobre valor agregado depende demais das automotivas. São vasos comunicantes que entram em colapso em situações mais dramáticas. Dá-se o reverso nas temporadas em que o mercado automotivo bomba. Mas como são reações cíclicas em menor quantidade do que as derrapagens, o Grande ABC acaba se dando mal.
Quem analisar ou projetar o PIB futuro do Grande ABC sem levar em conta e para valer a Doença Holandesa Automotiva vai combinar com o pessoal do Tabajara Futebol Clube uma empreitada patética. O jogo terminará com números negativos de ambos os lados.
É preciso levar em conta as circunstâncias temporais. E o que tivemos no ano passado, pandemia no centro do palco, foi um mercado automotivo desastroso. Esse é o ponto central das observações e projeções deste CapitalSocial.
Temporadas semelhantes
A produção automotiva no País no ano passado foi de apenas 2,01 milhões de veículos. No ano anterior, quando o PIB do Grande ABC cresceu 2,8%, registraram-se 2,944 milhões de unidades. O Brasil cresceu menos que o Grande ABC porque é menos influenciável nas contas gerais das montadoras. Foi apenas 1,1% o crescimento do PIB Nacional.
Mas o que interessa mesmo, para efeitos de resultados projetados para o fim de 2022, quando se saberá oficialmente o comportamento do PIB da região nos dois primeiros anos de Bolsonaro, são duas temporadas: o ano passado, já mencionado, e 2015, o segundo ano da maior recessão da história brasileira, sob o governo Dilma Rousseff. Naquela temporada, o Brasil produziu 2,57 milhões de veículos e o Grande ABC registrou queda cavalar do PIB. Sabem quanto? 16,02%. Isso mesmo. Não há erro de digitação.
Bilhões de perdas
Agora peguem os números de produção de veículos no ano passado, já mencionados, de 2,01 milhões de unidades. Uma catástrofe. A sugestão poderia seguir o destino de que a situação do Grande ABC seria mais grave que a de 2015, aquela da queda do PIB local de 16,02%. Como sou otimista, fico com menos. Desconto o crescimento do PIB Regional de 2,8% em 2018 e chego aos 10%. Viram como sou bonzinho? Acho que a bala está fazendo um efeito tutelar na minha mente. Em outros tempos diria que o PIB desabaria tanto quanto em 2015.
Em números atualizados a dezembro do ano passado, o PIB de 2018 do Grande ABC corresponderia a 138.218.076 bilhões. Esse número é resultado do PIB Regional original (sem correção monetária) de R$ 126.573.330 bilhões registrado em 2018. A atualização monetária leva em conta os 9,02% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ou seja: para manter o tônus econômico segundo a métrica pibiana, o Grande ABC teria de ter alcançado mais de R$ 138 bilhões no ano passado. A projeção é que não supere R$ 125 bilhões em números atualizados. Serão R$ 13 bilhões a menos. Uma São Caetano de presente de grego.
Especulação programada
Entre as iniciativas para testar a validade do PIB projetado durante os dois primeiros anos de Bolsonaro, invadi terrenos macroeconômicos com influência na região. Procurei cercar o touro da especulação à unha. Sim, esse texto é declaradamente especulativo, como muito é especulativo nas consultorias econômicas do mundo inteiro.
Dados diversos estão aí, mas não há como negar que a tarefa na região é facilitada pelo predomínio automotivo. Não diria que é uma moleza, mas está longe de virar uma armadilha.
Acho que quem projetou o PIB de 2019 e 2020 do Grande ABC tendo como base comparativa e equitativa o PIB do Brasil vai perder a disputa especulativa com CapitalSocial. O crescimento de 1,1% do PIB brasileiro em 2019 e a queda de 4,1% no ano passado são acordes de música clássica ante o forrobodó incontrolável dos bailes clandestinos nestes tempos de vírus. Seria ótimo se fosse diferente, mas essa missão panglossiana fica para os políticos situacionistas.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?