Economia

Empobrecimento tira mais
de R$ 30 bi do Grande ABC

DANIEL LIMA - 20/05/2021

O leitor tem ideia do que são R$ 30 bilhões (mais precisamente R$ 30.791.728,00) de empobrecimento do Grande ABC neste século? Se não tem, e não tem mesmo, porque também não a tinha, vou resumir: Tire Santo André e São Caetano do mapa do PIB de Consumo da região e estamos conversados. Também pode manter Santo André e São Caetano, mas tire Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Faça a escolha.  

É isso o que perdemos relativamente ao Brasil desde 2000, quando começou o novo século. É uma barbaridade que exigiria, faz tempo, ações reestruturantes que os governos locais e a sociedade como um todo desprezam ou ignoram.  

Mais que isso: criam-se versões de fake news na área de transporte, por exemplo, ao vender a fantasia de que o sistema BRT, antes condenado e agora venerado, resolverá o problema. Só o agravará. Como o Rodoanel agravou. Mostraremos mais uma vez isso na próxima semana.  

Riqueza acumulada 

Apesar da complexidade econômica na raiz do desastre deste século do Grande ABC, uma extensão do desastre das duas décadas finais do século passado, é fácil entender os números e a conclusão a que chegamos.  

A matriz de tudo é o Índice de Potencial de Consumo da Consultoria IPC, do pesquisador Marcos Pazzini e sua equipe, uma fonte confiável utilizada pelas principais mídias e dezenas de prefeituras do País. O chamado IPC se nutre de dados oficiais das principais instâncias do governo federal, IBGE entre as quais.  

Preferimos chamar de PIB do Consumo o que é Índice Potencial de Consumo meramente por questão jornalística. Como chamamos o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos do Grande ABC de Clube dos Prefeitos. 

A riqueza acumulada do Grande ABC que potencialmente gera capacitação de consumo trafega na mesma raia do PIB Geral de cada Município. O caudal de despesas das famílias, bem como o potencial de poupança, corre em sintonia com o desenvolvimento econômico. Algumas variantes não mudam o placar do jogo analítico e conclusivo. 

Não há mágica. Como o Grande ABC perde a corrida de crescimento médio para o Brasil já por si só uma calamidade de estagnação, dá para imaginar o que significa um buraco de mais de R$ 30 bilhões. 

Para chegar a tanto em 22 anos deste século – a contar do ano 2000 – o Grande ABC passou por duas catástrofes: perdeu 28.090 famílias de classe rica, topo da sociedade, e ganhou um presente de grego de 32.106 mil famílias de pobres e miseráveis. A região contava com 59.637 famílias abastadas em 1999, segundo estudos da Consultoria IPC, mas caiu para 31.277 neste 2021. Entre pobres e miseráveis eram 150.002 famílias e passaram para 182.108.   

Nem mesmo o fato de aumentar a população, em menor escala relativa que a média brasileira, salvou a pátria do Grande ABC. PIB do Consumo que não seja por habitante é potencialmente maior na medida em que a população aumenta. Quando o PIB do Consumo é per capita, os estragos em localidades que perderam o viço econômico são ainda maiores. Já mostramos, também, o que aconteceu com o Grande ABC neste século sob esse ângulo. E vamos atualizar os dados brevemente.  

Cadê a mobilidade?  

Quem ouviu falar em mobilidade social no Grande ABC do passado pode riscar do mapa de considerações o Grande ABC de hoje, ou deste século. Já alertamos sobre isso várias vezes, sempre com fundamentação em estudos, e agora se repete a equação, com os dados da Consultoria IPC desta temporada.  

Já foram os tempos em que pobres e miseráveis viravam proletariado, que proletariado virava classe média-baixa, que classe média-baixa virava classe média-média que virava classe rica e que classe rica virava milionária. O barco virou em forma de mais de RF$ 30 bilhões. São mapas econômicos mutilados na região.  

Afinal, como chegamos a esse número letal? Simples: em 1999 a participação relativa do PIB do Consumo do Grande ABC no mapa nacional era de 2,28420%. Agora é de 1,67749%. Traduzindo: se antes de o novo século aparecer no calendário gregoriano o Grande ABC respondia por 2,28% do potencial de consumo do Brasil, agora não passa de 1,67%. O que seriam R$ 115.928,294 bilhões de PIB do Consumo no Grande ABC, de fato não passam de R$ 85.136,566 bilhões.  

Humilhação, não 

Se voltássemos mais no tempo, a humilhação seria mais completa. Em 1994, antes do Plano Real e, entre outros pontos, da forte descentralização da indústria automotiva (e consequente desindustrialização regional), o Grande ABC respondia por quase 3% da fatia nacional. Um dia desses em que o tempo me ajudar, farei esses cálculos. De arrepiar. Como os músicos do Titanic.  

A perda de famílias de classe rica no Grande ABC tem peso expressivo no buraco geral de R$ 30 bilhões. Os 28.090 domicílios que perderam essa musculatura econômica e financeira significam R$ 12.210.916 bilhões a menos nesta temporada. Os ricos do Grande ABC de hoje têm capital acumulado para despesas de R$ 13.595.686 bilhões. Fossem eles na mesma proporção numérica dos ricos de 1999, o potencial de consumo chegaria a R$ 25.806.602 bilhões. O que significa esse número final? 

Se no conjunto da obra de mergulhos de consumo o Grande ABC perderia conjuntamente Santo André e São Caetano no mapa de riquezas, ou alternativamente Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, no caso do extrato dos ricos, somente dos ricos, teríamos a soma de desfalque de uma Diadema e uma Rio Grande da Serra inteiras.  

Contando perdas  

Ou seja: pegue toda a riqueza atual de Diadema em forma de potencial de consume, junte o tanto que compete a Rio Grande da Serra e teremos algo próximo de R$ 12 bilhões. É dinheiro para ninguém botar defeito. E, repetindo, só de desfalque nas famílias de classe rica.  

Quando havia acertado com o prefeito Paulinho Serra, há dois anos, a introdução de um grupo de conselheiros no cronograma de desenvolvimento econômico da Prefeitura de Santo André, estava de olho no reforço voluntário de Marcos Pazzini, da Consultoria IPC. Pazzini é um profissional extraordinariamente competente e sério.  

Aquele grupo de voluntários que Paulinho Serra jogou no lixo depois de duas ou três reuniões com os primeiros convidados, os quais representavam setores essenciais da economia do Município, mudaria o curso da história de um Município em permanente queda de qualidade de vida. 

Estudos indispensáveis  

Os estudos de Marcos Pazzini seriam indispensáveis ao grupo de profissionais que estávamos juntando. Paulinho Serra, que um dia se pretendeu Celso Daniel, parece detestar inovações e transparência. Ele e o grupo que o engolfa na Prefeitura sugerem temor a estranhos no ninho. Estranhos a eles, não à sociedade, claro. 

Agora me lembrei que Marcos Pazzini chegou a ser convidado a atuar no Clube dos Prefeitos, mas, como tudo no Clube dos Prefeitos ganha a forma de rodízios de inapetência organizacional, não mais se falou do assunto. Uma pena. Precisamos de técnicos especializados, não de políticos juramentados. 

Pobre Clube dos Prefeitos   

Aliás, sobre o assunto, vejam o que foi publicado na edição de 18 de junho do ano passado no site da própria entidade sob o título “Consórcio ABC recebe apresentação com dados sobre potencial de consumo da região”: 

 O Consórcio Intermunicipal Grande ABC recebeu nesta quinta-feira (18/6) a apresentação de um levantamento que reuniu informações demográficas e de potencial de consumo das sete cidades. O estudo foi analisado durante reunião conjunta entre os Grupos de Trabalhos (GTs) Desenvolvimento Econômico e Finanças da entidade regional, realizada por meio de videoconferência. O estudo, denominado IPC Maps e produzido pela consultoria IPC Marketing Editora, reúne em números absolutos o detalhamento do potencial de consumo em 22 categorias de produtos nos municípios brasileiros. O diretor da IPC Marketing, Marcos Pazzini, explicou que o trabalho considera o consumo de cada classe social definida pelos critérios da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa de Mercado (Abep). O estudo traz informações sobre cada cidade, com detalhes sobre população, áreas urbana e rural, setores de produção e serviços, possibilitando comparativos com outros municípios, regiões, áreas metropolitanas ou mesmo com o Estado, inclusive em relação a períodos anteriores. 

Mais pobreza  

 Conforme o levantamento, a participação do Grande ABC no consumo nacional reduziu de 1,70% para 1,65% entre 2018 e 2019. No entanto, no mesmo intervalo, a região voltou ao posto de quarto maior polo consumidor do Brasil, uma posição acima ante o ano anterior, atrás apenas das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.  O diretor de Programas e Projetos do Consórcio ABC, Giovanni Rocco, ressaltou que os números vão contribuir para ações estratégicas. “A informação é fundamental para a tomada de decisões e para o planejamento dos próximos anos”, afirmou Rocco. Considerando o ponto de vista financeiro nas administrações municipais, o estudo permite balizar o consumo de bens e serviços em cada cidade, disse o diretor Administrativo e Financeiro do Consórcio ABC, Carlos Eduardo Alves da Silva, o Cadu. “O estudo mede o potencial de consumo com base em dados oficiais e traz uma série de informações divididas por categoria. Os números podem ajudar as prefeituras e os empreendedores em um planejamento estratégico”, pontuou Cadu. O secretário-executivo do Consórcio ABC, Edgard Brandão, destacou a importância da apresentação dos números aos gestores públicos das sete cidades. “Reunimos 30 pessoas de alto nível nas áreas de Finanças e Desenvolvimento das sete cidades que representam o quarto maior polo consumidor do Brasil”, disse Brandão. 

Devendo sempre  

Ao longo da pífia história do Clube dos Prefeitos, as iniciativas de hoje sempre se confundem com o abandono de amanhã. Há quem por razões político-partidárias tenta transformar o Clube dos Prefeitos destes dias em novo Clube dos Prefeitos, apenas porque o prefeito dos prefeitos de hoje é um político protegido por um grupo pragmático no sentido imediatista e pouco preocupado com o futuro da sociedade. É claro que me refiro a Paulinho Serra.  

Lembro-me agora que, antes de o Clube dos Prefeitos chamar o diretor da Consultoria IPC Marcos Pazzini, ano passado, já havia entrado em campo de colaboração com a Administração Paulinho Serra. Apresentei Pazzini a um dos assessores do prefeito. 

Vivia-se a crise do IPTU, arbitrariamente elevado além do razoável pela Prefeitura. Uma crise que levou o povo às ruas e ao recuo do prefeito. A Consultoria IPC foi relegada ao desinteresse de Paulinho Serra assim que o escândalo da cobrança foi amenizado. O remapeamento do IPTU de Santo André era a meta. Paulinho Serra só pensa em outra coisa. E essa “outra coisa” não é o que interessa ao futuro de Santo André. Distante disso. 



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