Imprensa

Caso Saul Klein: CNN prefere
parcialidade e sensacionalismo

DANIEL LIMA - 27/05/2021

A CNN Brasil está anunciando para hoje o primeiro episódio do Caso Saul Klein. Posso antecipar aos leitores que se trata, pela chamada promocional, de empreitada sensacionalista e parcial, venenos do jornalismo que, no caso da emissora, é uma contradição ao mote de “A maior do mundo, líder em independência”. Isso é fake news do jornalismo profissional que se pretende inume às diabruras das redes sociais.  

Levo sempre em consideração, em tudo que escrevo sobre o Caso Saul Klein, dois pressupostos: materialidade e contextualização dos supostos crimes. Fora isso é especulação pura. Sobretudo da mulher que vai se apresentar hoje como sabe-tudo. Ela mal sabe da própria vida, que conta com auxílio psiquiátrico.   

O texto de chamada da CNN Brasil é uma moeda de duas faces semelhantes, da mentira e da enganação. Por isso não se deve esperar muita coisa do documentário – exceto mais uma camada de imprecisões da chamada Grande Mídia.   

Braço de cafetina  

Ana Paula Banana, a infiltrada da cafetina Marta Gomes da Silva nas residências de Saul Klein, é uma ex-namorada inconformada com o rompimento da relação com o empresário herdeiro da Casas Bahia. Ana Paula faz-se de funcionária de Saul Klein. Repete na TV a farsa remetida à Justiça do Trabalho depois que viu a casa da extorsão cair.  

Se a reportagem da CNN foi a fundo nos questionamentos, ouvindo o outro lado, o equívoco ganha outra denominação – é incompetência jornalística mesmo. Há informações que dão conta de que a CNN não ouviu o outro lado. Sem o outro lado, e só com um lado, um lado boquirroto, não há verdade que resista. É mais uma extensão de assassinato social.  

Espera-se no caso que pelo menos a entrevistada tenha apresentado a carteira de trabalho com data de emissão compatível com o suposto vínculo empregatício. É possível que diante de mais que provável impossibilidade de comprovação de préstimos a Saul Klein, porque era de fato um braço da cafetina Marta Gomes da Silva, a destemperada Ana Banana tenha de apresentar outro tipo de carteira de trabalho, que eventualmente pode ser a carteira de trabalho que o leitor imagina, mas não é necessariamente aproveitável em instâncias judiciais.  

Cuidados psiquiátricos  

Numa reportagem publicada na Folha de S. Paulo desta semana sobre o Caso Saul Klein, a jornalista Eliane Trindade escreveu que não conseguiu entrevistar Ana Paula Banana porque ela estava passando por tratamento psiquiátrico. A entrevista da CNN talvez tenha rompido o cerco de cuidados mentais de Ana Paula Banana sem, entretanto, evitar os estragos verbais.  

Para quem aprecia acusações sem provas materiais e desconhece o passado de uma personagem como Ana Paula Banana, nada mais interessante que a levar ao êxtase diante de câmeras de televisão. Ana Paula Banana sempre gostou de preparar os shows de garotas para entreter Saul Klein. Tudo a mando da cafetina que segue fora do alcance do inquérito policial, como seguiu fora na etapa anterior, da promotora criminal Gabriela Manssur. Isso não significa que escapará dos desdobramentos da degola processual.  

Na primeira aparição numa emissora de TV, no programa Fantástico de 24 de dezembro do ano passado, Ana Paula Banana não pode exercitar o estrelato oficial. Havia preocupação de manter a identidade em segredo, por determinação da promotora criminal Gabriela Manssur. Mas o vazamento do denúncia se deu. A silhueta Ana Paula Banana prevaleceu. Na CNN Brasil ela terá a oportunidade de mostrar a cara e o corpo sem truques. Além, claro, de uma língua solta que sempre vive em desacordo com o que está logo acima, entre os olhos e os cabelos densos.  

Língua solta  

Por conta dessa característica de comportamento, entre a língua e a área corporal acima dos olhos e abaixo dos cabelos, Ana Paula Banana coleciona desafetas que permaneceram anos sob seu controle nas residências de Saul Klein. Sempre a mando da cafetina Marta Gomes da Silva. A mesma cafetina que assiste a tudo de camarote, fugidia da imprensa e cada vez mais próxima de advogados que se juntaram a ela durante anos na aplicação de negociações pouco heterodoxas com clientes ricos.  

Quem entende que há rigor na avaliação da vida pregressa de Ana Paula Banana e o que se projeta de complicações no documentário preparado pela CNN Brasil, basta se colocar no lugar do homem acusado por um bando de mulheres manipuladas ao longo dos anos exatamente por Ana Paula Banana. 

Saul Klein foi vítima de Ana Banana e da quadrilha da cafetina para extrair vantagens extras de empresários que procuravam mulheres jovens e bonitas para se divertir. Um crime tão corriqueiro que deve ser estendido aos homens em geral, cuja preferência é por mulheres, não outro tipo de gênero. Mulheres que gostam de muita coisa, seja dinheiro, seja o que o leitor imaginar. São mulheres da ativa. Muitas mulheres que pensam no hoje de dinheiro farto e esquecem do dinheiro que faltará amanhã, quando a competitividade num mundo em constante renovação e descarte torna a disputa desfavorável. Experiência no ramo nem sempre é bom negócio.   

Chegando atrasada  

A CNN Brasil está chegando atrasada na cobertura do Caso Saul Klein. CapitalSocial dá conta do tema há exatamente 20 capítulos, além de duas entrevistas especiais. Pegar o bonde andando e, mais que isso, acreditar que a história tem versão única, de quem ataca, é erro crasso em qualquer tipo de atividade. No jornalismo é bem pior porque se cometem assassinatos sociais irreversíveis. Como o do Caso Saul Klein que, para quem acompanha CapitalSocial, está bem delineado, com base em fatos e provas.  

Ana Paula Banana é freguesa de caderneta desde o primeiro capítulo da série de CapitalSocial. A mulher que amava Saul Klein e que não se conformou com o fim do relacionamento partiu para vingança que também tem condimentos financeiros. Saul Klein patrocinava uma vida de rainha em forma de sugar daddy, expressão escolhida com perfeição pelo advogado André Boiani, defensor do empresário que tem residências em Alphaville e Boituva.  

Sugar daddy, segundo André Boiani, é o indivíduo rico que se satisfaz por suprir de maneira habitual e ostensiva a necessidades e os caprichos materiais de mulheres que se apresentam como sugar babies. “O contato inicial entre daddies e babies se dá das mais variadas formas: por apresentação de amigos, por indicação de outros participantes desse hábito, por agenciamento e até mesmo por exposição de perfis em websites especialmente dedicados ao tema” – disse André Boiani.   

Mostrando a cara  

Esta é a primeira vez que Ana Banana aparece de frente para as câmeras e sem disfarce desde a denúncia articulada com a promotora criminal Gabriela Manssur, do Ministério Público Estadual e do projeto “As Justiceiras”. São tantos os passivos de Ana Banana que nem mesmo a feminista e advogada Gabriela Souza, que se ocupa de várias das supostas vítimas de Saul Klein, obteve a representação da parceira da cafetina Marta Gomes da Silva. Ou seja: Ana Banana acaba de sair da toca. Possivelmente quer dar veracidade à demanda trabalhista. Resta saber se conta ou não com carteira de trabalho.   

Há informações nos bastidores da CNN Brasil de que foi a promotora criminal Gabriela Manssur quem teria sensibilizado tanto Ana Banana quanto a chefia de reportagem para a produção do seriado de dois capítulos.  

Ambiente de mistério  

O escritório de defesa de Saul Klein não se manifesta sobre a participação de Ana Banana como destaque na série. Há indicativos, entretanto, de que a informação tem potencial bastante satisfatório ao fechamento do inquérito policial na Delegacia de Defesa da Mulher em Barueri.  Sabe-se que os depoimentos das supostas vítimas sexuais de Saul Klein não têm consistência legal. E foram opostos por jovens que se apresentaram em defesa do namorador de Alphaville e contrárias a Ana Paula Banana, que as coordenava em nome da cafetina Marta Gomes. 

Respira-se também um ambiente de mistério sobre eventuais novas materialidades que teriam o envolvimento de Ana Banana. Não bastasse farto material de vídeos e áudios que colocam a denunciante em situação constrangedora, haveria também novos lances comprobatórios de que as declarações prestadas à promotora criminal Gabriela Manssur estão recheadas de mentiras que podem custar à acusadora sérios transtornos judiciais.  

Para que os leitores possam entender a situação, reproduzo o material que consta do site da CNN Brasil.  

 CNN Séries Originais traz entrevista com Ana Paula Fogo, ex-funcionária de Saul Klein.  O Séries Originais desta quinta-feira (27) traz o primeiro episódio da série especial sobre as denúncias contra o empresário Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein. Com exclusividade, a CNN exibirá entrevista com Ana Paula Fogo, a mulher que se identifica como ex-funcionária de Saul no esquema de aliciamento e exploração sexual de mulheres. A equipe se debruçou sobre o inquérito de duas mil páginas e, em dois capítulos, vai contar detalhes do que relatam as vítimas que dizem ter sido alvos de exploração sexual. Mais conhecida como "Banana", Ana Paula diz ter trabalhado diretamente com Saul Klein durante 12 anos, atuando diretamente como parte do esquema. É a primeira vez que ela fala expondo sua identidade. Ana Paula abriu o jogo sobre o suposto esquema de aliciamento: "A única pessoa que tem coragem de enfrentar o Saul nesse processo sou eu e ele sabe o porquê. Ele sabe que eu sei de tudo. Ele sabe o que ele fez e ele sabe que eu não tenho medo dele." A equipe de reportagem teve acesso ao depoimento de 22 vítimas e conversou com seis delas. 

Mais CNN  

 De acordo com as vítimas, Ana Paula era uma das responsáveis pelo recrutamento e por fazer pressão para que as mulheres fizessem tudo o que Klein determinava, como a própria Ana Paula confirma em um trecho da entrevista: "Respira, já vai passar, aguenta, você tem que aguentar, é rápido. Aquele momento não durava mais do que cinco minutos, mas psicologicamente aquela menina levou um tiro." A série "Caso Saul Klein: As revelações completas" é resultado de três meses de investigação e contou com mais de 30 horas de entrevistas, entre vítimas e advogados. O documentário mostra detalhes do que relatam as vítimas que alegam ter sido alvos de exploração sexual e o andamento das investigações. Saul é investigado pelo Ministério Público de São Paulo por acusações de estupro, aliciamento e exploração sexual de ao menos 32 mulheres. O Séries Originais vai ao ar nesta quinta-feira, às 22h30, logo após o Jornal da CNN. 

Exposições equilibradas   

Só existe uma alternativa para CapitalSocial expressar uma leitura incorreta do que se espera na televisão quando se sintonizar o canal da CNN – que a própria emissora retifique integralmente o material de divulgação da série e contemple um equilíbrio de exposição das investigações supostamente omitidas. Existe um outro lado do Caso Saul Klein cujos condimentos são completamente contrários à versão de uma mulher inconformada com o fim do namoro. Há vídeos que comprovam a paixão e o ódio de Ana Paula Banana por Saul Klein.



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