Imprensa

Fura-fila em São Caetano:
esperamos por respostas

DANIEL LIMA - 01/06/2021

Vamos publicar nesta quinta-feira matéria potencialmente comprometedora à secretária de Saúde de São Caetano, médica Regina Maura Zetone. Até prova em contrário ela está envolvida num esquema relativamente gigantesco de fura-filas no combate à Covid. Além da secretária, outros 14 servidores da área estão na relação de fraude.  

Talvez a situação da secretária seja menos complicada, mas não deixa de ser incômoda. Para fugir do enquadramento de ilegalidade, deverá admitir que mentiu à sociedade.  

A divulgação de uma lista de fura-filas em redes sociais dando conta de que CapitalSocial vai publicar a matéria/análise sobre o vírus geograficamente chinês em São Caetano causou furor. E é por isso que tomamos a iniciativa de trazer o assunto a este site. Estamos oferecendo tanto à secretária quanto ao prefeito Adauto Campanella a oportunidade de oporem informações àquilo que temos consolidado.  

Informação segura  

Também por meio do aplicativo WhatsApp divulgamos a lista dos servidores apanhados em situação irregular. Utilizamos apenas as iniciais. A medida não tem parentesco algum com eventual cuidado de transparência nominativa, que poderia sugerir insegurança quanto à garantia de que estariam na lista de inconformidades.  

A operação se deu apenas como critério de marketing, por assim dizer. Despertamos entre leitores de CapitalSocial nas redes sociais a curiosidade natural de aguardar o trabalho jornalístico. Fazer marketing de informação sustentável não é pecado algum. Pecado é fazer marketing de mentiras cabeludas.   

Não estivessem sob absoluta segurança de irregularidades, os nomes dos implicados jamais seriam pauta de CapitalSocial.  

O outro lado  

De qualquer maneira, não há como a secretária e o prefeito deixarem de entender a situação mesmo com CapitalSocial omitindo os nomes completos. Basta checarem a relação de servidores naquela área de iniciais compatíveis com as divulgadas por CapitalSocial no aplicativo WhatsApp.  Afinal, o que se pergunta é se são da linha de frente aqueles profissionais no combate à pandemia num Município recordista de letalidade no País.  

O amadurecimento profissional conduz a um caminho irreversível nestes tempos em que mentiras, meias-verdades e omissões não escolhem plataforma informativa. Tanto a mídia tradicional como bandidos das redes sociais encontram terreno fértil para destilarem o fel da especulação maldosa, quando não escabrosa.  

Tomar todos os cuidados para não ser boi de piranha sobretudo no campo da Administração Pública é pouco diante dos interesses em jogo. É preciso ser radicalmente cético, até que tudo se clareie em forma de documentação, de sustentação material.  

São inúmeros os exemplos de cuidados especiais que imprimi com minha equipe de redação na revista de papel LivreMercado e nesta revista digital. Erros podem ter sido cometidos, porque a infalibilidade não é obra de humanos. Mas a deliberada agenda de mistificações não tem espaço. Não seria o fura-fila em São Caetano, como não o foi o fura-fila na Fundação do ABC, que me fariam mudar de lado, passando para a turma dos mentirosos, manipuladores, mistificadores e malandros de plantão.  

Armadilhas informativas  

Distinguir o jornalismo de relações públicas, jornalismo de conveniências e do jornalismo independente faz parte da história de LivreMercado/CapitalSocial. Enfrentar os poderosos de plantão não é tarefa simples nem fácil.  

Um exemplo? Desde março de 1990, quando lancei a revista LivreMercado, e mesmo antes disso, quando atuava na Agência Estado, do Grupo Estado, ou mesmo na cúpula de redação do Diário do Grande ABC, a desindustrialização da região é pauta obrigatória. Mas soava como corda em casa de enforcado. Era preciso preservar os anunciantes. Publicar matérias supostamente negativas sobre o Grande ABC era e continua sendo crime comercial. Um tiro no pé. Enquanto isso, a implosão regional se manifesta duramente a cada nova temporada. Como continuamos a analisar.  

Sofri um bocado por não fazer parte da turma de procrastinadores da verdade. A direção do Diário do Grande ABC (que a partir de 1997 passou a deter 60% das ações da publicação) mantinha discreto antagonismo com a direção de Redação de LivreMercado.  

Não fazíamos coro ao triunfalismo econômico que, como todos sabem, perdura até hoje naquele jornal. Mesmo que no dia seguinte à manchete ufanista o Diário do Grande ABC seja levado à realidade das cruezas sociais e econômicas da região. 

O fura-fila em São Caetano está quicando na pequena área para um centroavante implacável e um retângulo em forma de traves sem goleiro. Basta chutar e está resolvido. Mesmo assim, é preciso ouvir o outro lado. Caso o outro lado queira ser ouvido. Quem sabe – porque tudo é possível – a bola a ser chutada seja uma bola murcha, dessas que não ultrapassam a linha fatal?  

Narrativas imprecisas  

Se já no passado recente insistia em fazer com que a verdade dos fatos fosse respeitada, tornei-me mais implacável desde que um assassino me deu um tiro no rosto e, na prisão, é obrigado a assistir minha recuperação dolorida, duradoura, mas abençoada. O que li de barbaridades de uma mídia apressada ao voltar à leitura, mais de 20 dias depois, foi de chocar. 

A começar pelo Diário do Grande ABC do dia quatro de fevereiro, exatamente no quarto dia de internação na UTI do Hospital São Bernardo. O jornal publicou uma entrevista com o advogado do assassino, sem direito ao contraditório. Quando o jornalismo abdica de perguntas básicas, o entrevistado vira estrela da companhia de versões rocambolescas.  

A construção de uma narrativa descoladíssima da realidade mostrou o quanto o jornal estava despreparado para cobrir o caso. E tantos outros jornais e a mídia em geral cometem equívocos semelhantes. E não têm a decência de ouvirem o outro lado. Tratamento igualitário, mesmo num caso escandalosamente cristalino, nem pensar.  

Fonte enviesada  

No meu caso, uma testemunha vital que prestou depoimento logo após me socorrer ao hospital seria uma fonte inesgotável de informações. Preferiu-se uma fonte viciada. Tão viciada que, ouvido no mesmo período em que a testemunha prestava depoimento à Polícia, o entrevistado em questão declarava a uma emissora de TV que o tiro que acertou meu rosto teria o teto como destino. Mais tarde, com a nova narrativa, o tiro resultou de uma briga corporal. Duas vezes mentiroso.  

A gravação ambiental, implacável testemunha tecnológico, foi levada embora pelo assassino frustrado. Como provou a perícia da Polícia Científica. O jornal não deu uma linha explicativa até agora sobre isso --- apenas uma informação rasa, tangencial. Como se não fosse um dos pontos nucleares da barbárie.   

Recorro a um caso pessoal como exemplo direto do que pode ocorrer nestes tempos de mídia fastfoodiano. Por isso, ao ser procurado por uma fonte sobre o histórico da vacinação em São Caetano envolvendo servidores públicos, exigi todos os documentos comprobatórios. Que me foram fornecidos. Cabe ao prefeito e à secretária da Saúde de São Caetano responderem à demanda que se resume na seguinte definição: como eles estariam habilitados a receber a dose da vacina do Coronavírus se não atuam na linha de frente?



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