O segundo e último episódio do Caso Saul Klein exibido pela CNN Brasil praticamente repetiu o massacre impiedoso do primeiro. Alguns temperos de suposta neutralidade são jogos de cena. Quem acreditou em edição diferente se enganou. A narrativa foi planejada e produzida de forma integral, sem separação temporal entre o primeiro e a segunda etapa. E organizada nos bastidores por acusadoras implacáveis.
São mulheres que amam destruir a reputação do homem que, até prova em contrário, ama amar mulheres jovens. A narrativa caprichadamente dramática e espetaculosa foi baseada nos contos de Ana Banana, mulher rancorosa, falsamente arrependida e com sessões psiquiátricas tão corriqueiras quanto a frequência com que trabalhadores usam transporte público.
A divisão em dois episódios constava do projeto de destruição social de Saul Klein. Seria estupidez acreditar que haveria mudanças substantivas entre o primeiro e o segundo, porque siameses.
Arbitrariedade meticulosa
O fio condutor foi decidido, portanto, de forma meticulosamente arbitrária por mulheres que querem ver Saul Klein fora de combate. O contraditório fértil, equânime em oportunidades de argumentação e provas, não interessa. A CNN Brasil abriu espaço a um jornalismo sensacionalista com roupagem de gala moral.
Talvez as mulheres que tanto odeiam homens que supostamente violentam mulheres deveriam mirar o exemplo da funcionária da CBF que, prometendo provas materiais, colocou a vida do presidente Rogério Caboclo entre a degola e o inferno. No Caso Saul Klein, semelhante ao de Rogério Caboclo apenas porque envolve o sexo feminino, nada mais, as mulheres mais ousadas nas declarações estão seriamente enrascadas no inquérito policial. Ao invés de provas elas têm uma relação de passado complicado com Ana Banana.
Indústria de indenizações
A meta é industrializar indenizações. Nada que fuja a mais que clássicos enredos de chantagem e extorsão. Sempre com Ana Banana na ponta da linha. Ela e a lista de mulheres que administrava juntamente com a cafetina Marta Gomes da Silva. Até o juiz criminal de Barueri, que vai julgar o Caso Saul Klein, observou preliminarmente sinais evidentes de quadrilhas organizadas por trás da denúncia.
Por conta de que as mulheres de Saul Klein não merecem restrições como pobres vítimas de um estuprador, seria ingenuidade esperar da CNN Brasil diferença de tratamento editorial. O ritual imaginado seguiu adiante.
Entre um episódio e outro, após repercussão negativa de monodirecionamento condenatório do primeiro tempo, manteve-se intocável a orquestração de mulheres que dizem proteger mulheres mesmo que outras mulheres de outra turma, da turma de mulheres que defendem Saul Klein, também existem aos montes. É uma solidariedade de gênero seletiva comandada no campo judicial e policial por uma advogada feminista, ou uma feminista advogada, chamada Gabriela Souza.
Nota da CNN Brasil
Antes de prosseguir com breve análise, reproduzo o material de divulgação no site da CNN Brasil sobre o segundo episódio. Quem acha que se trata de perda de tempo toma o caminho errado de explicações necessárias. Veja o título (“CNN Séries Originais: Saul Klein fazia “” acordos informais””. Leiam e voltemos logo em seguida:
O segundo episódio do CNN Séries Originais desta quinta-feira (3) traz novas revelações sobre a série de denúncias contra o empresário Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein. Após as afirmações de Ana Paula Fogo, mulher que se identifica como ex-funcionária de Saul no esquema de aliciamento e exploração sexual de mulheres, novos contornos da história revelaram acordos informais feitos pelo empresário com algumas de suas vítimas e até uma informante infiltrada entre as vítimas. Segundo apurado pela equipe da CNN, Saul queria evitar o vazamento de informações sobre o que ocorria no interior de seus imóveis, onde as vítimas se reuniam com ele. A CNN teve acesso a um depoimento de Saul à Justiça do Trabalho no início de 2020, meses antes dos casos de abuso sexual virem a público, onde ele mesmo confirma o acordo no valor de R$ 800 mil. À Justiça, o empresário alegou ser vítima de uma armadilha. "[Paguei o valor] por causa do perigo de elas entrarem com processo. De denegrir minha imagem. Eu entrei em uma armadilha.". Outra mulher, que chegou a estar entre as vítimas, mas que atualmente apoia Saul Klein, revelou ter se infiltrado em reuniões realizadas entre as vítimas do empresário para fazer gravações das conversas e repassá-las a Saul. Para isso, ele ofereceu R$ 25 mil a ela. O primeiro episódio da série "Caso Saul Klein: As revelações completas" revelou que Klein dava dinheiro às mulheres, aliciadas por Ana Paula Fogo, e as estuprava durante festas regadas a drogas e bebidas em um de seus imóveis de luxo no interior de São Paulo. Durante entrevista, Ana Paula pediu perdão às vítimas. Agora, revelações mostram que o consumo desenfreado de drogas teria provocado um surto psicótico em uma das mulheres. A série "Caso Saul Klein: As revelações completas" é resultado de três meses de investigação e contou com mais de 30 horas de entrevistas, entre vítimas e advogados. O documentário mostra detalhes do que relatam as vítimas que alegam ter sido alvos de exploração sexual e o andamento das investigações. Saul é investigado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por acusações de estupro, aliciamento e exploração sexual de ao menos 32 mulheres. O Séries Originais vai ao ar nesta quinta-feira (3), às 22h30, logo após o Jornal da CNN.
Mais cuidados
Não é necessariamente o que diz o texto da CNN Brasil que expõe algumas mudanças de tratamento jornalístico em relação ao primeiro episódio – caso específico de retirar Ana Banana da condição de “funcionária de Saul Klein” para algo menos garantidor de credibilidade como “que se diz ex-funcionária de Saul Klein”. Como se sabe, há ação trabalhista que dirimirá eventuais dúvidas.
O que ocorreu no intervalo de uma semana entre um episódio e outro foi muito mais importante do que a CNN Brasil insistir em afirmativas de estupros para uma situação que está sendo investigada pela Delegacia de Defesa da Mulher em Barueri. Sobre isso, aliás, há evidências já consolidadas de que várias das declarantes caíram em contradição e, mais que isso, não há qualquer materialidade que sustente as afirmativas.
O que mais coloca a CNN Brasil em situação embaraçosa para quem acompanhou a programação durante todo o intervalo entre o primeiro e o segundo capítulo é que as chamadas da emissora à audiência, ostensivas na primeira semana, quase que desapareceram no intervalo seguinte. E as que foram levadas ao ar já não reuniam a espetacularização de antes. O que parecia uma sucessão de gritos de indignação se transformou em sussurros cautelosos.
Comedimento e vieses
Como – repita-se – era impossível reorganizar o segundo episódio de modo a corrigir a rota natural do capítulo de abertura, à CNN Brasil coube mesmo mais comedimento, mesmo que carregado de vieses de quem escolheu previamente o lado supostamente certo. Talvez tenha descoberto no meio do caminho – entre um episódio e outro – o que identificamos tanto no processo aberto pela promotora Gabriela Manssur como em algumas informações de fontes da Delegacia da Mulher de Barueri.
Polícia de fora
Trata-se do seguinte: o conjunto de informações repassadas à reportagem da CNN Brasil está longe de corresponder aos fatos documentados com provas. Não custa lembrar que a produção da CNN Brasil não ouviu ou não foi atendida pela delegada titular do Caso Saul Klein em Barueri. Trabalhou, portanto, com insumos da promotora criminal Gabriela Manssur. Alguns recheios descolados da denúncia de Gabriela Manssur procuraram dar uma indumentária nova que não resiste ao guarda-roupa anterior.
Como antecipei no primeiro capítulo desta série, o Caso Saul Klein é dominado por mulheres tendo um homem milionário e amante de mulheres como centro dos holofotes. Tornar Saul Klein demônio devorador de mulheres é a meta de mulheres como Gabriela Souza, advogada das supostas vítimas, e de Gabriela Manssur, a representante do Ministério Público Estadual. Além, claro, de Ana Banana, a ponta de lança de outra mulher, a cafetina Marta Gomes da Silva.
Mulheres e mulheres
Outras mulheres, com papéis secundários, também ocuparam espaços reservados pela CNN Brasil. Inclusive a ginecologista Silvia Petrelli, de São Caetano, que atuou diretamente nos cuidados das mulheres que dividiam os prazeres da vida com Saul Klein. Até prova em contrário, Silvia Petrelli tem a ficha limpa nas instituições que regram o comportamento de profissionais da área. Ela reagiu à reportagem de forma estridente.
Silvia Petrelli teve a reputação colocada em risco na rápida menção que lhe fizeram, colocando-a em situação subliminarmente incriminadora. Silvia Petrelli sentiu o cheiro da brilhantina de sensacionalismo em vez de esclarecimentos e, por isso, não concedeu entrevista à CNN Brasil. Pagou caro por isso no primeiro capítulo. Nada indica que o pagamento seria diferente se participasse do documentário.
Duras penas
Entre os homens, poucos homens que apareceram no vídeo, vários dos quais requisitados também pela cúpula de mulheres que seduziu a CNN Brasil a produzir o trabalho (casos de Gabriela Mansur, Gabriela Souza e Ana Banana), fonte primária das acusações, sobreviveu a duras penas o advogado de Saul Klein.
André Boiani teve aparições rápidas, quase que envergonhadas da produção. André Boiani falou o suficiente para que a série de dois capítulos procurasse dar alguma conformação de mão dupla à reportagem. Há quem acredite que isso tenha ocorrido. São observadores tão especializados em jornalismo como espectadores e telespectadores que dão ao bandeirinha de um jogo de futebol a mesma importância de um árbitro que marcou três penalidades polêmicas.
Resumidamente, apenas para não tomar muito espaço, faço uma lista sumária de alguns dos muitos pontos mais vulneráveis da série da CNN Brasil.
Edição incriminadora
A edição de fotos e cenas em que aparece Saul Klein foram cuidadosamente preparadas para realçar o papel de vilão previamente definido. A extenuante repetição do flagrante em que Saul Klein aparece numa festa em sua residência, em pose de rei, é um tiro no pé da produção do programa e das acusadoras. Afinal, está ali, claramente, um homem sequestrado por Ana Banana, coordenadora interna da cafetina Marta Gomes da Silva. Saul Klein está com o rosto inchado de tantos medicamentos e bebidas que Ana Banana lhe impunha no período de depressão. Uma comparação com as imagens do vídeo em que Saul Klein aparece numa audiência trabalhista, mais recentemente, expõe a diferença entre um homem doente e um homem recuperado por um geriatra.
Âncora problemática
A CNN Brasil fez de Ana Banana, desequilibrada emocional e comportamental, e em confesso tratamento psiquiátrico, âncora de credibilidade e fundamentação dos episódios.
Estrela legal
Provou que a promotora criminal Gabriela Manssur é a estrela legal da companhia das mulheres supostamente violentadas. Gabriela Manssur produziu inquérito ministerial apressado e espetaculoso esterilizado tanto na Justiça quanto na Polícia por falta de provas. A promotora criminal participou ativamente como consultora informal da CNN Brasil. Inclusive sugeriu, segundo fontes, o que foi chamado de organograma do crime organizado que teria Saul Klein no topo hierárquico. A imagem gera credibilidade, como na Operação Lava Jato, utilizada pela força-tarefa.
Virgens intocáveis
Fez de mulheres que cansaram de frequentar residências de Saul Klein quase que virgens intocáveis, sem explicar como se sustenta para valer o conceito de abusos e violência sexual com o retorno frequente das supostas vítimas aos locais.
Delação premiada
Evidenciou-se também iminente tentativa de Ana Banana ter combinado algo como uma delação premiada para sair da encrenca em que se meteu a mando de Marta Gomes da Silva, cafetina de múltiplos empresários de São Paulo. Ana Banana mostrou-se arrependida de ter coagido mulheres durante todo o tempo, sempre a mando de Marta Gomes da Silva, depois de desmascarada no inquérito policial como vilã que dispensava tratamento autoritário às mulheres selecionadas para um Saul Klein completamente fora de combate, vítima de depressão. Busquem Saul Klein na Internet nos respectivos anos de enclauramento e verificarão que o filho de Samuel Klein era de desconhecimento geral. Apenas o primogênito Michael Klein aparece nas buscas.
Cafetina em cena
Marta Gomes da Silva, a cafetina ainda pouco dissecada, foi colocada na roda de complicações nas casas de Saul Klein. Como consta da defesa em vários processos, com admissão judicial de que se trata de uma quadrilha organizada que sequestrou o namorador de mulheres durante vários anos, Marta Gomes da Silva deverá sofrer consequências de processos que se desdobrarão do Caso Saul Klein.
Complicações futuras
A Advogada Gabriela Souza, que cuida das supostas vítimas, menos de Ana Banana, que tem autonomia de voo ou algo semelhante, encontrará dificuldades para justificar nos próximos tempos algumas afirmações que ligam Saul Klein a ocorrências distantes de seu raio de ação.
Acordos deturpados
Quando se dá destaque à informação de que Saul Klein fez acordos de R$ 800 mil para supostamente calar a boca de mulheres que teriam sido violentadas (essa é a avaliação retirada do contexto da informação repetida à exaustão) o que se nega como essência desses mesmos acordos é que Saul Klein, em depressão profunda, aceitara as condições impostas pelas mulheres não porque as tenha estuprado, mas especificamente porque temia pelo arrombamento da excentricidade de sua vida sexual. Como tantos milionários na praça, nada é mais devastador aos negócios do que algo semelhante ao que envolvia Saul Klein. Muitos “cala-bocas” fazem parte do cotidiano de homens poderosos e mulheres ambiciosas.
Sequestrado em casa
A narrativa não esclareceu que o consumo combinado de bebidas alcoólicas e medicamentos – segundo declarações de várias mulheres que se declararam favoráveis a Saul Klein – era uma obra-prima de dominação, controle e sequestro cognitivo engendrada por Ana Banana, a mando da cafetina Marta Gomes da Silva. O estado de saúde de Saul Klein agravava-se a cada dia por conta dos controladores de sua vida, todos relacionados à quadrilha chefiada por Marta Gomes da Silva. Mais que não esclarecer o uso de medicamentos e bebidas pelo dono das casas, a CNN Brasil sugere que o anfitrião das mulheres que tanto amava era o responsável direto pelo consumo generalizado.
Perfil sonegado
A produção da CNN Brasil não se aprofundou em traçar o perfil da principal denunciante, Ana Banana, que atuou em conjunto com a promotora criminal Gabriela Manssur na produção da denúncia ministerial. As vulnerabilidades de Ana Banana estão expostas em vários vídeos espalhados nas redes sociais, inclusive por ela mesma. Sem contar as cartas de amor, os vídeos de amor, dirigidas a Saul Klein, de quem foi namorada. Há outras situações mais constrangedoras ainda, que envolvem o que nichos mais modernos de comportamento chamariam provavelmente de virtudes educacionais que Ana Banana patrocinada aos filhos. A Ana Banana de verdade, sem máscara, sem mistificação de imagem, não serviria para a CNN Brasil, assim como não serve a nenhuma outra mídia convertida em assassinato social. A razão é simples: suas fraquezas, contradições e culpabilidades refluiriam o empuxo pré-determinado de condenação pública de Saul Klein.
Contaminação familiar
A introdução no episódio número dois da vertente da vida sexual do pai de Saul Klein, Samuel Klein, criador da Casas Bahia, teve o propósito específico de juntar o passado e o presente em forma de contaminação de narrativas. A denúncia do site Agenda Pública, repassada a vários veículos, inclusive à Folha de S. Paulo, além do portal UOL, foi incorporada ao segundo episódio da CNN Brasil para reforçar a tese da feminista Gabriela Souza, advogada das mulheres supostamente violentadas, de que a genética ou algo assemelhado teria garantido o repasse de comportamento sexual criminoso. Tanto no caso do pai quando do filho não há comprovação processual das denunciantes.
Telefonema de quem?
A suposta tentativa de Saul Klein comprar o passe de mulheres arroladas como supostas vítimas revela também a ausência de cuidados da reportagem com assunto tão delicado. O encaminhamento da denúncia possivelmente fraudulenta foi rechaçado pelo juiz criminal de Barueri, que sugeriu encaminhamento à Delegacia da Mulher que investiga o caso. Há informações de que a advogada Gabriela Souza, das mulheres supostamente violentadas, não seguiu a recomendação. Ela teria temido que se meteria em encrenca, por falta de elementos que colocassem Saul Klein e entorno como construtores da tentativa de cooptação. Mais que isso: teria temido que a denúncia pudesse representar um tiro pela culatra: a mensagem do homem ao telefone poderia acabar no próprio reduto das mulheres acusadoras.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)