Imprensa

Do gataborralheirismo ao
banditismo social: novo livro

DANIEL LIMA - 06/07/2021

Decidi no último fim de semana e já disparei processo que pode ser atropelado ou bafejado pelo tempo, porque só o tempo decidirá. Vou destrinchar essa tarefa como se não houvesse ano que vem, mas no fundo da alma acho que vou superar o terceiro macrociclo de vida. Trata-se do seguinte: comecei prévia seleção de textos que produzi para a revista LivreMercado e o site CapitalSocial ao longo de 30 dos até agora 55 anos de carreira. 

Mais precisamente, vou me ater ao período de 2000 em diante (que pode ser pouco ou muito adiante). Vou deixar os textos prontos à impressão em papel e à exposição digital.  

Já me decidi pelo título do livro. Trata-se de escolha transitória ou definitiva. Tudo vai depender do Grande ABC que venha a viver a cada dia nos próximos não sei quantos anos. Considero baixa a probabilidade de mudança. Essa é uma terra sem alma e coalhada de espertalhões -- com desvantagem sobreposta de mania de grandeza que e se perdeu ao longo de décadas. 

Banditismo social

Depois de Complexo de Gata Borralheira, Meias-Verdades, Na Cova dos Leões e República-Republiqueta, o que tenho para o pós-morte é “Do gataborralheirismo ao banditismo social”. Nos próximos dias vou organizar um minidicionário de banditismo social para que os leitores entendam o significado da obra.  

A expressão bandidismo social tem flexibilidade quase extravagante de abordagem, mas, paradoxalmente, leva ao mesmo destino conceitual. São pessoas que poderiam fazer mais pela regionalidade, pelos pobres e miseráveis, pelos empreendedores, pelo conjunto da sociedade. São gentes bem-posicionadas no tabuleiro social, mas só enxergam os próprios umbigos.  

Se não houver mudança de rumo, será meu quinto livro. Pode ser, entretanto, que outras edições se anteponham. Até porque, este, especificamente este, será pós-morte. Vou explicar o que significa pós-morte.  

Se aquela cigana do Guarujá que há 25 ano pegou nas minhas mãos e disse que teria vida muito longa e repleta de dinheiro não se enganou, chegaria aos 94 com a vida boa de quem não precisaria se preocupar com o amanhã.  

Se estivesse seguro de que não seria surpreendido pelo destino, nem pensaria em preparar um livro com tanta antecedência, reservando dinheiro e dados específicos da obra para quem de direito mandar imprimir.  

Mensagem reforçada

O assassinato não consumado de que fui vítima em primeiro de fevereiro poderia reforçar a mensagem da quiróloga, mas estou com um pé atrás. Há bandidos sociais na praça que pretendem desde muito tempo interromper minha caminhada. Eles são tão conhecidos que até hoje não me faltam abordagens correlacionando o primeiro de fevereiro a crime de encomenda. Não creio nisso. Mas não descreio de conjecturas marginais.  

Não conheço nenhum caso de alguém que tenha decidido produzir um livro preventivo. A literatura é abundante em autores que se dedicaram a escrever sobre a própria morte anunciada em exames clínicos.  

Entretanto, um livro deliberadamente preparado como vacina aos maledicentes e despreparados é outra coisa. E só estou botando mãos à obra porque sei exatamente o que fizeram comigo depois do tiro no rosto, à queima-roupa.  

Tratamento precário

Na maioria dos casos, a imprensa regional me tratou mal e porcamente o caso. O Diário do Grande ABC, então, foi um descalabro. Justamente o jornal no qual trabalhei durante 16 anos e ocupei todos os cargos possíveis. Sem contar ter assumido a condição de ombudsman oficial duas vezes.   

A única jornalista que cobriu o Caso do Pet Shop com atenção foi Gislayne Jacinto, do ABCD Jornal. A quase totalidade dos demais cumpriu a pauta fastfoodiana comum destes tempos, com informações rasas. A mídia paulistana não foi diferente. O noticiário policial é tão competitivo e apressado que seria bobagem pretender algo diferente senão a informação imprecisa e pragmática.  

Diário parcial

A cobertura do Diário do Grande ABC foi completamente imprecisa e tendenciosa, exceto nas duas oportunidades em que fui ouvido, já na fase de pós-hospitalização, com direito a seis dias em UTI. Entretanto, foram entrevistas incompletas que não tocaram na fratura exposta da parcialidade do jornal. A parcialidade que se segue.  

Trata-se da reportagem de 4 de fevereiro, enquanto estava entre a vida e a morte na UTI do Hospital São Bernardo. O advogado do assassino frustrado desfilou narrativa ardilosamente mentirosa. O jornal não teve a capacidade de ouvir o outro lado, no caso quem me acompanhava e que, em seguida ao crime, prestou depoimento à Polícia.  O jornal poderia ao menos disfarçar neutralidade. O que já seria um crime da mala jornalística. O caso está amparadíssimo em provas materiais. Fui vítima de um assassino frio. Não houve qualquer tentativa de reação. Tampouco briga corporal.   

A reportagem parcialíssima do Diário do Grande ABC e a superficialidade da quase totalidade das demais mídias me levaram à conjectura de um livro pós-morte que retrate uma ínfima parte do que andei fazendo por estas bandas desde primeiro de outubro de um ano qualquer do século passado, e cujo passaporte foi renovado em primeiro de fevereiro deste ano.  

Já havia decidido (e publicado neste site) que acertaria as contas com familiares para manterem vivo este espaço no qual a regionalidade em múltiplos vetores é acervo inestimável às gerações que pretenderem entender o histórico do Grande ABC livre de amarras e condicionantes.  

História longa

Aqui os leitores encontram desde 2009 textos mais personalizados deste jornalista, mas, antes disso, a partir de 1990, quando criei a revista LivreMercado, há centenas de trabalhos tanto meus quanto da equipe que dirigi. E, também, anteriormente a isso, vários textos dos tempos da Agência Estado, do Grupo Estadão. Sem contar matérias que preparei para o Diário do Grande ABC nos períodos que ali estive como repórter, editor e comandante de redação, além de ombudsman autorizado.  

Decidi que a cronologia do último livro de minha vida, com data de lançamento que espero estar bem distante, contará com tantos textos quanto os anos que frequentei a Terra. Será uma tarefa árdua, convenhamos. Produzo a cada temporada de 12 meses perto de 400 análises. Já foram perto de 500, mas dei uma refreada. Há quase oito mil textos neste site, desde os tempos de LivreMercado. Perto de 80% de minha autoria. Vou ter que escolher não mais que 10% das publicações.  

Para os leitores terem ideia mais precisa, só na Editoria de Sociedade, a primeira que resolvei desvendar, são quase mil análises. Ainda não defini a cota de cada editoria a ser lastreada, mas é provável que “Sociedade” tenha preferência.  

Faça sua escolha

Vou reproduzir na sequência um bloco de 10 matérias de Sociedade, considerando-se o desafio de que terei que escolher apenas uma para compor o livro pós-morte. Sugiro aos leitores uma reflexão: quantos jovens no futuro, gente que vai vasculhar a Internet, por exemplo, gostariam de tentar entender o Grande ABC sob o prisma de um jornalismo independente? Se o leitor pudesse escolher apenas um dos 10 textos abaixo, qual escolheria?  

1. Província perde associações de bairro e vigilância fica à deriva. 

2. A gente não quer só dinheiro; a gente quer dinheiro e felicidade. 

3. Dez motivos para o trânsito metropolitana virar um inferno. 

4. Nossas propostas para humanizar o predatório mercado imobiliário. 

5. Um teste à seriedade da OAB e de outras entidades de Santo André. 

6. Província segue com a farra de homenagens nos legislativos. 

7. Barbaridade: Diário esquece Celso Daniel na lista de 460 admiráveis. 

8. Precisamos de um Ranking de Transparência das entidades. 

9. Província é concordatária bem diferente da americana Detroit. 

10. Não mais que 30 mandachuvas dão as cartas na Província. Como mudar? 

Faça nova escolha

Se os leitores não estão convencidos de que os 10 títulos relacionados não significam uma decisão desafiadora à escolha de apenas um, então vamos a um segundo bloco, sempre da Editoria de Sociedade. Outras editorias estão na fila. Vejam os títulos: 

11. Falta Polícia Federal para abalar o Clube dos Corruptos da Província. 

12. Província bem que merece um Téo Pereira de carne, osso e lantejoulas. 

13. Ministério Público de São Bernardo despreza irregularidades de Bigucci. 

14. Decadência da Província se explica sobretudo pela confraria dos velhacos. 

15. PT exagera na dose ao partidarizar futebol vitorioso em São Bernardo. 

16. Carnaval Regional: sugestões para uma festa muito além das passarelas.  

17. Identifique esses cães de aluguel. 

18. Quando as máfias imobiliárias da Província vão ser desmascaradas? 

19. Desaba Expectativa de Futuro do Grande ABC em 30 anos. 

20. Afinal, qual é o seu lugar nos nichos da sociedade?  

Contra golpistas éticos

Notaram os leitores que este site reúne o que há de mais contundentemente interessante a quem de fato tem o Grande ABC no coração nas inquietações? E não me faço de hipócrita e tampouco alguém vai me chocar por eventual interpretação de que seja cabotino ao expor essa decisão de programar um livro pós-morte. No fundo, no fundo, só quero evitar que golpistas éticos tenham alguma nesga de credibilidade quando me reservarem um obituário mentiroso, porque nada é mais ofensivo à dignidade humana que uma notícia fraudulenta da qual se tem conhecimento apenas porque o destino contrariou as probabilidades e resolveu me manter vivo.  

Para completar, há uma pendência explicativa. Quando me refiro ao “terceiro macrociclo” de vida, a questão é a seguinte: divido em três partes iguais nossa potencial jornada terrestre. É bem verdade que o terceiro ciclo não reúne mais que 10% da humanidade. Os 90% faltantes já foram para outra plataforma.  

Mas, sendo otimista, o primeiro ciclo tem o limite máximo dos primeiros 30 anos de vida. O segundo situa-se entre 30 e 60 anos. E o terceiro, entre 60 e 90 anos. Além disso, é sortilégio. No primeiro decênio do terceiro macrociclo da vida, nutro a expectativa de que a cigana está certa. Mas, por via das dúvidas, se a revalidação de primeiro de fevereiro não for tão supostamente extensa como deve ser, nada melhor que passar sebo nas canelas editoriais. Um texto para cada ano é pouco, por isso que o pouco não pode ser tão pouco. Os carniceiros estão de tocaia. 



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