Imprensa

Capas: 66 páginas nas cinco
primeiras edições da largada

DANIEL LIMA - 02/08/2021

Iniciamos hoje o anunciado Projeto Reportagem de Capa, que tem a revista de papel LivreMercado como centro de atenção. O melhor jornalismo regional do País, lançado em março de 1990 com o conceito de produzir conteúdo duradouro, típico de publicações semanais, encorpou-se em novembro de 1996 ao tornar-se esteticamente revista. LivreMercado, até então, era editada em formato editorial de revista, mas fisicamente em papel cuchê e sem a materialidade convencional de capa. Era um tabloide metido a besta.  

O que os leitores vão ver na sequência é apenas uma vitrine das cinco primeiras capas de LivreMercado, de novembro e dezembro de 1996, e de janeiro, fevereiro e março do ano seguinte, março. O Projeto Reportagem de Capa se estenderá até se completar o ciclo em janeiro de 2009.  

Aquela nova etapa de LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, foi lançada tendo o prefeito Celso Daniel, recém-eleito em Santo André, como protagonista especial. Iniciava-se com o maior prefeito regional que o Grande ABC já teve um período de efervescência de regionalidade jamais visto na história. E que jamais se sustentou a partir do assassinato de Celso Daniel, em janeiro de 2002.  

No total, as cinco primeiras edições agora contempladas contaram com 454 páginas, das quais 66 de Reportagem de Capa.  

A mais robusta dessas cinco edições – e provavelmente de toda a história de LivreMercado -- foi a de março de 1997. Nada menos que 44 das 100 páginas tiveram como centro editorial a Reportagem de Capa. 

Dar a largada no Projeto Reportagem de Capa tendo Celso Daniel na primeira fila --- juntamente com uma tomografia completa da situação do Grande ABC como mostra a edição de março de 1997 --- é a expressão viva de uma jornada inigualável que LivreMercado imprimiu no jornalismo regional.  

Fica apenas a decepção de que, exceto no ambiente de CapitalSocial, o legado de jornalismo reformista não encontra parceiros de jornada. A concepção longa-vida de LivreMercado e de CapitalSocial é de característica única no jornalismo regional do País.



Celso Daniel garante que vai ser  

prefeito de toda a comunidade   

 DANIEL LIMA  

Edição de novembro de 1996 – 86 páginas 

Reportagem de Capa: quatro páginas 

O prefeito eleito de Santo André, Celso Daniel, engenheiro civil e professor da Fundação Getúlio Vargas, não se deixou encantar pelo volume de votos que recebeu em 3 de outubro e que lhe conferiu a maior votação em números absolutos e relativos do Grande ABC. Foram 205.317 eleitores, ou 61% dos votos válidos, que o recolocam a partir de 1º de janeiro no Paço Municipal de Santo André. Aos 46 anos de idade e experiência de parlamentar federal de quase três anos de mandato, Celso Daniel transmite a impressão de que marcará nova gestão à frente da Prefeitura pela flexibilidade. Para começar, garante em tom firme que pretende administrar com o partido (PT), mas não sob as rédeas do partido, num aviso emblemático às bases mais radicais de que não vai repetir os descuidos de comando do primeiro mandato. O Celso Daniel Bom de Voto quer também se consagrar como Bom de Governo. O rompimento com o passado recente de administrador vinculado demais ao Partido dos Trabalhadores não lhe provoca frases de rebeldia explícita. Com a polidez usual, afirma que não se prenderá a eventuais obstruções para nomear todos os membros do secretariado, os quais pretende anunciar até o final deste mês. Uma das primeiras providências depois da avalanche de votos de outubro foi reunir-se com os principais integrantes do PT em Santo André. Entre os assuntos abordados, posicionou-se quanto aos executivos públicos que vão lhe dar suporte técnico-operacional. “Posso garantir que o nível de renovação do quadro de secretários em relação à primeira gestão é grande. E teremos pessoas não necessariamente vinculadas ao partido, mas sim comprometidas com nosso programa de governo” – disse Celso Daniel durante encontro informal com membros do Fórum da Cidadania, três dias antes de embarcar para a Europa, onde pretende colecionar novos exemplares de gestão pública para eventuais adaptações não só em Santo André, sua maior base eleitoral, mas em todo o Grande ABC, aí como integrante do Consórcio Intermunicipal.  

A Discreta Revolução  

dos Shoppings Centers    

 ANDRÉ MARCEL DE LIMA  

Edição de dezembro de 1996 – 86 páginas     

Reportagem de Capa – seis páginas   

O Grande ABC vive outra revolução, além da impiedosa necessidade de atualizar seu importante parque industrial. O comércio convencional está sob a artilharia de antigos, recentes e novos empreendimentos no setor de shopping center, estrelas que chegaram atrasadas, devagar, mas agora ensaiam blitz portentosa, com investimentos de expansão e de novas plantas. Os representantes dos shoppings tentam minimizar o quadro de competitividade que deverá gerar muitas vítimas nos centros comerciais centrais e na periferia. Também fazem manobras para disfarçar outro choque latente e que envolve shoppings já instalados e alguns dos anunciados. Só existe uma certeza entre os contendores: os consumidores já estão ganhando com esse jogo aberto e franco, porque além da elevação do grau de competição que se instalou por força da concorrência, os preços ganharam maior visibilidade desde o Plano Real e aspectos como qualidade dos produtos e do atendimento já não são mais supérfluos. Apesar do desconforto que a guerra santa pelos consumidores provoca, com tendência internacional de perdas para o comércio de rua, tradicionalmente menos atualizado e preparado para o jogo de sedução da clientela, a transformação surda e muda que se vive no Grande ABC é menos desgastante do que a que envolve a indústria. Principalmente a de autopeças, salsicha no meio de duas bandas de pão representadas pelas pressões de preços das montadoras de veículos protegidas da concorrência internacional por alíquotas elevadíssimas e fartamente beneficiadas pelas negociações junto a fornecedores estrangeiros de matérias-primas, autopeças e insumos internacionais, que encontram os portos praticamente escancarados e não têm de carregar nos ombros o chamado Custo Brasil adicionado do Custo ABC. O comércio da região vai conhecendo o boom dos shoppings centers mas isso não significa, de imediato, que o quadro seja de desespero aos comerciantes de rua. É verdade que o jogo vai ficando cada vez mais bruto, que o peso de tributos é mais acentuado num regime de estabilidade monetária e de aperfeiçoamento da máquina arrecadatória, mas não há como negar que a canibalização ainda não chegou a extremos.  

Prefeitos-operários de Diadema 

e São Caetano explicam sucesso 

 DANIEL LIMA  

Edição de janeiro de 1997 – oito páginas  

Reportagem de Capa – oito páginas  

Aviso aos navegantes, no caso os prefeitos que acabam de assumir os municípios do Grande ABC: se quiserem terminar o mandato daqui a quatro anos com prestígio maior do que o do ápice de Fernando Henrique Cardoso pós-Plano Real, que tratem de prestar atenção nos pontos mais importantes de dois campeões de popularidade que acabam de deixar seus postos, Antonio Dall’Anese (em São Caetano) e José de Filippi Júnior (em Diadema). Eles encerraram o mandato com mais de 70% de bom e ótimo na avaliação dos eleitores, administraram cidades completamente antagônicas, caso da classe média e centenária São Caetano e da popular e balzaquiana Diadema, porque reuniram em comum a face de executivos operários. Desses que não têm hora para atender a população. “Mesmo que para dizer mais não que sim” — ressalva Dall’Anese. O mais experiente Dall’Anese e o ainda jovem Filippi praticamente esqueceram a família durante os quatro anos. A proximidade com a população, quase compulsória porque os dois municípios detêm as maiores densidades demográficas do Estado, com mais de 10 mil pessoas por km/quadrado, os impulsionou à tarefa de verdadeiros operários. Por isso, os novos prefeitos devem levar em conta com certa dose de prioridade as três melhores alternativas para encantar o eleitorado. Primeiro, que façam obras. Segundo, que façam mais obras. Terceiro, que façam muito mais obras. Mas é preciso entender também o conceito do que são obras na São Caetano completamente urbanizada e na Diadema sempre carente de infraestrutura. A consagração do estilo Paulo Maluf de ser, de investimentos que ganham as manchetes e muita visibilidade eleitoral, não é exatamente o estilo dos dois prefeitos que acabaram de sair. Em São Caetano, na verdade, obras não significam necessariamente o convencional ato de construir, construir e construir. Mais que centenária, São Caetano, garante Dall’Anese, exige o que chama de manutenção e também reconstrução. Diadema, sim, veste bem o figurino construtivo. Porque povoada a partir dos anos 60, mas aceleradamente ocupada nos anos 70, o Município está há três gestões municipais, todas do PT, transformada literalmente em canteiro de obras. Principalmente de infraestrutura de saúde, educação, esporte e lazer. Dall’Anese cita caso emblemático do que chama de reconstrução da velha São Caetano. “Num dos primeiros dias de gestão, ruiu o forro de uma escola infantil sobre os alunos que, assustados, sentiram o peso de dezenas de filhotes de pombas mortos. Tivemos que praticamente reconstruir o prédio, como fizemos em tantos outros e ainda há muitos a serem recuperados” — afirma.  

Escravos do Real   

 DA REDAÇÃO    

Edição de fevereiro de 1997 – 86 páginas 

Reportagem de Capa – quatro páginas   

Eles representam a classe média brasileira. Média-média, média-baixa, média-alta. Eles são empreendedores típicos do Grande ABC, região que vive à sombra e à inclemência das montadoras de veículos. Eles podem ser chamados também de Escravos do Real. É provável que desaprovem a identificação, mas talvez nenhuma outra expressão os defina melhor. Escravos do Real porque, desde que o plano do então ministro e hoje presidente Fernando Henrique Cardoso surgiu no cenário econômico brasileiro, eles começaram a sentir maior necessidade de produzir mais para enfrentar as dificuldades de um País que aprendeu a valorizar a moeda, depois de quatro perdulárias décadas de inflação. Os Escravos do Real, que também sofrem os efeitos da globalização dos negócios, têm em comum carga diária muito maior e mais intensa de trabalho, sem a contrapartida de resultados financeiros compatíveis com tanto esforço e muito aquém do período inflacionário. Mas eles estão felizes. A estabilidade monetária e consequente visibilidade da situação econômica em que se encontram compensam a queda do padrão de qualidade de vida que todos dizem estar sentindo com a redução das horas de descanso e de lazer. Os Escravos do Real são o contraponto dos festejados brasileiros de classes populares que encontraram no plano de estabilização a terra prometida. Os reis do Real, os pobres comprovadamente beneficiados e que não tinham recursos para se acautelar contra a inflação através de contas remuneradas pela indexação financeira, fizeram e ainda fazem estripulias consumistas, na maioria dos casos espichadas pelo crediário a juros escorchantes. Os Escravos do Real sofrem mas não perdem o bom humor. Eles pagaram muitas contas da reengenharia econômica implantada há 32 meses. O índice de custo de vida medido pela Fipe aumentou pouco mais de 60% desde julho de 1994, mas os serviços pessoais, que os Escravos do Real utilizam em grande escala, subiram 150%, as despesas operacionais na manutenção dos domicílios espetaram 140%, os serviços médicos, 125%, as escolas mais 116% e a alimentação fora de casa outros 76%.   

Futuro do Grande ABC  

pertence à sociedade   

 DA REDAÇÃO   

Edição de março de 1997   -- 100 páginas 

Reportagem de Capa -- 44 páginas    

Como temer o futuro uma região geograficamente metropolitana que reúne sete prefeitos igualmente decididos a empreender gestões integracionistas? Como temer o futuro uma região que tem uma entidade chamada Fórum da Cidadania que, em quase três anos de atividades, só coleciona sucessos como agente mobilizador da sociedade? Como temer o futuro uma região que tem em seus respectivos Municípios secretários de Desenvolvimento Econômico decididos a implementar ações conjugadas, tal qual seus chefes, os prefeitos? Como temer o futuro uma região eleita pelo governo do Estado para sediar o lançamento da Câmara Regional, primeira e inusitada experiência de gestão compartilhada de uma numerosa agenda de intervenções, da qual farão parte, além do próprio Estado, os prefeitos, através do Consórcio Intermunicipal, os vereadores, que também arregaçaram as mangas, a sociedade civil, através do Fórum da Cidadania, lideranças sindicais e empresariais diversas? Como temer o futuro uma região com 2,3 milhões de habitantes que representam o quarto maior potencial de consumo do País? Como temer o futuro uma região que conta com retumbantes investimentos nas áreas comercial e de serviços, que tem como sede grandes indústrias, que reúne operariado de qualificação superior à média nacional, que tem gama imensa de executivos que disputam novo filão de negócios na área de consultoria? Como temer o futuro uma região em que uma de suas principais empresas, a Ford, anuncia para o próximo dia 14, com a esperada presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, o lançamento da produção de um avançado modelo de veículo, o KA? O KA é um automóvel revolucionário que incorpora estilo ousado e criativo e ganhou o título de Carro do Ano e oito outros importantes prêmios na Europa. É um popular que chega ao Brasil cinco meses depois do lançamento oficial no Primeiro Mundo. O Grande ABC tem esses e outros motivos para acreditar no futuro. E deve insistir nessa perspectiva, até porque o contrário seria catastrófico. Mas o bom senso não pode escamotear uma dura e inquietante realidade: toda essa movimentação praticamente sem paralelo no País, pelo menos no volume e intensidade com que vem sendo concebida, são fantasmas exorcizados dos armários do comodismo, da dispersão, da insensatez, e do descaso coletivo protagonizados durante quatro longas décadas. Exatamente a partir do momento em que o Grande ABC começou a ganhar a configuração de poderosa região econômica, com a implantação da indústria automotiva. Para contribuir com o futuro regional necessariamente melhor que o presente de esvaziamento econômico e de percalços sociais, o Fórum da Cidadania está em franca metamorfose. A ordem é apurar a artilharia conceitual para dar intensa assessoria à Câmara Regional. Os grupos temáticos, de desenvolvimento econômico, segurança, saúde, políticas públicas, planejamento urbano, educação e outros, vão saltar para o primeiro plano na hierarquia. Esses microorganismos vão construir informações mais profundas. O Colégio Executivo deixará a ribalta e vai atuar mais como mecanismo de articulação política e técnica. O Fórum terá também novos segmentos sociais a reforçar seus ideais de cidadania, mas as conjecturas ainda não foram levadas à aprovação da plenária, seu poder supremo. Certo mesmo é que se o Fórum fez furor em 30 meses de gestação da Câmara Regional, uma nova criatura institucional no Grande ABC, seu futuro mais imediato não será diferente, a não ser com ganhos de impetuosidade. 



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