Imprensa

OPP mostra que
Pólo está mudando

DANIEL LIMA - 05/10/1998

Uma semana depois de soltar prolongado uuuuuaaau! no palco do Teatro Municipal de Santo André, quando o mestre-de-cerimônias Wellington de Oliveira anunciou a OPP Polietilenos como a Melhor das Melhores do Prêmio Desempenho Empresarial, Nívio Roque ainda estava eufórico com a conquista. O comandante dessa unidade fabril do setor químico/petroquímico de gigantesco conglomerado empresarial, o Grupo Odebrecht, ainda vai comemorar por muito tempo uma premiação cujo valor ele parece ter definido como nenhum outro campeão maior antes: "A ansiedade vai crescendo tanto, mas tanto, depois que a gente sobe pela primeira vez no palco, que parece uma bola de neve. Quando aquelas mulheronas entraram para cantar antes da divulgação dos resultados finais e deram aquele show, foi uma bênção. Deu para colocar as batidas do coração num ritmo menos acelerado, deu para respirar melhor. Mas depois do show a ansiedade voltou. Foi uma loucura" -- relembra esse homem simples, que, depois de cumprir longas jornadas de trabalho de segunda a sexta-feira na peça mais bem organizada da vasta coroa de empresas do Grupo Odebrecht, ainda encontra tempo, vontade e dedicação para se doar a causas sociais voltadas para os portadores de hanseníase. 

A noite de 15 de setembro foi completa para Nívio Roque. Além de levar o prêmio maior do PDE entre 66 Destaques desta temporada, conseguiu vaga entre os três Executivos do Ano. Essa outra corrida começou com a elaboração de uma lista de 18 personalidades das mais diferentes áreas do Grande ABC, se afunilou com a eleição dos 10 Destaques do Ano e redobrou a dosagem de ansiedade de que tanto Nívio fala quando, de novo, os membros do Conselho Consultivo debruçaram-se sobre planilhas para decidir quem seriam os três melhores da categoria.

Nívio Roque confessa sem qualquer exibicionismo que, quando se viu entre as 10 personalidades anunciadas dias antes da festa, passou a desconfiar que a sorte da OPP Polietilenos nesta edição do PDE seria diferente da do ano anterior, quando a empresa também se inscreveu na disputa. "Se estava entre os Destaques de executivos, imaginava que o Conselho Consultivo levou em conta o peso do nosso case que constava do livro Vencedores. Por isso, fui para o teatro esperançoso de que desta vez a OPP estaria entre as 12 Melhores do Ano" -- contava Nívio uma semana depois, pouco antes de recomendar à secretária que reunisse o maior número possível dos 170 funcionários da empresa para uma foto histórica nas dependências da fábrica. 

Nívio Roque foi ao Teatro Municipal na companhia de um dos filhos, que é médico, e de executivos da OPP. A mulher ficou em Santos, onde reside, esperando telefonema a qualquer momento. A expectativa de colocar a OPP entre as Melhores do Ano se confirmou quando Nívio foi chamado ao palco. Era a segunda vez na noite que o cerimonial o convocava a deixar a poltrona na platéia. Na primeira os aplausos foram dirigidos para a OPP e as demais empresas do setor industrial chamadas em bloco para receber o título de Destaques do Ano. 

Ano Passado -- A OPP Polietilenos também constava da relação de Destaques da festa de 1997. Nívio acha que a empresa poderia ter tido melhor sorte, como ingressar no seleto grupo de Melhores do Ano, se a Imprensa não tivesse dado tanta ênfase ao controvertido contrato de participação do Grupo Odebrecht no planejado Pólo Petroquímico de Paulínia. O desenvolvimento daquela base petroquímica poderia desviar do Pólo de Capuava potenciais investimentos dos poucos grupos do setor. Responsável por 20% da produção nacional de nafta, o Pólo de Capuava perde feio para outros dois centros de produção nacional, o Copesul no Rio Grande do Sul e o Copene, na Bahia, nos quais o Grupo Odebrecht tem forte participação. Nívio entende que o noticiário acabou contaminando a potencialidade da OPP.

Depois de subir os pouco confortáveis degraus de acesso ao palco do Teatro Municipal para receber a placa entre as 12 Melhores do Ano, Nívio Roque já se dava por satisfeito. Sabia que a partir daí o que viesse seria lucro, um grandiosíssimo lucro. O trabalho que realiza no grupo do setor petroquímico da Câmara do Grande ABC, voltado para o aumento da capacidade produtiva do Pólo de Capuava, com profundas repercussões socioeconômicas numa região que vê seu brilho industrial apagar-se lentamente, poderia ajudar Nívio na disputa por uma das três vagas de Executivo do Ano. Admite que chegou a pensar nisso, até porque figurava entre os 10 Destaques do Ano. 

Os nomes com os quais dividia a láurea o colocavam na devida retranca. Havia dois prefeitos, secretários municipais, representantes do governo do Estado, representantes do setor não-governamental e ainda por cima Sérgio De Nadai, empresário com gosto e tempero para surpreender em atividades paralelas que flutuam da área assistencial à cultural. Sem contar que anda sobrando como empreendedor entre os poucos grupos familiares que partiram praticamente do zero, evoluíram e se mantiveram fortes no Grande ABC. 

Quando foi anunciado entre os Executivos do Ano, Nívio confessa que tremeu sobre as pernas. "Era emoção demais para um só coração" -- afirma. Se ao microfone estendido quando recebeu a placa de Melhores do Ano das mãos de Miriam Belchior, secretária de Administração de Santo André, a voz trêmula de Nívio Roque fez menção direta ao trabalho de equipe, à nova oportunidade que se lhe ofereceu para falar ao receber a placa de Executivo do Ano ele acabou sendo repetitivo. Compreensivelmente repetitivo. Logicamente repetitivo. Como mostrou na prática ao convidar uma semana depois todos os funcionários para fotos cujos alguns exemplares constam desta reportagem. Nívio Roque também balbuciou agradecimentos à família que lhe garante a estabilidade emocional e o respeito que transmite aos interlocutores. 

De Nadai no páreo -- No superlotado palco, onde membros do Conselho Consultivo e muitos convidados foram chamados pelo cerimonial, Nívio Roque já não considerava apenas um sonho ver a OPP eleita Melhor das Melhores. Lembra que, apesar de tantos vitoriosos no palco, não tinha por que deixar de acalentar esperança. Quem mais poderia tirar-lhe o título máximo era a De Nadai. Afinal, Sérgio De Nadai também está ali no palco, depois de, como ele, ser chamado quatro vezes pelo cerimonial, como representante de uma das empresas Destaque do Ano, uma das 10 Personalidades Destaques do Ano, uma das 12 organizações Melhores do Ano e um dos três Executivos do Ano. 

Foram momentos que pareciam eternidade, lembra Nívio Roque. Ele suava frio. Torcia para estar certo, mas sabia que a De Nadai era páreo duro porque, além do case propriamente dito submetido à avaliação dos consultores, recebera reforço considerável na etapa decisiva de análises, quando a revista Exame a escolheu entre as 50 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil. Exatamente um resumo da reportagem com a qual a De Nadai inscrevera-se no Prêmio Desempenho Empresarial. O regulamento do PDE, lembra Nívio Roque, é claro quanto ao contexto que envolve o trabalho dos membros do Conselho Consultivo. O case publicado não é peça intocável nem objeto único de interpretação. Nívio chegou a ter maus pensamentos. Imaginava-se atingido no ano anterior pelos reflexos do Pólo de Paulínia. Imaginava-se agora vencido pelo peso sobressalente da premiação da Editora Abril à De Nadai. 

"Se não chegasse agora à Melhor das Melhores reagiria com natural desencanto inicial, mas a premiação estaria em ótimas mãos, porque a De Nadai dispensa comentários. É uma empresa de ponta" -- afirma Nívio. 

Nívio e Sérgio juntaram-se para a sessão de fotos na segunda-feira seguinte à premiação, dia 21, nos estúdios da Memories & Lello, em Santo André. Nívio chegou primeiro. Ele e Sérgio brincaram o tempo todo, inclusive durante os flagrantes. Serginho, como é mais conhecido, fez questão de levar a mãe para dar retoques na maquiagem. Nívio foi só. Cancelou um compromisso diante da informação de que seria difícil conciliar, de novo, a agenda com a correria de Serginho. Eles estavam tão descontraídos que nem de longe se desconfiaria que estivessem de cabeça inchada com o resultado do futebol -- ou handebol? -- do dia anterior, um domingo em que a Portuguesa enfiou 7 a 2 no São Paulo, o time de preferência de ambos. 

Voltando ao palco do Teatro Municipal na noite de 15 de setembro, Nívio Roque não resistiu ao prolongado, sonoro, contagiante e assustador -- para o ouvido vizinho de Aparecida Petak, do Colégio Barão de Mauá -- uuuuuaaau! de desabafo quando o cerimonial anunciou o nome da Melhor das Melhores. OPP Polietilenos. OPP Polietilenos. Duas vezes. Como se fosse preciso repetir a identidade da empresa para que seu comandante maior se apercebesse de que estava acordado. 

Daí em diante foi uma festa só. O filho não conseguiu conter as lágrimas quando acionou o telefone celular e ligou para Santos. Do outro lado da linha dona Nícia ouviu a notícia. O aparelho chegou às mãos trêmulas de Nívio para breve mas profundo diálogo. Lágrimas rolaram também no rosto do executivo da OPP Polietilenos. 

Todos os prêmios conquistados -- da companhia e do próprio executivo -- foram instalados três dias depois no refeitório, local de frequência obrigatória dos funcionários da OPP. Inclusive a gravura de Aldemir Martins reservada à Melhor das Melhores. Também um exemplar do livro Vencedores, com o relato das 66 reportagens concorrentes, está aberto à página 185 sobre a mesa do refeitório para consulta dos funcionários diretos e terceirizados. "Tínhamos de repartir essa felicidade com nossos colaboradores, porque sem eles nada disso seria possível" -- repete Nívio. 

Novos projetos -- Na quinta-feira, dois dias depois da conquista, Nívio Roque foi ao escritório administrativo central da OPP, em São Paulo. Levou os prêmios, recortes do Diário do Grande ABC e encontrou um ambiente igualmente festivo. Os planos da Odebrecht de inserir-se mais e mais na comunidade em que atua -- e isso vale para todas as unidades -- encontrou na fábrica de Santo André seu exemplar mais bem acabado. "Ganhamos prêmio concedido por 18 consultores que representam a sociedade do Grande ABC. Isso tem peso impressionante" -- diz entusiasmado.

Mas Nívio quer muito mais. Entre os novos projetos voltados para o público externo está a ocupação de parte da área verde municipal fronteiriça ao território de 120 mil metros quadrados da OPP, que foi enriquecida ecologicamente com o plantio de centenas de árvores. Nívio Roque pretende utilizar parcela do espaço para o plantio organizado de hortaliças terapêuticas. Chás de várias espécies. A própria comunidade trataria do plantio, da manutenção e da colheita. Certo mesmo é que outras iniciativas virão, porque Nívio Roque tomou gosto pela vitória externa, depois de ajudar a praticamente reconstruir uma planta industrial que se aproxima do 30º ano de instalação e que provavelmente teria virado sucata nas mãos de colaboradores sem comprometimento com o futuro e de empreendedores sem interesse.

Muito diferente do que se encontra. Resumidamente, uma fábrica antiga que agrega gradualmente tecnologia moderna, que incorpora gestão voltada para o cliente e a comunidade, sem esquecer de potencializar mais e mais seus recursos humanos. Tanto que, garante Nívio Roque, quando o novo século chegar, e falta pouco para isso, o índice de funcionários com Terceiro Grau completo ou em fase de complementação saltará dos atuais 51% para 71%. Provavelmente um recorde em termos relativos nas corporações brasileiras. 

A preocupação de incrementar mais e mais saber ao grupo de funcionários e os constantes investimentos em máquinas, equipamentos e gestão do negócio provam que a OPP está mais decidida do que nunca a manter-se no topo de produtividade numa disputa aparentemente desigual, pois lhe opõem gigantes internacionais detentores de maior escala e construídos há menos tempo; portanto, tecnologicamente mais avançados. 

Pólo ativo -- Outra preocupação do comando da OPP Polietilenos é participar ativamente de todos os assuntos que dizem respeito ao Pólo Petroquímico de Capuava. A vitória no Prêmio Desempenho Empresarial é um grande alento nesse sentido -- reforça Nívio Roque. Afinal, esse acontecimento estabelece a importância social e econômica do Pólo num momento em que boa parte da sociedade engaja-se em reivindicações consensuais, uma das quais o próprio adicional de produção desse setor econômico a partir do aumento de produção de matéria-prima da empresa-mãe do sistema, a vizinha Petroquímica União. 

Se até 1993 o Pólo Petroquímico de Capuava não justificava o conceito sistêmico de plantas estrategicamente vizinhanças, porque as organizações envolvidas praticamente se ignoravam, como fruto do regime tripartite comandado pelo Estado e por meio do qual Petroquisa (subsidiária da Petrobrás), uma empresa de capital nacional e uma de capital estrangeiro dividiam o controle acionário das empresas, a realidade começou a mudar lentamente a partir das privatizações no setor. Tanto que várias atividades já são desenvolvidas em conjunto internamente no Pólo, como segurança, manutenção de equipamentos, alimentação e transporte. Mas muito mais vem por aí -- garante Nívio. 

Ações institucionais já foram deflagradas com a confirmação de todas as empresas do Pólo de Capuava na administração da Agência Regional de Desenvolvimento Econômico, o braço de pesquisas e marketing que a Câmara Regional do Grande ABC reservou para demolir a imagem de decadência da região, ao mesmo tempo em que buscará sensibilizar novos investimentos produtivos. 

Como se observa, as vitórias de Nívio Roque e de uma representação empresarial do Pólo Petroquímico de Capuava refletem a oxigenação por que passa um setor que nos tempos de Estado forte mais parecia um corpo estranho no organismo regional. Ou, como diz o próprio Nívio Roque, um patinho feio que agora está virando cisne. 


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