Economia

São Caetano segue com mais
Classe Média e Ricos na região

DANIEL LIMA - 18/10/2021

Um novo balanço na esteira do comportamento econômico do Grande ABC neste século, levando-se em conta a participação relativa de classes sociais, mostra que, apesar de fortemente desindustrializada ao longo de décadas, como Santo André e São Bernardo, São Caetano segura as pontas ao contar com ativos de Classe Rica e Classe Média muito próximos da soma de Classe C e de Pobres e Miseráveis. Não é por outra razão, é evidente, que o valor do IPTU é o maior da região. A lógica de classes sociais implica lógica de padrão de moradia. 

O resultado que CapitalSocial extrai de novos dados históricos da Consultoria IPC não significa que São Caetano tenha de alguma forma resistido à queda de geração de riqueza. Esse argumento é furado. A desindustrialização afetou duramente o Município de 160 mil habitantes. Mas o que mantém a condição de território economicamente líder da região é simples: a contabilidade do PIB do Consumo não distingue o local de ocupação formal ou informal de trabalhadores, enquanto o PIB tradicional, que é a soma de produtos e serviços, é aferido em cada Município.  

Êxodo de trabalhadores 

Faltam estatísticas confiáveis que determinem qual é o tamanho da parcela da População Economicamente Ativa de São Caetano que atua fora do território municipal. Dados antigos colocavam entre 25% e 30%, mas é possível que o tempo tenha acrescido mais volume ainda porque a queda industrial de São Caetano, inúmeras vezes identificada e quantificada por CapitalSocial, não tem paradeiro. Sem contar, neste ano, a retirada de funcionários da Casas Bahia, que se transferiu para a Capital. 

A soma de participação relativa da Classe Rica e da Classe Média tradicional de São Caetano chega a 45,50% do total de famílias. Bem acima do que se registra em Santo André (32,60% e de São Bernardo (31,60%), logo a seguir no ranking. Esses dados são desta temporada. 

Perdas dos demais 

Quando comparado à base dos estudos, de 1999, e, portanto, a partir de 2000, o novo século aponta pouca diferença em São Caetano (eram 44,33%), perda relativamente forte em Santo André (que contava com 39,94%) e perda um pouco mais acentuada em São Bernardo (que contabilizava 46,41%). 

Entretanto, mesmo mantendo a dianteira em representatividade de participação relativa no conjunto de famílias do Grande ABC nas classes Rica e Média, São Caetano não superou as dificuldades impostas pela perda de competitividade econômica. 

O estrato específico da Classe Rica sofreu perda relativa de 24,10% ao longo de 21 anos. Parte desse volume engrossou crescimento relativo da Classe Média em 9,41%. Ou seja: houve rebaixamento da porção relativa à Classe Rica e parte dessa perda vazou para a Classe Rica. A Classe C aumentou consideravelmente em São Caetano, com índice de 35,62%. E a Classe de Pobres e Miseráveis foi reduzida em 49,91%. 

Aliás, tanto a Classe C quanto a Classe de Pobres e Miseráveis aumentaram e diminuíram de representação no conjunto de moradores do Grande ABC ao longo do século. Nada diferente do que a média nacional que já reproduzimos nesta série de análises. São os efeitos de quebra de assalariamento e de geração de riqueza de um país que não avança e também, no caso de pobres e miseráveis, dos efeitos de programas sociais como o Bolsa Família. 

Sem mobilidade social 

O que diferencia mesmo São Caetano dos demais municípios da região é o crescimento relativo da Classe Média, mas mesmo assim o resultado está longe de ser favorável, como eventual prova de mobilidade social. Afinal, trata-se de parcela de ricos que perderam essa condição para a escada logo abaixo na grade social, a da Classe Média tradicional. Enfatizar esse aspecto é importante na medida em que inibe teorias negacionistas em relação à perda acentuada de poderio industrial também neste século. Como se já não fossem suficientes as três últimas décadas do século passado. 

Veja em seguida a dança dos números das classes sociais no Grande ABC neste século: 

1. Santo André contava em 1999 com 6,49% de famílias de Classe Rica, 33,46% de famílias de Classe Média, 36,92% de Classe C e 23,12% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 3,90% de famílias de Classe Rica (queda relativa de 39,91%), 28,70% de Classe Média (queda relativa de 14,22%), 49,70% de Classe C (aumento relativo de 34,61%) e 17,60% de Pobres e Miseráveis (queda relativa de 23,87%. 

2. São Bernardo contava em 1999 com 9,95% de famílias de Classe Rica, 36,45% de famílias de Classe Média, 32,58% de Classe C e 21,13% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 3,80% de Classe Rica (queda relativa de 61,80%), 27,80% de famílias de Classe Média (queda relativa de 23,73%), 50,00% de Classe C (aumento relativo de 53,47%) e 18,40% de Pobres e Miseráveis (queda relativa de 9,13%). 

3. São Caetano contava em 1999 com 8,96% de famílias de Classe Rica, 35,37% de famílias de Classe Média, 32,00% de Classe C e 22,36% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 6,80% de Classe Rica (queda relativa de 24,10%), 38,70% de Classe Média (aumento relativo de 9,41%) 43,40% de Classe C (aumento relativo de 35,62%) e 11,20% de Pobres e Miseráveis (redução relativa de 49,91%). 

4. Diadema contava em 1999 com 1,72% de famílias de Classe Rica, 23,20% de famílias de Classe Média, 46,75% de Classe C e 28,25% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 1,60% de Classe Rica (queda relativa de 6,97%), 20,50% de Classe Média (queda de 11,64%), 55,50% de Classe C (aumento relativo de 18,71%) e 22,40% de Pobres e Miseráveis (queda relativa de 20,70%). 

5. Mauá contava em 1999 com 1,56%% de famílias de Classe Rica, 25,76% de famílias de Classe Média, 45,86% de Classe C e 26,80% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 1,70% de Classe Rica (aumento relativo de 8,97%), 21,80% de famílias de Classe Média (queda relativa de 15,37%), 55,60% de Classe C (aumento relativo de 21,24%) e 20,80% de Pobres e Miseráveis (queda relativa de 22,31%). 

6. Ribeirão Pires contava em 1999 com 3,70% de famílias de Classe Rica, 28,08% de famílias de Classe Média, 39,25% de Classe C e 28,95% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 2,60% de Classe Rica (queda relativa de 29,73%), 24,60% de famílias de Classe Média (queda relativa de 12,29% de famílias de Classe Média, 53,00% de Classe C (aumento relativo de 35,03%) e 19,80% de Pobres e Miseráveis (queda relativa de 31,60%). 

7. Rio Grande da Serra contava em 1999 com 0,45% de famílias de Classe Rica, 14,98% de Classe Média, 46,63% de Classe C e 37,92% de Pobres e Miseráveis. Em 2021 são 0,90% de famílias de Classe Rica (aumento relativo de 100%), 20,10% de Classe Média (aumento relativo de 34,18%), 53,10% de Classe C (aumento relativo de 13,87%) e 25,90% de Pobres e Miseráveis (queda relativa de 32,00%). 



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