Acabo de fazer um bem-bolado econômico-fiscal que deixa São Caetano em situação mais que preocupante quando se enxerga para valer o passado, mais precisamente este século, e o futuro. Não há endereço no Grande ABC que, inserido no G-22 (Clube dos Maiores Municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra apenas para cumprir tabela regional) tenha tido atuação fiscal mais desarrumada neste século.
Há estreita ligação entre a queda vertiginosa da geração de riqueza em São Caetano neste século e a deterioração no Campeonato Brasileiro de Gestão Fiscal, que vem a ser o IFGF (Índice Firjan de Gestão Fiscal), produzido pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro com base em coquetel de dados do Tesouro Nacional.
O IFGF é o mais sólido exame do estágio em que se encontram os municípios brasileiros quando se trata de capacidade de investimentos e liquidez.
Quadradismo contaminador
Outro dia mesmo fiz duas ou três análises sobre os números mais recentes do Brasileiro de Gestão Fiscal. Hoje faço com recorte específico, envolvendo o G-22. Mas vou além disso, entre outras razões porque tenho por filosofia fugir do quadradismo dos versos do convencional repetido à exaustão por terceiros em indicadores diversos. A turma do copiar e cola é contaminadora.
Decidi cruzar os dados fiscais com o comportamento econômico dos municípios do G-22 neste século, tendo como base análise que produzi em dezembro de 2020, logo após a divulgação do PIB dos Municípios Brasileiros de 2018. Algo que será atualizado em dezembro deste ano, quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgar o PIB dos Municípios de 2019. Há sempre defasagem de dois anos. O PIB Brasileiro propriamente dito é produto que a cada trimestre salta das planilhas oficiais e das forças interessadas em saber o que vai acontecer logo em seguida. Como as eleições do ano que vem, por exemplo.
São Bernardo na frente
Para os leitores entenderem o que vão ler abaixo, é preciso explicar que os resultados de gestão fiscal dos municípios do G-22 se referem ao ano passado, conforme estudos da Firjan. E se desdobram de quatro indicadores já conhecidos, casos de Autonomia, Gastos com Pessoal, Investimentos e Liquidez.
São Bernardo tem o melhor resultado do Grande ABC, mas no âmbito do G-22 perde para São José do Rio Preto. O que não deixa de ser resultado expressivo. Sinal de que prefeitos que prefeitaram em São Bernardo neste século não pisaram no tomate de gastos excessivos, ou em descompasso com a economia em fragilidade.
Santo André, vice-líder na região, está em sétimo lugar no G-22. Nada mal. Pelo contrário, um resultado razoável no estrito recorte do G-22. No âmbito nacional e estadual, como São Bernardo, é outra história. Da qual trataremos em outra análise.
Os demais municípios da região ocupam os seguintes postos no ranking do G-22 de gestão fiscal: Mauá em 14º lugar, Diadema em 15º, São Caetano em 20º, Ribeirão Pires em 21º e Rio Grande da Serra em 22º.
Considerando-se que Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão no ranking apenas por formalidade, mas a rigor não podem ser considerados municípios expressivos do G-22, então temos São Caetano ocupa a lanterninha em gestão fiscal.
Bagdá ou Afeganistão?
O índice alcançado por São Caetano, de 0.5551 numa escala em que Zero é péssimo e 1,000 é ótimo, está longe de representar suposta grandeza econômica numa perspectiva às próximas décadas. Quando a bola rola em direção ao buraco, e não sendo bola de golfe, é sinal de que a situação está para lá de Bagdá. Ou do Afeganistão.
E a situação de São Caetano é isso mesmo quando se pega apenas o ritmo de crescimento do PIB neste século, entre 2000 e 2018 -- com base em 1999. Ou seja: se o mundo econômico do G-22 houvesse se iniciado no ano 2000, São Caetano apresentaria resultado lamentável porque é a 18ª colocada no G-22. Esse resultado é do PIB per capita, a melhor métrica disponível para se conhecer o estágio atual e o ritmo de evolução do PIB de qualquer endereço municipal, estadual e nacional.
No PIB Municipal per capita deste século, São Caetano só consegue superar dois grandes municípios do G-22, Diadema e São José dos Campos. Já no caso dos penetras Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, estão reservados os dois últimos lugares no ranking do século. Por isso que o melhor mesmo é manter os dois endereços apenas por formalidade informativa intrarregional.
São Bernardo resiliente
Voltando ao ranking do G-22 de Gestão Fiscal, ou o Campeonato Paulista da Série A de Gestão Fiscal, que são os 20 maiores municípios do Estado (a Capital fica de fora, como já registrei), o desempenho de São Bernardo, a líder regional, é bastante satisfatório. Até porque, quando se cruza com o desempenho econômico, em forma de PIB per capita, que não é do melhores no século, ao ocupar o 17º lugar, a Capital Econômica do Grande ABC registra um poder de resiliência fiscal admirável. Ou não seria verdadeiro esse enunciado? 17º lugar em desempenho econômico e segundo lugar em gestão fiscal são extremos opostos no G-22.
E o caso de Santo André, o segundo Município mais importante do Grande ABC, como se inseriria tanto num indicador quanto noutro?
No desempenho econômico, ou seja, no PIB per capita neste século, Santo André é a 16ª colocada, enquanto em gestão fiscal ocupa a sétima posição. Sempre dentro do G-22, que fique claro. Observa-se, portanto, comportamento menos brilhante que a vizinha mais poderosa, mas nada de fazer feio.
Só não é possível traçar linha simétricas e assimétricas entre desempenho econômico e ritmo fiscal dos integrantes do G-22 durante este século inteiro porque o indicador da Firjan foi lançado apenas em 2013, com dados de 2012. Seria uma maravilha poder contar com dados fiscais e econômicos desde o primeiro ano do século, 2000, tendo como base 1999, mas isso não está ao alcance de ninguém.
Dados sincrônicos
De qualquer forma, temos massa de dados suficiente para concluir que os dois rankings do G-22 explicitam com alguma clareza uma sincronia de explicações lógicas entre uma coisa e outra, ou seja, entre o que se registra na econo0mia em forma de PIB per capita e o que se desdobra no campo de gestão fiscal dos prefeitos em ação ou inação.
Confira na sequência o ranking do G—22 no campo fiscal:
1. São José do Rio Preto com índice de 0.9302.
2. São Bernardo com índice de 0.8770.
3. Barueri com índice de 0.8613.
4. São José dos Campos com índice de 0.7939.
5. Ribeirão Preto com índice de 0.7590.
6. Mogi das Cruzes com índice de 0.7579.
7. Santo André com índice de 0.7514.
8. Santos com índice de 0.7489.
9. Osasco com índice de 0.7467.
10. Jundiaí com índice de 0.7420.
11. Campinas com índice de 0.7032.
12. Sorocaba com índice de 0.6959.
13. Piracicaba com índice de 0.6582.
14. Mauá com índice de 0.6519.
15. Diadema com índice de 0.6328.
16. Taubaté com índice de 0.6306
17. Sumaré com índice de 0.6051.
18. Guarulhos com índice de 0.5890.
19. Paulínia com índice de 0.5693.
20. São Caetano com índice de 0,5551.
21. Ribeirão Pires com índice de 0.5521.
22. Rio Grande da Serra com índice de 0.3670.
Agora veja a classificação no G-22 do PIB per capita neste século:
1. Osasco registrou PIB per capita de R$ 7.799,15 em 1999 e passou para R$ 109.936,21 em 2018. Crescimento nominal de 1.309,60% no período, com média anual de 6,89%.
2. Piracicaba registrou PIB per capita de R$ 8.613,54 em 1999 e passou para R$ 65.896,34 em 2018. Crescimento nominal de 665,03% no período, com média anual de 3,50%.
3. Jundiaí registrou PIB per capita de R$ 14.408,47 em 1999 e passou para R$ 105.187,65 em 2018, com crescimento nominal de 630,04 no período e anual de 3,31%.
4. Barueri registrou PIB per capita de R$ 27.801,29 em 1999 e passou para R$ 186.382,33 em 2018, com crescimento nominal no período de 570,41%, e anual de 3,00%.
5. Santos registrou PIB per capital de R$ 7.878,69 em 1999 e passou para R$ 51.915,03 em 2018, com crescimento nominal de 558,92% no período, e anual de 2,94%.
6. Ribeirão Preto registrou PIB per capital de R$ 7.503,41 em 1999 e passou para R$ 49.425,29 em 2018, com crescimento nominal de 558,70% no período, e anual de 2,94%.
7. São José do Rio Preto registrou PIB per capita de R$ 6.132,85 em 1999 e passou para R$ 38.449,70 em 2018, com crescimento nominal de 526,96% no período, e anual de 3,30%.
8. Sorocaba registrou PIB per capital de R$ 8.712,91 em 1999 e passou para R$ 52.169,13 em 2018, com crescimento nominal de 498,76 no período, e anual de 2,65%.
9. Mogi das Cruzes registrou PIB per capita de R$ 5.876,26 em 1999 e passou para R$ 34.908,31 em 2018, com crescimento nominal de 494,06% no período, e anual de 2,60%.
10. Sumaré registrou PIB per capita de R$ 9.627,90 em 1999 e passou para R$ 51.832,02 em 2018, com crescimento nominal de 438,35% no período, e anual de 2,31%.
11. Taubaté registrou PIB per capita de R$ 10.549,62 em 1999 e passou para R$ 55.369,58 em 2018, com crescimento nominal de 424,85% no período, e anual de 2,24%.
12. Campinas registrou PIB per capita de R$ 10.117,83 em 1999 e passou para R$ 51.417,44 em 2018, com crescimento nominal no período de 408,19%, e anual de 2,15%.
13. Paulínia registrou PIB per capita de R$ 63.451,94 em 1999 e passou para R$ 306.163,17 em 2018, com crescimento nominal de 382,51% no período, e anual de 2,01%.
14. Guarulhos registrou PIB per capita de R$ 9.580,66 em 1999 e passou para R$ 44.897,70 em 2018, com crescimento nominal de 368,63% no período, e anual de 1,94%.
15. Mauá registrou PIB per capita de R$ 7.368,18 em 199 e passou para R$ 32.655,23 em 2018, com crescimento nominal de 343,15% no período, e anual de 1,81%.
16. Santo André registrou PIB per capita de R$ 9.201,16 em 1999 e passou para R$ 40.489, 21 em 2018, com crescimento nominal de 340,04%, e anual de 1,79%.
17. São Bernardo registrou PIB per capita de R$ 14.088,99 em 1999 e passou para R$ 60.689,23 em 2018, com crescimento nominal de 330,76% no período, e 1,74.
18. São Caetano registrou PIB per capita de R$ 22.016,46 em 1999 e passou para R$ 83.860,23 em 2018, com crescimento nominal de 280,90% no período, e anual de 1,48%.
19. Diadema registrou PIB per capital de R$ 11.114,45 em 1999 e passou para R$ 34.855,75 em 2018, com crescimento nominal no período de 213,61, e anual de 1,12%.
20. São José dos Campos registrou PIB per capita de R$ 18.395,00 em 1999 e passou para R$ 55.603,18 em 2018, com crescimento nominal de 202,27% no período, e anual de 1,06%.
21. Ribeirão Pires registrou PIB per capita de R$ 5.817,56 em 1999 e passou para R$ 24.818,57 em 2018, com crescimento nominal no período de 326,61 no período, e anual de 1,72%.
22. Rio Grande da Serra registrou PIB per capita de 3.597,38 em 1999 e passou para R$ 60.689,23 em 2018, com crescimento nominal de 213,63 no período, e anual de 1,12%.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?