Economia

Economia da região não reage
pós-desastre de Dilma Rousseff

DANIEL LIMA - 07/02/2022

A economia do Grande ABC não consegue reagir para valer após os estragos da recessão do governo Dilma Rousseff. E três dos prefeitos que estão à frente dos sete municípios do Grande ABC nesta temporada também estiveram durante os quatro anos da legislatura anterior, pós-impeachment da presidente da República.  

Paulinho Serra, Orlando Morando e José Auricchio foram reeleitos em 2020 a novos mandatos. Houve mudanças no comando dos paços de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.  

Os resultados desse novo time de prefeitos serão conhecidos nos próximos tempos. Não deverão ser suficientemente reativos a ponto de conter a derrocada econômica da região. O Clube dos Prefeitos continua sendo uma abstração agravada pela ineficiência e marketing rastaquera da Agência de Desenvolvimento Econômico.  

DESMONTE REGIONAL  

O arcabouço institucional deixado por Celso Daniel virou quinquilharia. Não tem foco, eficiência, políticas matriciais e tudo que poderia ser chamado de organização sistêmica de combate ao esvaziamento econômico que prossegue neste século, não bastassem os resultados do século passado.  

Levantamos dados de um indicador importantíssimo à tomada da temperatura da economia da região nos quatro anos pós-desastre de Dilma Rousseff na presidência da República – e de comando municipal de prefeitos eleitos em outubro de 2016.  

Os resultados são péssimos: estamos congelados no fundo do poço. Ou seja: não reagimos pós-maior recessão da história da economia regional. 

Dos três prefeitos que ocuparam os cargos nos quatro anos subsequentes ao impeachment de Dilma Rousseff, quem mais sofreu os efeitos da recessão entre 2015 e 2016 foi José Auricchio Júnior, de São Caetano.  

FUNDO DO POÇO 

O Grande ABC como um todo foi um desastre no período de 2017-2020. Afinal, não se recuperou para valer mesmo tendo como base de comparação o ano de 2016, quando chegamos ao fundo do poço.  

Isso quer dizer que estamos no fundo do poço de 2016, quando acumulamos queda de um quarto do PIB (Produto Interno Bruno) em relação a 2014.  

Esse é um novo estudo que levantamos sobre a economia do Grande ABC tendo por base o comportamento do Valor Adicionado, espécie de PIB (Produto Interno Bruto) sem a carga de impostos.  

Valor Adicionado é um medidor de criação de riqueza que dá com exatidão a temperatura do Desenvolvimento Econômico dos Municípios no sentido mais ortodoxo do conceito.  

NOVO DESASTRE 

O Grande ABC pós-Dilma Rousseff é uma catástrofe mesmo quando a base de comparação deixa de ser o ano anterior à reeleição da petista (2014) e se concentre apenas durante os quatro anos dos mandatos de prefeitos antes das eleições do ano passado.  

Ou seja: diferentemente de outro dia, quando mensuramos as perdas da região tendo como base comparativa o ano de 2014, e estendendo a análise até 2020, sempre tendo o Valor Adicionado como insumo, também no caso de um período mais estreito, de 2017-2020, com base nos números catastróficos de 2016, a situação da região é muito preocupante.  

Ou o leitor entende que depois da gigantesca queda de 23,43% do Valor Adicionado entre 2015-2016, tendo 2014 como base, não deveríamos ter reagido de forma consistente nos quatro anos seguintes (2017-2020), contando agora como base de comparação o ano de 2016?  

MAIOR CRISE  

Isso mesmo: o Grande ABC perdeu naquelas duas temporadas sequenciais (2015-2016) um quarto da produção de riqueza registrada em 2014 – e que é resultado histórico do comportamento do Valor Adicionado ao longo dos tempos.  

Até parece que o passado então recente e o passado remoto não são suficientes para ligar todos os sinais de alerta de que o poderio regional continuava a fazer pó. 

Esta não é a primeira vez que revelamos o estado de penúria acumulado por São Caetano neste século.  Para se ter ideia da derrocada do Valor Adicionado em São Caetano, basta citar que os demais municípios da região contabilizaram números discretos, mas efetivos de que não foram ainda mais destruídos nos anos seguintes ao governo de Dilma Rousseff, 2017 a 2020, quando Michel Temer e Jair Bolsonaro ocuparam a presidência e as autoridades econômicas debelaram muitos dos estragos macroeconômicos. 

O caso de São Caetano é particularmente extravagante no sentido mais negativo possível.  

CASO INSOLÚVEL?  

Os números do Valor Adicionado não acompanharam sequer o ritmo da inflação do período de 2017 a 2020, de 17,63% (IPCA, Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ou seja:  São Caetano voltou a registrar queda nominal (3,78%) do Valor Adicionado nos anos seguintes ao impeachment de Dilma Rousseff.  

Dando números aos bois de contratempos: em 2016, último ano do governo Dilma, o Valor Adicionado de São Caetano registrava R$ 11.557.692 bilhões. Para que chegasse a 2020 sem prejuízo no último ano do mandato de José Auricchio, era preciso que, em termos reais, aplicando-se a inflação do período, chegasse a R$ 13.595.313 bilhões.  

Sabem qual for o valor real do Valor Adicionado na ponta do mandato de Auricchio? R$ 11.136.645 bilhões. Quando se estende o período para quatro anos, de 2017-2020, a queda relativa é de 22,07%.  

A perda do Valor Adicionado de São Caetano em valores atualizados a dezembro de 2020 chegou, portanto, a R$ R$ 2.458.668 bilhões.  

É o único caso do Grande ABC em que houve queda real nos quatro anos de mandatos de três dos quatro prefeitos atuais.  

DEPOIS DA VÍRGULA 

O Valor Adicionado de 2016 do Grande ABC registrou R$ 69.965.542 bilhões. Quando se corrige o valor a dezembro de 2020, aplicando-se o IPCA de 16,43% acumulado em quatro anos, o montante original de R$ 69.965.542 bilhões passa a ser 81.461.346 bilhões nos quatro anos do terceiro governo de José Auricchio.  

Na vida real, o Valor Adicionado de 2020 registrou R$ 82.162.857 bilhões. Um aumento de R$ 700.764 milhões.  

O crescimento acumulado real do Valor Adicionado no período da legislatura anterior dos prefeitos da região, os quatro anos pós-Dilma Rousseff, chegou, portanto, a 1,11%, o que significa avanço anual médio de apenas 0,277%. Quase nada para um conjunto de municípios que perdeu um quarto entre 2015 e 2016 tendo 2014 como comparação-base. É congelamento puro e indisfarçável. 

Traduzindo tudo isso em termos futebolísticos para que o entendimento seja praticamente universal: quando terminou o jogo do Valor Adicionado em 2016, pós-terremoto de Dilma Rousseff, o Grande ABC perdia de goleada. Quando começou o jogo dos novos prefeitos eleitos em 2016 e que atuaram até 2020, a goleada foi mantida. Não houve reação consistente. E São Caetano, entre os maiores municípios da região, continuou a registrar perdas.  

MUITO POUCO  

Portanto, nenhum dos grandes municípios da região registrou queda do Valor Adicionado, exceto São Caetano, durante o período de 2017 a 2020. Todos superaram mesmo que discretamente a inflação do período, o que resultou no crescimento médio anual da região de míseros 0,277%. Crescimento médio é força de expressão, porque, de fato, houve congelamento do Valor Adicionado tendo a baixa dilmista como piso.  

Todos os grandes municípios da região, exceto São Caetano, cresceram levemente acima da linha de corte da inflação do período analisado, os 48 meses entre janeiro de 2017 e dezembro de 2020. A inflação registrou 16,43%.  

Diadema avançou 19,08% em termos nominais (sem considerar a correção inflacionária), Mauá 23,52%, Ribeirão Pires 34,15%, Santo André 19,44% e São Bernardo 22,89%.  A pequena Rio Grande da Serra se juntou a São Caetano em resultado negativo: queda de 15,26% em termos nominais.



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