A economia de Santo André continua apanhando feio de Sorocaba, no Interior do Estado. O Valor Adicionado, métrica que expõe a geração líquida de riqueza de produção, segue avançando em Sorocaba e caindo pelas tabelas em Santo André. Também na média salarial e no PIB Per Capita, Sorocaba nada de braçadas. Santo André é um caso de derrotas contínuas nesse que poderia ser chamado um clássico econômico.
O confronto entre Santo André e Sorocaba é emblemático e histórico. É uma amostra relevante do comportamento da Economia do Município que mais se desindustrializou nos últimos 40 anos e do Município que, como dezenas do Interior do Estado, recebe investimentos produtivos.
As glórias econômicas de Santo André estão no passado. Mas na Prefeitura o que se observa é uma vocação ao marketing mequetrefe. Esse prêmio negociado e recebido na Itália não quer dizer nada quando o que está em jogo é o futuro da cidade. Já houve prêmios entregues a prefeitos anteriores que não modificaram a trajetória de decadência econômica.
MUITOS PREMIOS
O prêmio negociado e recebido na Europa não é transformador como se pretende vender, além de nada meritocrático no sentido concorrencial. Outra cidade brasileira, de 70 mil habitantes, recebeu a mesma homenagem. O critério de escolha é um enigma. Há mais de seis mil municípios no País. Não houve nada que sugerisse seletividade.
Santo André até omite a outra cidade homenageada porque sabe que os caminhos que as levaram à Europa não são os caminhos normais de meritocracia concorrencial. Mas trataremos disso em análise específica.
Desde a implantação do Plano Real, Sorocaba saiu de desvantagem de 19,61% no Valor Adicionado frente a Santo André e chegou, em 2020, à vantagem de 23,90%.
A diferença entre a velocidade de crescimento do Valor Adicionado no período chegou a 44,24% favorável a Sorocaba. E vai aumentar.
COMPARAÇÃO LONGEVA
Comparar Santo André e Sorocaba é análise que vem de longe. Começou nos tempos da revista impressa LivreMercado e segue com a sucessora CapitalSocial. A escolha não é aleatória. Há fundamentação nas sincronias e assimetrias que unem e separam os dois municípios.
Santo André e Sorocaba têm praticamente a mesma população, com pouco mais de 700 mil habitantes. Estão separadas por 120 quilômetros e geoeconomias distintas. Sorocaba é sede de uma região metropolitana, da qual, claro, é o centro principal. Santo André ocupa cada vez menos destaque na Região Metropolitana de São Paulo. É uma periferia da Capital.
Sorocaba experimenta processo de industrialização acelerado que vem do passado, da última década do século que terminou. Santo André tem o experimento dolorido da desindustrialização, que começou nos anos 1980 e se agravou no primeiro quinquênio dos anos 1990.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Santo André não consegue desvencilhar-se do peso da desindustrialização. O setor de serviços é de baixo valor agregado. Os empregos são muito mal remunerados em relação à média industrial que resta.
Sorocaba aponta crescimento industrial consistente. Tornou-se polo da indústria de transformação que se escafedeu de Santo André e da região.
Quando se comparam os últimos 24 anos, de 1996 a 2020, está patente a diferença econômica entre os dois municípios. O Plano Real chegou em 1994 e os efeitos mais claros se consolidaram nos anos imediatamente posteriores. Escolhemos 1996 porque foi uma temporada de eleições municipais. Serve, portanto, de ano-base.
Em 1996 o Valor Adicionado de Santo André registrou em valores nominais (sem considerar a inflação do período de 24 anos) R$ 2.786.681 bilhões. Era 19,61% superior aos R$ 2.240.010 bilhões de Santo André.
Na reta de chegada de 2020, a situação se inverteu: Sorocaba passou a ter vantagem de 23,90%, porque registrou Valor Adicionado de R$ 18.324.562 bilhões, enquanto Santo André apontava 13.943.971 bilhões.
EMPREGOS MELHORES
Esses resultados decorrem da movimentação das pedras do que se convencionou chamar de Desenvolvimento Econômico. Santo André avançou em termos nominais no período analisado apenas 400,37%. Sorocaba chegou ao crescimento acumulado de 718,05%. Daí a vantagem de velocidade de 44,24%.
Esses números mostram sem manipulações o que separa uma cidade e outra no oferecimento de oportunidade a novos negócios e empregos. Sorocaba é muito mais competitiva que Santo André e tudo indica que vai aumentar a vantagem nos próximos tempos.
Sorocaba sabe o caminho a seguir para permanecer em estágio de mobilidade social importante, onde a possibilidade de ganhos de rendimentos e qualidade de vida é muito mais consistente que Santo André.
No mercado de trabalho com carteira assinada, a vantagem também é de Sorocaba. Embora Santo André conte com leve superioridade no total de trabalhadores (201.916 ante 193.985), o domínio da cidade do Interior é latente no emprego industrial: são 50.592 ante 24.722.
Quando se esmiuçam os números, há maior compreensão do que separa os dois municípios: a força de trabalho industrial de Sorocaba representa 26,08% do total de carteiras assinadas em todos os setores, enquanto em Santo André não passa de 12,24%. Ou seja: menos da metade. Por isso a média salarial geral em Sorocaba, envolvendo todos os trabalhadores de todas as atividades, é de R$ 3.300,41 ante R$ 3.116,65 de Santo André. Não há dados estatísticos que identifiquem os valores de 1996.
A média salarial da indústria de transformação em Sorocaba também é maior que a de Santo André: R$ 4.668,62 ante R$ 4.220,71. Uma diferença de 10% que referencia uma realidade contrária ao discurso de que as empresas aviltariam o mercado de trabalho ao se dirigirem ao Interior do Estado.
No caso de Sorocaba, a competitividade das plantas industriais não estaria descolada da produtividade.
PIB PER CAPITA
Também a massa salarial de Sorocaba é superior a Santo André. Quando se somam todos os trabalhadores com carteira assinada e se multiplica pela média salarial geral, o total de rendimentos mensais em dezembro de 2020 era de R$ 646.830.853 milhões. No caso de Santo André, chega-se a R$ 629.301.501 milhões.
Na arena do PIB (Produto Interno Bruto), que mede a geração de riqueza em produtos e serviços ao longo de uma temporada, num processo retroalimentado pelo histórico econômico, o desequilíbrio ainda é maior em favor de Sorocaba. Os dados têm período diferente da medição do Valor Adicionado por conta de acesso a informações.
Em 1999, último ano do século passado, o PIB Per Capital de Santo André era levemente superior ao de Sorocaba. Santo André registrava média de R$ 9.201,16 ante R$ 8.712,91 de Sorocaba, sempre em termos nominais, sem considerar a inflação. A vantagem de Santo André era, portanto, de 5,30%.
Em 2020, os números são completamente diferentes. O PIB Per Capita de Sorocaba registrou R$ 54.878,75 enquanto em Santo André se alcançava R$ 42.209,54. Uma distância agora favorável a Sorocaba de 23,08%.
Há outros indicadores econômicos que serão utilizados em nova análise. É só esperar.
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