Devo agradecer ao Diário do Grande ABC por uma providência que já tomei e que deverá ser executada nas próximas horas pela empresa responsável por este site: após ótimos serviços prestados aposento com honras o mote “regionalismo sem partidarismo” e adoto nova configuração conceitual para definir o que produzimos.
Entra em campo “Ombudsman do Grande ABC”, sob a marca desta publicação, originariamente LivreMercado, criada por este jornalista e cuja primeira edição foi às ruas em forma de tabloide em março de 1990.
Sim, estamos na trigésima-segunda temporada de uma trajetória que um dia terá fim. Acho improvável que alguém a adote tendo como suporte genealógico o que, finalmente, tardiamente, diria, descobri nesta manhã: somos mesmo e teimosamente o ombudsman do Grande ABC.
DIÁRIO INSPIRADOR
Foi o Diário do Grande ABC de hoje, repito, que me levou à óbvia conclusão de que estava a faltar alguma coisa que explicitasse de modo mais contundente, corajoso, determinado, as mais de três décadas do jornalismo que criamos exatamente durante os dias tenebrosos do Plano Collor de Mello, que surrupiou o dinheiro dos brasileiros.
Ou seja: LivreMercado de 1990 que se tornou CapitalSocial a partir de janeiro de 2009 surgiu sob o signo da resistência às intempéries de um Estado incompetente.
Quem acha que é fácil a atuação como ombudsman do Grande ABC não tem ideia do que passamos nesse período todo.
Seria muito mais fácil, compensador e tranquilizador adotar postura editorial comum no jornalismo brasileiro, a de alinhamento automático com os poderosos de plantão.
CHUMBO ANABOLIZADO
Como não é a primeira vez que o Diário do Grande ABC se autorreferencia “porta-voz do Grande ABC” -- e como anteriormente não brotou a constatação óbvia desta manhã -- creio, agora brincando com minha própria desgraça, que o chumbo grosso anabolizado que carrego no corpo é responsável pela descoberta de que LivreMercado/CapitalSocial é o “Ombudsman do Grande ABC”.
É isso mesmo: o tiro na cara e o projétil que segue me incomodando quando a temperatura oscila viraram espécie de munição de efeito reverso ao que nos primeiros tempos, e mesmo de vez em quando, alguém utiliza maldosamente ou na brincadeira para tentar me chatear: a explosão daquele projetil a 1.040 quilômetros por hora, arrebentando tudo por onde passou, possivelmente teve um efeito colateral positivo em meio a tantos prejuízos.
MUDANDO PROGRAMAÇÃO
É claro que estou brincando, mas se tem uma coisa que me encafifa nesta manhã em que produzo este texto fora de minha programação (hoje é dia do quarto capítulo da nova versão de Gata Borralheira) é por qual razão nas vezes anteriores em que o Diário do Grande ABC festejou aniversário de circulação, sempre utilizando “porta-voz” como definição estratégica, não tive o vislumbre de identificar em poucas palavras, num slogan, o significada de LivreMercado/CapitalSocial.
Pois é isso que estou fazendo agora com o sentido único de lembrar que 32 anos de LivreMercado/CapitalSocial, de um total de 55 de jornalismo iniciado na revista Cinelândia, em Araçatuba, não são pouca coisa. Mais que isso: um jornalismo ombudsniano, com perdão do neologismo.
Por fim, lembro que dos 64 anos do “porta-voz” do Grande ABC, participei de 16, ocupando todos os cargos possíveis naquela publicação – inclusive de ombudsman autorizado duas vezes. De repórter da Editoria de Esportes a Diretor de Redação, esse período foi muito importante à minha vida profissional e pessoal. Nada, entretanto, que tenha sido tão significativo quanto os 32 anos de LivreMercado/CapitalSocial.
32 ANOS DE ANÁLISE
As definições metodológicas e práticas entre um produto que é porta-voz da região e outro que é claramente ombudsman da região, proporcionam grande vantagem comparativa aos consumidores de informações do Grande ABC: têm-se dois lados de uma moeda de ações jornalísticas.
Compete aos mesmos consumidores de informação optarem por uma ou por outra, ou mesmo, em muitas situações, juntarem as duas porções para obterem compreensão mais profunda do que se passa no Grande ABC.
LivreMercado/CapitalSocial é uma soma de 32 anos cuja origem remonta a própria história do Diário do Grande ABC, publicação onde atuei inicialmente a partir dos anos 1970.
PARA ESCOLHER
As duas publicações a que me dediquei como único responsável pelo resultado editorial final foram concebidas e se consolidaram ao aproveitaram as fragilidades da Linha Maginot que o Diário do Grande ABC proporcionou ao longo de décadas, ou seja, o buraco editorial na cobertura da Economia do Grande ABC.
Enveredamos por essa trilha, que virou vereda, alargou-se em forma de avenida e se consolidou como autoestrada de um modelo de jornalismo que adotou como prática indissociável o perfil crítico típico de ombudsman.
UM PALAVRÃO
“Desindustrialização” talvez seja o símbolo dessa identidade, por ser um verbete proibido no Diário do Grande ABC do passado – e mesmo nestes tempos, e execrado pelos poderosos de plantão, que têm horror ao espelho de inapetência organizacional.
ÚLTIMA MUDANÇA
Para completar, reproduzo integralmente o texto que preparei para a edição de 17 de maio de 2017, que trata especificamente da então última mudança no mote desta publicação, mais uma ao longo de 32 anos de agora.
Como se verá, tudo é paradoxalmente precário quando se trata de demonstrar o jornalismo que praticamos. O processo evolutivo demandando pelas circunstâncias históricas não tem fim.
Provavelmente “Ombudsman do Grande ABC” resistirá muito mais ao tempo porque parece indispensável. Trata-se de um mote implicitamente construído e provado ao longo de mais de três décadas e agora fortemente explicitado.
Regionalismo sem partidarismo
é advertência aos extremistas
DANIEL LIMA - 17/05/2017
Movido pela roda-gigante de ideias e decisões sistêmicas, decidi alterar novamente o mote desta revista digital. Deve aparecer nas próximas horas ou dias uma nova marca complementar na primeira página deste site. Sai “Regionalidade em primeiro lugar” e entra “Regionalismo sem partidarismo”. Tomei a decisão porque a regionalidade editorial de CapitalSocial é tão óbvia que reforçá-la tornou-se redundante. Então, quem deveria entrar no campo da explicitude conceitual? Escolhi “Regionalismo sem partidarismo” por razões que explico na sequência.
Talvez a motivação-mãe da mudança, o novo mote escancara algo nem sempre identificado nas páginas desta publicação. Como o mundo está dividido de forma obtusa entre direitistas e esquerdistas, vítimas de congelamento compulsório da inteligência, nada mais ajuizado que deixar bem claro e no alto da primeira página que não nos pegarão nem de um lado nem de outro desse muro de estupidez como ocupante permanente de nossas intervenções jornalísticas.
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Entendam como quiserem os direitistas e os esquerdistas. A banda larga que alguns dizem existir para separar uns de outros muitas vezes ganha o terreno da subjetividade. Para mim está bem claro que direitistas são conservadores e individualistas, quando não corporativistas, enquanto esquerdistas são coletivos reformadores decididos a tudo para se converterem exatamente em direitistas.
Mas não é isso que interessa agora. Tenho horror a esses dois lados da moeda ideológica porque lhes faltam nuances que os colocam em permanente saia justa. A coerência é sempre um pedaço de pano surrado com o qual se procura inutilmente sugerir que se está promovendo limpeza em regra.
“Regionalismo sem partidarismo” é um recado reto e direto a todos os leitores. Aqui não vão encontrar modelos pré-concebidos nos laboratórios de hipocrisia para tornar o que é certo hoje em equivocado amanhã e tampouco o que é equivocado hoje em certo amanhã. Querem exemplo dessa prática que robustece a credibilidade do novo mote?
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O histórico de nossa cobertura do caso Celso Daniel, especialidade nossa, exaustivamente nossa, duramente construída com base em diferentes investigações policiais, não limpará jamais a barra do PT no campo criminal em múltiplos escândalos que assombraram o País.
Os veículos de comunicação produzidos por militantes ideológicos misturam as duas coisas no mesmo saco. Para mim, os sacos são distintos. Ou seja: Celso Daniel foi assassinado em circunstâncias sem qualquer parentesco com os desvios financeiros na Prefeitura de Santo André.
Aqueles que ligam diretamente uma coisa à outra por conta do Mensalão e do Petrolão, por exemplo, confessam ingenuamente a burrada de empacotar os casos no mesmo recipiente. Basta lembrar que a aberração do Ministério Público para justificar a tese de que o crime do prefeito foi obra de paus mandados cai por terra justamente diante dos acontecimentos posteriores.
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Celso Daniel jamais lutou contra a corrupção e muito menos contra supostos desvios de recursos que seriam canalizados ao PT. Seu substituto na coordenação da campanha de Lula da Silva, não custa lembrar, lhe era semelhante em quase tudo, menos no brilho especial: Antonio Palocci, enredadíssimo na Lava Jato.
Um novo exemplo de ponto interessante que desnuda nossa flexibilidade pautada pela coerência editorial, a qual por sua vez é escrava dos fatos: não é por que Fernando Henrique Cardoso foi um péssimo presidente da República para a Província do Grande ABC (por motivos que cansei de analisar) que igualmente o foi para o País como um todo. Nada disso. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
FHC deixou legado de estabilidade monetária e ajuste fiscal que deve ser reconhecido sempre. Da mesma forma que Dilma Rousseff completou as obras de despautérios iniciada por Lula da Silva nos dois últimos anos do segundo mandato, tudo por conta das eleições presidenciais. O mesmo Lula da Silva, entretanto, que descobriu a obviedade ignorada até então pelos tucanos: o Brasil dos pobres não poderia continuar a ser esquecido. Aí vieram Bolsa Família e outros programas sociais, dos quais administradores públicos de todos os matizes se apropriaram com especificidades em ambientes municipais e estaduais. Inclusive na rica São Caetano, aqui na região.
MAIS 2017
Poderia dar muito mais exemplos de práticas editoriais que formulamos há muito tempo tanto nesta revista digital como na revista impressa LivreMercado. E também em outras situações, em outros veículos.
Essa independência ideológico-partidária é uma glória pessoal tanto quanto um problemão profissional. Quero dizer com isso que não pertenço a nenhuma patotinha de engajados à direita ou à esquerda que se refestelam com assemelhados e asseguram mutuamente certo conforto de empregabilidade e de solidariedade. Sou um jornalista sem partido num País em que a maioria dos jornalistas não esconde o que lhe passa pela cabeça, lutando por isso muitas vezes e de forma vergonhosa contra os fatos.
“Regionalismo sem partidarismo” é uma expressão-síntese de minha vida profissional. Nada mais adequado, portanto, que resplandeça no alto dessa primeira página de maneira serena, equilibrada, corajosa e até mesmo desafiadora.
MAIS 2017
Não consigo entender como normal condicionalidades praticadas pelo jornalismo partidário. Entre os problemas com os quais tem de conviver estão frustrações dos leitores que consomem informação. Inclusive daqueles que se acumpliciam de narrativas manchadas pela prévia adequação da informação ao formato ideológico e partidário: eles também, no fundo, procuram encontrar narrativas isentas de paixões até mesmo para, num exercício de auto entendimento, colocarem as próprias convicções em permanente bombardeiro.
“Regionalismo sem partidarismo” também é um recado aos agrupamentos e individualidades de redes sociais que em larga escala dividem opiniões com base no espectro ideológico que representam. CapitalSocial está a um clique de qualquer usuário de tecnologia de informação e, por isso mesmo, precisa ser imediatamente compreendido como endereço no qual não se praticam fanatismos de qualquer espécie.
Nem mesmo esportivo, se querem saber, por que, por cautela, dificilmente me manifesto sobre meu time de coração, embora o tenha há muito tempo menos invasivo à racionalidade em relação aos anos de juventude.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)