Economia

Dossiê/Fiesp revela 12 anos de
massacre industrial na região

DANIEL LIMA - 16/05/2022

Um estudo que poderia ser chamado de Dossiê/Fiesp detalha por setor de atividade o massacre industrial que o Grande ABC sofreu num período de 12 anos, iniciado no primeiro ano do segundo mandato do presidente Lula da Silva e encerrado no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.  

O Grande ABC perdeu 372% de riqueza industrial no período, 3,1% ao ano, enquanto o Estado de São Paulo cresceu discretamente, menos de 1% ao ano.  

A participação relativa da indústria do Grande ABC no Estado caiu no período nada menos que 40,04%: eram 18,47% e foi rebaixada a 10,89%. Praticamente todos os setores tiveram perdas reais e relativas na geração de Valor Adicionado, ou Valor de Transformação Industrial.  

LONGA JORNADA  

Trata-se de um pouco mais de uma década de dados importantíssimos que confirmam os 32 anos de pregação e advertência em forma de análises de CapitalSocial, a partir de 1990 com a marca da revista impressa LivreMercado.  

O Grande ABC vem perdendo tônus industrial há mais de 40 anos e nada indica que estancará a hemorragia de repercussões sociais dramáticas. Diferentemente disso: como não se organiza internamente, vai seguir a rota do desfiladeiro. 

O período de oito anos de Fernando Henrique Cardoso e de seis anos de Dilma Rousseff foram os piores da história do Grande ABC desde a chegada da indústria automobilística, coração da dinâmica econômica e social.  

Fernando Henrique Cardoso privilegiou as grandes empresas e levou as indústrias familiares ao desaparecimento. Dilma Rousseff cometeu barbaridades fiscais ao pegar a bucha de canhão de gastanças do antecessor Lula da Silva.  

ACERTANDO NA MOSCA  

Massacre é pouco para descrever o comportamento de 18 das 20 atividades industriais abaladas durante os 12 anos investigados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e seu braço civil, o Ciesp. Os setores mais importantes do PIB Industrial do Grande ABC, que representam 80% do PIB da atividade, foram os mais impactados.  

Ou seja: os 12 anos acertaram na mosca da desindustrialização que vem do passado. 

Os dados abrangem o ano-base de 2007 e chegam a 2019. E foram apresentados na semana passada na unidade do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, conglomerado da Fiesp) para empresários em Diadema.  

CapitalSocial utiliza os dados para mais uma análise que converge à linha do tempo em que prevalecem estudos da publicação tendo especificidades diferentes. São voos panorâmicos municipais e da região. O Dossiê/Fiesp trata de incursões por atividade econômica. Completa-se o jogo de realidades que incomodam os negligentes do Grande ABC.  

ESTUDO INÉDITO  

Jamais até então nem Ciesp nem Fiesp foram tão detalhistas na apuração de hecatombe da desindustrialização do Grande ABC. Os dados são alarmantes mesmo para quem acompanha a economia regional há muito tempo.   

A setorização da queda industrial revela o Grande ABC de 12 anos sofridos demais, mas que não expressam a dimensão e a profundidade das dores dos partos históricos. De fato, é uma amostra de 12 de mais de 40 anos de intensas transformações.  

O período que começa no primeiro ano do segundo mandato de Lula da Silva, atravessa os seis anos de Dilma Rousseff, os dois anos de Michel Temer e abrange o primeiro ano do governo Bolsonaro é uma espécie de terceira onda da desindustrialização do Grande ABC. 

ONDAS INSIDIOSAS  

A primeira onda começou no fim dos anos 1970 com o movimento sindical e a guerra fiscal, estendendo-se até o Plano Real. A segunda onda começou no governo Fernando Henrique Cardoso e terminou no primeiro mandato do governo Lula da Silva. A terceira está configurada no estudo Fiesp/Ciesp. 

Tudo isso corre de acordo com que CapitalSocial tem acentuado a cada nova temporada de circulação digital. A maioria da mídia regional faz vistas grossas.  Mais que isso: prefere incensar alguns políticos desprezíveis e supostas lideranças sociais que se mantêm próximas a podres poderes há muitas jornadas.  

O Dossiê/Fiesp é um documento tão importante para um início de conversa de planejamento da reorganização industrial da região que deveria mobilizar prefeitos, vereadores, entidades de classe empresarial, sindical e social.  

O que veremos nos próximos tempos será provavelmente a inapetência generalizada a esse atestado de óbito da cidadania regional.  

ELITE DO MAL  

O Grande ABC perdeu riquezas materiais e vergonha cognitiva. Mais que isso: conta com uma Elite Intelectual predominantemente nociva aos interesses da sociedade. Uma Elite Intelectual do Mal, que só enxerga o próprio umbigo de interesses muitas vezes obscuros, quando não escusos.  

O que se poderia esperar nessas alturas do campeonato quando o Clube dos Prefeitos pretende chamar os candidatos a governador do Estado para prometerem melhorias à região?  

Ora, que a entidade desse de presente a cada um deles, e também aos sete prefeitos, uma cópia do Dossiê/Fiesp.  

É preciso que algumas divindades tomem conhecimento de novas informações sobre o que aconteceu no Grande ABC num período recente. Como se os períodos anteriores já não fossem suficientes.  

MOVIMENTO SETORIAL  

Segue o comportamento de 20 setores industriais do Grande ABC identificados no Dossiê/Fiesp. Os setores de Veículos e Autopeças, de Petróleo e Biocombustíveis, de Químicos, de Borracha e Material Plástico e de Maquinas e Equipamentos representam 79,7% do PIB Industrial da região.  

Em conjunto, esses cinco setores perderam 34,80% no período de 12 anos. Somente quatro atividades industriais, de baixa representação regional (6%) do total), safaram-se da derrocada. O Grande ABC é uma nau sem rumo econômico.   

a) Veículos e autopeças – Grande ABC perdeu 51,6% e o Estado de São Paulo 17,5%. Participação regional do setor: 30,5%. 

b) Borracha e Material Plástico – Grande ABC perdeu 7,5% e o Estado 8,8%. Participação regional do setor de 9,8%.  

c) Máquinas e Equipamentos – Grande ABC perdeu 22,3% e o Estado 21,8%. Participação regional do setor de 5,5%.  

d) Produtos de Metal, exceto Máquinas e Equipamentos – Grade ABC perdeu 63,5% e o Estado 25,1%. Participação da atividade na região de 3,6%.  

e) Produtos de Minerais Não-Metálicos – Grande ABC perdeu 8,2% e o Estado de São Paulo 4,8%. Participação regional do setor? 2,6%.  

f) Metalurgia – Grande ABC perdeu 51,1% e o Estado 44,1%. Participação regional da atividade: 2,5%.  

g) Impressão e Reprodução de Gravações – Grande ABC perdeu 21,9% e o Estado 31,0%. Participação regional do setor: 1,2%. 

h) Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos – Grande ABC perdeu 76,2% e o Estado 13,8%. Participação regional do setor: 0,7%.  

i) Papel e Celulose – Grande ABC perdeu 6,1% e o Estado 23,6%. Participação regional do setor: 0,7%. 

j) Têxteis – Grande ABC perdeu 38,9% e o Estado 24,6%. Participação regional do setor: 0,6%. 

k) Óleo e Bicombustíveis – Grande ABC perdeu 16,5% e o Estado 24,6%. Participação regional no setor: 17, 4%.  

l) Químicos – Grande ABC perdeu 21,1% e o Estado cresceu 30,9%. Participação regional do setor: 17,2%.  

m) Móveis – Grande ABC perdeu 38,7% e o Estado cresceu 12,3%. Participação regional do setor: 0,6%. 

n) Equipamentos de Informática, Eletrônicos e Ópticos – Grande ABC perdeu 53,9% e o Estado cresceu 3,1%. Participação regional do setor: 0,5%.  

o) Farmoquímicos e Farmacêuticos – Grande ABC perdeu 56,2% e o Estado cresceu 0,6%. Participação regional do setor: 0,1% 

p) Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios – Grande ABC perdeu 64,7% e o Estado cresceu 2,9%. Participação regional do setor: 0,1%. 

q) Outros Equipamentos de Transporte – Grande ABC cresceu 59,9% e o Estado perdeu 45,3%. Participação regional do setor: 0,2%.  

r) Alimentos – Grande ABC cresceu 25,6% e o Estado 10,8%. Participação regional do setor: 3,1%.  

s) Manutenção, Reparação e Instalação de Máquinas e Equipamentos – Grande ABC cresceu 74,4% e o Estado cresceu 42,1%. Participação regional do setor: 1,5%.  

t) Fabricação de Produtos Diversos – Grande ABC cresceu 30,0% e o Estado 36,9%. Participação regional do setor: 1,1%.  



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