Economia

Fórum Industrial não passaria
por vestibular de competência

DANIEL LIMA - 20/05/2022

Duvido que mais de meia dúzia de eventuais 32 participantes do Fórum da Indústria Regional, a nova patifaria temática do Grande ABC, passaria pelo vestibular de competência para planejar o futuro da região.  

A novidade de fanfarronismo institucional lançada pela inútil Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, irmã siamesa do também inútil Clube dos Prefeitos, foi lançada anteontem. Tudo não passa de jogo de cena, de incremento eleitoral. Como tantas outras vezes.   

Temos um filme antigo com pretensa roupagem moderna. Não passa mesmo de película ordinária.  

A Agência mal se mantém de pé financeiramente, mas é ferramenta que funciona como vendedora de ilusão. O gataborralheirismo regional é um acinte porque vive de dísticos inócuos.   

25 ou 32? 

Dá-se crédito a quem não consegue andar com as próprias pernas e se tornou instrumento de uso individual do mandachuva de plantão que a controla, no caso desta temporada o prefeito Paulinho Serra.  

Quem está comandando a nova anedota de regionalidade é o sindicalista Aroaldo Oliveira, boi de piranha, teste de ferro, laranja, ou qualquer outra coisa que é a mesma coisa, de acordos políticos de uma cúpula que só quer saber de votos.  

Alguns chamam Aroaldo de Atolaudo, outros de Avoaldo. Fiquemos com Aroaldo. Tudo é a mesma coisa.  

Quando terminou o encontro numa das dependências da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), parceira da Agência, e questionado por um repórter, Aroaldo não sabia nem mesmo fazer as contas do grupo multilateral que supostamente tratará da derrocada industrial do Grande ABC que, entre 2007 e 2019, conforme escrevi nesta semana, perdeu 34% do Valor Adicionado, também conhecido como PIB setorial.   

Disse Aroaldo que eram 25 integrantes, mas quando passou a discriminar os vínculos corporativos, chego a 32.  

E SEM FOSSEM 39? 

Sete representantes de prefeituras, sete do setor industrial, sete do sindicalismo, sete de universidades, e quatro indicados pela própria Agência, Clube dos Prefeitos, Sebrae e Governo do Estado.  

Tem-se, portanto, uma Torre de Babel fundamentada na política como instrumento eleitoral. Nada mais que isso.   

Imagino o que seria do Grande ABC representado no Fórum Industrial se ao invés de sete municípios, contasse com 39. Teríamos 39 multiplicados por quatro atividades setoriais e mais um bocado de representações.  

Coloco 39 porque se Aroaldo virar algo como titular de uma agência econômica da Grande São Paulo, teríamos esse fator multiplicador.  

PORNOGRAFIA ECONÕMICA 

No escurinho do cinema do filme pornográfico em que se transformou o tratamento à Economia do Grande ABC nos setores públicos e privados, o Fórum da Indústria Regional vai-se consagrar como o corolário de aberrações.  

É impossível dar certo quando não se tem um ingrediente sequer que leve a isso e todos os que o reúnem são exatamente um monumental equívoco. 

Por isso volto à manchetíssima aí em cima: aposto com o titular da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC o que ele quiser, inclusive a própria vida: coloque seus 32 convidados em qualquer espaço e deixe que os submeta a um vestibular de conhecimento da realidade econômica e social do Grande ABC.  

Vou apresentar um formulário com 50 questões para serem respondidas em 90 minutos. Quem acertar mais de 25 questões estaria de fato habilitado ao posto. Não mais que meia dúzia, quanto muito, passaria pelo mata-burros.  

DEMOCRATISMO SINDICAL  

O que pretendo transmitir aos eleitores com esse desafio não passa mesmo de um desabafo baseado no conhecimento que tenho dos agentes públicos e privados do dia-a-dia do Grande ABC.  

O analfabetismo econômico é dilacerante. O desinteresse, maior ainda. Vivemos um ambiente de protecionismo aos medíocres, sob a guarda do Poder Público. Quando se chega a esse estágio de demolição da cidadania, o restante da sociedade recua e vai procurar outros caminhos entre os escombros.  

O equívoco-central de Aroaldo Oliveira caracteriza-se pelo democratismo, uma ramificação farsante de democracia.   

O democratismo procura contemplar todo mundo, mas desativa o botão de planejamento e urgência de resultados. Ou seja: sobram debates e escasseiam soluções. Imaginem os leitores o democratismo de despreparados temáticos.  

Aroaldo Oliveira, egresso do sindicalismo de proselitismo, não poderia oferecer cardápio participativo mais inadequado.  

O assembleísmo é uma marca registrada dos movimentos sindicais supostamente democráticos, mas, todos sabem, manipulados nos bastidores que conduzem os resultados de plenárias controladas.  

Outra deformação do democratismo adotado pelo titular da Agência de Desenvolvimento Econômico é o perfil dos participantes, distribuídos harmonicamente entre vários segmentos da sociedade. Estabelecem-se previamente cotas participativas sem levar em conta a especificidade de conhecimentos individuais, independentemente dos setores.  

O principal critério que deveria pautar eventual composição do Fórum da Indústria Regional seria único e definitivo: competência. Fora isso, nada vezes nada.  

O futuro do Grande ABC econômico não deve virar brincadeira institucional porque o presente é uma lastima irrigada pelo passado.  

VESTIBULAR MESMO  

A sugestão de um vestibular para ocupar a linha de frente de uma reforma para valer no setor industrial do Grande ABC não está sendo colocada pela primeira vez e muito menos pode ser catalogada como extravagância. 

 Já escrevi sobre isso e reafirmo: o critério de meritocracia passaria obrigatoriamente por processo seletivo que teria como âncora indissociável à reestruturação industrial o conceito de reforço da livre-iniciativa e redução do peso do Estado, inclusive no âmbito municipal.  

Vou dar apenas um exemplo para que o leitor tenha entendimento didático sobre o que pretendo dizer.  

Imagine uma política pública regional voltada a equalizar o peso do IPTU (Imposto sobre Propriedade Territorial e Urbana) de acordo com especificidades não apenas municipais, mas distritais, ou seja, de bairros, e de atividades econômicas?  

Portanto, um acordo regional que teria o sentido de tratar o que foi dividido pelos emancipacionistas como unidade estratégica de Desenvolvimento Econômico.  

Há tecnologia disponível que esquadrinharia rua por rua a aferição do patrimônio imobiliário conjugado com a renda família e a atividade-fim.  

O material já foi oferecido ao prefeito Paulinho Serra e assessores, que preferiram seguir a velha toada de aumentar o imposto ao bel-prazer. Tanto que há inúmeros casos em Santo André de imóveis comerciais cujo valor venal do IPTU é superior ao valor de mercado. Santo André é um convite à fuga econômica. 

IMP0STOS DEMAIS  

Claro que Paulinho Serra e sua tropa, principalmente, sabem que a sociedade não exercita a força coletiva e se deixa levar no bico nas eleições.   

A parafernália de impostos municipais no Grande ABC flerta com o surrealismo e afeta a capacidade de atrair investimentos e, também, de torná-los retroalimentadores.  

Mexer nesse vespeiro é a última intenção dos chefes de Executivo. Tanto quanto organizar a ocupação espacial ditada em larga margem por bandidos sociais do mercado imobiliário, reconhecidas empreiteiras urbanas de campanhas eleitorais.   

Voltando aos devaneios da Agência de Desenvolvimento Econômico, o evento na USCS foi tão importante e promissor que nem o arroz-de-festa Paulinho Serra compareceu. A ausência de Orlando Morando, prefeito de São Bernardo, era caçapa mais que cantada. Morando e Paulinho são inimigos declarados.  

Ora, se nem mesmo o patrono de Aroaldo de Oliveira, no caso Paulinho Serra, participou do evento, o que se poderia esperar?  

FAXINA E METRE 

Dou a resposta: com Paulinho Serra ou sem Paulinho Serra a bobagem seria a mesma, ou seja, tudo não passaria de programação demagógica.  

Vou voltar ao assunto nesta segunda-feira porque o Fórum da Indústria vai pegar carona no dossiê que a Fiesp revelou nesta semana sobre a situação de calamidade regional. A Fiesp fez o que as prefeituras e especialmente o Clube dos Prefeitos deveriam ter feito há muito tempo.  

O problema ao se transplantarem os dados da Fiesp para o Fórum da Indústria Regional é semelhante ao do proprietário de um restaurante dotado de todos os ingredientes para um jantar de gala, mas que prefere dar folga ao metre, substituindo-o pelo faxineiro.  

Mais que uma limpeza geral, o Grande ABC precisa mesmo é de gente que faça um prato que só seja indigesto aos mandachuvas e mandachuvinhas.



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