Já passou de 100 mil caracteres a segunda versão do livro “Complexo de Gata Borralheira”, lançado em 2002, logo após a morte do prefeito Celso Daniel. Com nova roupagem nominativa (“Uma vez Borralheira, sempre Borralheira”), a publicação chegará ao oitavo capítulo na edição desta quarta-feira.
E vai tratar de um dos assuntos mais instigantes da trajetória de mais de três décadas de CapitalSocial-LivreMercado: algumas das promessas e lorotas que este jornalista selecionou durante mandato de prefeitos da região na temporada 2013-2016. A exceção é Luiz Marinho, cujo acervo foi capturado a partir de 2009, quando foi eleito pela primeira vez.
“Uma vez Borralheira, sempre Borralheira” é a realidade tratada como ficção. É um encontro de personagens institucionais vitais à qualidade de vida decadente e de futuro incerto de quase três milhões de habitantes do Grande ABC.
FORMATO DO PODER
“Grande ABC” é o personagem central do encontro no Residencial Grande ABC. A mesa retangular tem todo um significado de poder. Tanto que já se definiu o novo formato da mesa que recepcionará os convidados em novo encontro de data ainda indefinida.
Já houve muita discussão sobre o espaço ocupado por cada convidado na mesa retangular, porque ocupar as duas cabeceiras, superior e inferior, é símbolo de poderio.
Os convidados do “Grande ABC” são os sete municípios da região, a Cidade de São Paulo e o Estado de São Paulo.
ENSINO FUNDAMENTAL
A narrativa em tom alegórico permite a este jornalista simplificar a linguagem de modo a colocar cada parágrafo ao alcance de todo o tipo de leitor, inclusive de alunos do Ensino Fundamental. Conhecer a história do Grande ABC é um dos pontos nucleares da proposta de “Uma vez Borralheira, sempre Borralheira”.
Tratar os municípios da região muito além do que a imaginação mais ingênua sugere é cláusula pétrea da série que vai se estender por período que será anunciado nos próximos capítulos.
As idiossincrasias internas, tanto do passado quanto do presente, explicam por que, por exemplo, o Clube dos Prefeitos é uma miragem institucional que raramente alcançou os resultados necessários.
DISPUTAS MUNICIPAIS
Mais que isso: há explícitas disputas entre municípios. Santo André se orgulha de ter comportado São Caetano em seu território. São Caetano dá o troco por se considerar melhor que Santo André.
Diadema e São Bernardo vivem às turras. São Bernardo e Santo André também não se entendem. Mauá e Diadema são vizinhas distantes, mas semelhantes. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra se associam na pequenez econômica para sobreviver em meio aos poderosos.
O Estado de São Paulo, que ocupa a cabeceira inferior da mesa, age com discrição. A Cidade de São Paulo zomba o tempo todo dos “anões” vizinhos.
Quem quer conhecer para valer a cultura, o social, a política e a economia do Grande ABC não pode prescindir da leitura de “Uma vez Borralheira, sempre Borralheira”.
PRIMEIRA VERSÃO
O ideal mesmo é que a leitura antecedente da primeira versão de “Complexo de Gata Borralheira”, disponível neste site, seja intensamente digerida para que se compreenda ainda melhor o que se passa nos 840 quilômetros quadrados de uma região que vive a olhar a Capital próxima sem se dar conta de que desvantagens também embutem vantagens comparativas.
Mas como enxergar o outro lado do rio da riqueza que a vizinha poderosa impõe sem que se trabalhe coletivamente, sem amarras cartográficas?
Esse é um ponto-chave do gataborralheirismo regional que nenhum outro jornalista, nenhuma outra mídia regional, ousa decodificar.
FERIDA QUE INCOMODA
Há um sentimento tipicamente gataborralheiresco de que ao se tocar na ferida do sentimento de inferioridade do Grande ABC, se contrai ainda mais a autoestima coletiva. Uma tremenda bobagem. O pior do gataborralheirismo é fingir que não existe gataborralheirismo.
Enfrentar o gataborralheirismo muitas vezes negado é o melhor caminho ao surgimento de uma nova e motivadora região. Propomos desde sempre o enfrentamento de um fantasma psicológico que impacta o coletivo.
O que recomendo a todos que têm o Grande ABC mesmo dividido em sete pedaços no coração é que tratem o gataborralheirismo com inteligência, determinação e, sobretudo, planejamento.
Nesse caso, é fundamental a ação de instituições. O Clube dos Prefeitos deveria ser o carro-chefe de intervenções sempre adiadas porque o Clube dos Prefeitos é o exemplar perfeito da falta de juízo de autoridades públicas na condução de um processo iniciado por Celso Daniel e jamais continuado. O mesmo Celso Daniel que provavelmente rejeitaria em público o gataborralheirismo regional, mas que, intramuros de um homem com preocupação com o futuro, daria uma piscadela incentivadora à evangelização do tema.
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29/10/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (27)