Não faltam sinalizadores que identificam a derrocada do Grande ABC neste século. Nada diferente, portanto, das duas últimas décadas do século passado. Nem uma coisa nem outra foram suficientes para que soasse o alarme de que somente uma sincronizada ação institucional de gente que entende do riscado poderia mitigar a situação.
Quando digo que a ação precisa mesmo ser de gente que entende do riscado quero dizer que a demagogia explícita do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico é um trambique político-eleitoral.
A razão é simples, levando-se em conta o mais recente anúncio: não há na praça regional uma dezena sequer, quanto mais 32 especialistas em economia do Grande ABC, como pretende anunciar um dirigente da Agência, ele próprio longe de requisito reformista, ponto nuclear a qualquer iniciativa.
O PIB do Consumo, temática velha de guerra de CapitalSocial/LivreMercado, é prova cabal do empobrecimento da região à reboque da desindustrialização ainda prevalecente.
DUREZA DO PRÉLIO
Em maio passado analisei os últimos dados da Consultoria IPC, do pesquisador Marcos Pazzini, maior especialista na construção do PIB do Consumo do País.
Faço isso desde sempre, ao longo dos tempos. Prometi voltar ao assunto e o faço aleatoriamente no tempo, de acordo com a situação que se apresenta.
A dureza do prélio do Grande ABC nesse que é um dos indicadores mais relevantes a qualquer análise econômica que trate a situação de cada Município brasileiro é preocupante.
O Grande ABC, diferentemente do Palmeiras, virtual campeão brasileiro desta temporada (a prosseguir a vantagem técnico-tática-estrutural que resplandece nos gramados) tem uma defesa que é a mais vazada em matéria de cidadania e uma linha de ataque omissa por natureza e safadeza.
IRRESPONSABILIDADE
Quando o Grande ABC entra no gramado de qualquer seriedade analítica, os pecadores de plantão se trumbicam. Mas eles insistem em botar a cara na janela da imprecisão porque são teimosamente aventureiros, quando não irresponsáveis, ou mercenários.
O PIB do Consumo deste século, que um ou outro noticiário triunfalista ignora como se ignorar fosse a fonte inspiradora à reação, é a prova provada de que a vaca da economia regional segue no brejo.
Repito: segue no brejo, porque há muito deixou de caminhar para o brejo.
Somente o fato comprovado de que caminhamos em ritmo de inferioridade em relação à média nacional já é a prova do crime de desestruturação do tecido social e econômico.
Ou estou exagerando quando , mais que insinuo, afirmo que ter números inferiores à média de um país que não para de perder fôlego no mundo civilizado é o epíteto de uma derrocada monumental?
CARA DA DERROTA
Sem meias palavras e expressões, chamo de irresponsabilidade social qualquer iniciativa de qualquer fonte de informação que tome o pulso do comportamento do poderio de consumo e, portanto, de vitalidade econômica da região, sem se referir a uma sequência de anos de chumbo, de exclusão social, de perda de mobilidade social, de queda participativa de ricos e classe média no universo de residências e tantos outros dados que não deixam escapulir a situação em que os sete municípios se encontram.
Ficar cada vez mais com a cara do Brasil médio, algo que significa claramente que perdemos feio para a maioria dos municípios dinâmicos, cujos resultados estão muito acima da média nacional, é um atestado de falência regional.
ENCONTRO DAS ÁGUAS
Para um espaço geoeconômico que a partir de meados do século passado e durante os 30 anos seguintes acumulou sucessos sobre sucessos, a ponto de virar referência nacional de classe média portentosa, o que se vê é uma constatação inquietante: quando este século terminar, na toada em que estamos, seremos piores que a média brasileira no campo econômico.
PIB do Consumo e PIB Convencional são metades da mesma laranja, com especificidades que, ao longo do tempo, praticamente perdem força e ganham tonalidade única.
Daí o fato de o Grande ABC que perde vitalidade no PIB Convencional cair pelas tabelas no PIB do Consumo.
EMPATE NO FUTURO
Mais duas décadas e pouco, no ritmo insuportavelmente trôpego com que se tem comportada a economia do Grande ABC neste século, haverá provavelmente uma equidade de valores depreciativos entre o PIB do Consumo e o PIB Convencional frente à média nacional. Essa projeção está respaldada estatisticamente.
Em 1999, último ano antes do novo século, o PIB do Consumo Per Capita do Brasil não passava de 58,84% do registrado no Grande ABC. Já nesta temporada de 2022, referente aos dados do ano passado, o que a população do Grande ABC tem de potencial de gasto no PIB do Consumo é superior à média brasileira em 24,52%. Ou seja: a média nacional chegou a 75,48% da média regional. Um salto de 16,64 pontos percentuais no período de 23 anos.
Quem quiser fazer umas contas de quanto tempo será preciso, na média deste século até agora, para que o jogo fique pau a pau, é fácil. Basta aferir a média anual de ganho de participação relativa da média nacional frente a média regional.
DIFERENÇA CAI
Agora vou aos números do PIB do Consumo. Em 1999, o PIB Per Capita do Consumo do Grande ABC era (em valores nominais, sem considerar a inflação) de R$ 5.936.91 mil, ante a média nacional de R$ 3.491,42 mil. Já neste 2022, o PIB do Consumo regional registra R$ 34.799,78 mil, ante R$ 26.262,62 mil da média nacional.
O crescimento médio do PIB Per Capita do Consumo no Brasil neste século é 25,43% superior à média regional. O PIB do Consumo da região cresceu nominalmente no período 4,86 vezes, enquanto a média brasileira registrou 7,52 vezes.
Houvesse pelo menos empatado o jogo de crescimento médio ante os dados do Brasil, o PIB do Consumo Per Capital do Grande ABC nesta temporada seria de R$ 38.708,65 mil. Maior, portanto, que os R$ 34.799,78 mil registrados.
QUEDA ACENTUADA
A cumulatividade de perdas de consumo do Grande ABC em relação à média nacional está retratada também na participação relativa no bolo nacional. Considerando-se apenas os dados desde século, ou seja, entre 2000 e 2022, o Grande ABC teve a fatia participativa rebaixada em 43,36%.
Traduzindo: como avança menos em relação ao avanço médio nacional, entra ano, entra novo ano, mais o PIB de Consumo de um e de outro se aproximam.
A queda de 43,36% está consolidada no fato de que em 1999 o Grande ABC participava com R$ 3,09% do PIB do Consumo do Brasil. Ou seja: de cada R$ 100, 00 disponíveis para gastar, R$ 3,09 tinham como endereço os moradores da região. Já nesta temporada o valor não passa de R$ 1,75.
Quem tiver a petulância de dizer ou escrever que isso é prova de vitalidade do Grande ABC precisa de uma camisa de força.
ENGANAÇÃO PURA
Um dos sinais evidentes de gataborralheirismo regional, enfermidade psicossocial coletiva que os adestradores de mentiras, sofismas e enganações adoram exibir como virtude, não fosse letal à cidadania, é a frequente tentativa de enganar o distinto público com dados falsos, quando não agressivamente desrespeitosos.
No caso o específico do PIB do Consumo, também conhecido como Potencial de Consumo, os dados são batons na cueca da sem-vergonhice informativa. Não resistem a um apertão do senso de realidade.
Não existe prestidigitação numérica que resista aos fatos. Basta desconsiderar, entre outros pontos negacionistas, a seletividade temporal malandramente orquestrada. Ou seja: são fake news no estágio mais mal-acabado que se poderia encontrar porque contém delituosidade implícita mas nem sempre detectável pelos consumidores de informações.
As fake news das redes sociais são menos nocivas, porque produzidas por amadores e sujeitas à censura de togados que não entendem nada de jornalismo profissional maroto.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?