Já que a regionalidade é uma meta defendida apenas por idiotas como eu, porque é praticamente impossível levar a sério o legado de Celso Daniel no campo institucional, vamos ser francos e objetivos?
O Grande ABC dividido em sete pedaços territoriais que não se entendem coletivamente, embora finjam bem, ou já tenham fingido bem, conta com cinco obviedades de vocações econômicas municipais que precisam ser exploradas pelos atuais prefeitos.
Todos pegaram a bucha de canhão da desindustrialização dos antecessores e precisam reagir.
Quanto mais o tempo passa na catinga da fumaça, mais despencamos em qualquer ranking sério do mundo econômico, com evidentes sequelas sociais, administrativas e ambientais.
DIVISÃO REVISADA
Pensei mais detidamente sobre esse múltiplo desafio (que de fato são desafios individuais) nas condições com que se apresentam.
Tanto são separados, embora um ou outro gere conexões, que podem ter combinação de ação municipal individual nos casos de São Bernardo, Diadema e São Caetano e em casos bilaterais envolvendo Santo André-Mauá e Ribeirão Pires-Rio Grande da Serra.
Traduzindo tudo isso quero dizer que as partes divisionistas que formam o bicho-de-sete-cabeças do Grande ABC podem ganhar maior autonomia quando se trata de Desenvolvimento Econômico.
POSSIVEL E IDEAL
Essa não é uma saída ideal quando se fala em regionalidade completa, mas, como disse, é o possível que sufoca o ideal em nome do pragmatismo.
Dos municípios do Grande ABC, o único que já deixou claro e evidenciado que não está nem aí com os parceiros de viagem regional é São Bernardo de Orlando Morando. A ruptura já vem há algum tempo por conta de fatores pessoais e administrativos, além de midiáticos.
As obras em infraestrutura física que finalmente colocam São Bernardo algo próximo do que se sonha com a modernidade logística interna em forma de transporte dão o indicativo de que podem ser reformistas, desde que saiam do quadradismo de concreto e cimento e ganhem roupagem de projetos econômicos que despertem para valer as vantagens comparativas em determinados setores produtivos.
Vantagens comparativas potenciais, que fique bem claro, e também as de fato, que também fique bem claro. As desvantagens comparativas são mais que conhecidas em forma de bombardeamento do setor automotivo.
LEGALIDAD É COMEÇO
Santo André e Mauá acabaram de descobrir a vereda da legalidade do território que chamo de Cidade Capuava, espécie de corruptela de Cidade Pirelli lançada por Celso Daniel antes que o século passado terminasse. Cidade Capuava já existe de fato, está posta em forma de empresas e territórios contíguos. Só não tem organização estratégica do setor público de Santo André e Mauá.
A Cidade Capuava que de fato existe usufrui dos benefícios fiscais e de alguma maneira de certos ganhos na massa de trabalhadores, mas é muito pouco para quem tem a vaca leiteira do setor químico e petroquímico.
Santo André e Mauá até outro dia só se orgulhavam do Polo Petroquímico na contabilidade fiscal, porque o setor segura as pontas arrecadatórias em larga escala. Sobretudo Mauá. Mas também Santo André.
FUTURO DE PLÁSTICO
Os prefeitos Paulinho Serra e Marcelo Oliveira (que não é Lima nem aqui nem na China, porque o Marcelo Lima é outro, vice-prefeito de São Bernardo) deram a letra de uma canção que não pode perder o tom e o embalo.
A constituição de uma força-tarefa que pretende extrair da Cidade Capuava tudo que é possível é o ponto de partida de uma viagem que seria duradouramente espetacular.
O futuro é de plástico desde muito tempo. Desde que escrevi sobre isso antes que o século virasse.
Quem não se lembra disso, convém recordar. Estava em pauta a Universidade Federal do Grande ABC e o que mais se pretendia era juntar a academia e a produção industrial do Polo Petroquímico e uma cadeia imensa de pequenas e médias industriais transformadoras da matéria-prima central. Indústrias que também se espalham por São Bernardo e Diadema.
De fato, o espalhamento é geral justamente porque jamais e em tempo algum Santo André e Mauá se preocuparam justamente com o que parece estar aflorando agora, ou seja: fazer das matérias-primas do Polo Petroquímico a Cidade Capuava desperdiçada há 60 anos.
Diadema precisa acordar para algo mais desafiador que junção de Santo André e Mauá escancaradamente exposta.
DIADEMA CONFLITIVA
Diadema conta com indústrias de vários setores e de vários portes, mais de pequeno porte, tem a Anchieta e a Imigrantes como aliadas logísticas, mas cai pelas tabelas neste século.
A produção industrial de Diadema desabou e os indicadores sociais também não são lá essas coisas. A desindustrialização de Diadema chegou antes da maturação social -- diferentemente, portanto, de Santo André e São Caetano. Com o agravante de que o Poder Público, influenciado para o bem e para o mal pelo socialismo tupiniquim, cai estatelado diante da guerra fiscal.
Diadema raramente pontificou com políticas econômicas locais. A vertente da exclusão social e de um aparato burocrático pesado em termos salariais limitou o poder de fogo econômico. A conta chegou.
Está faltando ao Poder Público Municipal de Diadema um plano que definha os setores alinhados à recuperação da musculatura econômica que, debilitada, compromete o desenvolvimento social. E tratar, claro, de uma infraestrutura que concilie investimentos e moradia. Uma tormenta histórica que afugentou muitos empreendimento.
RIQUEZA NA VELHICE
São Caetano de tanta riqueza familiar vem-se perdendo porque ainda não se achou como marca econômica diante dos desajustes naturais dos tempos.
Perdeu a Casas Bahia, a General Motors é sempre um ponto de interrogação no setor mais competitivo do mundo e os terminais da Petrobrás geram receita fiscal e poucos empregos.
Está faltando a São Caetano uma proposta que até prova em contrário confirme a melhor saída para cultivar uma marca que seria o coroamento da própria estrutura demográfica. Estou me referindo à necessidade de juntar a fome de envelhecimento geral da população (a Grande São Paulo conta com 22 milhões de habitantes, 50% mais que o Estado da Bahia) e a vontade de comer de criar uma estrutura de atendimento médico que tenha a Terceira Idade como ponto-chave.
CADEIA PRODUTIVA
São Caetano já conta com algumas logomarcas importantes do setor de saúde, mas não há diretrizes resplandecentes a indicar que o nicho da velhice mais afortunada teria um arranjo produtivo planejado para elevar as receitas tributárias e dar mais veracidade aos números do setor de serviços, que se agigantaram com a guerra fiscal. Uma guerra fiscal que reproduz mais postos de trabalho na cidade do que de fato existem. São empresas fantasmas, se querem saber. O setor de construção civil é o mais visível, com poucas obras e muita gente com carteira assinada.
Finalmente, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que representam 7% da população e apenas 2,3% do PIB Regional, contam com o fator geográfico como massa de atração. Vizinhas, poderiam desenvolver projetos que se completariam na área de turismo ou, quem sabe, num segmento ou setor ainda a descobrir, aproveitando-se cooperativamente de morfologias sociais e econômicas pouco detectadas como base de uma nova plataforma.
RESUMO-RESUMIDO
Para quem quer entender as cinco obviedades econômicas as quais me referi na manchetíssima desta edição, então vamos a um resumo-resumido:
1. O escancaramento formal da Cidade Capuava dentro de Santo André e Mauá.
2. O casamento entre a nova infraestrutura e a estrutura potencial de negócios em São Bernardo.
3. A definição de setores que deveriam ser pautados como montanhas a serem escaladas pelas pequenas e médias indústrias de Diadema, em pleno coração da Imigrantes e da Anchieta.
4. A industrialização do setor de serviços médicos de São Caetano com base no envelhecimento geral da população.
5. O ajuntamento de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra de forma a transformar a vizinhança física em interatividade e complementaridade produtiva.
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