Economia

O que mudou na região após
14 anos do PT em Brasília (10)

DANIEL LIMA - 27/09/2022

O que os leitores vão acompanhar nesse novo capítulo desta minissérie é um show de horrores em matéria de ineficiência e descaso à pretendida regionalidade do Grande ABC.  

A origem é um texto que produzi em 2003 (portanto há quase 20 anos) e que gerou a Reportagem de Capa da revista de papel LivreMercado, antecessora de CapitalSocial. 

Modéstia às favas, o que elaboramos naquela edição, como parte de sistemática ação editorial de tomar o Grande ABC pelo colarinho crítico, é uma preciosidade desperdiçada há tanto tempo. Tudo porque não temos a essência da integração regional.  

Falta-nos cidadania, falta-nos também responsabilidade social. Não à toa adotamos o mote “Ombudsman do Grande ABC”. Seria estupidez ser porta-voz de uma sociedade em farrapos e cada vez mais dispersa. Uma sociedade que não se dá conta do que se passa para valer.  

Perdemos com a década e meia de PT em Brasília oportunidade de ouro para recuperar pelo menos parte do desarranjo provocado pela abertura econômica insana dos anos 1990, sobretudo durante o governo de Fernando Henrique Cardoso de alta mortalidade das pequenas e médias indústrias familiares discriminadas por políticas econômicas elitistas e protecionistas. 

A minissérie que trata dos 14 anos do PT em Brasília, com holofotes no Grande ABC, origem trabalhista do partido comandado por Lula da Silva, é uma oportunidade a mais que CapitalSocial oferece à compreensão do Grande ABC na linha do tempo, dos ventos e das tempestades. 

JORNALISMO CRÍTICO 

No Grande ABC, tanto no passado quanto no presente, pior ainda no presente, o que temos é um jornalismo relatorial, muitas vezes típico de relações públicas. Raramente se observa com consistência um plano editorial de inquietude com o esfacelamento econômico e social de uma área de quase três milhões de habitantes.  

A mobilidade social erodiu ainda mais neste século. Flertamos com o pior dos mundos, ou seja, ser exatamente igual ao Brasil, do qual nos distinguimos no passado pela capacidade empreendedora e de geração de classe média.  O Grande ABC é cada vez mais Brasil, no pior dos sentidos da expressão. 

Somos uma sociedade em decomposição, em estado institucional vegetativo. 

O que os leitores vão encontrar em seguida tem a data do passado, mas pode ser transplantado sem qualquer risco ao presente e seguramente ao futuro próximo. 

O retrato de prestação de contas que preparei para a edição de dezembro de 2016, último ano do PT em Brasília, é a mais eloquente, incisiva e incontornável prova das provas de que fracassamos em todos os sentidos no período, não necessariamente por causa majoritária do PT. 

Temos os nossos próprios cromossomos de iniquidades institucionais parasitárias, festivas no vazio de gestores públicos cada vez menos assediados pelos contribuintes. Temos uma contradição dos tempos modernos: a tecnologia portátil transportou a alma e o coração municipal que sempre negou o regionalismo a uma nova esfera, ao mundo da Federação em pandarecos, intolerante e extremista, à direita e à esquerda.

 

Agenda regional segue às

escuras após 13 anos de PT 

 DANIEL LIMA - 14/12/2016 

 

Preparei uma agenda especial para a Província do Grande ABC, publicada na edição de dezembro de 2003 da revista LivreMercado e também na então newsletter CapitalSocial. LivreMercado foi criada e dirigida editorialmente por mim. Escrevi 2003, não 2013 como poderiam sugerir alguns leitores. A análise tornou-se Reportagem de Capa. É um documento valioso para quem quer entender a evolução (ou involução) de nossa regionalidade (regionalidade?).  

Querem a prova do fracasso -- não do autor das sugestões plenamente factíveis -- da regionalidade com seus agentes públicos, privados e sociais? Tudo aquilo continua muito atual.   

O título daquela Reportagem de Capa (“Uma agenda para iluminar a região”) teria, existisse ainda a revista LivreMercado, o contraponto de “Uma agenda regional que segue na escuridão”. Algo análogo ao que a revista britânica The Economist produziu sobre dois períodos distintos do governo petista, o primeiro com o Cristo Redentor voando como foguete, o segundo explodindo no ar.  

Convenhamos que, se continua tudo igual à situação que me levou a preparar aquela Reportagem de Capa, é sinal de que a regionalidade está defasada. Mais ainda: se já estava defasado àquela data, porque fiz uma coletânea de propostas que vieram do passado de meu trabalho na região, estão o que temos é um amontoado de desperdícios. Contamos com uma preciosidade de propostas (leiam tudo logo abaixo porque não estamos cometendo o pecado do autoendeusamento) que o tempo tratou de transformar em sucata. Querem algo pior do que isso? 

RAIZ DOS PROBLEMAS  

É por essas e por outras que não tenho mais paciência em lidar com questões regionais que se apresentam sob perspectiva malemolente. Por isso fico estupefato, quando não raivoso, quando não inconformado, quando não esbaforido, ao ler que os novos prefeitos vão incidir em antigos vícios. Caso, por exemplo, do chamamento de um emissário do governo do Estado para se juntar a eles no Clube dos Prefeitos. 

Eles, os novos prefeitos, parecem desconhecer a história regional. Mas não esqueci, até porque ajudei e continuo a ajudar a construí-la com narrativas diárias. E narrativas diárias muitas vezes amaldiçoadas, porque tocam fundo em nossas deficiências e safadezas. Não é mesmo, caro prefeito Luiz Marinho e seu Museu do Trabalho e do Trabalhador?  

O que mais se deve lastimar quando se constata que as peças básicas dessa carpintaria de regionalidade são absolutamente factíveis é que todo o desencanto desse período de 13 anos se configurou durante o governo petista de Lula da Silva e de Dilma Rousseff. 

O Partido dos Trabalhados nascido dos metalúrgicos de São Bernardo, além de intelectuais paulistanos e de bases eclesiásticas, não fez nenhum esforço concentrado como fruto de planejamento para interferir no redesenho de uma região que, nos anos 1990, passou por duros golpes da desindustrialização. Jogou-se muito para a plateia, mas a efetividade de políticas pró-regionalidade se dissolveu. O PT regional se preocupou muito mais em articular-se com o PT do Estado e o PT nacional para continuar no poder a qualquer custo – principalmente ao custo do saqueamento das estatais. Leiam as 30 propostas formuladas em 2003 e que, como escrevi, seguem atuais. Ou desastradamente sucateadas.  

1. Evitar tratamento festivo a eventos e propostas que não ultrapassam o terreno de conjectura. 

Exemplo: os infinitos acordos formulados pela Câmara Regional não passam, na maioria dos casos, de cartas de intenção. Entretanto, o que exala do noticiário é o mau cheiro de um propagandismo manipulador que agride o bom senso e a perversa situação socioeconômica do Grande ABC. Prova contundente de que o Grande ABC de papel não corresponde ao Grande ABC de fato está na própria cronologia contrastante dos últimos 10 anos, quando pontificaram bajulações à institucionalidade regional interrompida e trôpega, enquanto a riqueza industrial evaporava. 

Resultado: nada se alterou, exceto o encerramento das atividades da pífia Câmara Regional.  

2. Exigir a disseminação de conceitos e práticas de empreendedorismo entre os estabelecimentos de ensino público e privado para possibilitar salto em direção à solidez dos negócios, principalmente de pequeno porte. 

Exemplo: ainda é muito larga a distância que separa a academia e o empreendedorismo de pequeno porte no Grande ABC. Cases de sucesso genuinamente regional, em meio ao turbilhão macroeconômico, são valiosíssimos materiais de estudos. Uma pena que universidades, faculdades e escolas de Segundo Grau ainda não tenham percebido a importância de valorizar o empreendedorismo local como plataforma de estudos, principalmente para despertar nos alunos a consciência prática de que, à falta de empregos, só restará a alternativa do negócio próprio. Uma boa maneira de romper a tradição do Grande ABC da manufatura para o Grande ABC de cérebros.  

Resultado: nada se alterou.  

3. Incentivar mecanismos de preparação e de proteção aos empreendedores de pequeno porte dos setores comercial e de serviços para o enfrentamento dos grandes conglomerados nacionais e internacionais. 

Exemplo: a cronologia de investimentos dos grandes conglomerados comerciais e de serviços que aportaram na região em paralelo ao esvaziamento industrial não difere da desídia que se deu no Brasil e na América Latina. Somos vítimas de uma acachapante falta de planejamento espacial e setorial. Amenizar o drama do desemprego renitente que sobreveio com a fragilização do setor industrial descentralizado e evadido é um desafio que precisa ser enfrentado.  

Resultado: não se alterou, exceto a invasão dos grandes conglomerados varejistas na forma de pequenos negócios de redes que avançam ainda mais sobre os pequenos empreendedores familiares.   

4. Estimular ações que coloquem academia, governos municipais e sociedade num mesmo e amplo compartimento de amarração dos dispositivos de regionalidade.  

Exemplo: não tem passado de pura falácia a integração regional em nível exclusivamente político-institucional. Quando, então, se avança para estágio superior, com a sensibilização de entidades de classe empresarial, sociais e não-governamentais, o vexame é ainda maior. Câmara Regional, Consórcio de Prefeitos, Agência de Desenvolvimento Econômico e o desfalecido Fórum da Cidadania dançam muito mal e sob ritmos variados e muitas vezes antagônicos. As instituições de ensino são um mundo à parte. Apenas ensaiam participar, com idas e vindas que mais comprometem do que enaltecem o setor. 

Resultado: também nada se alterou, exceto o agravamento do quadro de individualismo deletério.  

5. Exigir representantes do mercado e da comunidade como agentes de decisão nas instâncias públicas de cunho municipal e regional.  

Exemplo: A Agência de Desenvolvimento Econômico e o Consórcio de Prefeitos são fortalezas praticamente inexpugnáveis à participação da comunidade. A Câmara Regional, ficção que alguns tentam vender como realidade, nem merece ser mencionada. Falta sociedade nos dispositivos institucionais que se criaram na região. Prevalece uma institucionalidade manquitola, em que o peso dos governos municipais é quase que monopolizador e, como tal, sujeito a vieses que não necessariamente interessam ao conjunto da comunidade. 

Resultado: como nada mudou, tudo se agravou.  

6. Defender a ocupação dos mananciais por meio de combinação de desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental. 

Exemplo: Não existe incompatibilidade entre economia e meio ambiente a ponto de tornar os debates sobre o uso das áreas de mananciais espécie de Fla-Flu insuperável. Enquanto prevalece esse viés arraigadamente conservador e mistificador, porque os mananciais têm sido vitimados há décadas não por ocupação econômico-produtiva, mas por invasões demográficas especulativas, as condições de sustentabilidade se agravam. 

Resultado: o vetor ambiental e o vetor econômico jamais se cruzaram e a situação dos mananciais só se agravou com mais ocupações.  

7. Exigir das entidades empresariais ações que ultrapassem interesses exclusivamente corporativos, principalmente no sentido de dar maior competitividade à região.  

Exemplo: é histórico o fracasso das entidades empresariais do Grande ABC no campo institucional. Exceto em algumas ocasiões, quando interesses corporativos se mesclaram com possível despertar comunitário, entidades ligadas ao empresariado jamais se mobilizaram de fato para alterar o rumo dos acontecimentos, num procedimento que, aliás, é lugar-comum no País. Compartimentadas por municípios, as entidades empresariais ignoram conceitos de regionalidade estratégica.  

Resultado: tudo continua como antes, e sempre com agravamento porque incestuosas aproximações, quando não submissão ao setor público vulgarizaram o conceito de representatividade. 

8. Exigir das entidades sindicais reflexão permanente sobre as repercussões sociais de reivindicações e conquistas trabalhistas.  

Exemplo: omissos ao longo da história nas questões que fogem ao interesse de sua própria geografia institucional, os sindicatos de trabalhadores precisam exercer novo modelo de capital social. As reivindicações trabalhistas são tão legítimas na concertação dos benefícios à classe como a extroversão rumo ao equilíbrio socioeconômico da região. Ou seja: o Grande ABC continuará ferido de morte no campo trabalhista se não associar aos ganhos reivindicatórios dos sindicatos mais atuantes a contraface de movimentos conjugados que visem a dar maior equilíbrio ao jogo do mercado. 

Resultado: os sindicalistas são os mesmos de sempre, peças do jogo político-partidário, incapazes de enxergar um dos referenciais sagrados do capitalismo – ou seja, a produtividade, que gera competitividade.  

9. Exigir mecanismos institucionais para retirar a economia do Grande ABC da dependência estrutural dos setores automotivo e petroquímico.  

Exemplo: esse é o grande nó górdio do desenvolvimento econômico sustentável do Grande ABC. A dependência de duas atividades globalmente competitivas, casos das petroquímicas e das automotivas, transformou a região em campo minado. Basta recorrer aos números da última década, quando 100 mil empregos industriais com carteira assinada desapareceram das fábricas da região, para decifrar o tamanho da encrenca. A grandiloquência com que se costumam referir os triunfalistas ao parque automotivo da região esconde nosso calcanhar-de-aquiles: nos tornamos vulneráveis demais no jogo bruto da concorrência internacional automotiva. Pior ainda: quanto mais nos aproximamos dos níveis de competitividade, menos emprego e geração de renda exibiremos. 

Resultado: seguimos a toada de dependência da Doença Holandesa Automotiva. Alguns balões de ensaios de novas atividades não passaram de enganação.  

10. Exigir de entidades sociais mobilizações além dos interesses corporativos de seus associados. 

Exemplo: o fracasso do Fórum da Cidadania é sintomático da falta de enraizamento e entrelaçamento das entidades sociais do Grande ABC. Há evidente dispersão de forças e mesmo antagonismos, além da atávica viseira de enxergar apenas o próprio umbigo corporativo e os limites territoriais. A consensualidade decisória propagada pelo Fórum da Cidadania se mostrou ineficaz depois do chamamento das entidades. O que sobrou tem mais a ver com omissão do que o indispensável contraditório. 

Resultado: o que parecia impossível acabou em pesadelo constante, ou seja, as entidades estão cada vez mais isoladas entre si, e fragilizadas em representatividade.  

11. Estimular permanentemente a integração regional nos aspectos econômico, social, cultural e político por meio de várias instâncias de representações.  

Exemplo: essa resolução passa necessariamente pela articulação multilateral dos organismos locais e regionais que precisam observar o Grande ABC como amplo laboratório cuja importância e força de pressão decorrerão da capacidade de seus agentes estabelecerem diagnósticos sobre os quais concentrarão as baterias de evoluções. A compartimentação temática das organizações, presas à camisa de força do corporativismo, destrói conexões que caracterizam sistemas integracionistas.  

Resultado: integração regional e racionalidade coletiva são expressões sem ressonância na região. O bicho de sete cabeças é insuperável.  

12. Desqualificar políticas públicas voltadas à disseminação de medidas microeconômicas que comprometam o todo regional.  

Exemplo: as eventuais vocações econômicas individuais dos municípios do Grande ABC não podem servir de pretexto para a aplicação de políticas públicas e privadas de desenvolvimento isolado. A iniciativa se mostrará sempre irracional, na medida em que a genética regional será contrariada no aspecto mais importante destes tempos de transformação: competitividade em relação a outros territórios próximos ou distantes. Está estatisticamente provado que o modelo de guerra fiscal adotado pelas prefeituras da região como salvação coletiva dos municípios é um fracasso absoluto porque se insere no campo de efeito e não de causa do esvaziamento econômico.  

Resultado: o quadro segue o mesmo, com algumas estocadas individuais aqui ou ali, sem conexão com o conjunto da região.  

13. Incentivar a utilização de recursos provenientes de impostos, taxas e contribuições municipais para o aparelhamento técnico-operacional da economia regional.  

Exemplo: a recuperação do setor comercial dos municípios do Grande ABC, com série de decisões que determinarão nova realidade na infraestrutura física e também na área de marketing compartilhado poderia ser fortemente enfatizada com a criação de fundos municipais criados com receitas pré-definidas de tributos próprios das prefeituras, especialmente do IPTU. Já há experiências internacionais com esse desenho e cujos resultados têm sido extraordinariamente positivos. Nesse sentido, é preciso que, ao mesmo tempo em que haja ousadia do Executivo, as demais representações da sociedade participem do processo.  

Resultado: nada, absolutamente nada se fez com esse objetivo. Não há um único exemplo que evite a constatação de que a região é um buraco profundo.  

14. Estabelecer referências de efetividade e produtividade regionais aos deputados estaduais e federais eleitos predominantemente ou significativamente com votos no Grande ABC.  

Exemplo: à falta de uma pauta de prioridades que contemplem as demandas específicas de cada município e do Grande ABC como um todo, o que se verifica historicamente na relação dos parlamentares eleitos fortemente ou não com votos regionais é que eles praticamente nada conseguem de substantivo. É preciso dar às ações pontuais a importância residual que de fato comportam, substituindo-as por manobras transformadoras. Na situação em que se encontra, apenas um macroplanejamento econômico e social, com participação efetiva dos governos do Estado e federal, além do mercado e da comunidade, poderá reinstalar o Grande ABC na rota do desenvolvimento sustentável.  

Resultado: o receituário seguido nos últimos 13 anos foi rigorosamente o mesmo de sempre.  

15. Incentivar medidas restritivas de gastos com o funcionalismo público com base em dados disponíveis em instituições independentes de avaliação dos custos do poder público.  

Exemplo: as despesas do funcionalismo público dos municípios do Grande ABC, tanto do Executivo quanto do Legislativo, deveriam ser parametrizadas com os dispêndios menores que saltam de estatísticas do ranking dos principais municípios paulistas. A perversidade administrativa dos dispêndios salariais e de despesas gerais do Executivo e do Legislativo com base na Lei de Responsabilidade Fiscal é um equívoco a ser corrigido. Boa parte do montante da redução de custos poderia ser aplicada em programas de desenvolvimento econômico, com efeitos muito mais expressivos no dinamismo social.  

Resultado: a farra dos gastos públicos se intensificou durante os 13 anos do governo petista.  

16. Exigir dos agentes públicos, privados e sociais permanente pressão por medidas preventivas de profundo alcance para desestimular a transformação do Grande ABC em endereço preferencial da incidência criminal.  

Exemplo: o Grande ABC como um todo e a quase totalidade de seus municípios, individualmente, ocupam os últimos postos no ranking dos principais territórios paulistas de medir incidência criminal. No caso específico de furtos e roubos de veículos, o que se tem no Grande ABC é um encavalamento de registros policiais que se perpetua ano após ano, sem que absolutamente nada de consistente minimize a situação. Um dos resultados mais desalentadores da fragilidade das estruturas policiais na região é o exagerado ônus a que os proprietários de veículos são submetidos, com as apólices de seguro alcançando custos só comparáveis aos da Baixada Fluminense.  

Resultado: praticamente nada se alterou também, embora os indicadores criminais tenham sido rebaixados em proporções equivalentes à média dos demais municípios paulistas.  

17. Cobrar das autoridades públicas diagnóstico e ações para combater as carências de infraestrutura material que atravancam o desenvolvimento econômico regional.  

Exemplo: é mais do que evidente o encalacramento logístico do Grande ABC, apertado numa Grande São Paulo que cresce em direção oposta à Serra do Mar, onde estão os sete municípios locais. Obras viárias e ferroviárias estão no horizonte regional como resposta ao sitiamento, mas a dinâmica econômica não permite que a vagarosidade seja companheira da competitividade. É preciso que verdadeiras operações de sensibilização das esferas estadual e federal sejam encetadas para o caráter de urgência do Grande ABC.  

Resultado: o que mudou na região é que a situação se agravou ainda mais. Sobraram promessas de obras viárias estratégicas que jamais se consumaram. A logística regional tem um sinônimo adequadíssimo – caos, caos e caos.  

18. Exigir das autoridades públicas a qualificação de estudos técnicos para dar sustentação às necessidades da infra-estrutura social. 

Exemplo: no vácuo da descentralização da indústria automotiva, combinada com a deserção empresarial, sobrou ao Grande ABC um acúmulo imenso de obrigações para amenizar a depauperação do quadro social. A proporção de recursos tributários amealhados pelo Estado e pela União é infinitamente maior que o retorno. A sensibilização do governo do Estado e do governo federal para contrabalançar a disforme via dupla de recursos retirados e recursos repassados deve ser tomar como base estudos tecnicamente irrebatíveis.  

Resultado: os dirigentes públicos da região jamais se debruçaram sobre a dicotomia de recursos amealhados pelo Estado e recursos investidos pelo Estado. Nossas carências sociais só se agravaram. 

19. Combater informações de agentes públicos, sociais e empresariais que, à falta de compromisso com a regionalidade, optarem pelo espetaculoso sem fundamentação.  

Exemplo: a perniciosa e improdutiva onda de triunfalismo não pode mais vicejar no Grande ABC, sob pena de transgredir o bom senso e assaltar eticamente os descalabros sociais. A implementação de políticas públicas e mesmo privadas de recuperação institucional, econômica e social do Grande ABC dispensa ufanismos interesseiros. Por isso não se pode delegar a profissionais de conduta duvidosa a condição de porta-vozes de entidades, outorgando-lhes por omissão ou sugestão a senha para mistificações que já se provaram desmoralizadoras e inibidoras de reações produtivas.  

Resultado: há menos canais de comunicação com a premissa à disseminação de mentiras estatísticas e embromações econômicas, mas é sempre desejável ficar atento porque de vez em quando aparece um animador de circo de horrores.  

20. Exigir transparência de dados orçamentários das instituições públicas, inclusive com transposição das informações para o campo virtual, na rede mundial de computadores.  

Exemplo: os valores gastos por organismos públicos não podem ser propriedade de poucos diretamente relacionados à estrutura dirigente. A Agência de Desenvolvimento Econômico vive situação de quase mendicância financeira que ajuda a explicar as dificuldades para executar planejamentos técnicos. Enquanto isso, o Consórcio de Prefeitos propaga disponibilidade de caixa cujo destino seria melhor aplicado em planejamento estratégico preparado por especialistas em unir teoria e prática.  

Resultado: nada se modificou no período porque, entre outros motivos, a regionalidade não chegou às instâncias que supostamente tratariam dessa especialidade.  

21. Cobrar dos estabelecimentos de ensino mantidos com recursos públicos maior empenho e comprometimento com questões municipais e regionais.  

Exemplo: Tanto na Agência de Desenvolvimento Econômico quanto no Consórcio de Prefeitos, a presença de representantes de academias públicas da região está em desacordo com a importância do momento econômico e social do Grande ABC. Um novo modelo de intersecção dessas instituições poderia se tornar porta de entrada para a superação histórica do distanciamento entre as partes. Há uma reserva de mão-de-obra universitária muito mal explorada pelos organismos públicos da região. Bolsistas, por exemplo, poderiam retribuir a generosidade dos municípios com ações comunitárias no campo social e econômico.  

Resultado: acadêmicos e servidores públicos não se deram as mãos ao longo desse período entre outros motivos porque a velha e surrada doença do isolacionismo corporativista prevalece.  

22. Incentivar a inserção de instituições assistenciais entre as preocupações de responsabilidade social de organizações privadas, públicas e não-governamentais.  

Exemplo: o convênio entre o Sebrae e Nossas Madres Terezas para a aplicação de cursos técnicos de gestão de entidades sociais é simbolicamente a comprovação de que bastam incentivo e boa-vontade para que ao voluntarismo se acrescente metodologia. Mais que nunca, a situação social da região exige que exemplos como o do Sebrae e Nossas Madres tenham ramificações e se convertam em importantes paradigmas de responsabilidade social. Inserir essa e outras eventuais experiências pode ganhar contornos de sinergia que em muito colaboraria para alterar nossa regionalidade. 

Resultado: as entidades assistenciais vivem à mingua. Jamais se ouviu falar do convênio entre Sebrae e Madres Terezas, como foram chamadas as mulheres que cuidavam de organizações assistenciais na região.  

23. Exigir dos governos estadual e federal participação permanente de interlocutores oficiais.  

Exemplo: a falta de um interlocutor oficial do governo Lula da Silva no Grande ABC e mesmo a pouco expressiva diplomacia preparada pelo governo Geraldo Alckmin ajudam a explicar por que a região não consegue poder de convencimento para as prioridades sociais e econômicas. Contar efetivamente, no dia a dia, com representantes do governo federal e do governo estadual concretamente, com assento nas mesas de decisões, pode parecer privilégio ao qual o Grande ABC pretende se dar ao luxo, mas não passa mesmo de decisões indispensáveis depois de uma década de tormentas.  

Resultado: As entidades regionais jamais se aliaram estrategicamente a representantes do governo do Estado e do governo federal de forma efetiva, com fundamentação técnica.  

24. Defender a constituição de um fundo de recursos financeiros oriundos de orçamentos municipais ou de doação de empresas privadas para a contratação de especialistas que atuariam no assessoramento das instituições de cunho regional e dos parlamentares conceituados como representantes do Grande ABC. 

Exemplo: os quadros técnicos de que dispõem as prefeituras e que atuam tanto na Agência de Desenvolvimento Econômico quanto no Consórcio de Prefeitos não têm, na maioria dos casos, visão negocial do espaço regional. Não são especialistas em competitividade. Essa qualificação é própria de consultorias especializadas, cujos profissionais, exatamente por não estarem vinculados política e administrativamente a interesses específicos das administrações locais, poderiam implementar medidas tecnicamente mais produtivas.  

Resultado: essa continua sendo uma exigência ao bom senso desprezado pelos mandachuvas e mandachuvinhas políticos.  

25. Exigir das instituições regionais calendário permanente de intercâmbio com organizações internacionais vocacionadas ao temário metropolitano.  

Exemplo: as temáticas regionalidade e metropolização são cruciais para que o Grande ABC ultrapasse definitivamente as fronteiras do provincianismo gerencial e administrativo que o fere de morte desde que se dividiu em sete pedaços. Por isso, nada mais interessante que oxigenar as veias municipais e regional com insumos de conhecimentos e experiências internacionais. Pioneiro no debate de regionalidade, tendo à frente o prefeito assassinado Celso Daniel, o Grande ABC dormiu nos próprios louros e acabou ultrapassado por outros municípios que agiram individual ou coletivamente.  

Resultado: provincianismo não tem a menor proximidade com internacionalismo.  

26. Considerar como membros das bancadas de deputados do Grande ABC na Assembleia Legislativa e em Brasília todos os eleitos domiciliados na região, bem como tantos quantos tenham alcançado número de sufrágios decisivos a se instalarem acima da linha de corte.  

Exemplo: A definição do que eventualmente venha a se justificar como bancadas regionais na Assembleia Legislativa e em Brasília é o primeiro obstáculo a ser superado para que se definam os caminhos para avaliar o desempenho de cada parlamentar. Estabelecido o quadro de representantes, o monitoramento de suas atividades individuais e coletivas passará a ser submetido aos princípios de regionalidade e de metropolização, deslocando-se para o quarto de despejo questões pontuais que tanto mistificam a qualidade dos mandatos.  

Resultado: Bancada do ABC sempre se pautou pela falácia da própria expressão. O individualismo e o partidarismo imperam.  

27. Cobrar das autoridades públicas, das entidades de classe empresarial e dos agentes comunitários empenho e determinação que tornem mais factível e suportável o financiamento de pequenas e médias empresas.  

Exemplo: o restabelecimento mesmo que parcial da força econômica do Grande ABC passa pela desativação de armadilhas preparadas ao longo dos anos pelos mais diversos agentes políticos e privados. Por isso, não é possível escapar à degola da mortalidade empresarial sem que se manifeste a massa crítica dos diversos atores da sociedade. Somente uma força-tarefa que se diferencie de tudo o que se encontra no modelo ultrapassado de lobbies permitirá que os pequenos negócios sejam reenquadrados nas linhas de financiamento. A ideia conservadora de que problemas empresariais devem ser resolvidos apenas pelos agentes empresariais é tão cômoda como entender que políticas públicas são responsabilidade exclusiva dos governos.  

Resultado: os pequenos negócios, principalmente industriais, seguem asfixiados.  

28. Defesa de um fundo metropolitano da Grande São Paulo para aplicação em políticas públicas direcionadas à competitividade econômica e social da região metropolitana.  

Exemplo: por mais que a geografia exclusivamente regional deva ser o núcleo das iniciativas para recolocar o Grande ABC na trilha do desenvolvimento, as características da Região Metropolitana de São Paulo são extremamente peculiares e sinérgicas para o bem e para o mal e recomendam, portanto, medidas integracionistas. A composição mesmo que informal de uma instância metropolitana gerida com a sociedade e representantes do mercado se coloca como ramal decisivo para o estancamento do quadro de atomização da qualidade de vida, seguido de políticas de recuperação. 

Resultado: metropolização, como regionalização, segue em forma de palavrão. 

29. Formação de um grupo multidisciplinar de profissionais reconhecidamente especialistas em Grande ABC para atuar informalmente como assessores de programas voltados à valorização da imagem institucional da região.  

Exemplo: experiências já consumadas quando o assunto marketing regional saiu da teoria para a prática mostraram que o desconhecimento sobre a matéria, geralmente confundida como apêndice de triunfalistas de plantão, tornou a emenda da mistificação pior que o soneto do rebaixamento da qualidade de vida. Entregar a imagem institucional do Grande ABC exclusivamente a publicitários ou profissionais de marketing tem efeito semelhante à guarda de galinhas por raposas. Importantes na formulação de campanhas de autoestima institucional, tanto os publicitários quanto os profissionais de marketing devem contar com parceiros como economistas, jornalistas, educadores e sociólogos, entre outros.  

Resultado: nada se fez com esse objetivo. 

30. Engrossar, com mobilizações permanentes, a corrente de apoio aos representantes municipais e regionais de atividades esportivas e culturais com maior potencial de divulgação doméstica, estadual e nacional, quando não internacional.  

Exemplo: as campanhas de nossas equipes de futebol profissional e das companhias ou individualidades no vasto campo da cultura devem merecer prioridade absoluta, numa espécie de corrente de propagação da regionalidade por meio de atividades mais apropriadas à sensibilização da comunidade, abrindo, portanto, alas para a massificação de outros temários menos populares. Uma comunidade orgulhosa de seus representantes artísticos está mais próxima da cidadania nas demais áreas, como contribuinte, consumidora e geradora de riquezas.  

Resultado: absolutamente nada de ação direcionada à valorização dos bons exemplos da região foi efetivada.



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