Uma pergunta que vai ser respondida sem titubeio: como foi que se encontrava o Clube dos Prefeitos (oficialmente Consórcio Intermunicipal do Grande ABC) logo após o encerramento do ciclo de 14 anos do PT em Brasília?
Uma das análises publicadas por CapitalSocial sobre essa agremiação que supostamente cuidaria do futuro da região está logo abaixo.
E foi preparada para a edição de janeiro de 2017, ou seja, logo em seguida ao encerramento das temporadas petistas, de Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O balanço geral até aquela temporada era um conjunto de conclusões sofríveis para o Grande ABC.
Deu-se mal quem imaginou que uma nova leva de prefeitos, que excluiu o petismo de todos os paços municipais na esteira da Operação Lava Jato, significaria uma reviravolta na entidade. Seguimos a mesma trilha de incompetências cumulativas, enquanto a Economia do Grande ABC segue o ritual de fragilização.
Dez Mandamentos para os
novos prefeitos da região
DANIEL LIMA - 09/01/2017
Foi na edição de setembro de 2007 – portanto há praticamente 10 anos – que produzi extenso artigo, que chamaria também de documento, de análise, no qual expunha com certa profundidade mas, muito acima disso, pioneirismo, um elenco de 10 propostas sinérgicas como sugestão aos prefeitos de então na Província do Grande ABC.
Como acaba de chegar nova (e quase completíssima, além de novidadeira) tropa de titulares dos paços municipais, considero conveniente sugerir a leitura daquele material. Ou a releitura a quem teve a oportunidade de acompanhar o texto original na revista LivreMercado.
Para aguçar a curiosidade dos leitores antes de se dirigirem ao pé deste artigo, aonde um link conduzirá ao consumo daquele trabalho, reproduzo em seguida os pontos cardeais sugeridos num título mais que autoexplicativo àquela ocasião: “10 mandamentos para os prefeitos”. Vejam os pontos em questão:
1. Amar a comunidade sobre todas as coisas.
2. Não tomar o Santo Nome do Desenvolvimento em vão.
3. Guardar a responsabilidade social e o meio ambiente.
4. Honrar receitas e despesas.
5. Não matar os pequenos negócios.
6. Não pecar contra a regionalidade.
7. Não furtar as expectativas.
8. Não levantar falsas barreiras.
9. Não desejar a empresa do próximo.
10. Não cobiçar vantagens competitivas alheias.
Antes que o leitor dê um salto triplo em direção à relação desafiadora aos prefeitos diretamente para o link abaixo, sugiro que, como base exatamente nos 10 mandamentos propostos, faça o que chamaria de especulação mental sobre o que imaginaria formular tendo os pontos acima mencionados como elementos desafiadores à construção de um conjunto de avaliações.
DESAFIO CONTINUA
O exercício parece desafiador? De fato o é, mesmo para quem, como eu, regionalista convicto, me meti àquela ocasião a destrinchar ponto por ponto. Aliás, aquela foi a fórmula que adotei. Parti da síntese de enunciados para, em seguida, destrinchar ponto por ponto. E tendo como assentamento editorial a ótica conceitual que me move como regionalista de olho no mundo. Foi assim que preparei aquela Reportagem de Capa de LivreMercado.
O que poderia adiantar como resumo do resumo das atuações dos prefeitos que passaram pela região desde então é que muito pouco do balizamento exposto foi levado em consideração.
Muito mais que isso. O que tivemos em larga escala durante os últimos 10 anos não foi nada que se desvencilhasse dos motivos que me levaram a pensar, planejar e executar um plano de voo de enriquecimento da cidadania regional – essa estúpida abstração que insisto em citar apenas como força de expressão.
Aquelas propostas foram e seguem como coleção de políticas públicas que ajudariam tremendamente a colocar a Província do Grande ABC nos eixos do desenvolvimento econômico e social.
Por ser esse o pressuposto, advém a constatação óbvia de que é também um conjunto de tolice, porque se há algo equivocado é considerar assunto sério o tratamento da regionalidade. Com perdão da redundância que, no caso, é a confirmação de patetice generalizada.
Diria sem medo de errar que, caso o Clube dos Prefeitos, outra vez sob nova direção, pretenda deixar no passado boa parte do passivo de inutilidades regionais do qual pontificou como maior e insuperável provedor, deveria adotar esses 10 mandamentos como estrela-guia de novos tempos.
PARA NÃO ESQUECER
Mais até – como projeto desafiador que, pendurado em quadros espalhados por todo o território físico da sede da entidade, atuasse como espécie de fantasma nada camarada, a cobrar dos dirigentes políticos e técnicos um mínimo de atenção permanente.
Seria, portanto, um arsenal complementar aos pontos elencados no Observatório do Clube dos Prefeitos, recentemente produzidos por mim.
Neste exato momento em que paro para dar uma relida rápida no documento que está ao alcance de todos no link abaixo, chego à conclusão que uma década depois a situação da região é muito pior do que quando me meti a dedilhar aquele texto. O que restava de ensaio de regionalidade em alguns pontos foi totalmente destruído.
Vou insistir sempre que possível, até porque é indispensável, na tese de que um dos piores legados que a gestão petista no governo federal se traduziu no definhamento institucional da região.
Degringolamos em forma de representações da sociedade, já historicamente frágeis, na medida em que o PT se empoderou em Brasília e não soube formar batalhões em regiões duramente atingidas pela macroeconomia.
A Província do Grande ABC foi a área mais duramente impactada, a partir da abertura econômica dos anos 1990 e, adicionalmente, do Plano Real bom para todo o País mas acompanhado aqui de uma política de desindustrialização tão imprevidente quanto desumana.
Desperdiçamos uma grande oportunidade de evolução regional na medida em que os petistas locais passaram a enxergar apenas os saltos políticos quânticos das oportunidades que se oferecerem no âmbito federal.
Muitos se deram muito bem individualmente, até que a Operação Lava Jato se manifestasse.
PERDENDO TERRENO
A Província viveu os estragos discriminatórios de um petismo que se achava suficientemente representativo e forte para dispensar a companhia de outras agremiações.
Nada muito diferente dos estragos antecedentes do regime tucano de Fernando Henrique Cardoso, que discriminou a região a ponto de ter visitado nosso território uma única vez, oportunidade em que foi escorraçado pelos sindicalistas na inauguração da fábrica do Fiesta, em São Bernardo.
Como a Província do Grande ABC não avançou praticamente nada em nenhum daqueles 10 quesitos e o mundo gira enquanto a Lusitana roda, seria natural que perdêssemos terreno de competitividade. E foi exatamente o que se deu nos últimos 10 anos pós aquele texto.
Naquele setembro de 2007, quando produzimos os ”10 Mandamentos para os prefeitos” a região contava com supremacia absoluta de petistas nos paços municipais – além do governo federal vivendo grandes momentos econômicos, com receitas extraordinárias no balanço da valorização das commodities ferozmente contratadas principalmente pelos chineses.
Agora para a temporada de quatro novos anos, o quadro é inteiramente distinto: não sobrou um prefeito petista para contar a história e os tucanos originais ou adaptados contam com o campo de jogo, a torcida, o árbitro e tudo o mais para fazerem o que bem entenderem internamente.
“Internamente”, no caso, é se organizarem e se dedicarem, nos interiores do Clube dos Prefeitos, à formulação e execução de iniciativas que dinamitem muitos escombros que a região tem acumulado.
Mesmo assim não será fácil. Muito pelo contrário: os cofres federais foram arrombados pelos petistas e os cofres estaduais, no caso do governo Geraldo Alckmin, não oferecem grandes condições a investimentos.
Isso quer dizer, em suma, que dependemos mais de nossas próprias forças para fazer a maquinaria de mudanças começar a dar resultados. Os “10 Mandamentos” são um guia interessante.
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