Um critério justo de criminalização administrativa de um prefeito por conta da debandada integral ou fraccionada de indústrias, ou seja, no processo de desindustrialização, não deve ser preparado ao sabor dos acontecimentos e, principalmente, no caso da mídia, quando há contrariedades não identificadas entre as partes.
A desindustrialização do Grande ABC, que impacta todos os municípios em proporções assimétricas, inclusive onde aparentemente houve ganho de Valor Adicionado, não é obra individual e tampouco circunstancial. E também não tem rosto exclusivo.
A relativização de responsabilidade é um critério mais adequado à mensuração da carga de passivos, que são distintos e de acordo com as localidades em vários aspectos.
FATORES EXPLICATIVOS
De supetão, no calor de uma quarta-feira tumultuadíssima no ambiente político nacional, quando se descobrem fraudes na propaganda eleitoral em centenas de emissoras de rádio, ouso fazer uma lista de alguns pontos essenciais à compreensão de aspectos que incidem em desindustrialização. Mas não vou avançar em detalhes porque o tempo urge.
1. Movimento sindical.
2. Políticas macroeconômicas.
3. Ação Administrativa Municipal.
4. Ação Administrativa Estadual.
5. Armadilhas territoriais.
QUASE TUDO
O que está ocorrendo em São Caetano agora com a General Motors e que consta do noticiário dos jornais se encaixa sobretudo nos quatro últimos quesitos, mas com valorações distintas.
Apenas a ação sindical não pode entrar nessa fornalha que queima competitividade. Diferentemente, portanto, de São Bernardo. O sindicalismo operante na General Motors sempre foi de acomodação, mesmo que supostamente se apresente como agressivo. O eterno presidente do Sindicato dos Metalúrgicos local é um homem bastante esperto.
É impossível a qualquer prefeito conter a força de políticas macroeconômicas que desabam em políticas corporativas.
A General Motors faz parte de uma constelação de empresas de um setor que é o mais concorrido no mundo.
CONTRA O TEMPO
Há uma corrida contra o tempo pela eletrificação automotiva que gera investimentos milionários. Aperta-se o cerco em torno de toda a cadeia produtiva das corporações. Onde houver espaço à contenção de custos, haverá contenção de custos. Dinheiro não dá em árvore. Do couro sai a correia.
A GM não é exceção no regime de compensações que conectam empenhos em pesquisas e investimentos e detecção de produtividade comparada.
O que se questiona é se o mais longevo entre os prefeitos atuais do Grande ABC, juntamente com José de Filippi Júnior, de Diadema, José Auricchio Júnior, poderia ser colocado no banco dos réus como principal agente a contabilizar responsabilidade pelo recuo local da General Motors.
RELATIVIZAÇÃO
A alavanca da relativização precisa ser acionada. Por mais que faça (e parece que não tem feito muito nas relações com a General Motors e outras empresas) José Auricchio Júnior será um peso quase morto ante fatores externos à Administração Pública. E o caso da General Motors se enquadra nesse perfil.
O erro do prefeito que ocupa pela quarta vez o cargo é a dificuldade de se comunicar no campo econômico.
São Caetano praticamente inexiste no noticiário relacionado ao empreendedorismo privado. E quando aparece a sinalização é de que a notícia é sempre ruim.
GUERRA FISCAL
A Ação Administrativa Estadual aponta diretamente para o Palacio dos Bandeirantes. O Estado de São Paulo não conta com políticas sustentáveis que estimulem e reforcem ações de administradores municipais nas expectativas regiões administrativas.
O Estado fica ao sabor da livre-iniciativa. As corporações privadas se debruçam sobre os pedaços que lhes interessam para continuar no jogo. O todo-estratégico é obrigação do Estado, que não se faz presente.
A guerra fiscal incentivada pelo Palácio dos Bandeirantes em outros tempos e que causou perdas bilionárias no Produto Interno Bruto é um buraco que jamais será superado. O Grande ABC foi a maior vítima do processo, juntamente com a Capital.
LOGÍSTICA PESA
Quanto às armadilhas territoriais, a referência é sobremodo na competitividade vista pelo ângulo da logística.
O encalacramento de São Caetano (e também de Santo André) condena a novas deserções. A General Motors chama a atenção porque é imensa, tradicional e referência de arrecadação tributária e emprego.
Mas dezenas de pequenas e médias empresas deixaram São Caetano (e os demais municípios) por conta, também, de questões de acessibilidade. Tempo é dinheiro para quem produz.
O que difere profundamente a desindustrialização de São Caetano de São Bernardo e também de Diadema é a ação sindical.
HOSTILIDADE SINDICAL
Esses dois municípios colecionam os cinco fatores expostos acima, mas o prevalecimento durante longo período é mesmo da hostilidade dos sindicalistas a partir do fim dos anos 1970, quando Lula da Silva emergiu no noticiário.
O negacionismo politicamente correto é uma defesa dos covardes ou dos fanáticos.
Imputar a José Auricchio Júnior os novos estragos produzidos pela General Motors é, portanto, um erro tão escandaloso quanto jogar nos ombros do prefeito Orlando Morando a conta salgada da fuga da Ford, da Toyota, de parte da Mercedes-Benz e de outras estrelas.
OUTROS QUINHENTOS
Isso não quer dizer que prefeito não tem culpa no cartório da desindustrialização. Têm sim, mas é preciso, repito, relativizar. As grandes corporações normalmente debandam por causa de políticas próprias. Exceto, claro, durante os piores tempos da relação capital-trabalho em São Bernardo e Diadema.
As pequenas e médias indústrias geralmente debandam ou perecem também porque políticas públicas municipais ganham importância relativa e competem em letalidade com os demais fatores listados.
Voltando ao caso da General Motors, o Grande ABC deve levantar as mãos aos céus por ainda contar com a corporação.
São Caetano é a antítese de atratividade industrial. Falta praticamente tudo para pretender reproduzir o potencial de competitividade de outros endereços em que se faz presente.
METRÓPOLE INSANA
A tumultuada Região Metropolitana de São Paulo, com perdas cumulativas de qualidade de vida, ocupa o último lugar numa escala de valores industriais. Quanto mais proximidade com a Capital, mais complicações. A saída é um terciário de valor agregado. Faz tempo.
O grande erro ou omissão do prefeito José Auricchio Júnior é ainda não ter despertado para um planejamento econômico voltado à indústria da saúde, com arranjos produtivos que dispensem grandes espaços e priorizem um mercado de população que envelhece a cada dia que o sol aparece.
INTEGRAÇÃO REGIONAL
São 22 milhões de habitantes na Grande São Paulo e São Caetano ainda não se ligou na importância de pegar pelo menos uma fração dos mais velhos.
Há um quinto elemento explicativo à responsabilização compartilhada da desindustrialização no Grande ABC que desconsiderei nesta análise porque seria repetitivo: o frustrante, frágil e sofisticadamente manipulado Clube dos Prefeitos.
Houvesse integração regional no campo de planejamento econômico, respeitando-se vocações históricas dos municípios e cavoucando-se veredas que o uso de tecnologias estimula, o processo de desindustrialização convencional avançaria em velocidade mais branda e seria atenuado por novas fontes de riqueza.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?