Economia

Entenda por que vizinhança da
Capital é desastre regional (1)

DANIEL LIMA - 05/12/2022

Não faltam indicadores que possam explicar o enunciado do título desta edição. Muitos, aliás, já foram direta ou indiretamente digeridos aqui. O que apresento hoje ganha a forma de teste. Um teste para os leitores responderem no chute típico de vestibular ou com o conhecimento agregado. 

Vamos então ao teste que envolve uma parcela importante do confronto entre o Grande ABC, a Gata Borralheira já consagrada em livro deste jornalista, e a Cinderela, também protagonista do mesmo livro? 

Somente vale uma das alternativas que segue abaixo. E se e trata do seguinte: qual é o tamanho do PIB Público do Grande ABC ante a Capital do Estado, uma vizinha tão desafiadora quanto indigesta? 

Antes de passar às alternativas, explico: no caso presente, PIB Público é o tamanho da receita total dos municípios envolvidos no questionamento.  

IMPOSTOS DEMAIS  

E o que forma a receita total, segundo diretrizes oficiais? Pegue os seguintes impostos: a) ICMS; b) IPVA; c) FPM; d) Transferência do SUS; e) Receita tributária; f) ISS; g) IPTU; h) ITBI; j) Taxas; k) Cosip; l) Outras receitas correntes; m) Transferências da União; n) Transferência do Estado; o) Operações de crédito; p) Outras receitas de capital. 

Anotaram a parafernália do que também poderia ser chamado de Custo Brasil, ou seja, do peso do Estado na sociedade num regime fiscal socialista com entregas pífias? 

Isto posto, vamos então a quatro alternativas sobre a participação relativa do Grande ABC nos valores gerais.  

FAÇAM APOSTAS  

Lembramos antes que são considerados apenas os cinco maiores municípios da região (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, inexpressivas localidades em termos econômico-financeiros) estão fora do estudo.  

1. Participação de 50% do PIB Público do Grande ABC em relação à Capital. 

2. Participação de 33% do PIB Público do Grande ABC em relação à Capital. 

3. Participação de 15% do PIB Público do Grande ABC em relação à Capital. 

4. Participação de 10% do PIB Público do Grande ABC em relação à Capital. 

 

PARTICIPAÇÃO RELATIVA 

Antes que o leitor arrisque palpite (isso não vale a leitores que têm consciência e domínio de dados), não custa lembrar que o Grande ABC deste estudo representa 23% da população da Capital. Isso significaria, supostamente, que a participação no PIB Público, para seguir referencial de competitividade, deveria ser mais ou menos por volta de 25%.  

Ou seja: qualquer percentual abaixo ou acima de 23% da participação relativa da população geral de cada território significaria distorções, inconformidades, essas coisas. Já pensou sobre uma das alternativas? Já se decidiu? 

TAMANHO EXTRAORDINÁRIO 

Antes de revelar o resultado, o que queremos mesmo afinal com isso, mais uma vez, é explicar ou tentar explicar que a proximidade física do Grande ABC frente a Capital do Estado é uma furada em vários aspectos porque nos mantém numa bifurcação esquizofrênica. 

Bifurcação esquizofrênica sim. De um lado, achamos que somos muito mais importantes do que somos, porque supostamente contaríamos com a luminosidade da Capital mais importante da América do Sul, de mais de 12 milhões de habitantes e centro de convergência de uma metrópole de 22 milhões de moradores.  

Para entenderem o tamanho da cidade de São Paulo, basta dizer que reúne toda a população do Estado do Paraná. Ou, se quiserem outro Estado, também do Rio Grande do Sul. É isso que é a cidade de São Paulo. 

Já a Região Metropolitana de São Paulo é a soma dos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul. 

CRESCIMENTO LOUCO  

Toda essa imensidão de gente, de riquezas e de complexidades converge para a cidade de São Paulo, essa monstruosidade que jamais contou com uma administração pública suficientemente competente no sentido mais amplo da expressão. 

Pois então é isso: nos sentimos orgulhosos e poderosos com a proximidade da Capital, numa das vertentes do Complexo de Gata Borralheira, e não damos conta de que se trata de presente de grego. Isso mesmo: presente de grego.  

Vou ser reto e direto: com a cidade de São Paulo tão próxima, é impossível ao Grande ABC ter personalidade própria, identidade própria.  

BARRA DA SAIA  

Mais que isso: é praticamente impossível desgarrar-se da barra da saia da Capital de tantos transtornos e criatividade. 

O problema maior é que ficamos com os transtornos da Capital e pouco absorvermos da criatividade da Capital.  

O setor de serviços, alternativa à desindustrialização dos dois territórios, é exemplo disso. Mas vamos tratar disso num outro texto. Somos, resumidamente, quanto ao setor de serviços, nada mais que província econômica.  

Por essa e por outras, toda vez que ler ou ouvir sobre o desenvolvimento econômico do Grande ABC baseado em novas tecnologias, em fabriquinhas divinas de emprego e produtividade, o melhor mesmo é a contextualização. Estamos no submundo do setor.  

RECEITA TOTAL   

O PIB Público em forma de Receita Total das prefeituras é o assunto de hoje. Trata-se sim de um indicador de poderio econômico, mesmo com as ressaltas necessárias de que o Poder Público Municipal não pode ser guloso como é.  

Já cheguei a 760 caracteres neste texto e não revelei a participação efetiva do PIB Público do Grande ABC ante a Capital, partindo-se do princípio, da base, de que temos um quarto da população paulistana. 

Pois bem: quem apostou ou matou a charada ao escolher a alternativa “c”, de 15% de participação, aproximou-se do alvo. São exatamente 16,37%.  

PERDA CONSUMADA  

Segundo dados oficiais da Secretaria do Tesouro Nacional, no ano passado a fábrica de recolhimento de impostos da Capital registrou PIB Público total de R$ 73.828.833 bilhões.  

Os cinco maiores municípios do Grande ABC registraram R$ 12.083.966 bilhões. A média por habitante do PIB Público da Capital alcançou R$ 6.109,65 mil. A média do Grande ABC apontou R$ 4.563,43 mil. Uma diferença de 25,31%. 

Apenas um dos cinco municípios do Grande ABC que fazem parte desse estudo obteve média per capita de PIB Público superior ao da Capital.  

SÃO CAETANO LIDERA  

O leitor atento já deve ter concluído que só poderia ser São Caetano, salva da deterioração social por conta da exiguidade de um território de apenas 15 quilômetros quadrados e, portanto, da contenção de residências de pobres e miseráveis que invadiram os demais municípios.  

São Caetano registrou PIB Público per capital invejável de R$ 10.736,70 mil. Muito acima, portanto, que o da Capital.  

No ranking regional, quem está em segundo lugar é São Bernardo com R$ 5.712,68 mil. Quem apontou Santo André em terceiro acabou acertando: R$ 3.975,45 mil. Um pouco acima da Diadema socialista, de R$ 3.204,69 mil. Mauá do Polo Petroquímico gerador de riqueza que internaliza muito pouco na própria cidade vem depois com PIB Público de R$ 2.547,11.  

CASO A SER ESTUDADO  

O caso de São Caetano precisaria ser analisado com mais atenção, cuidado e confrontos.  

A média per capita do PIB Público é praticamente o dobro da registrada por São Bernardo, Capital Econômica do Grande ABC, e duas vezes e meia de Santo André, outrora ocupante da liderança econômica da região.  

Trocando em miúdos: São Caetano conta com recursos arrecadatórios que a colocam dezenas de metros à frente dos demais competidores numa disputa que, fosse uma maratona, provavelmente seria uma disputa para inglês ver.  

Tenho mais a escrever sobre desdobramentos desses dados. Um exemplo entre os indicadores que integram esse bolo estatístico: a participação da arrecadação do ISS (Imposto Sobre Serviços) nesse embate de dois territórios próximos e tão distintos. Os leitores vão ficar abismados com o placar desse jogo. Tanto quanto (e também revelaremos) no que chamaria do PIB do Mercado Imobiliário. 

Enquanto as autoridades públicas locais não caírem na real de que Grande ABC é uma farsa como expressão de unidade e relacionamentos integracionistas, porque compartimentado em todos os setores e municipalizado no pior dos mundos de execução de políticas públicas, enquanto as autoridades públicas não se derem conta disso, continuaremos a assistir espetáculos de varejismos com efeitos epidérmicos.  

Convém lembrar que o enunciado do título desta edição não contempla todas as variáveis já tratadas nesta revista digital. Mas voltaremos a algumas dessas variáveis nos próximos dias, com novos dados estatísticos. A começar pelo ISS. 



Leia mais matérias desta seção: Economia

Total de 1894 matérias | Página 1

21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?
12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES
07/11/2024 Marcelo Lima e Trump estão muito distantes
01/11/2024 Eletrificação vai mesmo eletrocutar o Grande ABC
17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima
12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros
09/09/2024 Grande ABC vai mal no Ranking Industrial
08/08/2024 Festejemos mais veículos vendidos?
30/07/2024 Dib surfa, Marinho pena e Morando inicia reação
18/07/2024 Mais uma voz contra desindustrialização
01/07/2024 Região perde R$ 1,44 bi de ICMS pós-Plano Real
21/06/2024 PIB de Consumo desaba nas últimas três décadas
01/05/2024 Primeiro de Maio para ser esquecido
23/04/2024 Competitividade da região vai muito além da região
16/04/2024 Entre o céu planejado e o inferno improvisado
15/04/2024 Desindustrialização e mercado imobiliário
26/03/2024 Região não é a China que possa interessar à China
21/03/2024 São Bernardo perde mais que Santo André
19/03/2024 Ainda bem que o Brasil não foi criado em 2000