Vamos prosseguindo (e o faremos por algum tempo) com análises decorrentes do anúncio do PIB dos Municípios Brasileiros na última sexta-feira pelo IBGE. A perda de 22% do PIB Geral do Grande ABC nos últimos seis anos já contabilizados (2015-2020), principalmente sob os efeitos do governo petista de Dilma da Silva, tem origem no desabamento do PIB Industrial: foram 24,04% de queda no período.
São Bernardo e São Caetano, que dependem do setor automotivo, concentraram praticamente todo o prejuízo da região.
Em valores monetários, a queda do PIB Industrial do Grande ABC no período que estamos analisando chegou a R$ 9.682.269 bilhões. Essa dinheirama corresponde à soma do PIB Industrial de Santo André e quase todo o PIB Industrial de São Caetano em 2020.
MERCADO DE VEÍCULOS
Como o Grande ABC depende demais da produção industrial, tanto em termos fiscais quanto do mercado de trabalho, a contaminação no PIB Geral revelado na edição de sexta-feira e destrinchado ontem é automática.
O mercado de veículos novos sofreu queda de 41,14% quando se comparam os dados de 2014 e de 2020. Foram vendidos 3,50 milhões de veículos no Brasil na temporada de 2014, quando Dilma Rousseff terminou o primeiro mandato.
Já em 2020, após a grande recessão e parcial recuperação do PIB Nacional durante o governo de Michael Temer e de Jair Bolsonaro, a produção registrou 2,06 milhões de veículos novos comercializados.
CONTA AUTOMOTIVA
Tudo isso entra na conta automotiva do Grande ABC, especialmente de São Bernardo, São Caetano e Diadema.
Cada temporada de perda industrial significa mais complicações para o Grande ABC se livrar do esvaziamento econômico que não cessa há mais de três décadas.
O PIB Industrial do Grande ABC em 2014 (temporada anterior ao primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff) correspondia em valores nominais, sem considerar a inflação, a R$ 29.396.811 bilhões.
Para que não houvesse registro de queda, em dezembro de 2020 deveria corresponder, aplicada a inflação do IPCA, a R$ 40.264.812 bilhões. O resultado real não passou de R$ 30.582.543 bilhões. Ou seja: R$ 9.682.269 bilhões a menos. Ou 24,04%.
QUEDA PARELHA
São Bernardo e São Caetano disputaram palmo a palma o pior desempenho no período. Em valores absolutos atualizados a dezembro de 2020, quem mais perdeu foi São Bernardo, num total de R$ R$ 7.163.348 bilhões, enquanto São Caetano registrou perda de R$ 2.016.019.
Entretanto, quando se verifica a perda relativa municipal, que corresponde ao que cada endereço contava no início e no fim do período, quem mais perdeu foi São Caetano: queda de 59,40% ante 58,16% de São Bernardo.
Como São Bernardo contava e continua a contar com maior peso do PIB Industrial do Grande ABC, a perda no período de seis anos comprometeu muito mais o conjunto dos sete municípios.
QUEDA DE PARTICIPAÇÃO
Os R$ 12.500.578 bilhões (nominais) de São Bernardo em 2014 correspondiam a 42,52% do PIB Industrial de R$ 29.396.811 bilhões em 2014. Já os R$ 9.958.694 bilhões de 2020, significam 32,56% do total registrado de R$ 30.582.543 bilhões na região.
O PIB Industrial de São Caetano só supera em volume absoluto Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Em 2014, base de cálculos das perdas no período de seis anos, São Caetano contava com PIB Industrial de R$ 3.625.017 bilhões em valores nominais. Em dezembro de 2020 registrou R$ 2.949.167 bilhões. Abaixo dos R$ 4.965.186 bilhões de 2014 em valores atualizados. Ou seja: perdeu R$ 2.016.019 bilhões.
Somados, São Bernardo e São Caetano perderam R$ 9.179.367 bilhões.
Diadema, que depende muito do setor automotivo porque conta com parque de autopeças forte, também sofreu as consequências da recessão com queda de 28,32% no PIB Industrial.
Em 2014 eram R$ 4.026.400 bilhões em valores nominais. Em 2020, registrou R$ 3.953.216 bilhões. Com a correção inflacionária, o PIB Industrial de Diadema de 2020 deveria ser R$ 5.514.960 bilhões.
Enquanto São Bernardo e São Caetano, e um pouco menos Diadema, sofrem com a Doença Holandesa Automotiva, ou seja, dependem demais do setor mais competitivo do mundo, Santo André e Mauá acabam se beneficiando do Polo Petroquímico de Capuava, na divisa dos dois territórios.
O setor químico/petroquímico gera muito menos emprego que o automotivo, mas produz muita receita fiscal.
POLO SALVA MAUÁ
Por isso, Mauá é o único Município da região a contabilizar PIB Industrial positivo nos seis anos encerrados em 2020. O PIB Industrial de Mauá em 2014 correspondia a R$ 3.114.827 bilhões e passou para R$ R$ 5.773.374 bilhões em 2020, quando, com correção inflacionária, não passaria de R$ 4.266.378 bilhões. Um crescimento de 26,10%.
Mesmo com o Polo Petroquímico a dar certo respaldo, Santo André não resistiu à queda, mas o rebaixamento foi discreto: o PIB Industrial caiu 3,8% no período de seis anos. Eram R$ 5.377.274 bilhões em 2014 (sempre nominais) e passou para R$ R$ 7.130.909 bilhões em 2020. Para que não perdesse produção industrial, Santo André deveria ter registrado R$ 7.365.252 bilhões em 2020.
Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra completam a lista. Os dois municípios representam apenas 2,5% do PIB Geral do Grande ABC. O PIB Industrial de Ribeirão Pires caiu 16,32% no período de seis anos. Em 2014 eram nominais R$ 596.315 milhões, que passou para R$ 683.469 milhões em 2020. Deveria ser R$ 816.772 para que não houvesse perda para a inflação.
Rio Grande da Serra perdeu 37,58% do PIB Industrial entre 2015 e 2020. Eram nominais R$ 156.400 milhões em 2014 e passou para R$ 133.714 milhões em 2020. Com a correção inflacionária deveria ser R$ 214.221 milhões.
CAÇAPA CANTADA
Desde março de 1990, quando foi lançada a revista de papel LivreMercado, nossa preocupação temática com o setor automotivo tem-se comprovada certeira. Como ilustração emblemática dos novos dados do PIB Industrial da região, reproduzimos na sequências parte da análise que fizemos há 25 anos sobre o futuro das montadoras de veículos na região. Tudo absolutamente sintonizado com as transformações que ocorreram. E que vão continuar.
Enquanto isso, o Clube dos Prefeitos, ou Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, criado pelo então prefeito Celso Daniel para colocar ordem de competitividade econômica na região, não passa de penduricalho político-partidário sem compromisso com o Desenvolvimento Econômico da região.
Montadoras já
não são a garantia
DANIEL LIMA - 05/03/1997
A adaptação de um estribilho de música sertaneja que já fez sucesso no Brasil — aonde a vaca vai, o boi vai atrás — serve de suporte para o que se descortina no horizonte da economia do Grande ABC. Basta leve enxerto para que o bordão deixe o mundo musical e se transforme numa inquietante frase socioeconômica.
Ficaria assim: aonde a vaca das montadoras de veículos do Grande ABC vai, o boi da economia regional vai atrás.
Pode ser uma frase de mau-gosto, dessas que poucos teriam coragem de repetir, mas é rigorosamente uma constatação. Se voltasse no tempo, o efeito dessa metáfora seria gratificante no final dos anos 50, quando a indústria automobilística deitava raízes fortes na região.
TEMPO DEVASTADOR
Também no final dos anos 60 seria bem-vinda, porque o parque automotivo e de empresas satélites esbanjava vitalidade.
Já no final dos anos 70, a situação começaria a se alterar, com a abertura da temporada de deserções ainda não detectadas pelos ufanistas.
No final dos anos 80, já sob os efeitos da saturação da Região Metropolitana de São Paulo, do explícito incentivo do governo estadual à interiorização e dos constantes entreveros sindicais, não era mais despropósito a paródia musical.
Agora, no final dos anos 90, com globalização, abertura econômica e descentralização em massa de investimentos no setor, o que se tem é muita, mas muita preocupação.
UM NÓ-GÓRDIO
Encontrar alternativa complementar para a exagerada dependência da indústria automotiva cada vez mais agregadora de tecnologia e racionalizadora de mão-de-obra é o nó górdio do Grande ABC.
Se nestes tempos de produções recordes, de mercado aquecido e de participação relativa direta de quase metade do setor automotivo regional no bolo produtivo nacional a situação é complicada porque ainda há excesso de trabalhadores no chão de fábrica e de executivos nos gabinetes das montadoras e das autopeças, o que esperar dos próximos anos, quando novas plantas industriais estarão despejando nas concessionárias produtos sem procedência do Grande ABC e se terá estabelecido nível de concorrência mais forte, inclusive sem a proteção alfandegária de hoje, porque se acentuam as pressões pelo livre-mercado?
NOVOS POLOS
De detentor quase absoluto das linhas de montagens de veículos no País, o Grande ABC encontra-se na situação de conviver com outros pólos. Algo parecido com o garoto dono da bola, das regras do jogo e do campo que de repente, em vez de um simples exercício individual de talento, das embaixadas, tem de dividir a bola com outros meninos, se adaptar às regras cada vez mais universais e ser competitivo se quiser vencer.
Dados oficiais reservam participação de 41% da indústria automotiva do Grande ABC no mercado produtivo nacional de automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões. A tendência é de decréscimo de participação relativa.
VALE OPONENTE
O histórico de perdas da hegemonia produtiva começou com a criação do pólo do Vale do Paraíba, quando na década de 70 a Volkswagen se instalou em Taubaté e a General Motors chegou a São José dos Campos. A Fiat implantou em Betim, na região da Grande Belo Horizonte, um terceiro pólo, nos anos 80.
Mas isso é pouco, porque uma nova geografia da produção automobilística está-se formando no Brasil.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?