Imagine dois maratonistas que disputam há 252 meses a mesma competição. O primeiro saiu em vantagem considerável e aparentemente inabalável. O segundo reage. Corre a uma velocidade média superior a 60% e chega na frente com vantagem de 20% sobre o oponente.
O primeiro corredor é a economia do Grande ABC. O segundo é o Grande Oeste. A maratona é o Desenvolvimento Econômico. O trajeto são os trechos Oeste e Sul do Rodoanel Mario Covas.
Exatamente 21 anos separam o tiro de largada da fita de chegada que envolve os sete municípios do Grande ABC e os sete do Grande Oeste. O Grande ABC formado por São Bernardo, Santo André, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O Grande Oeste com Osasco, Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba.
HORA DE ACORDAR
Se você que ainda não se deu conta de que a ficha da economia do Grande ABC não é mais a mesma há muito tempo, de que é uma moeda desvalorizada, de que é uma ação decadente no mercado de competitividade, você precisa acordar.
Já não somos o que éramos e estamos longe de ser o que é nossa vizinhança geoeconômica.
Perder uma vantagem de 46,30%em forma da métrica mais respeitada de Desenvolvimento Econômico, o PIB (Produto Interno Bruto) sobre o Grande Oeste e ver, em 21 anos, uma reviravolta que coloca o adversário em vantagem de 20,45% não é pouca coisa. É uma tragédia.
Entretanto, uma tragédia que passou e continua a passar em branco junto a autoridades públicas, privadas e agentes sociais do Grande ABC.
ANTES E AGORA
O PIB do Grande ABC em 1999, base dos cálculos, registrava em valores nominais R$ 26.884.250 bilhões. O Grande Oeste não passava de R$ 14.435,320 bilhões.
Aí, em 2002, e mais tarde, em 2010, foram inaugurados os trechos Oeste e Sul do Rodoanel. Resultado? O PIB mais recente divulgado pelo IBGE registrou R$ 128.389,075 bilhões no Grande ABC e, acreditem, R$ 161.396.379 bilhões no Grande Oeste. Essa virada de jogo de superioridade de 46,30% para inferioridade de 20,54% é um cruel retrato de um Grande ABC que esqueceu de crescer e um Grande Oeste que não para de crescer.
Em termos reais, quando se deflacionam os dados e se tem o valor atualizado a dezembro de 2020, o PIB Geral do Grande ABC cresceu 26,72% no período. Quando se divide o percentual por 21 anos, o crescimento médio anual não passa de 1,27%. Praticamente menos que o crescimento demográfico. Uma região literalmente congelada.
Já o Grande Oeste disparou em crescimento. Em valores atualizados a dezembro de 2020, avançou em termos reais 68,69%. Quando se divide esse montante pelos anos percorridos, chega-se a um crescimento médio anual de 3,27%. Exatamente 61,16% acima do Grande ABC.
No acervo desta revista digital, que completa 34 anos nesta temporada, há nada menos que 620 textos que tratam diretamente ou suplementarmente do Rodoanel.
Na sequência, reproduzo os principais trechos da análise que fiz em 2004 sobre os efeitos nocivos do trecho Oeste do Rodoanel à economia do Grande ABC. Notem que são 18 anos de antecipação quantitativa dos estragos previstos. À época não tínhamos, ainda, adotado a marca Grande Oeste. E o conglomerado de municípios era maior, com oito participantes.
Grande Osasco ameaça região
DANIEL LIMA - 05/02/2004
A Grande Osasco -- como podem ser chamados os oito municípios ao oeste da Região Metropolitana de São Paulo -- ameaça tomar o lugar do Grande ABC como maior pólo econômico da Grande São Paulo, depois da Capital. Elaboramos estudo inédito sobre o comportamento econômico da Grande Osasco (G-8) em confronto com o Grande ABC (G-7) que vale a pena ser acompanhado.
Decidi cruzar os dados porque há algum tempo escrevi sobre o deslocamento do eixo de investimentos industriais e de serviços de valor agregado em direção à Grande Osasco, beneficiada pela logística do primeiro trecho do Rodoanel.
1996 VERSUS 2002
Antecipamos já há algum tempo que o Grande ABC poderia ver-se em maus lençóis não só por perder a disputa por novos negócios para o Interior mais apetrechado em vários quesitos como também para Osasco e municípios vizinhos, colados à Capital sem terem as mesmas dimensões dos atropelos da Capital.
O confronto Grande ABC-Grande Osasco entre janeiro de 1996 e dezembro de 2002 oferece dois campos interessantes.
Primeiro em números absolutos, em que se dispensam aspectos demográficos. Segundo, em números relativos, que traduzem tudo na definição por habitante.
RANKING DO IEME
No IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), aferimos o ranking dos 55 principais municípios do Estado com base em dados per capita. São mais elucidativos, justos e compreensíveis à organização de ideias.
Sem relativizar, qualquer diagnóstico socioeconômico que se prepare jamais será adequadamente compreendido, e, portanto, correrá o risco de frustrar expectativas.
Primeiro vamos destrinchar os números absolutos do G-7 (Grande ABC) e do G-8 (Grande Osasco), composto por Osasco, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Santana de Parnaíba e Taboão da Serra. É provável que o enunciado-eixo deste artigo, de que o G-8 ameaça a liderança do G-7, tenha provocado calafrios em muitos leitores eventualmente desligados do histórico de perdas econômicas do Grande ABC que apontamos já há muitos anos.
AOS NÚMEROS
(...) Em 1995 o conjunto de sete municípios do Grande ABC acumulava 2,045 milhões de habitantes e R$ 17,6 bilhões de Valor Adicionado, ou seja, de transformação industrial que, em resumo, é a capacidade de geração de riqueza. Já a Grande Osasco de oito municípios contava com 1,455 milhão de habitantes e R$ 6,4 bilhões de Valor Adicionado. O Valor Adicionado do conjunto dos municípios do Grande ABC superava em 175% o do Grande Osasco. Um show de bola que, sem dúvida, colocava a região oeste na condição de capitalismo de terceira categoria na hierarquia da Região Metropolitana de São Paulo.
Sete anos depois, em 2002, os números são extraordinariamente diferentes como consequência de dois movimentos contrastantes. O primeiro de descentralização da indústria automotiva e de abertura econômica desajuizada no setor que é nuclear à economia do Grande ABC, e o segundo de movimentação acelerada de empreendimentos incentivados pelas vantagens de perspectivas e depois de fato do trecho oeste do Rodoanel, que corta Osasco e também passa por outros municípios daquela região. Vejam o que aconteceu:
A população do Grande ABC em 2002 atingiu a 2,354 milhões de habitantes e o Valor Adicionado saltou para R$ 26,4 bilhões, com variação nominal de 50,22%, isto é, sem considerar a inflação do período de sete anos. Já a população da Grande Osasco saltou para 1,881 milhão de habitantes e o Valor Adicionado atingiu R$ 17,1 bilhões, com variação nominal de 166,26%. Isso mesmo: enquanto o Grande ABC patinou num período em que o índice inflacionário registrado pelo IGPM da Fundação Getúlio Vargas apontou 118,69%, a Grande Osasco conseguiu a proeza de superar todos os obstáculos de desgaste da moeda, fortemente pressionada pela valorização do dólar.
A virada da biruta de negócios aproximou mais do que se imagina o Grande ABC e a Grande Osasco na numerologia. A vantagem de 175% do G-7 registrada em 1995 caiu para 54% em 2002. Desapareceram 121% em sete anos, ou seja, 17,28% eliminados por ano. Nessa toada, em pouco mais de três anos a Grande Osasco terá ultrapassado o Grande ABC na indústria de transformação, motor de desenvolvimento econômico.
VELOCIDADE MÉDIA
A conta é simples: a velocidade média anual de crescimento do Valor Adicionado nominal da Grande Osasco durante os sete anos pesquisados foi de 23,75%, contra 7,17% do Grande ABC, resultado, respectivos, dos 166,26% acumulados pelo G-8 e dos 50,22% pelo G-7.
ENCALACRAMENTO GERAL
(...) O resumo dessa ópera é que os administradores públicos do Grande ABC estão cada vez mais encalacrados para dar conta das demandas sociais porque o repasse do ICMS pelo governo do Estado está fortemente ancorado pela transformação industrial. A grade que define a distribuição do ICMS leva em conta, com peso de 76%, o Valor Adicionado. Ou seja: quanto mais se esvazia economicamente um determinado município ou região, menos recursos financeiros o poder público terá em forma de transferências. Não é por outra razão que o esporte predileto da maioria dos prefeitos do Grande ABC é elevar a carga tributária própria. São Caetano operou em duas frentes: aumentou o IPTU e incrementou a guerra fiscal para arrecadar recursos com o ISS (Imposto Sobre Serviços). Já mostramos em estudos específicos que, por mais que se esforcem para melhorar o rendimento da máquina pública municipal, os prefeitos não conseguem debelar as chamas de perdas com o ICMS.
SUPRESA ECONÔMICA
(...) Completando esse desfilar de números, equações e enunciados, é absolutamente patente a surpresa econômica representada pela Grande Osasco. A evolução de 148,91% do repasse do ICMS (contra 166,26% do VA) aos oito municípios da região oeste da metrópole, em termos absolutos, superando a inflação do período de sete anos, entre janeiro de 1996 e dezembro de 2003, descaracteriza a generalização de que toda a Região Metropolitana da Grande São Paulo sofreu perdas industriais durante a última década -- mais precisamente no período do governo Fernando Henrique Cardoso.
O desempenho da Grande Osasco no quesito ICMS recebido no período analisado é muito superior à média de crescimento da RMSP como um todo, de apenas 76,57% (portanto, bem abaixo da inflação). Está acima do contabilizado pela Região Metropolitana da Baixada Santista com seus nove municípios (80%), dá um nó na efervescente Região Metropolitana de Campinas de 19 municípios (112,33%), na Microrregião de Sorocaba de 15 municípios (119,38%) e só conhece derrota para a microrregião de São José dos Campos de oito municípios, que evoluiu 181,09% no período.
(...) Por isso, o trecho sul do Rodoanel, que passará tangencialmente por vários municípios do Grande ABC, entre outras obras de infra-estrutura de transporte, como a Jacu-Pêssego e o Ferroanel, se transformou em questão de vida ou morte. Na toada que estamos indo, viraremos sucata logística, porque somos um labirinto contraproducente à competitividade.
CANTANDO A CAÇAPA
A mais importante e por isso mesmo peça da engenharia editorial adotada pela publicação partiu do engenheiro Claudio Rubens Pereira, então integrante do Conselho Editorial de LivreMercado/CapitalSocial.
Claudio Rubens Pereira, uma liderança que faz muita falta à região, antecipou a aceleração do desmonte industrial do Grande ABC. Foi o primeiro a enxergar o que se confirmou ao longo dessa maratona de 21 anos: o Grande ABC perderia a disputa por Desenvolvimento Econômico para a concorrência mais próxima. Tudo porque seria contemplado com duas (na verdade, são três com a inclusão do trecho do Bairro de Sertãozinho, em Mauá) áreas de acessos internos. Ou seja: o Rodoanel isolaria o Grande ABC das demais geoeconomias. Não deu outra. Reproduzimos o artigo que publicamos há 24 anos:
Rodoanel é erro estratégico
CLÁUDIO RUBENS PEREIRA - 05/01/1998
Rodoanel é o nome atual de antigo projeto de abertura de estradas circundando a Capital paulista. Desde o início percebia-se que São Paulo está num importante entroncamento de rodovias por ser a principal geradora de tráfego para essas estradas. Com o passar dos anos as cidades mais próximas foram integrando-se e unindo-se à área da Capital, transformando a região metropolitana em uma só mancha urbana. Assim, o projeto foi inteiramente superado, além de ter os traçados originais ocupados por bairros na expansão urbana.
Faz-se necessário reestudo para o anel rodoviário, o qual deve envolver toda mancha urbana, ampliando o raio médio dessa estrada de contorno. O problema dessa nova fase é a atividade intensa dos defensores da ecologia, que procuram e vem conseguindo influir decididamente no projeto.
A ideia original era permitir expansão menos traumática dos centros urbanos, estimulando a instalação de empresas geradoras de tráfego em um eixo paralelo (como as marginais da Via Anchieta) ou nas proximidades do anel rodoviário. Nestas áreas sobrecarregadas, além dos veículos leves, só seria permitida a circulação de veículos médios de carga, inclusive com horários seletivos de entrega/retirada.
RODOVIAS FECHADAS
Com o adensamento e a ocupação cada vez maiores de toda Região Metropolitana de São Paulo, ocorreu desgaste da proposta original. Agora, para preservar as poucas áreas protegidas que nos circundam, pretende-se construir -- segundo as exposições públicas conjuntas da Secretaria de Transportes (via Dersa) com a participação das Secretarias de Transportes Metropolitanos e do Meio Ambiente -- um sistema de rodovias fechadas.
Como fechada entenda-se que o projeto dessa estrada utiliza a mesma filosofia aplicada na construção da Rodovia dos Imigrantes, isto é: acessos restritos a pouquíssimos lugares. Uma série de medidas especiais vem sendo atendidas para o traçado que atravessar áreas de mananciais e parques florestais. Isso provavelmente quer dizer que no Rodoanel também deverão ser usadas pistas elevadas como na Imigrantes, para desestimular a ocupação de áreas de proteção ambiental, muitas em franco processo de invasão.
O Rodoanel terá total aproximado de 160 km e foi dividido em quatro etapas. A primeira já foi selecionada: é o Trecho Oeste, ligando Perus à Rodovia Régis Bittencourt (BR-116 para o Sul), com 32 km, e que terá outros cinco acessos: Rodovia dos Bandeirantes, Anhanguera, Castelo Branco e Raposo Tavares, além de pela Avenida dos Autonomistas (Osasco). O Trecho Norte interliga Perus à Via Dutra, com outros três acessos: Fernão Dias (para Belo Horizonte) e pelas avenidas Inajar de Souza e Hélio Smidt.
GRANDE ABC NO MAPA
O Grande ABC é atingido e servido pelo Rodoanel através dos segmentos Sul e Leste, mas -- em todo o seu trajeto -- terá apenas dois acessos extras, só um a partir de uma avenida. O Trecho Sul liga a Régis Bittencourt à Anchieta, mas com apenas um acesso intermediário pela Rodovia dos Imigrantes. O Trecho Leste vai da Anchieta à Dutra, aceitando acesso da rodovia Ayrton Senna (ex-Trabalhadores) e pelas avenidas Humberto de Campos (em Ribeirão Pires, a única em todo o Grande ABC), Lucas Nogueira Garcez e Marechal Tito.
Tudo indica que a filosofia original do projeto de circundação da Capital foi afetada. Por isso, nos preocupam algumas tendências que notamos nas exposições públicas:
A) Temos que aceitar como plausível o início do Rodoanel pelo Trecho Oeste, pois é para aquela direção que estão sendo canalizados esforços e investimentos de crescimento econômico no Estado. Até porque lá não há áreas protegidas contra ocupação. Esta escolha irá prejudicar o Grande ABC, pois não dispomos de meios eficientes para fazer fluir o tráfego -- principalmente o pesado -- até atingir as rodovias, a não ser através das ruas e avenidas de nossas cidades, já fortemente sobrecarregadas pelo trânsito local. Situação agravada ao longo dos anos pela falta crônica de investimentos viários, principalmente pelo Estado e pela União na região.
B) Não se justifica que os trechos Sul e Leste do Rodoanel, que tanta importância têm para o Grande ABC, recebam ou entreguem tráfego apenas pelas rodovias Imigrantes, Anchieta e pela Avenida Humberto de Campos. E no caso desta última há o agravante de que o tráfego pesado passa a ser direcionado para uma estrutura viária urbana ainda inadequada para o volume da demanda que deverá ocorrer.
C) Se construído como apresentado, pelas distâncias a percorrer, poderá ser limitado o estímulo para que o tráfego pesado e mesmo o de veículos leves (como no anel de Belo Horizonte), com origem-destino na Grande São Paulo, passe a usá-lo. Essa premissa, que estimula fortemente o alívio do trânsito no miolo do Anel, estava garantida na filosofia original, que estimulava a instalação de geradores de cargas em eixos paralelos ou nas proximidades.
D) Será forte limitador em algumas cidades do Grande ABC, visivelmente tendendo a alterar a relação de influência entre estas cidades, levando a profunda mudança do perfil de desenvolvimento atual. Pela dificuldade de acesso futuro, os pólos de geração de empregos -- indústria e comércio principalmente -- irão preferir se instalar em Municípios (eventualmente no mesmo Grande ABC) buscando maior facilidade para o transporte e também de acesso de clientes e consumidores, no caso das grandes lojas, shoppings e centros de lazer.
E) Em alguns trechos o Rodoanel terá cinco faixas de tráfego, mas sabe-se que uma parte só terá duas faixas disponíveis para os veículos, sugerindo desde já estrangulamento programado, prejudicando as cidades envolvidas e seu desenvolvimento. Estará o Grande ABC na classe das cidades que receberão apenas duas faixas de rolamento?
Cinco itens bastam para dar ideia da gravidade dos problemas que podem ser gerados pelo Rodoanel. População, Poder Público e todas as forças vivas da região precisam agir unidas. Não podemos permitir que se use como desculpa atender reivindicações de ecologistas e se construa um anel rodoviário que poderá comprometer irremediavelmente o futuro do Grande ABC.
MELHOR ESQUINA
Também é imperdível ler alguns trechos da análise que fiz em junho de 2011:
Alckmin lustra ego do Grande ABC
com bobagem de melhor esquina
DANIEL LIMA - 17/06/2011
Algum assessor precisa alertar o governador Geraldo Alckmin para a improcedência, quando não à contradição, de rasgar seda ao Grande ABC quando repete com insistência publicitária que estamos na melhor esquina do Brasil. Desde a implementação do trecho sul do Rodoanel o governador utiliza essa frase feita do dicionário político. Quem sabe o deputado estadual Orlando Morando, líder do governo na Assembleia Legislativa, seja porta-voz da correção. Somos logisticamente uma sinuca de bico, isto sim.
Está certo que dificilmente Geraldo Alckmin vai resistir à tentação do elogio fácil, porque é de seu estilo e do estilo da maioria dos políticos, mas ao suspender a máxima com que pretende definir essa região de sete municípios e 2,6 milhões de habitantes, estará fazendo um favor à sociedade.
Melhor esquina do Brasil é a ponte que caiu. Estamos encalacrados logisticamente há muito tempo.
BORDÃO CONDENADO
Aliás, o volume de investimentos anunciados por Geraldo Alckmin (e cuja aplicação é outra história, como estamos cansados de observar na cena política) condena o bordão do governador à retórica. Afinal, dos R$ 6,3 bilhões que o Estado reservaria a investimentos no Grande ABC, a quase totalidade, R$ 5,2 bilhões, está carimbadíssima pelo compromisso de atender às demandas de transportes. Tudo porque a suposta melhor esquina do Brasil é uma parafernália logística.
O Rodoanel Sul, cantado como grande obra deste início do século no Grande ABC, depois de longa espera na última década do século passado, é um convite à evasão industrial.
Debitem na conta de improdutividades regionais do trecho sul do Rodoanel a baixíssima inserção com o calamitoso sistema viário do Grande ABC.
O Rodoanel Sul tem potencialidade poderosa de afastamento das empresas industriais do Grande ABC, exceto em poucas áreas nas quais a vizinhança mais acessível é compensadora.
TRÊS ALÇAS
De resto, com apenas três alças de acesso e tendo o metro quadrado de terrenos sob intensa especulação, a obra inaugurada em abril do ano passado é o caminho de maior produtividade em direção ao Porto de Santos e ao Interior do Estado — desde que o ponto de partida não seja o território do Grande ABC.
É impossível Geraldo Alckmin não dispor dessas informações. Possivelmente as tenha, mas certamente o blindam de tal forma que más notícias, ou notícias que supostamente devam ser evitadas, não chegam no seu gabinete.
MARQUETEIROS AGEM
Vivemos uma era em que a comunicação se banalizou a tal ponto que todo executivo público tem marqueteiro por perto. Sempre há algum prontíssimo a arrancar do coldre do oportunismo alguma tirada que supostamente definiria o conceito de governo. Imaginem os leitores, então, o quão cercado de especialistas no assunto está o governador do maior Estado do País.
(...) Enquanto Geraldo Alckmin alardeia que o Grande ABC é a melhor porta de entrada do País, os problemas regionais se acentuam. Perdemos o bonde de investimentos, mas ficamos paralisados, quando não extasiados, diante de um governador bom de voto a nos embriagar com frases feitas que lustram o ego provinciano.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?