Economia

Metrô regional vai reproduzir
danos do Rodoanel. Anote!

DANIEL LIMA - 25/01/2023

É burrice sem tamanho instalar a chegada tangencial do metrô no Grande ABC como salvação da lavoura econômica. Tanto quanto se comprovou com o Rodoanel Mário Covas, o metrô tão requerido, exigido, sonhado e tudo o mais não tem potencial de reoxigenar a economia da região.  

Pior que isso: o benefício à coletividade em acessibilidade proporcionado pelo ramal terá o custo altíssimo de mais desindustrialização e menos competitividade econômica. O eixo metropolitano já francamente favorável à Capital se expandirá ainda mais.  

Há pautas muito mais importantes, relevantes, determinantes e tudo o mais. A pauta do metrô é muito menos tudo isso e muito mais, diferentemente do que propagam teimosos, ignorantes e borralheirescos insistentes.   

METRÔ DE VERDADE  

A bem da verdade-verdadeira, não da suposta verdade que não passava de mentira, de manipulação, agora quando se tratar de metrô do Grande ABC, tem que se levar a sério o instrumento de mobilidade urbana. Nesse caso específico,  metrô é mesmo metrô, e se estenderia à estação da Lapa, na Capital.  

O metrô que andaram vendendo ao distinto público durante muito tempo não passava de embuste, porque metrô não era.  

Era monotrilho e derivativos, caso do BRT, que especialistas verdes e amarelos trouxeram do Terceiro Mundo e que, em resumo, é primo mais que pobre, é primo desprezado no sistema de transporte coletivo. 

Cansei de ler que monotrilho ou equivalente era metrô, quando se sabe que uma coisa é uma coisa e outra coisa é uma porcaria.  

MAIS CONCENTRAÇÃO  

Metrô é um sistema que gera o que até poderia ser chamado de desenvolvimento econômico do entorno, mas mesmo assim com restrições geográficas ditadas pelo ecossistema de vocação, produção e produtividade.  

A capital do Estado ( à qual estamos sempre subordinados como linha psiquiátrica de Complexo de Gata Borralheira) conta com rede de metrô bastante modesta em termos internacionais, mas é o que se tem para o gasto básico.  

E, diferentemente do que vendem áulicos, o sistema metroviário acentuou a concentração de riqueza em bairros de classes sociais mais poderosas, aos quais o mercado imobiliário e empreendimentos se dirigem. Os empregos, em larga proporção, seguem nas regiões Oeste da Capital.  

DESLOCAMENTOS  

São inúmeros os vídeos de gente especializada a mostrar o quanto é preciso se deslocar na Capital em busca de oportunidades de empregos de qualidade. As linhas de metrô e os registros de origem e destino desnudam a situação.   

A rede do metrô faz a diferença sempre a favor de um emaranhado de apetrechados, entre os quais a dinâmica de instalação de empreendimentos. No caso da Capital, dos setores de comércio e serviços. 

É nesse ponto que vamos cair mais uma vez do cavalo com esse proselitismo ufanista e cego.  

O metrô que vai chegar não sei quando, mas que vai chegar um dia será a réplica de perdição causada pelo Rodoanel, como mostramos há muito com prova irrefutáveis.  

Antes de dar sequência ao texto de hoje, vou reproduzir alguns trechos do que escrevi em junho de 2019, quando tratei do monotrilho, que, independentemente do metrô anunciado, segue em frente e que também estará na geografia regional, ou de parte da região. Leiam:   

 

Monotrilho vai ter danos

colaterais como o Rodoanel 

 DANIEL LIMA - 26/06/2019 

 

Anotem e me cobrem no futuro o real significado da construção inapelável e inadiável para não dizer indispensável do trecho de monotrilho da Linha 18-Bronze, que colocará três municípios do Grande ABC na cara do gol do sistema metroviário da Capital: teremos a atividade sobretudo trabalhista de muita gente potencializada, como o é para os usuários do trólebus e da chamada linha ferroviária, mas o preço econômico regional será tão salgado quando o traçado do Rodoanel Sul, que liga alguns municípios da região ao Porto de Santos, à Capital e ao Interior. 

O que quero dizer com isso é que se trata de patacoada desenvolvimentista o que foi longamente apregoado por um jornalismo propagandístico. O traçado do monotrilho vendido como metrô não tem ínfima correspondência com as previsões apregoadas. 

Venderam à sociedade incauta, quanto não servil, o céu do desenvolvimento econômico na esteira do metrô que é monotrilho. Só esqueceram de combinar com os russos da sensatez e da racionalidade geoeconômica.  

Não somos uma ilha autossustentável. Bem distante disso: somos quase um acampamento quando a referência é a vizinha Capital do Estado, nossa parceira e nosso algoz econômico, social e cultural. 

GATABORRALHEIRISMO 

Para quem tem dúvida sobre essa conclusão, basta uma leitura atenta de “Complexo de Gata Borralheira”, que lancei em 2002, e cujos capítulos estão disponíveis neste site. 

Um estudo não muito aprofundado, mas suficientemente emblemático dos estragos econômicos que impactarão do Grande ABC do monotrilho que dizem ser metrô foi divulgado há alguns anos pela Universidade Metodista de São Bernardo.  

Ali estava sacramentada a síntese de um debate desnecessário: o traçado do monotrilho vai levar mais gente a trabalhar e a consumir em São Paulo do que o inverso. Muito mais gente, para ser preciso. 

Basta verificar mesmo sem qualquer acuidade empírica, porque desnecessária, a fluidez do trânsito em direção à Capital quando a jornada de trabalho se inicia e o completamente reverso ao fim de cada dia. 

A força de atratividade d00a Capital economicamente exuberante em relação a esta Província não deixa dúvida de que o monotrilho será mais um polo de evasão e de riqueza de moradores da região, como se não fossem suficientes os quase 30% da População Economicamente Ativa que já se deslocam diariamente às terras paulistanas. 

VOLTANDO AO AGORA 

De volta ao agora, diria que o passado de análises sobre os efeitos do metrô tão propalado e do monotrilho ou equivalente tão divulgado condena o Grande ABC a novos aborrecimentos.   

Afinal, sem organização institucional interna para agregar valor ao transporte coletivo divulgado, seguiremos o traçado da insensatez: vamos ver cérebros, braços e consumidores invadindo a Capital, como se fôssemos um desses bairros periféricos da Capital, e multiplicaremos as perdas econômicas já alarmantes.  

Não duvido da capacidade de o engenheiro Tarcísio de Freitas, governador do Estado, dar um chega-pra-lá na história de descarrilamento brutal da economia do Grande ABC.  

Entretanto, como nossos interlocutores junto ao governador são interlocutores que não enxergam o óbvio e subestimam o passado provado e comprovado de aberrações, prefiro me acautelar.  

Não existe a mais ínfima possibilidade de o Grande ABC em qualquer pedaço municipalista que o representa safar-se da concorrência letal que o metrô e o BRT representariam como eixos de aproximação com a Capital.  

Somos economicamente muito pouco perto da Capital, sobretudo no setor de serviços. A competição é desequilibradíssima. Vamos perder sempre.  

O metrô e o BRT serão fontes de ganhos evidentes dos trabalhadores e consumidores locais. E de prejuízos aos estabelecimentos locais.  

Não se pode vender gato por lebre. Tampouco não se pode confundir as bolas: projetar que o metrô e o BRT serão prejudiciais à economia do Grande ABC não tem significado simétrico à suposta inutilidade das duas obras para a sociedade.  

Entre ganhos difusos e perdas diagnosticadas, como no caso do Rodoanel, é obrigação informar que não teremos uma lua de mel com o futuro. Longe disso.  



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