O Consórcio de Imprensa teria chegado ao fim quase mil dias depois de instalado a reboque das trapalhadas do governo Bolsonaro no tratamento do Coronavírus.
É ingenuidade acreditar no fim do Consórcio da Velha Imprensa desnutrida de verbas publicitárias federais.
O Consórcio da Velha Imprensa já existia informalmente antes do vírus chinês e continuará a existir também informalmente.
Bolsonaro é o alvo de sempre. Com razões aqui, falta de razões ali. Como todo governante.
Governar é conviver com complicações. Uns mais, outros menos.
O Brasil é a perfeição do imperfeito. E do jeitinho outrora glorificado que tanto custa a todos.
COMO SOFIA
Tenho feito escolhas de Sofia no acompanhamento de noticiários em geral. É impossível assistir a tudo e a todos quando se tem apenas 18 horas úteis a cada dia.
São muitas as alternativas. E as defino de acordo com o perfil, à direita e à esquerda.
Não fico preso a ideologias de tratamento. Vejo jornalismo com olhos de ombudsman. Os leitores não têm ideia do que é ler com olhos de ombudsman.
Só descobri a diferença quanto atuei em dois períodos como ombudsman oficial do Diário do Grande ABC. Peguei gosto e tudo que faço é ser ombudsman não autorizado. Dá trabalho para caramba.
GINECOLOGISTA ABUSADO
Sou uma espécie de médico ginecologista com autorização tácita para manter relações íntimas com cada paciente.
A comparação é horrível, mas é apenas uma metáfora que nem de longe expõe meus sentimentos.
Só quis dizer que ser ombudsman é penetrar no íntimo da informação consumida. Não é apenas leitura por leitura.
Os leitores normais são como ginecologistas normais. Veem a paciente exclusivamente como pacientes. Como devem ser.
Creio que o leitor entendeu, agora, que não pretendo e nem pretenderia glorificar meliantes travestidos de médicos de mulheres.
DUAS METAS
O Consórcio da Velha Imprensa segue em frente porque há dois pontos no horizonte próximo conectados ao passado recente e ao passado remoto.
O primeiro é que é indispensável ao Consórcio da Velha Imprensa desidratar o bolsonarismo da política nacional.
O segundo é que é necessário amenizar as diabólicas gestões do PT, sobretudo de um presidente condenado em várias instâncias.
Portanto, o que temos na praça de informações da Velha Imprensa é um eixo duplo, de satanização impiedosa e de beatificação forçada.
MUITA DIFICULDADE
Não é fácil para a Velha Imprensa satanizar o governo federal que saiu, apesar de todos os passivos. Há ativos que não podem ser ignorados. E, mais que isso, uma base de apoio irredutível e em crescimento na medida em que o outro lado configura-se passadista.
Não é nada fácil para a Velha Imprensa limpar a barra de um presidente e de um partido que levaram o País à degringolada econômica e ética e fez agora um ajuntamento brancaleônico na tentativa de dar a volta por cima.
Por essas e outras o que temos e continuaremos a ter no noticiário disponível é uma série de providencias calculadamente engendradas pela Velha Imprensa do Consórcio de Imprensa que seguirá a existir.
Uma existência discreta, não ratificada pelos integrantes, mas ligadíssima no horizonte das próximas eleições presidenciais.
DIREITA NO JOGO
A Velha Imprensa e seus tentáculos de suposta sociedade civil, que não passa de sociedade servil e oportunista, são partícipes da derrocada da democracia que tanta exaltam como incluídos de um sistema deformado.
Há um inconformismo latente da Velha Imprensa após navegar placidamente nas águas de um fingimento de oposicionismos entre tucanos e petistas ao longo de três décadas.
Descobriu a Velha Imprensa que a direita existe e não tem vergonha de se apresentar. Mais que isso: tem resultados a mostrar.
Fico à vontade nesse posicionamento. Sou amplamente favorável em qualquer esfera de governo à competitividade político-eleitoral.
Pobre do endereço municipal, por exemplo, subjugado a um mesmo grupo de mandachuvas.
FAZENDO FITA
O que tivemos no governo federal de petistas e tucanos foi exatamente isso. Fingiram que eram competidores, mas sempre se deram bem na distribuição de fatias do Estado, em forma de União, governos estaduais e governos municipais.
A Velha Imprensa do Consórcio de Imprensa segue ativa e não é preciso mais que prestar atenção para detectar as digitais que a compõe.
Antes de Bolsonaro a Velha Imprensa tratava as manchetes com discrição, neutralidade, e deixava o juízo de valor para os editoriais quase sempre pouco lidos.
O noticiário contemplava de maneira geral ângulos diversos, com entrevistados aqui e ali mantendo visões nem sempre semelhantes.
Durante Bolsonaro a Velha Imprensa passou a dar manchetes ostensivamente críticas, contrárias em algum ponto, mesmo que esse ponto fosse frágil.
Manchete é a melhor forma de induzir juízo de valor de leitores geralmente descuidados.
JOGO MANIPULADO
Uma manchete bem encaixada, uma linha fina e complementar bem articulada, e o conteúdo vai para as calendas.
Agora com Lula da Silva de volta ao poder e sem precisar entrar em detalhes sobre o aporte do Judiciário à candidatura vitoriosa nas urnas eletrônicas sob suspeição, voltamos aos tempos de neutralidade e até mesmo de favoritismo das manchetes e de mitigações de conteúdo.
Fosse apenas isso até que a situação não seria de todo ruim para quem pratica e ama jornalismo.
Agora existe o adicional de incorporar ao texto comparações com o governo anterior quanto supostamente o governo anterior não tem a mesma qualidade de resultados do governo de plantão.
O pior de agora é supostamente razoável porque o pior de antes seria insuperável ou conformador.
UMA NOVA PEÇA
Poderia ser mais didático neste texto, mas estou com preguiça de lançar mão de dezenas de páginas já selecionadas para provar que a Velha Imprensa de guerra é manipuladora quando bota na cabeça que algo precisa ser destruído.
A Velha Imprensa só se esquece que não vai adiantar nada partir para a ignorância, ou agravar ainda mais o estágio de ignorância, porque, repito, o jogo da informação mudou.
Leitores, eleitores e consumidores dispõem das maquininhas diabólicas e portáteis que checam tudo. Mais que isso: quando não inventam, aumentam.
Sei que sei que não será em vão ou perda de tempo o material que tenho recolhido, sobretudo da Folha de S. Paulo.
Em algum momento darei exemplos práticos de como se fabricam os noticiários e os artigos analíticos tendo como plataforma de embarque delitivo a definição de uma política editorial que despreza o contraditório, o bom senso e a razoabilidade cognitiva.
VERDADES VIOLADAS
Quando escrevi no começo deste século a obra “Meias-Verdades, como usar a mídia para vender ilusões”, jamais imaginei que ao fim da segunda década e no começo da terceira década a Velha Imprensa estaria em situação de tamanha penúria financeira, ética e moral.
A Velha Imprensa da qual fiz parte durante muito tempo, tempos menos abusados, está em franco processo de extinção como fonte de inspiração democrática da informação. Meias-verdades são cafés pequenos. O que reunimos são verdades violadas.
A Velha Imprensa peleja com as redes sociais para ver quem é menos confiável. A diferença é que as redes sociais, quando bem investigadas, garantem o contraditório que a Velha Imprensa suprime. A arrogância chegou ao extremo.
ARROGÂNCIA CEGA
A arrogância da Velha Imprensa pode ser quantificada e qualificada com um caso simples e contundentemente explicativo: as movimentações em frente aos quarteis durante mais de dois meses por bolsonaristas inconformados com os truques eleitorais sinalizavam situação de clareza meridiana que não se extinguiria sem alguma consequência.
Havia um contragolpe ensaiado e preparado com aval das Forças Armadas.
O ensaio geral saiu do compasso porque a estratégia dos contragolpistas não prosperou a ponto de impedir que os golpistas permanecessem no poder federal.
A Velha Imprensa preferiu relegar a quinto plano aquela movimentação defronte aos quartéis. Na véspera de oito de janeiro, uma reportagem da Folha de S. Paulo dava conta de que o movimento se extinguira, porque esvaziado.
A Velha Imprensa deixou de fazer jornalismo durante os dois meses de preparação do contragolpe porque a Velha Imprensa perdeu a fome por informações que exigem mais que radicalismo e interesses diversos.
A Velha Imprensa militante seguirá adiante com variações de tons mas sempre tendo a doutrina do Consórcio da Velha Imprensa como farol.
Seguirá sonegando o passado na inútil tentativa de mistificar o futuro.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)