Economia

Mais desindustrialização,
mais desindustrialização

DANIEL LIMA - 08/02/2023

Se você tem expectativa diferente do que explicita a manchetíssima de hoje, aí em cima, tire o cavalinho da esperança da chuva de complexidades. Vamos continuar colecionando derrotas na geração de riqueza da atividade que, de âncora do Desenvolvimento Econômico da região, tomou a forma de terremoto.  

O Grande ABC industrial deste século será um Grande ABC menos industrial a cada temporada.  

Como tem sido desde 2002, quando Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência da República.  

Como o PIB Industrial é a máquina de azeitamento econômico da região, vamos seguir desfiladeiro abaixo. A engrenagem está enferrujada.  

FALTA UMA DIADEMA  

Tanto está enferrujada que está faltando uma Diadema inteira no mapa do PIB Industrial a partir de janeiro de 2003 até dezembro de 2020 Não é pouca coisa. E o quadro ficará pior ainda nos próximos anos.  

Mais desindustrialização na desindustrialização do Grande ABC não é uma frase terrorista ou derrotista.  

Em última instância, é uma catástrofe numericamente projetável. Uma profecia autorrealizável, porque indomável.  

COITADO DO GERALDO  

Não haverá Geraldo Alckmin, ministro da Industria e Comércio, a dar jeito. A bola continuará quadrada. Até porque Alckmin se comprovou perna-de-pau industrial no governo do Estado de São Paulo. 

Tanto é perna de pau que não deixou uma marca sequer na atividade que perdeu fôlego ante outros territórios do País.  

Não pense que a responsabilidade exclusiva da derrocada industrial regional neste século é do governo federal petista, que ocupou 14 dos 18 anos do período entre 2003 e 2020 que acabamos de contabilizar.  

ESTUPRO ECONÔMICO 

Antes disso, FHC patrocinou um estupro regional com política econômica que destruiu as pequenas e médias indústrias.  

FHC foi bom para o Brasil com as reformas macroeconômicas, acabou com a farra da inflação, que o levou à vitória eleitoral em 1994, mas o Grande ABC é um pedaço geográfico vítima de holocausto econômico que tem as digitais proeminentes do governo federal desde muito tempo.  

A expectativa de que o novo século amenizaria a situação deixada após dois mandatos de FHC acabou frustrada. O PT de Lula da Silva-Dilma Rousseff comprovou-se réplica piorada do PSDB.  

MAIS DECEPÇÕES  

Quem tiver a expectativa diferente do que determina a linha do tempo, do vento e dos estragos no PIB Industrial do Grande ABC de janeiro de 2003 a dezembro de 2020 (os dados oficiais de 2021 e 2022 estão longe de serem apurados pelo IBGE) vai se exasperar e se frustrar.  

Mesmo com toda a tecnologia aplicada e que incrementa a produção do setor de transformação em forma de produtividade, mascarando em muitos pontos outros indicadores anexos ao PIB (caso da massa salarial), o Grande ABC registra perda líquida no quesito que mede a geração de riqueza industrial.  

A situação do Grande ABC no período analisado é mais grave que a observada na Capital, também desindustrializada, e, muito aquém da média de crescimento do PIB Industrial no Estado de São Paulo, que, por sua vez, está abaixo da média nacional. 

PERDAS DUPLAS  

A perda do poderio industrial do Grande ABC internamente, ou seja, quando se comparam exclusivamente os sete municípios, não é apenas relativa.  

Perda relativa é uma reta de chegada em que quando se compara o PIB de um determinado setor de atividade pelo PIB Geral, do conjunto de atividades, há quebra de rendimento. 

O PIB Industrial do Grande ABC, internamente, ou seja, quando se comparam os sete municípios, também se dá em números absolutos, ou seja, com efetiva quebra da atividade, sem considerar as demais fontes de riqueza.  

RELATIVA E ABSOLUTA  

Seria muito menos problemático se o PIB Industrial do Grande ABC acumulasse perda relativa diante das demais atividades (comércio, serviços, construção civil, agricultura, administração pública) mas preservasse o tônus muscular ante seus próprios resultados.  

Mais ou menos assim: o PIB Industrial teria participação tal numa determinada temporada e manteria ou aumentaria o PIB Industrial em outra temporada distante, mas perderia para as demais atividades, que teriam crescido relativamente mais. 

Não é esse o caso do PIB Industrial do Grande ABC nos 18 anos já contabilizados neste século.  

Em 2002, base da pesquisa, o PIB Industrial do Grande ABC representava 32,55% do PIB Geral do Grande ABC. Eram em valores nominais (sem considerar a inflação) R$ 12.776.017 bilhões ante R$ 39.246.092 bilhões do PIB Geral.  

NA OUTRA PONTA  

Na outra ponta dos dados que acabei de recolher do IBGE, de 2020, anunciados em dezembro do ano passado, o PIB Industrial do Grande ABC registrou R$ 30.582.634 bilhões, ante R$ 128.389.075 bilhões do PIB Geral. A participação relativa caiu para 23,82%.  

Em termos percentuais, o PIB Industrial do Grande ABC caiu relativamente ao PIB Geral 26,82% no período. Ou praticamente um terço.  

A perda do PIB Industrial do Grande ABC é de estrago duplo, porque se dá em termos relativos às demais atividades e, também e principalmente, aos próprios dados.  

NÚMEROS ATUALIZADOS  

Basta observar a correção monetária do período dessa análise, tendo o IPCA como âncora inflacionária.  

Os R$ 12.776.017 bilhões de dezembro de 2002 deveriam ser R$ 34.828.700 bilhões em dezembro do ano passado caso fosse registrada a inflação do período, de 172,61%.  

Mas o resultado real não passou de R$ 30.582.634 bilhões. Uma perda efetiva de R$ 4.246.066 bilhões em dezembro passado. Mais que o PIB Industrial de Diadema do ano passado, de R$ 3.953.216 bilhões.  

É muito pouco provável que se encontre alguém que ache que o Grande ABC industrial ficou imune às políticas equivocadas do governo federal e também ao vácuo institucional local, patrocinado pela ausência de uma organização que realmente tome pelos chifres a reação no setor produtivo.  

CLUBE HERÉTICO  

O Clube dos Prefeitos é uma heresia nesse sentido. Registramos uma Diadema (e também uma Rio Grande da Serra, se querem detalhes) a menos no mapa regional de produção industrial, ou 13,89% de efetiva baixa no período.   

A queda real do PIB Industrial no período pesquisado acabou influenciando o resultado do PIB Geral.  

As ramificações econômicas do setor industrial são frondosas num Grande ABC que não tem alternativa de crescimento além das próprias fábricas. As demais atividades, principalmente de Serviços, estão muito aquém do uso de tecnologias que incrementam geração de riqueza. Diferentemente da Capital, por exemplo. 

SOBE E DESCE  

Enquanto o PIB Industrial do Grande ABC cresceu em termos nominais 139,38% no período de 18 anos, ante inflação acumulada de 172,61, o PIB Geral escapou da degola e alcançou avanço nominal de 227,14%.  

Sabe qual é o resultado final entre janeiro de 2003 e dezembro do ano passado quando se considera o PIB Geral do Grande ABC? O crescimento real no período (227,14% em termos nominais ante 172,61% da inflação) representa avanço médio anual de apenas 1,2%. Um pouco acima do crescimento populacional.  

Deixaremos para a edição de amanhã uma comparação providencial e esclarecedora do comportamento do PIB do Grande ABC em relação ao que ocorreu na vizinha São Paulo, que também acusa duríssimos golpes de desindustrialização.  

CAPITAL TEM FÕLEGO 

A diferença entre um endereço é outro é que a cinderelesca Capital tem fôlego de resistência em outras atividades econômicas.  

O Grande ABC essencialmente industrial na geração de riqueza é uma carta fora do baralho de Desenvolvimento Econômico sustentável.  

A desindustrialização do Grande ABC ainda não chegou ao limite destrutivo. Teremos mais tristezas pela frente.  

O anúncio de uma nova fábrica que deixa a região, agora sediada em Diadema, é uma notícia que seria mais frequente se todas que se vão ou perecem ganhassem manchetes. Perdemos muito mais do que dizem as notícias. E quanto ganhamos alguma fábrica, o mais indicado é verificar de onde veio o reforço. Mostraremos que nem sempre é reforço.



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