Economia

São Paulo perde mais, mas
sofre menos que a região

DANIEL LIMA - 17/02/2023

É possível perder mais PIB Industrial, mas superar um concorrente no PIB Geral? Repetindo: pode um Município perder mais durante determinado período na produção industrial e mesmo assim, em relação a outro endereço, ganhar na soma de todas as atividades do PIB Geral? A resposta é positiva.  

A cidade de São Paulo supera os sete municípios da região no PIB Geral, embora sofra derrota na disputa que mede desindustrialização, ou seja o PIB Industrial. 

Para entender a situação em que se encontra o Grande ABC na cronologia da guerra perdida para a desindustrialização e o peso menos impactante do mesmo fenômeno que atingiu a vizinha e poderosa Capital do Estado é preciso, de imediato, estabelecer uma diferença básica. 

Essa diferença é a seguinte: o Grande ABC sem terciário avançado em tecnologia não consegue compensar as perdas industriais ao longo de décadas de negligências locais, estaduais e federais.  

MAIS ALTERNATIVAS  

São Paulo, a vizinha poderosa, de mercado financeiro, hotelaria, consultorias especializadas, turismo, entretenimento, diversidade cultural e tudo que caracteriza uma Cinderela, coloca o gataborralheirismo regional no devido lugar.  

Quando o metrô chegar à região, tudo vai se agravar. A centralidade da Capital é tão insofismável quando complicadora ao destino da região.  

Uma conclusão para as próximas duas décadas que haverá de chegar e que, pelo andar da carruagem não sofrerá impedimentos do Grande ABC: o setor industrial será cada vez menos importante no conjunto do PIB Geral da região. 

Qual é a mensagem central que isso representará? Simples:  o Desenvolvimento Econômico do Grande ABC estará comprometido ainda mais. 

FUTURO PIORADO  

Num futuro não muito distante o Grande ABC será uma cópia mal-acabada e comprometidíssima dos níveis de desindustrialização da Capital, sem ter, entretanto, as alternativas econômicas da Capital.  

Vivemos, portanto, o pior dos mundos. Ou seja: poderio industrial cada vez menor e um conjunto de atividades de outros setores muito aquém do necessário para políticas de recomposição do tecido econômico. 

Mais uma vez me debruço sobre o comportamento da economia do Grande ABC nos 18 anos já medidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).  

Mais que isso: 18 anos sob influência incisiva de políticas públicas defendidas pelo PT Federal, a partir de 2003, esticando-se a atuação até 2016. Ou seja: diretamente, 14 dos 18 anos. Tudo com base nos dados de 2002, último ano do desastroso (para o Grande ABC) governo de Fernando Henrique Cardoso.  

DESINDUSTRIALIZAÇÃO  

Evitei colocar na manchetíssima de hoje o termo “desindustrialização” pela simples razão de que ocuparia praticamente uma linha inteira das duas linhas ditatoriais reservadas ao enunciado-padrão.  

Para um entendimento mais didático dos leitores, resumiria a manchetíssima do dia em algo como “Desindustrialização de São Paulo é maior que a do Grande ABC, mas riqueza geral é bastante superior”. 

A desindustrialização do conjunto dos sete municípios do Grande ABC no período de 18 anos dominados praticamente pelo PT Federal registrou queda de R$ 4.246.066 bilhões, em valores atualizados. A Capital do Estado perdeu R$ 15.556.120 bilhões. A soma das duas perdas chega, portanto, a R$ 19.802.187 bilhões.  

OITO MENOS TRÊS 

Sabe o que significa esse conjunto de oito municípios perder tanto PIB Industrial em 18 anos? O volume equivale a tudo que significa PIB Industrial em Santo André, São Bernardo e São Caetano em 2020, a fita de chegada dos valores monetários prospectados.  

Ou seja: o que seria o G-8 (Capital e sete municípios da região) viraria um G-5, sem Santo André, São Bernardo e São Caetano. É muita perda de geração de riqueza. 

O PIB Industrial da cidade de São Paulo em 2002, base da pesquisa, registrava R$ 27.010.713 bilhões, ante R$ 12.776.017 bilhões do Grande ABC. Ou seja: o PIB Industrial do Grande ABC correspondia a 47,31% do PIB Industrial da Capital.  

Dezoito anos depois, em 2020, a participação relativa do PIB Industrial do Grande ABC passou para 52,66% do PIB Industrial da Capital. Ou R$ 30.582.634 bilhões ante R$ 58.077.784 bilhões.  

PERDAS RELATIVAS  

Em termos de participação relativa do PIB Industrial no conjunto do PIB Geral (atividades como comércio, serviços, administração pública, construção civil e agropecuária), o Grande ABC perdeu 26,82% , ao cair de 32,55% em 2002 para 23,82% em 2020.  O PIB Industrial de São Paulo perdeu relativamente muito mais que o do Grande ABC, ao alcançar queda de 45,77%  -- registrou  R$ 58.077.784 bilhões ante atualizados R$ 73.633.904 bilhões do ano 2002, corrigidos pelo IPCA – valor original de R$ 27.010.713 bilhões com deflacionamento de 171,61%. A participação relativa do PIB Industrial da Capital correspondia a 14,31% do PIB Geral em 2002, e passou para 7,76% em 2020.  

RELATIVAMENTE MAIOR  

O PIB Industrial do Grande ABC é relativamente três vezes maior que o PIB Industrial de São Paulo quando o confronto é com o PIB Geral. Ou seja: São Paulo é muito menos dependente das atividades industriais do que o Grande ABC. Nada pior para o Grande ABC, claro.  

Com um terciário mais sofisticado, a cidade de São Paulo perdeu a corrida para o Grande ABC no PIB Industrial, mas superou largamente o concorrente no PIB Geral no período de 18 anos.  

O PIB Industrial da Capital avançou 115,08% em termos nominais (contra inflação de 172,61%), enquanto o PIB Industrial do Grande ABC registrou avanço nominal de 139,38%. Ou seja: os dois pedaços da Região Metropolitana de São Paulo sofreram desindustrialização líquida (de valores registrados) e relativa (frente a outras atividades). 

O PIB Geral da cidade de São Paulo no período analisado cresceu nominalmente 296,78% (portanto acima da inflação do período, de 172,61%) enquanto o PIB Geral do Grande ABC avançou bem menos (227,14%).  

O processo de desindustrialização e consequente quebra de dinamismo da economia da cidade de São Paulo e sobretudo do Grande ABC é inquestionável, mesmo que ofereçam dados diferentes. Basta avaliar o comportamento geral do Estado de São Paulo no mesmo período. 

ESTADO BEM MELHOR  

Diferentemente do que se registrou em São Paulo e no Grande ABC, o PIB Industrial do Estado de São Paulo avançou acima da inflação durante o período pesquisado.  

No setor de produção, o PIB paulista cresceu nominalmente 252,65% (muito acima portanto do G-8), enquanto o PIB Geral avançou 358,22% -- também muito acima da inflação do período.  

MAIS EDIÇÕES  

Diante desses dados específicos, é fraude qualquer afirmativa que retire o peso da desindustrialização de eventuais premissas à deflagração de iniciativas que pretendam recolocar o Grande ABC e a cidade de São Paulo numa plataforma de recuperação econômica.  

A cidade de São Paulo sofre sim com os efeitos da perda de indústrias, embora resista com o agregado de valores do setor terciário.  

Já o Grande ABC sofre duplamente, porque perde indústria e não se recupera de forma sustentável com atividades de serviços que representam construção de riqueza muito aquém da atividade industrial. 

Vamos avançar em edições aleatórias sobre o que se pode esperar da economia do Grande ABC tendo a vizinha poderosa, mas também complexa como concorrente.  

É isso mesmo: São Paulo é concorrente da região no campo econômico. No passado que já passou o Grande ABC foi beneficiado com a desindustrialização da Capital. Foram anos de glória de transferência de empresas para a região, saindo de diferentes distritos paulistanos, já por conta dos custos de produção.  

Entretanto, o que os economistas chamam de deseconomia de escala também chegou ao Grande ABC a partir de custos comparativos com outros endereços,  principalmente do Estado, a bordo da guerra fiscal.  

A velocidade de quebra da indústria regional vem aumentando, mesmo com ganhos de produtividade. Talvez em duas décadas o desenho da economia regional seja semelhante ao da Capital, com a diferença de que os efeitos no entorno dos dados gerais serão muito mais nocivos, com quebra ainda maior da mobilidade social. Trataremos disso também.  

CARTAS MARCADAS  

O mais lamentável em toda essa trajetória, entre outros pontos de negligência geral, é que a Velha Imprensa de cartas marcadas simplesmente desdenha o que se passa numa metrópole como a da cidade de São Paulo.  

A queda do ritmo de Desenvolvimento Econômico é cada vez mais brutal, com consequências deletérias nem sempre mensuráveis.  

A agenda da Velha Imprensa é a política, principalmente a política fastfoodiana e partidária. Enquanto isso, 22 milhões de habitantes da Região Metropolitana de São Paulo (soma das populações do Paraná e do Rio Grande do Sul) ficam à deriva de um planejamento estratégico que acomode várias especialidades econômicas e sociais.  

A desindustrialização não perdoa tanta incapacidade de reação. O G-8 vai continuar se empobrecendo relativamente a outros territórios paulistas e nacionais.



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