Imprensa

Garantia de PIB chinês não
passa de invenção eleitoral

DANIEL LIMA - 24/02/2023

Como pode ser explicada a indução supostamente científica de que o PIB de um determinado município do Grande ABC vai crescer 17% numa única temporada e, quando se constatam os resultados, a queda chegou a 3,90%? Demagogia eleitoral, demagogia eleitoral. Tão irresponsável quanto vexatória.  

Esse é mais um exemplo pedagógico que reboco de inúmeras tratativas que administradores públicos e assessores falsários transformaram o Grande ABC em território infestado de fake news antes mesmo que fake news virassem moda incriminatória às redes sociais.  

Uma moda que a Velha Imprensa de papel tenta carimbar como propriedade exclusiva das redes sociais sabendo que sabe muito bem que a paternidade de fake news é da mesma Velha Imprensa de papel. 

Algum leitor tem ideia de onde anda o economista Dalmir Bibeiro, ex-titular do Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos da Prefeitura de Santo André durante o governo de Aidan Ravin?  

FÓRMULA MÁGICA 

Não se tem notícia do moço em questão, mas ele levou no bico o então prefeito de Santo André, claro que com o consentimento populista do titular do Executivo. 

Dalmir Ribeiro produziu uma formulação tão maquiavélica quanto estúpida ao tentar negar o inegável tanto naquelas alturas do campeonato quanto hoje: a antiga capital econômica do Grande ABC, posto perdido há muito tempo para São Bernardo, teria encontrado o caminho da China de crescimento econômico.  

Não preciso dizer que toda a mídia impressa e digital da região naquela oportunidade comprou gato por lebre como compra até hoje gato por lebre porque comprar gato por lebre é mais fácil do que contestar que gato é uma coisa e lebre é outra coisa. 

PODE LISTA NEGRA?  

Mas preciso dizer que tanto naquela oportunidade quanto nas dezenas de vezes anteriores e posteriores em casos em que a informação precisaria ser corretamente levada ao público, entrei na lista negra (posso escrever lista negra?) dos detratores que odeiam jornalismo que vai além de vontades pessoais e políticas deles mesmos. 

Bobo jamais fui e jamais serei. É fácil distinguir agentes públicos e privados que aplaudem informações corretas quanto informações corretas lhes agradam, mas detestam informações corretas quando informações corretas lhes desagradam.  

Ainda não passou por muitas cabeças públicas e privadas que o gosto pessoal por notícias que agradam ou desagradam é problema deles, não de quem as produz em forma de análise. 

ALQUIMIA FURADA 

Vamos então ao PIB chinês que virou PIB Brasileiro dos piores momentos? 

Tudo se deu em fevereiro de 2012 quando com pompa e circunstância o assessor do prefeito Aidan Ravin reuniu uma montanha de gente e muita imprensa para, no salão Burle Max, apresentar um macroindicador econômico de cair o queixo de quem acreditava que Santo André estava numa pindaíba danada de desindustrialização.  

Na edição de 24 de fevereiro daquele ano, CapitalSocial/LivreMercado analisou o encontro. Diretor do DISE, o tal Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos, Dalmir Ribeiro revelou o segredo do sucesso de Santo André. 

Dalmir Ribeiro criou o INA (Indicador de Nível de Atividade) da Prefeitura de Santo André. Traduzi a formulação do assessor do prefeito em metáfora naquele texto que preparei.  

Escrevi que ao passar por exame clínico que detecte pressão arterial absolutamente em ordem, nível de ácido úrico sob controle e manutenção incólume do curo cabeludo à calvície, o dono do corpo em questão não poderia vangloriar perfeita saúde. Ou que estaria muito melhor que o vizinho.

Foi assim que a Prefeitura de Santo André se referiu aos demais municípios do Grande ABC naquela alquimia de Dalmir Ribeiro. 

MELHOR DA PARADA  

A Prefeitura de Santo André divulgou o que chamou de estudo e deu conta de que o INA era resultado de três indicadores: a) ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) divulgado pela Secretaria da Fazenda do Estado; b) o ISS (Imposto Sobre Serviços) divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional, c) e o faturamento das exportações, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. 

Dalmir Ribeiro levou todo mundo a acreditar que estava descobrindo a fórmula mágica de mensurar o crescimento econômico fora do enquadramento do PIB. Tanto que apontou crescimento de 17% no ano anterior (2011), enquanto a média das sete cidades ficou em 4,4%. Já o Estado de São Paulo teria crescido 5,7%.  

Reproduzo exatamente o que disse Dalmir Ribeiro: “O desempenho excepcional de Santo André em 2011 fez com que a média de crescimento anual no período 2009-2011 fosse a melhor entre os grandes municípios da região. Nesse período, que envolve desde o ano mais afetado pela crise financeira internacional, Santo André assinalou crescimento médio de 4,6% ao ano, quase o dobro da taxa média do ABC, de 2,5% ao ano, e acima de 4,3% ao ano registrado pelo Estado” – disse Dalmir Ribeiro. 

Vou repetir a passividade do jornalismo regional, na quase totalidade de suas representações: Dalmir Ribeiro disse tudo isso e muito mais e não houve uma voz sequer a contestar. Ou a, posterior, escrever. Como fizemos.  

Para os leitores entenderem a indignação de um jornalista que há trezentos anos traduz sem parar e sem temores a situação econômica e social do Grande ABC, uma sucessão de más notícias que farsantes tentam transformar em heranças benditas, veja como encerrei aquele texto de abril de 2012: 

 O INA forjado pela Prefeitura de Santo André seria o requinte da trambicagem informativo-estatística não fosse anedota eleitoral ao sugerir que se trata de PIB, indicador que reúne muito mais engenharia econométrica, econômica e social e sobre o qual estamos nos debruçando com o G-20. 

Esperei pelo PIB dos Municípios Brasileiros de 2011, divulgado somente em dezembro de 2013. A constatação de que ao invés de crescimento de 17%, o PIB de Santo André caiu novamente, agora 3,9%, apenas ratificou uma lógica que um agente público transformou em peça daquele ano eleitoral. 

FALTA RESPONSABILIDADE 

Já escrevi inúmeras vezes que está faltando na gestão pública nacional algo correlato à Lei de Responsabilidade Fiscal, no caso a Lei de Responsabilidade Informativa. Seria uma maneira exemplar de pegar ladrões de expectativas pelo colarinho do respeito ao público. 

Ainda tenho muito estoque de manipulações de diversos calibres na historiografia do Grande ABC.  

Os fatos estão distantes da origem cronológica de uma perversão transposta a uma expressão que virou sinônimo de redes sociais. A Velha Imprensa de papel e de várias localidades, inclusive do Grande ABC, costumeiramente capturada por fontes viciadíssimas, quando não parceiras de jornada, detesta se olhar no espelho.   

Não são os apaniguados do governo federal de plantão e muito menos togados supremos que pretendem impor amarras à liberdade de expressão, usando a democracia como desculpa furada, os mais indicados a sugerir alguma coisa que estabeleça reparos nas redes sociais. 

A incubadora de mentiras e meias-verdades mais bem elaboradas e muito mais insidiosas tem as entranhas da mídia impressa e digital corporativa e enraizada nas sinecuras dos podres poderes. 



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