O sindicalista Lula da Silva ajudou a construir fortalezas de machismo em estado puro e também com variantes no chão de fábricas do Grande ABC. Agora como presidente da República tem a oportunidade de dinamitar supostas distorções no mercado de trabalho.
O risco de mexer no mercado de trabalho com as mãos grandes do Estado é que o mercado de trabalho pode desandar. O sal do proselitismo político pode danificar o tempero de especificidades operacionais. A emenda de suposta modernidade pode ser pior que o soneto de desigualdade.
O Dia Internacional das Mulheres deverá ser comemorado com uma peça de engenharia politicamente correta preparada pela ministra Simone Tebet. Ela bate na tecla inconformada de desigualdade salarial na ocupação das mesmas funções. Será que vai dar certo? Será que Tebet vai tocar uma corneta de Recruta Zero, imaginando-se ao piano como Mozart?
Há um equívoco de origem quando se defende igualdade salarial entre profissionais que ocupam a mesma função. A individualidade não é um padrão homogêneo. Há individualidades mais qualificadas que outras individualidades.
E AS INDIVIDUALIDADES?
O talento individual combinado com determinação torna alguém melhor que alguém no campo de atuação. Empreendedor privado que tem de enfrentar a concorrência sabe disso. Não seria o caso de servidores públicos com emprego eterno.
Simone Tebet é uma peemedebista que está no governo Lula da Silva de olho nas eleições presidenciais de 2026. É natural que queira mostrar serviço. Tomara que não tropece na própria ambição.
Possivelmente Simone Tebet entenda mais de mulheres do que eu, porque mulher entende de mulher mais que qualquer homem. Mas isso não lhe dá vantagem alguma no campo econômico. O que deve pesar é conhecimento de fato sem proteção de gênero.
Provavelmente Simone Tebet nem sabe que seu chefe presidencial tem um passado machista, como todos os sindicalistas de fábricas. Nada diferente, também, de muitos empreendedores. O mundo em geral é machista.
FEMINISMO SELETIVO
As feministas estão em alta e por isso mesmo exageram. Transformam todas as mulheres em santas e todos homens em demônios. Desde que, claro, todas as mulheres santas sejam da mesma identidade ideológica que professam. E todos os homens demônios sejam de coloração ideológica contrária.
Há também mulheres que detestam homens de todas as ideologias e clubes. São feministas por natureza e ressentimentos.
Não se tem ainda nada que possa indicar com segurança o que seria o suposto presente às mulheres trabalhadoras. Desconfio de que vão mexer num vespeiro, atropelando o que já determina a Legislação Trabalhista.
Quando competências corporativas privadas e públicas de todos os tamanhos e especialidades são avaliadas levando-se em conta o gênero humano, quando se veem mulheres e homens ao invés de colaboradores e funcionários indistintamente, sempre haverá risco enorme de afronta à meritocracia.
COMPETÊNCIAS
Sou insuspeito para escrever sobre gênero no mercado de trabalho. Como colaborador mandado e colaborador mandante jamais distingui quem quer que seja pelo sexo ou qualquer outra variante.
Hoje não sou mandado nem mandante, mas se o fosse seguiria a mesma trilha. Seria um horror para determinadas falanges ideológicas que não admitem o contraditório, transformando discordância em preconceito.
O que interessa para quem pretende levar um produto, qualquer produto, ao consumidor é a qualidade individual e coletiva do grupo de trabalho. Sejam integralmente homens, sejam integralmente mulheres, sejam mais homens ou mais mulheres.
Nos tempos de editor de Esportes do Diário do Grande ABC, tempos passados, Apenas uma mulher na equipe (Lola Nicolás). Dou-me conta disso agora. Até então observava aquela jornalista porque era jornalista competente. Explica-se aquela situação: as mulheres não tinham interesse pela Editoria de Esportes.
Uma situação bem diferente destes tempos. Agora as mulheres avançam como enxames. Em muitos casos são muito mais qualificadas como analistas de futebol do que marmanjos estridentes e fanáticos. Ainda precisam encaixar a mesma qualificação na narração dos jogos. As emissoras de TV as prestigiam, mas esquecem que estão muito aquém da média masculina. Há narradoras sofríveis. Nesses casos, os homens são discriminados.
MACHISMO MAIOR
O machismo nas fábricas do Grande ABC é em média mais acentuado que o machismo no chão de fábricas no País.
Entenda machismo no sentido menos exacerbado do que pressupõe a semântica e mais como sinônimo de predomínio ocupacional masculino no ambiente de trabalho.
Mas também pode entender como machismo mesmo, no sentido machista de ser, porque se há uma coisa que caracteriza os peões de fábrica é se acharem os bons da boca quando veem o sexo oposto, mesmo não exposto.
As exceções de chãos de fábrica, principalmente de chãos de fábrica, confirmam a regra. E tampouco excluem os machões de gabinetes de fábricas.
Entre as muitas razões de os homens serem mais numerosos e ganharem relativamente melhores salários que as mulheres, principalmente na indústria de transformação, está o tempo de ocupação profissional.
CHEGARAM DEPOIS
As mulheres chegaram mais tarde ao mercado de trabalho em geral e como consequência têm menos espaço e valorização inferior.
Em outras atividades, de serviços e de comércio, os salários e a quantidade relativa são menos favoráveis aos homens – ou menos desvantajosas às mulheres.
Em algumas situações, de determinadas áreas, como Saúde e Educação, as mulheres prevalecem tanto num aspecto quanto no outro.
Como nem toda mulher é mulher no sentido tradicional da palavra, não faltam relatos de mulheres que agem como homens quando na chefia de mulheres. Mas isso é outra história. O poder é transformador. O deslumbramento é ecumênico também em termos de gênero.
SEM ACHISMOS
Confrontar quantidade e salários de homens e mulheres na indústria e também em outros setores é uma forma interessante de escrever sem achismos. Fiz no passado recente algumas incursões nesse sentido.
E constatei exatamente o que já antecipei: os homens são mais numerosos e têm vencimentos superiores às mulheres nas fábricas, mas a diferença é menor em outros ambientes profissionais.
A São Bernardo onde Lula da Silva fez carreira sindical e onde se estabeleceram métricas de atuação dos representantes dos trabalhadores, as mulheres de fábricas recebem em média 68,46% dos salários dos homens. E são apenas 28,69% da força de trabalho.
DADOS OFICIAIS
Esses dados são oficiais e se referem a 2020. O Ministério do Trabalho ainda não emitiu dados de 2021 e 2022, mas isso não altera a situação. Mudanças são quase imperceptíveis a cada ano. A linha do tempo mais prolongada expõe alterações significativas ou não.
A participação do assalariamento médio nas fábricas de São Bernardo envolvendo as mulheres é um caso raro de semelhança quando a comparação envolve todas as atividades econômicas, inclusive o setor público.
Se as mulheres recebem em média 68,46% dos homens na indústria, no geral a participação sobe para 69,46%. É muito pouco avanço. Isso se explica porque o contingente de trabalhadores industriais é elevadíssimo em São Bernardo e os salários médios também, sempre em relação às demais atividades. Como se verá em seguida, não é o mesmo que se dá em outros endereços.
Selecionei outros municípios igualmente bem nutridos de emprego industrial com carteira assinada para atestar o machismo nas fábricas.
Os números entre os quais são semelhantes, com variações que só confirmam a regra geral.
MAIS FORA
Em Diadema, as mulheres das fábricas recebem salários em média que equivalem a 72,49% dos salários médios dos homens, em São Caetano o valor é 63,46% e em Santo André não passa de 64,34%. Já quanto à média salarial reunindo todas as atividades, as mulheres recebem 83,50% em relação aos homens em Santo André, 86,79% em Diadema e 75,23% em São Caetano. Os percentuais seriam maiores se excluíssem da contabilidade a massa de salários nas fábricas.
Alguns outros municípios são em média salarial entre homens e mulheres menos machistas nas fábricas que os mencionados do Grande ABC.
Em Guarulhos as mulheres recebem valores médios que equivalem a 88,15% dos homens (ante 85,24% na média geral de todos os setores) e em São José dos Campos são 79,32% (ante a média geral de 77,08% e todos os setores).
Mas também há municípios gêmeos em assalariamentos médios industriais quando comparados aos endereços do Grande ABC. Em Campinas as mulheres industriárias ganham 65,81% dos salários médios dos homens (e 77,08% quando envolve todos os setores) e em Jundiaí são 67,82% (74,23% em todos os setores).
CAPITAL MELHOR
A Capital do Estado, que conta com 354 mil trabalhadores industriais, praticamente o dobro do Grande ABC, tem aproximação maior na média salarial do setor: as mulheres ganham 81,44% dos homens. Quando o confronto envolve assalariamento médio dos homens e das mulheres em todas as atividades, a diferença vai para 83,50%.
Ao que tudo indica a fórmula que se pretende lançar no Dia Internacional das Mulheres exigirá cuidado redobrado para supostamente corrigir uma distorção histórica, em que mulheres seriam desprezadas salarialmente em relação aos homens.
Não se corrige, por assim dizer, supostas incorreções sem definir bases conceituais e técnicas que impeçam ou reduzam estragos em produtividade e competitividade nas empresas privadas e tampouco nas organizações públicas.
O bom-mocismo de gênero não é bom conselheiro. Resta saber até que ponto haverá respeito ao limite que o bom-senso recomenda.
TIRO NO PÉ?
Também não se pode desconsiderar que eventuais intervenções arbitrárias que saltariam do projeto de Simone Tebet e assessores poderiam desembocar em tiro no próprio pé.
Como assim? Quem garante que a equalização salarial média nas mesmas funções (esse é o preceito das medidas anunciadas) não provoque queda da massa salarial?
Como assim? Ora, bolas: no mercado de trabalho da iniciativa privada, onde cada quesito é visto sob ótica de sobrevivência, principalmente em pequenas e médias empresas industriais, poderia haver a manutenção ou mesmo redução do custo da folha de pagamentos.
Como se daria esse fenômeno? Basta a demissão gradual e consistente de homens que ganham mais e contratação de mulheres que ganham menos até que na ponta da linha os níveis salariais médios de homens e mulheres chegassem ao empate desejado em detrimento de rebaixamento dos valores médios pagos na origem.
Há outros aspectos a considerar numa avaliação sem paixões ideológicas e oportunistas. Por isso, o mais ajuizado mesmo é esperar por um Dia Internacional das Mulheres histriônico politicamente, porque essa é a marca dos governos em geral.
As pressões sobre o Banco Central para rebaixamento dos juros que não passam do custo do dinheiro arrecadado e perdulariamente gasto pelo Estado comprovam que o estardalhaço pretende prevalecer sobre a racionalidade.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?