Se ao ler o enunciado acima (que chamo de manchetíssima) você fez alguma projeção partidária, recomendo que mude de canal. Dê o fora, por assim dizer. Procure outra freguesia. O assunto é estritamente econômico. E sem viés ideológico. São fatos, apenas fatos. E explico tudo. Vamos em frente?
Entra ano, sai ano e os especialistas se esborracham todos. As previsões sobre o PIB do ano seguinte (e mesmo durante o mesmo ano que mal começou ou mesmo já avançou meses adiante) batem com a cara na porta de imprecisões. E não são imprecisões decimais. São mancadas grotescas.
Na maioria das vezes o que acontece é simplesmente o seguinte: os homens das finanças privadas e os agentes públicos em geral olham o horizonte com as lentes que não corrigem hipermetropias e miopias diversas.
SITUAÇÃO EMBLEMÁTICA
Eles, esses agentes, não detectam com a acuidade necessária porque são incorrigíveis teimosos dogmáticos. Pretendem transformar a economia em ciência exata.
Dao de ombros a infiltrações políticas e sociais que rompem o casco do navio arbitrário de conceitos preconcebidos.
Existem, por outro lado, o que eles desprezam na maioria dos casos: agentes públicos e privados interessadíssimos em acelerar ou desacelerar o andar da carruagem. Principalmente em temporadas eleitorais. O ano passado foi quentíssimo no calendário político.
No caso especifico da temporada de 2022, cujos dados acabaram de sair do forno do IBGE, o que temos é uma situação emblemática de intolerâncias e polaridades: a mídia ostensivamente contrária ao governo de Jair Bolsonaro e os agentes financeiros lubrificados por interesses mais que conhecidos, perderam a batalha.
VITÓRIA DE GUEDES
Quem os venceu de goleada foi a equipe do então ministro da Economia, Paulo Guedes. Basta seguir o que reproduzo para chegar a essa conclusão. O PIB cresceu quase tanto foi projetado por Guedes. Um pouco mais, ate. Paulo Guedes foi mais cauteloso para baixo do que os adversários raivosos para muito baixo ainda.
Não é a primeira vez que abordo esse tema, mas há muito tempo não faço desse tema assunto desta revista digital.
Mas se trata de um tema antigo em minhas preocupações para mostrar que a ciência é um bem inestimável da sociedade, mas não pode ser sacralizada. Nem no campo econômico nem tampouco na arena da Medicina. Estão aí as polêmicas em torno do Coronavírus que não me deixam mentir.
Vou reproduzir em seguida parte de matérias que arrebatei de meu acervo de papel. Foi uma busca rápida a aleatória. Os resultados são mais que esperados.
Veja um trecho do artigo que o colunista Fabio Garner, do jornal Valor Econômico, publicou na edição de 23 de novembro de 2021 sob o título “A queda de braço sobre o PIB de 2022”:
O Ministério da Economia está em uma verdadeira batalha de expectativas com o mercado em torno do cenário para o Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem. Enquanto o time do ministro Paulo Guedes fez uma tímida revisão em sua previsão de crescimento, de 2,5% para 2,1% em 2022, a mediana coletada no Focus já caiu para 0,7% e muitos enxergam risco de recessão no ano eleitoral. O momento lembra o que ocorreu em meados do ano passado, quando o boletim Focus migrou para projeções de quedas maiores que 6%, enquanto o bloco da Esplanada dos Ministérios sustenta que a queda seria de 4,7%. A área econômica levou a melhor e o PIB fechou 2020 com recuo de 4,1%. No Ministério da Economia, o cenário é baseado em três fatores. O principal deles é a expectativa de que, como a pandemia está ficando para trás no Brasil, há tendência de retomada da economia informal, sobretudo no setor de serviços, que representa 63% do PIB. (...). Outro fator que o governo aposta é o aumento nos investimentos, por fatores como concessões de saneamento, leilão de 5G, entre outros. (...). O terceiro fator é o bom desempenho da balança comercial, reflexo de um cenário externo ainda positivo.
Veja o que o jornal Valor Econômico publicou em 26 de dezembro de 2021 sob o título “Cenário fiscal leva a corte nas projeções do PIB”:
Após uma semana em que a percepção de ruptura do regime fiscal se propagou, uma nova onda de revisões para o Produto Interno Bruto (PIB) joga as estimativas de 2022 para a estagnação, com crescimento próximo de zero. Algumas das novas projeções apontam até retração no ano ou embutem uma recessão técnica, caracterizada quando há dois trimestres consecutivos com queda de PIB. O panorama de alguns economistas para o ano que vem inclui um possível quadro de estagflação, um cenário que combina recessão e inflação.
Veja agora os trechos da matéria de 3 de dezembro de 2021 da Folha de S. Paulo, sob o título “Economia deve ficar entre estagnação e recessão em 2022”:
Após a queda de 0,1% do PIB no terceiro trimestre de 2021, a expectativa da maior parte dos analistas é de uma economia ainda estagnada de outubro a dezembro deste ano. Para 2022, há dúvidas entre um cenário de crescimento muito fraco ou até de recessão. Entre os fatores mais importantes para 2022 estão a intensidade do aumento de juros, a continuidade da reabertura das atividades econômicas e o ambiente eleitoral, que costuma gerar incertezas. (...). O economista do Itaú Luka Barbosa diz que a instituição mantém a projeção de alta de 0,1% nos quatro trimestres deste ano e de queda do PIB de 0,5% em 2022. Para ele, um aumento menor da taxa básica de juros, uma recuperação mais forte dos serviços e um cenário global mais favorável são os principais fatores que poderiam levar a um resultado melhor para o Brasil: “A economia está crescendo muito pouco na margem, próxima a zero. A nossa visão, olhando mais para o futuro, é de uma leve recessão”.
Para completar, também de 3 de dezembro de 2021, alguns trechos do editorial do jornal Valor Econômico, sob o título “Estagnação da economia não será revertida a curto prazo”:
Os vários obstáculos simultâneos que a economia brasileira enfrenta atuaram para produzir um novo resultado negativo do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre, de -0,1%, após uma queda, revista e maior, no segundo trimestre (-0,4%). A economia está estagnada, mesmo que ela deva crescer um pouco acima de 4% neste ano e superar o estrago provocado pela pandemia em 2020. As condições para o crescimento de 2022 não são favoráveis e os números do IBGE divulgados ontem levaram mais bancos e consultorias a prever um resultado negativo no ano que vem. (...). Crise hídrica e oferta contida por desarranjos nas cadeias globais de produção alimentaram a inflação (10,6% em doze meses terminados em novembro), cujo principal impulso disseminador veio da desvalorização do real, à qual se somou elevação dos preços das comodities (em geral, câmbio e commodities caminham em direção opostas). Nesse caso, a falta de rumos do governo Bolsonaro, suas tentativas de driblar restrições fiscais, o abandono das reformas e outras coisas mais foram determinantes para impedir a queda do dólar.
Agora vou reproduzir os primeiros trechos da matéria de hoje do Valor Econômico sob o título despudoradamente minimizatório: “PIB perde força no 4º trimestre e fecha 2022 em alta de 2,9%. Leiam o que se segue:
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no quarto trimestre do ano passado confirmou o processo de desaceleração pelo qual a economia do país passou na segunda metade de 2022 e que deve adentar 2023. Sem o mesmo impulso de serviços e do consumo das famílias observado no ano passado, mas voltando a contar com a força da agropecuária, a economia deve caminhar para um crescimento ao redor de 1% neste ano, após subir 2,9% em 2022. O PIB recuou 0,2% no quarto trimestre de 2022, ante o terceiro, feito o ajuste sazonal, informou o IBGE. O número interrompe cinco trimestres de alta ante os imediatamente anteriores e representa perda de força diante do avanço de 0,3% do terceiro trimestre de 2022 (dado revisado, de 0,4%) e, principalmente das altas ao redor de 1% da primeira metade do ano.
Agora, reproduzo um dos textos do livro “Meias Verdades – como vender ilusão” – que escrevi no começo deste século, então que estava no comando de redação da revista de papel LivreMercado, que criei em 1990 e que circulou durante duas décadas no Grande ABC, sendo incorporada por CapitalSocial, revista digital que criei em 2001. Leiam:
Crescimento do PIB
é festival de equívocos
DANIEL LIMA - 01/04/2003
Em 26 de novembro de 2000, a Folha de S. Paulo publicou a seguinte manchete de Economia: “País não deve crescer mais do que 4% no ano que vem”.
Em 13 de fevereiro do ano seguinte, 2001, o jornal Valor Econômico publicou também em manchete: “Economia mantém crescimento e PIB tem alta de 4,5%, prevê Ipea”.
Em 28 de março de 2001, a Folha de S. Paulo saiu-se com a seguinte manchete: “Economia crescerá pelo menos 4,2% no ano, afirma Malan”.
Alguns trechos da matéria de 26 de novembro:
O Brasil termina este século e começa o outro com tempo bom na economia. Mas há indícios de que o País poderá enfrentar novas chuvas e trovoadas devido a pressões internas, além das externas. Há previsões bem menos otimistas em relação à expansão do País. Economistas que estimavam crescimento de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano já falam em 3,6%. Quem esperava 4,5% para o ano que vem já cogita 4%. O juro real pago pelas empresas subiu nos últimos meses e a massa salarial do trabalhador, apesar de estar em recuperação, ainda é a mesma de um ano atrás.
A previsão não é a de uma tempestade devastadora, como o País enfrentou nos últimos três anos, como consequência das crises asiática e russa e da desvalorização do real. Mas de um tempo instável, que pode brecar a expansão de alguns setores e ter impacto negativo na economia.
Alguns trechos da matéria de 13 de fevereiro:
A economia brasileira deverá continuar seu ciclo de crescimento este ano, com um Produto Interno Bruto (PIB) apresentando uma expansão de 4,6% , projeta o Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea) em seu Boletim de Conjuntura de janeiro. O setor agropecuário deve liderar com expansão de 7,6%, a indústria deve aumentar 5,6% e o setor de serviços 3,1%.
O aumento da atividade econômica estará ancorado nos investimentos que poderão crescer 5,5% este ano, ante 2,2% no ano passado, enquanto o consumo continuará com taxa positiva de 4%, ante 5,5% em 2000.
Para Paulo Levy, economista do Ipea responsável pelo Grupo de Análise Conjuntural, os riscos que corre a economia brasileira este ano vêm do Norte, como a desaceleração nos Estados Unidos, que poderá afetar as exportações brasileiras e retrair o crédito para o Brasil.
Trechos da matéria de 28 de março:
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, afirmou ontem que a economia brasileira crescerá pelo menos 4,2% neste ano. “Nós crescemos 4,2% no ano passado. Este ano será pelo menos igual a isso”, afirmou o ministro aos jornalistas brasileiros, após proferir uma palestra em Londres.
Anteriormente o ministro Malan fizera projeção de alta de 4,5% para o desempenho da economia neste ano. Esse percentual já havia sido estimado pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga. “Não é o meu estilo tentar adivinhar qual é o número que vem na casa depois da vírgula, isso é irrelevante. Há sinais claros de crescimento na economia brasileira, no agronegócio, na indústria, no serviço e no emprego”, ponderou o ministro da Fazenda.
Durante sua palestra no seminário “Integração da América do Sul”, no London Hilton Hotel, Malan disse que a economia do País cresce com bases sólidas e que há espaço para investimentos estrangeiros.
REALIDADE DOS FATOS
Aproxima-se da cartomancia o exercício anual de projetar o comportamento do PIB. Os interesses na propagação de mensagens geralmente positivistas estão conectados a objetivos estratégicos invariavelmente omitidos. Em encontros internacionais, como foi o caso protagonizado por Pedro Malan, era e sempre será importante vender um Brasil cor-de-rosa. Em encontros domésticos, pesa o politicamente correto.
O desempenho da economia brasileira em 2001 foi muito aquém das pregações de executivos do governo e mesmo do mercado financeiro e consultorias de investimentos, também ávidos por vender ilusões. Juros altos, crise de energia, recessão mundial e o chamado efeito Argentina já prenunciavam para o crescimento de apenas 1,51% do PIB, ou 0,20% do PIB per capita, em 2001.
Não fosse o campeonato nacional de palpitologia sobre o PIB uma prática quase tão antiga quanto o capitalismo, não haveria tanta complacência no tratamento do assunto. Dá-se ao tema uma tão generosa quanto problemática conotação de marketing econômico, utilizando-se ferramental geralmente incompleto. Afinal, como se pode conceber que especialistas em rastrear o comportamento da economia nacional não dimensionem — e com isso se acautelem — os movimentos que vão muito além de aspectos exclusivamente macroeconômicos?
Sim, porque a crise anunciada da Argentina, a recessão norte-americana, a perigosíssima política de improvisos e equívocos no setor energético, uma dívida pública em aspiral que exige juros cada vez mais elevados e a vulnerabilidade do País no mundo globalizado — porque se tornou refém do sistema financeiro internacional — não são ponderáveis acidentais como a derrubada das torres gêmeas que, também, influenciaram os números do PIB.
A complexidade da planilha que mapeia os pontos sobre os quais se contabilizarão as variáveis do Produto Interno Bruto e os aspectos intangíveis que ultrapassam os limites da simples adivinhação para se instalar numa área mais nobre do detalhamento analítico tornam-se fatais para afetar o prestígio de gente qualificada.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?