O primeiro mês do governo Lula da Silva no mercado de trabalho com carteira assinada do Grande ABC apresenta queda brutal diante da média mensal dos quatro anos do governo Jair Bolsonaro.
O abismo é vertiginoso, mas não pode ser tratado como regra nem exceção, tampouco como tendência. O futuro é que decidirá tudo isso, mas o presente precisa ser mostrado. Os fundamentalistas que se recolham.
A contratação líquida de 46 profissionais nas mais diferentes atividades quando se comparam os dois presidentes é quase nada diante dos 774,64 carteiras assinadas líquidas que engrossaram a lista de ativos no mercado de trabalho na média mensal das quatro temporadas de Jair Bolsonaro no poder.
Trata-se de velocidade 17 vezes inferior. Uma corrida de lebre contra tartaruga.
Se a conta levar em conta o saldo líquido do primeiro mês deste terceiro mandato do governo Lula da Silva e o saldo líquido médio dos quatro anos de Jair Bolsonaro, a diferença entre os dois governos seria menor, mas também bastante expressiva. Os 192 empregos de saldo geral do petista em janeiro não passariam de 24,80% dos 774,64 de Jair Bolsonaro.
No ritmo da garoa fina e quase imperceptível do saldo de empregos formais (em todas as atividades) do primeiro mês do governo de Lula da Silva, em janeiro último, o Grande ABC precisaria (sem considerar comparação com o saldo médio mensal do antecessor) de 25 anos para recuperar-se da tempestade que impactou o estoque de trabalhadores ativos a partir de janeiro de 2015, quando se iniciou a recessão do governo Dilma Rousseff, o pior de todos os tempos no País.
BALANÇOS TRADICIONAIS
A contabilidade parte daquele janeiro de 2015 e chega a dezembro do ano passado, quando se encerrou o mandato do presidente Jair Bolsonaro.
Esse é o primeiro balanço do mercado de trabalho da volta do PT ao governo federal e não há por que mudar o sistema adotado por CapitalSocial, que vem desde os tempos da predecessora revista de papel LivreMercado: vamos acompanhar atentamente os dados. Isso é jornalismo.
Nos dois mandatos anteriores do presidente Lula da Silva, o Grande ABC não só recuperou os empregos perdidos durante os oito anos tenebrosos de Fernando Henrique Cardoso como também registrou saldo positivo.
Mas os anos Dilma Rousseff, especialmente 2015-2016, também como consequência da gastança desenfreada de Lula da Silva, o Grande ABC sofreu uma catástrofe. Do estoque de 831.370 empregos registrados em dezembro de 2014 caiu para 732.238 em dezembro de 2016, ano em que Dilma Rousseff foi apeada do poder. Foram 99.132 carteiras profissionais destruídas em 24 meses de recessão. Média mensal de 4.130 trabalhadores.
SALDO BAIXO
O saldo positivo dos raquíticos 192 empregos formais registrados em janeiro deste ano em relação ao saldo médio geral dos 48 meses de Jair Bolsonaro é, portanto, praticamente nada e precisa melhorar muito para que tenha algum paralelismo mais produtivo com o antecessor.
Como o Grande ABC ainda acumula perda líquida de empregos com carteira assinada de 57.813 trabalhadores no período que começa em janeiro de 2015 e se estende até dezembro último, isso significa déficit mensal médio de 602,22 empregos formais.
É SÓ ANUALIZAR
O saldo líquido de 192 vagas em janeiro deste ano, ou seja, sem comparativo com janeiro do ano passado do último ano do governo de Jair Bolsonaro, significa que, anualizado, se chegaria a 2.304 vagas preenchidas no mercado de trabalho da região. Muito abaixo da média anual de 9.293 registrada pelo governo de Jair Bolsonaro ao longo de quatro anos. Uma diferença de 75,21%.
Repetindo: se a contabilidade para zerar o déficit construído por Dilma Rousseff mantiver o ritmo anualizado do saldo líquido de janeiro último, de 192 postos de trabalho, basta dividir o estoque deficitário de 57.813 postos de trabalho em dezembro do ano passado em relação a dezembro de 2014 pelo salto positivo de 2.304 vagas líquidas projetadas para esta temporada.
É claro que a expectativa deve ser diferente. O Brasil e o Grande ABC (principalmente o Brasil, porque o Grande ABC é muito mais complexo) não deverão repetir ao longo dos próximos anos as dificuldades macroeconômicas e políticas dos últimos meses, que desabaram num janeiro de maus resultados no campo do trabalho. E muito menos, claro, os anos tenebrosos de Dilma Rousseff.
AINDA FALTA MUITO
Não se pode esquecer, portanto, que, mesmo com a recuperação de 37.183 carteiras assinadas nos quatro anos de Jair Bolsonaro (apesar da pandemia do Coronavírus e da guerra na Ucrânia), ainda faltam 57.813 postos de trabalho formais na região em relação a dezembro de 2014.
A situação será menos calamitosa se prevalecer nos próximos tempos média de saldo de empregos formais igual ou semelhante à gerada por Jair Bolsonaro, que atingiu 774,64 postos de trabalho a cada 30 dias. Aí, o tempo de superação dos estragos de Dilma Rousseff cairia brutalmente para apenas seis anos.
Apesar de tudo isso, o noticiário de hoje por conta de informações do Observatório Grande ABC é acintosamente agressivo ao bom senso e aos danos sociais e econômicos de um passado recente e também remoto no campo de trabalho.
VENDENDO ILUSÃO
O Diário do Grande ABC publicou manchete de destaque na primeira página de hoje com o seguinte enunciado: “Geração de emprego tem crescimento de 31,5% no Grande ABC no mês de janeiro”. A chamada completa de primeira página diz o seguinte:
Dados do Caged (Castro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que em janeiro o Grande ABC gerou 192 vagas. O número é 31,5% superior ao mesmo mês de 2022, quando foram criados 146 postos. A contratação maior de jovens com menor qualificação foi aponta como o principal motivo para esse crescimento. No Brasil, o resultado foi inverso, com queda de 50,2%. No primeiro mês deste ano foram 83.297 vagas com carteira assinada. Em 2022, 167.269. O ministro do trabalho, Luiz Marinho, afirmou que três fatores contribuíram para o resultado: os juros altos, o endividamento das famílias e a queda no consumo” – escreveu o Diário do Grande ABC.
Na página interna, sob o título “Grande ABC inicia 2023 com mais geração de empregos”, e a linha auxiliar “Número de vagas formais criadas foi 31,5% maior em janeiro em relação a igual mês de 202, segundo Observatório Grande ABC”, o Diário do Grande ABC publicou a seguinte matérias (alguns trechos selecionados):
O Grande ABC gerou um volume 31,5% maior de empregos com carteira assinada no primeiro mês de 2023, se comparado a janeiro de 2022. No período, foram 192 vagas formais nos mais diversos setores da região, contra 146 em igual período do ano passado. A contratação maior de jovens com menor qualificação foi apontada como o principal motivo para esse crescimento. (...) “Um dado relevante para o Grande ABC é que a maioria das contratações se deu no setor de serviços entre pessoas com idades até 24 anos, além de pessoas com Ensino Médio completo. Por ser uma população jovem, o valor agregado às contratações é baixo. Então isso pode ter sido o diferencial para os dados da região terem sido positivos” – disse Ricardo Balistiero, doutor e professor de Economia do curso de Administração do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) – escreveu o Diário do Grande ABC.
Voltaremos ao assunto nas próximas edições. O mercado de trabalho de uma região tão duramente impactada economicamente nas três últimas décadas é um termômetro mais relevante que em outros endereços.
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12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros