Tanto faz uma coisa quanto outra. Um voo panorâmico sobre a Década Desastrosa do Grande ABC pode chocar menos ou pode chocar mais ante um voo rasante?
É por cultivar essa dúvida que decidi, na abertura deste segundo capítulo sobre o comportamento da economia do Grande ABC (no período que começa em janeiro de 2011 e termina em dezembro de 2020) tomar a decisão de associar uma coisa à outra.
Querem ver o tamanho do choque de um alvo específico de um voo panorâmico? O Grande ABC da Década Desastrosa perdeu em valores de dezembro de 2020 o equivalente à soma do PIB Geral de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Somados, esses medidores de riqueza chegam a R$ 36.373.561 bilhões.
E AINDA SOBRAM
Se você acha que tantos bilhões são muita perda para 10 anos, então se prepare: nessa conta ainda não se conta um excedente de R$ 2.508.912 bilhões, porque o total de vazamento em forma de empobrecimento de criação de riqueza do Grande ABC no período alcança a cifra de R$ 38.882.473 bilhões.
Traduzindo tudo isso em formato geoeconômico: o mapa de produção de riqueza, base do crescimento econômico, revela um Grande ABC remanescente com apenas três municípios quando se fazem as contas entre o que era em 2010, ano-base da Década Desastrosa, e 2020, fim de linha da Década Desastrosa.
Dessa forma, só sobraram na geoeconomia do Grande ABC os municípios de São Bernardo, Santo André e São Caetano. E mesmo assim com déficit de R$ 2,5 bilhões a serem compensados nos próximos anos para que a conta não aumente.
AUTOMOTIVAS EM COMUM
Ainda prosseguimos num voo panorâmico. As entranhas de cada Município do Grande ABC serão devassadas nos próximos capítulos desta minissérie, mas não custa fazer uma revelação de caráter individualizado: São Bernardo, a Capital Econômica do Grande ABC, foi disparadamente quem mais perdeu em termos absolutos (de valores monetários de geração de riqueza) e, juntamente com São Caetano, em valores relativos. Diadema ficou um pouco atrás, mas também exibe dados horrorosas.
O que há em comum entre os três endereços que mais perderam PIB Geral na Década Desastrosa é a indústria automotiva. Quanto maior a incidência no tecido econômico da atividade-chave do Grande ABC, mais se acentuarão dados negativos.
Pode parecer ironia do destino, mas justamente na Década Desastrosa, o PT Federal estragou a festa dos metalúrgicos do Grande ABC que vivem em larga escala nos interiores da indústria automotiva.
MAIS QUE FHC
Os petistas federais fizeram no Grande ABC na Década Desastrosa muito mais estragos que o tucano Fernando Henrique Cardoso fez no período de oito anos, entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002. As pequenas empresas industriais foram demolidas.
Esses dados também integrarão esta minissérie. Afinal, não é possível traçar uma linha histórica da Década Desastrosa sem contemplar o período anterior.
Diferentemente de presidentes que avocam para si lucros e relegam a terceiros prejuízos, essa minissérie não comportará protecionismo. Priorizará revelações imprescindíveis à compreensão da derrocada do Grande ABC.
Uma combinação de fatores temporais temperados de aspectos econômicos está no enraizamento da Década Desastrosa. Essa constatação também integra o vetor panorâmico desse voo que poderia até ser chamado de macabro, porque é disso que se trata, ou seja, de um Grande ABC profundamente atingido na estrutura econômica e social. Como se os anos 1990 já não fossem suficientes.
TRÊS REALIDADES
Uma tomada do voo panorâmico que levasse à comparação entre o que o Grande ABC era economicamente em dezembro de 2010 e mais tarde, em dezembro de 2020, revelaria escombros e mais escombros.
Para que chegasse ao rebaixamento médio anual (vejam os números, vejam os números) de 2,35% ao ano (isso mesmo, o PIB Geral do Grande ABC acumulou perda de 23,55% no período, o que equivale a 2,35% ano) três fatores foram decisivos na tábua classificatória desse rebaixamento cruel.
Primeiro, o tiro de largada (2010) se deu com o último e vitorioso ano do segundo mandato de Lula da Silva (à custa de muita gastança de dinheiros públicos). Segundo, o tiro de misericórdia se deu durante dois dos seis anos da presidente Dilma Rousseff (2015-2016), quando o Brasil viveu a maior recessão da história, com quebra do PIB de 8% no breve e tenebroso período). Terceiro, a reta de chegada de 2020, quando a pandemia do Coronavírus provocou uma paralisia e o PIB do País ainda cambaleante dos anos-Dilma foi rebaixado em 3,3%, enquanto o PIB Geral do Grande ABC caiu 5,92%.
MARATONISMO DESAFIADOR
Imagine os três períodos distintos como prova de resistência. O maratonista chamado Grande ABC estava em plena velocidade no tiro de largada em 2010, recuperando-se de estragos anteriores. Em seguida, passou por terríveis dores musculares e sinais de fadiga cardiológica na metade do percurso com as travessuras de Dilma Rousseff . E na reta de chegada, em 2020, quando parecia se recuperar parcialmente dos efeitos nocivos do desconforto muscular e o coração melhorava de ritmo, deu de cara com obstáculos de mobilidade urbana e de terrorismo sanitário.
A pergunta que se faz provavelmente diante da exposição desses fatos centrais que determinaram a Década Desastrosa do Grande ABC é até que ponto, não fosse essa oscilação reincidente, teria sido o desenho final do período?
Será que o Grande ABC teria escapado da degola de uma queda tão pronunciada do PIB Geral (repito: 2,35% de vermelhidão em média anual) se depois de Lula da Silva ter deixado a presidência o desenho lógico da macroeconomia fosse outro e não houvesse uma pandemia pela frente?
CRÔNICA ANUNCIADA
Por pior que seja a notícia, e para não chocar os leitores quanto a ainda não expor as vísceras de um voo rasante que tratará dos municípios do Grande ABC de forma mais detalhada, o fracasso de Dilma Rousseff se cristalizou com uma crônica anunciada. E foi anunciada pelos desperdícios dos quatro anos complementares de Lula da Silva. Gastou-se muito além do bom-senso e das possibilidades matemáticas responsáveis.
Talvez a Década Desastrosa não fosse tão decepcionante se não houvesse um Coronavírus no fechamento do período, ou seja, em 2020, mas os dados não seriam muito diferentes.
Afinal, no caso do Grande ABC, do total de perda da Década Desastrosa, de 23,55% no acumulado dos anos, quase tudo, ou 20,00%, se deu no período de dois anos (2015-2016) de Dilma Rousseff, tendo-se como base o ano de 2014.
SOMENTE TRÊS
A redução do mapa econômico do Grande ABC a apenas três compartimentos municipais, casos de Santo André, São Bernardo e São Caetano, é variável de interpretação com peso enorme junto a porções de uma sociedade desorganizada que estaria preocupada com o futuro além da Década Desastrosa.
As consequências práticas da Década Desastrosa em formato geográfico deveriam ser exaustivamente propagadas caso o Grande ABC não fosse uma casa de acomodados que têm o controle de instituições de mandachuvas e mandachuvinhas inapetentes a um reformismo estrutural mais que inadiável.
Quer algo mais impactante do que exibir nas escolas, nas universidades, nas fábricas, nas instâncias públicas, nos clubes de serviço, nas academias de ginástica, nos bordeis a céu aberto, nos bordeis mais recatados, nas esquinas, nos botecos, nas praças e em todos os endereços possíveis, dois mapas do Grande ABC, o primeiro com os sete municípios intactos, embora só ficcionalmente integrados, e o segundo com apenas três, Santo André, São Bernardo e São Caetano? O primeiro com a legenda do que éramos economicamente antes da Década Desastrosa. O segundo depois da Década Desastrosa.
MAIS QUE DEMAIS
No próximo capítulo vamos mostrar que o comportamento econômico do Grande ABC não se reproduziu em outros endereços com tamanha intensidade negativa. O Grande ABC é um caso particularmente grave e se torna ainda muito mais complexo e emissor de sinais de alerta além-fronteira da região quando se verifica o autismo institucional e programático de autoridades públicas, principalmente de autoridades públicas, e a festança varejista do noticiário quase unânime da mídia regional.
Sem contar, claro, o alheamento de uma sociedade desorganizada e cada vez menos municipalista ou regionalista. Um caos completo e ao que parece, irrefreável.
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12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros