Feirão de Emprego com complementos marquetológico no enunciado explicitamente político e promocional é um péssimo negócio para o Grande ABC. Seja qual for o lugar que sirva de palco. Feirão de Emprego é ainda pior em determinados lugares de passado de desemprego acachapante.
Feirão de Emprego é uma combinação de impropriedades técnicas, administrativas e sociais. É aviltante à dignidade humana.
O que poderia e deveria ser realizado em ambiente fechado, discreto, metodologicamente profissional, vira espetáculo circense.
Ou alguém acha ou tem certeza de que colocar pessoas geralmente em dificuldades num mesmo ambiente sob holofotes midiáticos é o melhor que se pode dedicar a terceiros?
Vou explicar em detalhes o fato de ser absolutamente contrário a Feirão de Emprego no formato empacotado para o público em geral tanto em jornais quanto nas mídias sociais. Listo alguns pontos sobre os quais faço rápida explanação:
DESGASTE DE IMAGEM.
DEPRECIAÇÃO DOS ATIVOS.
MARKETING AUTOFÁGICO.
INUTILIDADE TÉCNICA.
Escalados esses titulares temáticos, tenho obrigação, agora, de explorar cada um dos pontos mencionados. É o que vamos fazer.
DESGASTE DE IMAGEM
O Administração Municipal que traduz as campanhas de Feirão de Emprego como importante ativo de mobilização em torno de Desenvolvimento Econômico para amenizar as dores dos partos de desemprego regional esquece que existe algo chamado imagem institucional que não resiste em forma de desvalorização diante do estardalhaço que fazem e da repercussão junto à sociedade. Nem a ideia de que a movimentação reúne caráter de democratização de vagas de trabalho, que não tem nada a ver com o conceito de empregabilidade como disse outro dia o prefeito Paulinho Serra, se sustenta. Cada minitemporada de anúncio de encontros físicos em ginásios esportivos para procedimentos de praxe é um tormento humano que detona o discurso generalizado de sucesso dos gestores públicos. Anunciar e mobilizar esforços para juntar desempregados presencialmente em lugares públicos para tratar de emprego de baixa qualificação (é disso que se trata majoritariamente) não tem preço como operação camicase político-administrativa. Um Município que se expõe ante milhares de demandantes por emprego deveria chamar os marqueteiros do projeto e orientá-los a mudarem o foco. Num mundo cada vez mais incidente em digitalização social, uma operação que poderia ser reservada e mesmo incentivada intramuros de bites, reveste-se de confissão tácita de impotência ante a dicotomia de vagas em aberto e desemprego acumulado. Os municípios do Grande ABC poderiam adotar a estratégia da espetacularização se houvesse o reverso da situação atual, ou seja, de fluxo muito maior de vagas do que de demandantes. Como se verificou nos velhos tempos de industrialização, nos anos setenta e oitenta. Depois da hecatombe desindustrializadora e de um mundo de ponta cabeça no campo do trabalho, é um disparate.
DEPRECIAÇÃO DOS ATIVOS
Fico a imaginar o tamanho da pressão sobre trabalhadores em atividade, formalizados ou não, que, portanto, têm ocupação no Grande ABC, diante do fanfarra contratada para anunciar cada Feirão de Emprego. O escancaramento continuado de que há uma massa numerosíssima de candidatos a empregos que rareiam instaura insegurança contínua no mercado de trabalho. Joga-se a temperatura efervescente de desemprego regional, que é altíssima, sobre os ombros dos empregados. Se não necessariamente como uma corda no pescoço, mas como ameaça subliminar de que o mercado de trabalho segue em decomposição ou longe do crescimento da População Economicamente Ativa.
MARKETING AUTOFÁGICO
Não adianta prefeito algum do Grande ABC sair por aí desfilando otimismo e obras varejistas que servem para transmitir ideia de positivismo à sociedade quando na outra ponta, na ponta da realidade que pesa no prato de comida, no bolso escasso, nas iniquidades sociais, assume em tom de festa a realidade de que há um buraco no mercado de trabalho. O ufanismo típico de Feirão de Emprego é tão insano que chegamos ao ponto de naturalizar uma anomalia no ecossistema institucional do Grande ABC. Cada página de jornal que estampa fotos, informações e títulos sobre Feirão do Emprego e que coloca autoridades públicas a proclamarem-se felizes com tanta demanda representa a síntese de uma ópera-bufa. Não é o caso de construir uma analogia que coloque um serial-killer a reunir a imprensa para contar as façanhas de cada assassinato, sem poupar detalhes escabrosos. Mas a operação pode sim ser catalogada como algo analogamente homenageador de estultices, porque se desconsideram integramente os aspectos sociais e econômicos por trás de cada vaga de emprego.
INUTILIDADE TÉCNICA
Duvido que as prefeituras da região deixem de contar com aparelhamento técnico suficiente, inclusive com suporte do Sebrae, para desenvolver o projeto enquadrado no conceito de Feirão de Emprego sem que o subjacente conteúdo depreciativo de Feirão seja jogado no lixo. Ter a um clique do computador o resultado de um planejamento técnico que defina a operação de um sistema de registros dos concorrentes, das especialidades de que desfrutam, entre várias especificidades, é uma ação facilitadíssima pelo mundo digital. A base de tudo isso, além dos próprios registros individuais, poderiam ser (caso necessário de identificação ainda mais detalhada dos demandantes) entrevistas pessoais para determinadas funções provavelmente com viés mais apropriado às características do mercado de trabalho.
CHEGA DE FEIRÃO
Entendo que o Grande ABC que tem dificuldade imensa de enquadrar projetos na área econômica porque está desaparelhado na base diante da ausência de conhecimento sobre a própria realidade em que vive (ou alguém na praça tinha conhecimento que os dois anos de recessão de Dilma Rousseff representaram queda de 23% do PIB Regional?) precisa cair na real urgentemente. E entre as providências deve deixar de lado o vexame que se repete em vários municípios a cada nova temporada de Feirão de Emprego.
Essa é uma cicatriz que jamais poderá ser esquecida pelas autoridades públicas entre outros motivos porque é profunda e marcantemente desoladora. Entretanto, exibi-la constantemente a uma sociedade traumatizada como se estivéssemos num circo de quinta categoria, apresentando ao público uma aberração como forma de espetáculo, tal qual a uma mula-sem-cabeça, um quasímodo gigantesco, um homem-elefante, é caso para psiquiatras.
Ou seja: o Grande ABC que se apresenta num circo de horrores públicos de caça a tesouros individuais de emprego de forma tão espetacularmente autodepreciativa, quando, repito, há mecanismos que produziriam resultados muito mais efetivos, precisa ser sim chamado às falas.
ANESTESIAMENTO
Os prefeitos que se utilizam desse mecanismo de cunho promocional podem e devem estar agindo com honestidade, mesmo que com exageros e seletividade avaliativa. Entretanto, não podem seguir adiante.
Há anestesiamento crítico generalizado no Grande ABC. a onda midiática cada vez mais densa nas redes sociais estimula incursões por caminhos tortuosos e contraproducentes.
Vivemos tempos de desumanidades que ultrapassam todos os limites. Expor desempregados em busca de uma vaga de trabalho, sabendo-se como se sabe que a operação é desvantajosa ante o estoque de desocupados e a escassez de ofertas, é desconsiderar sentimentos individuais.
O constrangimento de um ambiente físico sob efeitos barulhentos da mídia poderia e deveria ser evitado com o uso da tecnologia digital e da virtualidade dos contatos.
Rede de Empregos é uma marca muito mais apropriada e respeitosa. Pensem nisso, senhores prefeitos. E tirem os desempregados dessa loteria de filas públicas presenciais. Feirão de Emprego é uma agressão à sociedade que ainda tem sentimentos.
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12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros