A decadência econômica do ABC Paulista começou antes do século começar e continua em ritmo preocupante. Um dos estragos já consumados e que provavelmente vai se elevar nos próximos anos é o aumento do contingente de Classe Média Precária.
A participação relativa de moradores da região que integram a Classe Média Precária cresceu 25% neste século em relação ao estoque de 2000. Quando se considera apenas a mudança nas duas últimas décadas, são mais de 70% de participação.
Quando se observam os dados históricos, no acumulado de muitas décadas, metade das residências da região é desse compartimento socioeconômico.
Quando uma sociedade é lançada a um extrato social tão vulnerável como a Classe Média Precária, é possível especular que ingressou em estado de alerta com variantes tenebrosas.
DEPAUPERAÇÃO SOCIAL
Chamada festivamente de Nova Classe Média ou Classe C por supostos especialistas doutrinados ideologicamente , Classe Média Precária é expressão-marca que estou registrando hoje para não deixar pedra de dúvida sobre pedra de dúvida.
Demorei um século para encaixar uma marca social a essa turma prevalecente no mercado de consumo brasileiro. Faltava um nocaute técnico tanto na chamada Nova Classe Média quanto na Classe C, definições que encontram respaldo apenas entre quem gosta de se iludir.
Classe Média Precária pode ser melhor que a turma que está mais embaixo, a Classe de Pobres e Miseráveis, mas não é nada satisfatória ante a Classe Média Tradicional e a Classe Rica.
MARCA ESCLARECEDORA
Por isso, é a marca esclarecedora do desastre econômico da região, principalmente neste século. E que de alguma forma, menos intensa, se reproduz no Brasil como um todo.
Não seria sensato imaginar que o ABC Paulista (outrora Grande ABC) escaparia dos estragos da desindustrialização e de tantas variáveis que impactaram duramente quase três milhões de habitantes de sete municípios. Os danos diretos e colaterais estão aí.
A Classe Média Precária é a maior faixa de moradores do ABC Paulista e do País. O crescimento é preocupante nesse universo que vive com dificuldades o dia a dia de um País que insiste em não avançar e de uma região que teimosamente segue a perder fôlego econômico.
Não custa repetir: entre o ano 2000 e esta temporada de 2023, sempre com base em estudos da Consultoria IPC, o maior banco de dados socioeconômicos que avalia o PIB de Consumo do País, a Classe Média Precária cresceu 25% neste século.
O avanço foi determinado principalmente por dois fatores conjugados: a perda de fôlego de famílias de Classe Rica e de Classe Média Tradicional e a queda proporcional da Classe de Pobres e Miseráveis. Os programas sociais, especialmente o Bolsa Família, reduziram o universo de Pobres e Miseráveis no País e também no Grande ABC. Com isso, muitos ascenderam à Classe Média Precária. Nada mais substantivo à fragilidade.
CLASSES DISTINTAS
A Classe Média Tradicional não depende tanto do Estado, tem perspectiva de ascensão social, consome mais produtos duráveis e está menos sujeita à instabilidade econômica que a exclua do quadrado que ocupa. A Classe Média Precária é o contrário de tudo isso. Está mais suscetível a ocupar o espaço da Classe de Pobres e Miseráveis do que chegar ao andar de cima.
Só para se ter uma ideia mais precisa sobre o que separa a Classe Média Tradicional da Classe Média Precária, uma comparação elucidativa: neste ano no ABC Paulista está previsto que a primeira, mesmo sendo quantitativamente apenas 55 % do total de residências da segunda, tem disponibilidade de gastos de 45,10% das famílias em geral. A Classe Média Precária, mais numerosa, portanto, terá 31,50% do total regional. A Classe Rica ficará com 17,6% de consumo potencial enquanto a Classe de Pobres e Miseráveis contará com apenas 5,8%.
DETERIORAÇÃO NO SÉCULO
A Classe Média Precária do ABC Paulista contava com participação relativa de 38,23% em 2000, quando a região registrava 619.205 moradias. Mais de 20 anos depois, a participação relativa cresceu para 50,20% de um total regional de 973.298 moradias. Em números absolutos, eram 236.759 moradias no começo do século e agora são 488.706.
Esses números significam que do total restrito de novas residências no Grande ABC neste século (354.093) em todas as categorias socioeconômicas, 251.947 se enquadram no grupo da Classe Média Precária. Uma participação cronologicamente restrita de 71,15% no período.
Esse resultado elevou a média histórica a 50,02% do total de moradias. Nesse ritmo, com a destruição persistente da Classe Rica e da Classe Média Tradicional, o ABC Paulista poderá chegar a números ainda mais próximos da média brasileira.
Esses números gerais são mais favoráveis ao ABC Paulista, mas a média nacional teve desempenho mais positivo neste século.
PAÍS MELHOR
No caso de moradias de Classe Rica, houve queda relativamente maior no País, com redução de 43,36%, já que eram 4,59% em 2000 e passou para 2,60% em 2023.
Na Classe Média Tradicional, o Brasil se comportou melhor que o ABC Paulista na média, com avanço de participação relativa de 17,78% para 21,80%.
Na Classe Média Precária, enquanto o avanço na região foi de 23,85%, na média nacional chegou a 34,90%: eram 31,12% das famílias e passou para 47,80%.
E na Classe de Pobres e Miseráveis, o avanço relativo da média nacional também foi superior ao do ABC Paulista: 40,23%: eram 46,51% e caiu para 27,80% das famílias.
Para chegar aonde chegou neste 2023, a Classe Média Precária do ABC Paulista contou não somente com DNA próprio, de novas famílias desse perfil, como também ganhou reforços das outras três categorias.
A Classe Rica perdeu participação relativa de 36,79%, já que contava em 2000 c0m 6,17% de moradores e caiu para 3,90% na ponta do estudo.
A Classe Média Tradicional também sofreu desfalque: era 31,37% em 2000 e caiu para 28,00% das famílias da região em 2023.
Já a Classe de Pobres e Miseráveis contava em 2000 com 24,22% das famílias e caiu para 17,90% neste ano.
TODOS OS NÚMEROS
Com todo esse remelexo, a Classe Média Precária acabou passando por regime de engorda. Veja as transformações socioeconômicas no ABC Paulista neste século:
Em 2000, a região contava com participação nacional no PIB de Consumo de 2,28420%, com o total nominal de R$ 13.794.801.600 bilhões. Contava com 619.205 famílias distribuídas da seguinte forma socioeconômica: 38.202 da Classe Rica (6,17% de participação relativa), 194.242 de Classe Média Tradicional (31,37% do total), 236.205 de Classe Média Precária, ou Classe C (38,23% do total residências) e 150.002 de Pobres e Miseráveis (24,22% do total). Em termos de participação no potencial de consumo, a Classe Rica representava 19,71% do total, a Classe Média Tradicional ficava com 47,53%, a Classe Média Precária com 25,44% e os Pobres e Miseráveis com 7,22%.
Em 2023, a região conta com participação nacional no PIB de Consumo de 1,72558%, com total nominal de R$ 116.081.973.974 bilhões. Conta com 973.298 residências distribuídas da seguinte forma socioeconômica: 38.355 de Classe Rica (3,90% de participação relativa), 272.306 de Classe Média Tradicional (28,0% de participação relativa), 488.706 de Classe Média Precária, ou Classe C, (50,20% de participação relativa) e 173.931 de Pobres e Miseráveis (17,90% de participação relativa). Em termos de participação relativa no potencial de consumo a Classe Rica conta com 17,6% do total, a Classe Média Tradicional com 45,10%¨, a Classe Média Precária com 31,50% e os Pobres e Miseráveis com 5,80%.
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