Economia

São Caetano vive Síndrome da
Dilma no mercado de trabalho

DANIEL LIMA - 27/07/2023

O ABC Paulista ainda não recuperou a média salarial debilitadíssima do fim do governo de Dilma Rousseff, em 2016, mas o caso de São Caetano é muito mais grave do que o das demais cidades da região, que também estão no vermelho. Sem trocadilho. 

O que se esperava que fosse o fundo do poço de perdas no mercado de trabalho da região após dois anos tenebrosos de Dilma Rousseff ainda não foi superado. Há o que se convencionou chamar metaforicamente de alçapão. No caso de São Caetano, mais que alçapão, há uma Síndrome da China. Ou melhor: Síndrome da Dilma.   

A média salarial dos trabalhadores industriais da cidade de melhor qualidade de vida da Região Metropolitana de São Paulo caiu 38,60% ao se completarem cinco anos pós-governo petista. Antes da Síndrome da Dilma São Caetano já preocupava. Depois, então, virou um terror. 

A métrica está vinculada de forma restrita à comparação entre a média salarial registrada em dezembro de 2016 (último ano de Dilma, que sofreu impeachment em maio) e dezembro de 2021 (dados mais atuais do Ministério do Trabalho).  

DEZEMBRO-DEZEMBRO 

Ou seja: começa no último ano da pior recessão econômica da história do ABC Paulista (o PIB da região caiu 20% no acumulado de 24 meses, entre 2015 e 2016) e termina no primeiro ano pós-estragos mais contundentes do Coronavírus,  terceiro ano do governo de Jair Bolsonaro.  

O desabamento de São Caetano só poderia ser explicado detalhadamente se aos dados do Ministério do Trabalho se juntassem informações setoriais das atividades produtivas que possivelmente apenas a Prefeitura contaria.  

Mas não é improvável que a derrocada tenha como matriz principal mudanças contundentes na principal empregadora do Município, a General Motors. Perdas de postos de trabalho de maior valor monetário provavelmente estão entre as explicações. Além da rotatividade de trabalhadores, com demissões e contratações que levem em conta, também, a redução de custos.  

PERDA COMPLETA  

A situação é tão grave em São Caetano que a massa salarial da atividade industrial em dezembro de 2016 correspondia, em valores nominais, sem considerar a inflação, a R$ 97.498.417 milhões. Já em dezembro de 2021, o valor registrado foi de R$ 74.739.398 milhões.  

A gravidade se consuma ainda mais quando se deflaciona o valor de 2016 pelo IPCA de 28,15%: chega-se a R$ 124.944.221 milhões em dezembro de 2021.  

Ou seja: restritamente entre os dois dezembros, depois de 60 meses gregorianos, São Caetano teve a massa salarial reduzida em termos reis em R$ 50.204.823 milhões. Somente num dezembro em relação ao outro.  

A conta é extraordinariamente muito maior se forem considerados os movimentos de perdas de média salarial a cada mês dos 60 meses.  

Em 2016 São Caetano contava com 20.106 trabalhadores industriais com carteira assinada. Já em dezembro de 2021 passou a contar com 19.584. Uma queda de apenas 522 carteiras assinadas.  

Como se vê, o relógio de contratações e demissões esconde armadilhas que os anúncios mensais do Ministério do Trabalho, presos exclusivamente em quantidade e proporcionalidade em relação ao estoque, não desvendam.  

SUPERANDO VIZINHOS   

O choque da média salarial em São Caetano é muito maior que o dos demais municípios da região.  São Caetano perdeu 21,30% quando se desconsidera a inflação do período, mas chega à queda de 38,60% quando se opera a atualização monetária com base no IPCA do período de 60 meses, que atingiu 28,15%. Os demais endereços da região perderam apenas para a inflação.  

O valor médio do salário industrial em São Caetano em dezembro de 2016 é numericamente inferior ao mesmo salário médio em dezembro de 2021. É o único caso regional.  

Os demais municípios apresentam números mais elevados em dezembro de 2021 frente a dezembro de 2016 quando não se considera a inflação do período. Quando o IPCA é acionado, as perdas dominam. 

ULTRAPASSAGEM  

A média salarial de Santo André avançou nominalmente (sem considerar a desvalorização da moeda) 11,24%, São Bernardo não passou de 7,51%, Diadema de 16,10%, Mauá de 13,66%, Ribeirão Pires de 13,91% e Rio Grande da Serra de 20,04%. 

Apenas para reforçar a situação vivida no ABC Paulista no período de cinco anos numa contagem ponta-a-ponta, ou seja, sem intermediações de cálculos: não há um único Município da região que tenha registrado média salarial que sequer empatasse com o IPCA, o índice de preços mais utilizado no País.  

A média salarial industrial de São Caetano em dezembro de 2021 era de R$ 3.816,35, mas, se seguisse a inflação, deveria chegar a R$ 6.214,27. Em dezembro de 2016, base de comparação, São Caetano contava com média salarial industrial de R$ 4.849,22. Em termos de região, estava abaixo apenas de São Bernardo, que registrou naquele dezembro R$ 5.552,25.  

MAIS ULTRAPASSAGEM  

A diferença entre a média salarial dos trabalhadores industriais de São Caetano e de São Bernardo em dezembro de 2016 era de apenas 12,68%. Já em dezembro de 2021, São Bernardo passou a contar com média salarial de R$ 6.003,36, abaixo da inflação do período, mas livre do desastre de São Caetano. A diferença favorável a São Bernardo passou para 36,30%.  

São Bernardo também sofreu as dores da queda de produção automotiva, setor de que depende semelhantemente a São Caetano, mas mesmo assim teve desempenho menos dramático. 

Santo André também deficitária nos 60 meses analisados superou a média salarial de São Caetano. Em 2016, Santo André contava com média salarial industrial de R$ 3.913,81, portanto 19,29% abaixo dos R$ 4.849,22 de São Caetano. Em dezembro de 2021, Santo André passou a contar com R$ 4.409,46 de média salarial -- 13,45% acima de São Caetano.  

Também a média salarial de Diadema no período de 60 meses, mesmo incidindo em perdas quando se comparam os números nas pontas da pesquisa, ultrapassou São Caetano. Em 2016 a média salarial dos trabalhadores industriais em Diadema era de R$ 3.471,73, portanto 37,47% abaixo de São Caetano. Em dezembro de 2021, com R$ 4.137,73, a média de Diadema superou a de São Caetano em 7,77%.  

MAIS ULTRAPASSAGEM  

Mais uma derrota? São Caetano também sucumbiu diante do desempenho de Mauá. Em 2016, a média salarial industrial de Mauá era de R$ 3.954,87, portanto 18,44% abaixo de São Caetano. Em dezembro de 2021, Mauá passou a contar com média salarial do setor produtivo de R$ 3.954,87. Uma diferença agora favorável de 16,68%.  

Na disputa interna, dos sete municípios, São Caetano só se manteve à frente de Ribeirão Pires e de Rio Grande da Serra. E mesmo assim teve as diferenças reduzidas.  

Ribeirão Pires contou em termos nominais com média salarial por trabalhador industrial e sem considerar a inflação de R$ 3.115,38 em dezembro de 2016 e passou para R$ 3.618,90 em dezembro de 2021. A distância de 35,76% recuou para apenas 5,17%.  

No caso de Rio Grande da Serra, a menor cidade da região, com pouco mais de 50 mil habitantes, a diferença de renda média dos trabalhadores industriais quando comparada a São Caetano era de 46,46% em dezembro de 2016 e passou para 14,92%. 



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