Economia

Geraldinho, Geraldinho, já
passou da hora de piadinhas

DANIEL LIMA - 23/08/2023

Pelo amor de Deus, se você não é ateu. Pelo amor do que quiser, se ateu for. Dê um jeito de encontrar alguém que possa orientar o ex-governador de São Paulo, hoje vice-presidente e presidente-interino Geraldo Alckmin.  

Não passa de lorota uma frase que Geraldo Alckmin repete à exaustão, a frase que diz que somos a “melhor esquina do Brasil”. Geraldinho, Geraldinho, Geraldinho, pare com essa fake news que os jornais acríticos ajudam a espalhar. Melhor esquina do Brasil é a ponte que caiu. 

Em visita ontem a Mauá, num evento realizado pela Prefeitura e sobre o qual vou escrever nos próximos dias, Geraldo Alckmin voltou a se referir à região como “melhor esquina do Brasil”. Desta vez, deu uma esticada a Mauá, dos anfitriões.  

Geraldo Alckmin é um grande fazedor de média, embora também tenha se especializado em outras coisas que lembra média. Apesar de ser um político de muito mais passivos que ativos como governador de quatro temporadas no Estado de São Paulo, as palavras de Geraldo Alckmin sempre têm peso. Ele vende ilusões como se vendesse o futuro garantido. E os boquirrotos da região acreditam. Ou fingem acreditar. Por acreditarem ou fingirem acreditar repassam bobagens e tornam a meleca ainda mais fedorenta.  

AMPLIANDO ESPAÇO  

Peço desculpas pelo linguajar, mas isso é fruto de irritação. Vou morrer e procrastinadores do futuro vão seguir com manipulações descaradas.  

Desta vez Geraldo Alckmin ampliou o raio de ação da “melhor esquina do Brasil” ao mencionar o Porto de Santos, aeroportos e até mesmo a Jacu-Pêssego. Geraldinho é bom de embromação.  

Para que não reste pedra sobre pedra aos leitores que eventualmente desconfiem da realidade dos fatos desde a chegada do trecho sul do Rodoanel na geografia regional, porque a origem da “melhor esquina do Brasil”, referindo-se a São Bernardo, tem o trecho sul como palco, reproduzo alguns dos principais trechos de muitas análises que produzi ao longo dos anos.  

ANÁLISES REDENTORAS  

A primeira análise, em seguida, trata exatamente da largada, quando o então governador alardeou aos aliados e aos alienados a expressão “melhor esquina do Brasil”. A segunda chega aos dias atuais. Revelo (mais uma vez, porque esse assunto é indispensável à região) um balanço do estrondo da boiada da economia regional provocado pelo Rodoanel.  

Acompanhem os dois textos e tirem suas conclusões. Geraldinho, Geraldinho, essa piada já cansou. Está virando desrespeito à inteligência regional cada vez mais escassa, mas ainda viva. E indignada.   

 

Alckmin lustra ego do Grande ABC

com bobagem de melhor esquina 

 DANIEL LIMA - 17/06/2011 

 

Algum assessor precisa alertar o governador Geraldo Alckmin para a improcedência, quando não à contradição, de rasgar seda ao Grande ABC quando repete com insistência publicitária que estamos na melhor esquina do Brasil. Desde a implementação do trecho sul do Rodoanel o governador utiliza essa frase feita do dicionário político. Quem sabe o deputado estadual Orlando Morando, líder do governo na Assembleia Legislativa, seja porta-voz da correção. Somos logisticamente uma sinuca de bico, isto sim. Está certo que dificilmente Geraldo Alckmin vai resistir à tentação do elogio fácil, porque é de seu estilo e do estilo da maioria dos políticos, mas ao suspender a máxima com que pretende definir essa região de sete municípios e 2,6 milhões de habitantes, estará fazendot um favor à sociedade. Melhor esquina do Brasil é a ponte que caiu. Estamos encalacrados logisticamente há muito tempo.  

MAIS 2011  

Aliás, o volume de investimentos anunciados por Geraldo Alckmin (e cuja aplicação é outra história, como estamos cansados de observar na cena política) condena o bordão do governador à retórica. Afinal, dos R$ 6,3 bilhões que o Estado reservaria a investimentos no Grande ABC, a quase totalidade, R$ 5,2 bilhões, está carimbadíssima pelo compromisso de atender às demandas de transportes. Tudo porque a suposta melhor esquina do Brasil é uma parafernália logística. O Rodoanel Sul, cantado como grande obra deste início do século no Grande ABC, depois de longa espera na última década do século passado, é um convite à evasão industrial. Debitem na conta de improdutividades regionais do trecho sul do Rodoanel a baixíssima inserção com o calamitoso sistema viário do Grande ABC. O Rodoanel Sul tem potencialidade poderosa de afastamento das empresas industriais do Grande ABC, exceto em poucas áreas nas quais a vizinhança mais acessível é compensadora.  

MAIS 2011 

De resto, com apenas três alças de acesso e tendo o metro quadrado de terrenos sob intensa especulação, a obra inaugurada em abril do ano passado é o caminho de maior produtividade em direção ao Porto de Santos e ao Interior do Estado — desde que o ponto de partida não seja o território do Grande ABC. É impossível Geraldo Alckmin não dispor dessas informações. Possivelmente as tenha, mas certamente o blindam de tal forma que más notícias, ou notícias que supostamente devam ser evitadas, não chegam no seu gabinete.  

MAIS 2011 

De todos os jornais que deram cobertura à comitiva liderada por Geraldo Alckmin e que teve em Orlando Morando anfitrião extraoficial, quem melhor retratou o encontro foi o Estadão, simplesmente porque praticou o jornalismo que a maioria dispensa: foi aos arquivos e contextualizou as novas declarações do governador. A manchete do Estadão de quarta-feira, dia seguinte à visita de Geraldo Alckmin, é elucidativa: “Alckmin desengaveta projeto de trem expresso para o ABC lançado há cinco anos. Nenhum outro jornal fez referência similar. Vejam os trechos principais da matéria do Estadão: “O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou ontem em Santo André um pacote de R$ 6,3 bilhões em obras para a região do ABC. A principal delas será um projeto que ele próprio havia lançado em seu outro mandato no Palácio dos Bandeirantes, em fevereiro de 2006: o Expresso ABC, uma ligação rápida sobre trilhos entre a Estação da Luz e Mauá (que na ocasião foi chamada de Expresso Sudeste). Agora, apenas a título de curiosidade, vejam os títulos dos demais jornais que consegui amealhar para compará-los em termos de enfoque do noticiário: Diário do Grande ABC: “Alckmin libera R$ 2 bi para o Grande ABC” — Se contabilizados investimentos futuros do Estado, montante chega à ordem de R$ 6,3 bilhões.  Valor Econômico: “Alckmin anuncia R$ 6,3 bilhões para o ABC, onde o PT lidera em prefeitos”.  Diário Regional: “ABC terá R$ 6,3 bilhões de verbas estaduais”.  Repórter Diário: “ABC terá R$ 5,2 bi em investimentos para o transporte”.  ABCD Maior: “Diadema recebe pouco investimento do governo do Estado”.  

 

Grande ABC perde feio para

Grande Oeste após Rodoanel  

 DANIEL LIMA - 17/01/2023 

 

Imagine dois maratonistas que disputam há 252 meses a mesma competição. O primeiro saiu em vantagem considerável e aparentemente inabalável.  O segundo reage. Corre a uma velocidade média superior a 60% e chega na frente com vantagem de 20% sobre o oponente.  O primeiro corredor é a economia do Grande ABC. O segundo é o Grande Oeste. A maratona é o Desenvolvimento Econômico. O trajeto são os trechos Oeste e Sul do Rodoanel Mario Covas.  Exatamente 21 anos separam o tiro de largada da fita de chegada que envolve os sete municípios do Grande ABC e os sete do Grande Oeste. O Grande ABC formado por São Bernardo, Santo André, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O Grande Oeste com Osasco, Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. Se você que ainda não se deu conta de que a ficha da economia do Grande ABC não é mais a mesma há muito tempo, de que é uma moeda desvalorizada, de que é uma ação decadente no mercado de competitividade, você precisa acordar.    

MAIS 2023  

Já não somos o que éramos e estamos longe de ser o que é nossa vizinhança geoeconômica.  Perder uma vantagem de 46,30%em forma da métrica mais respeitada de Desenvolvimento Econômico, o PIB (Produto Interno Bruto) sobre o Grande Oeste e ver, em 21 anos, uma reviravolta que coloca o adversário em vantagem de 20,45% não é pouca coisa. É uma tragédia. Entretanto, uma tragédia que passou e continua a passar em branco junto a autoridades públicas, privadas e agentes sociais do Grande ABC.  O PIB do Grande ABC em 1999, base dos cálculos, registrava em valores nominais R$ 26.884.250 bilhões. O Grande Oeste não passava de R$ 14.435,320 bilhões. Aí, em 2002, e mais tarde, em 2010, foram inaugurados os trechos Oeste e Sul do Rodoanel. Resultado? O PIB mais recente divulgado pelo IBGE registrou R$ 128.389,075 bilhões no Grande ABC e, acreditem, R$ 161.396.379 bilhões no Grande Oeste. Essa virada de jogo de superioridade de 46,30% para inferioridade de 20,54% é um cruel retrato de um Grande ABC que esqueceu de crescer e um Grande Oeste que não para de crescer.  Em termos reais, quando se deflacionam os dados e se tem o valor atualizado a dezembro de 2020, o PIB Geral do Grande ABC cresceu 26,72% no período. Quando se divide o percentual por 21 anos, o crescimento médio anual não passa de 1,27%. Praticamente menos que o crescimento demográfico. Uma região literalmente congelada.  Já o Grande Oeste disparou em crescimento. Em valores atualizados a dezembro de 2020, avançou em termos reais 68,69%. Quando se divide esse montante pelos anos percorridos, chega-se a um crescimento médio anual de 3,27%. Exatamente 61,16% acima do Grande ABC.



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