Se o crescimento médio e medíocre do Brasil desde os anos 1970 incomoda muita gente, porque o PIB médio medíocre do Brasil desde os anos 1970 vive de solavancos, de voos de galinha, imagine então quando se tem à mão a constatação que o PIB do ABC Paulista, outrora Grande ABC, manteve velocidade relativa muito inferior. Somos um Titanic econômico e social. Somente mandachuvas e mandachuvinhas não observam o mundo regional.
Em exatos 50 anos (entre 1970 e 2020) a região de sete municípios sofreu perda relativa em confronto com o ritmo nacional de 62,04%. Para cada R$ 100,00 de riqueza gerada no País, a região respondeu relativamente com menos de R$ 40,00.
Traduzindo em termos automobilísticos: imagine um veículo a 100 quilômetros por hora e outro veículo a 37,86 quilômetros também por hora. É claro que o segundo construiu um roteiro em que dá sinais de fadiga de material. Inclusive porque o primeiro, a 100 quilômetros por hora, está muito abaixo de concorrentes internacionais, sem necessariamente se apontar para os asiáticos.
É esse ABC Paulista em ritmo de calhambeque de que estamos falando. O PIB dos sete municípios esvai-se a cada nova temporada gregoriana. Uns endereços mais que outros nesse bicho de sete cabeças, mas todos, igualmente ou semelhantemente, a caminho de sucateamento num dos critérios básicos da economia – o Desenvolvimento Econômico.
DADO RELEVANTES
Para saber o resultado dessa operação que demonstra com clareza incontestável o quando a desindustrialização custa à riqueza regional, expressa no indicador mais respeitado da economia, bastam três números que vamos destrinchar em seguida:
Primeiro – O PIB de 2020 da região (o mais atualizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou R$ 128.389.073 bilhões, representando 1,74% do PIB Nacional.
Segundo -- Fosse o PIB de 2020 o que foi o PIB de 1970, a região teria registrado R$ 338.180.000 bilhões.
Terceiro -- A diferença após cinco décadas de perdas continuadas da região, com alguns respiros circunstanciais, é de R$ 209.790.927 bilhões.
NOVOS PUXADINHOS
São vários os aspectos contidos nessa contagem inédita que expomos e sobre a qual vamos, por conta disso, explorar em várias edições intermitentes. Todos confluem inevitavelmente a um destino que chegou e, pelo andar da carruagem, vai ganhar puxadinhos.
Ou seja: o que perdemos relativamente (e em números absolutos) no ritmo mambembe do PIB Nacional é supostamente irrecuperável, por conta da realidade macroeconômica e dos vetores locais.
E teremos de conviver com mais perdas. O presente institucional não contribui em nada para estancar os estragos econômicos. A região vive no berço esplêndido de um passado de orgulho que virou pesadelo quando se coloca na balança geral os condimentos de uma sociedade destroçada economicamente.
FESTANÇA DEMAIS
Mais que isso: o que se vê é um triunfalismo político-partidário apoiado pela maioria de uma mídia regional que sofre também as consequências da derrocada econômica, além da tecnologia que varre do mapa antigas referências de veículos de comunicação.
A primeira vez que fiz uma abordagem histórica a partir de 1970 sobre o desempenho da economia da região foi para a edição de abril de 2001 da revista de papel LivreMercado, predecessora de CapitalSocial. Fiz análise profunda ao comparar o PIB de 1970 e o PIB de 1996. Os números foram apresentados em dólares atualizados a 1998.
É sobre esse tablado de uma competição acirrada que voltamos ao tema. Aliás, voltamos ao tema é equívoco. Atualizamos os dados em 2006, também na revista LivreMercado. Mas agora se completam 50 anos desse trabalho de investigação, que também poderia ser chamado de arqueologia econômica da então, em 1970, mais promissora e vibrante área geoeconômica do País.
A indústria automotiva reinava e avançava a cada temporada. Até que encontrou a guerra fiscal e o sindicalismo pela frente.
QUEDA ACENTUADA
O PIB Geral da região em 1970 correspondia a 4,57% do PIB Nacional. Uma participação robusta que, transposta para 2020, corresponderia aos já mencionados R$ R$ 338.180.000 bilhões. A conta é simples: se a região contava com 4,57% do PIB de 1970, ao se multiplicar o percentual pelo PIB de 2020, de R$ 7,4 trilhões, chega-se a R$ 338.180.000 trilhões.
Entretanto, contudo e todavia, como a participação do PIB do ABC Paulista desabou para 1,74% em 2020, com PIB de R$ 128.389.073 bilhões, o que temos é uma perda de R$ 209.790.927 bilhões. Não se pode desconsiderar nessa conta que faz a conta do estrago geral que o cálculo leva em conta apenas o ritmo de crescimento médio do PIB Nacional, bastante abaixo da média de outros endereços municipais. Algo de que trataremos em outra análise.
Deu para entender como o crescimento médio pífio do PIB da região durante 50 anos, sempre em relação à média nacional, abriu a bocarra da perda de mobilidade social? Já não produzimos classe rica e classe média como antes. Mais que isso: quando se confronta o total de residências desses dois estratos sociais com o total de residências, o que se registra é perda cumulativa.
BALANÇOS INTERNOS
O que mais o ABC Paulista conta desde muito tempo é com o que chamamos de classe média precária, de famílias que estão mais próximas do limite de pobreza do que de classe média tradicional.
O equilibro interno na divisão do PIB da região entre os sete municípios foi alterado por conta de ciclos desenvolvimentistas e de enfraquecimento ao longo de cinco décadas. Em comum, entre o tiro de largada de 1970 e a fita de chegada de 2020 estão Santo André e São Caetano. Os dois municípios passaram por industrialização a partir de meados do século passado e por fragilização com o processo de desindustrialização.
Em 1970, São Caetano e Santo André representavam 50,98% do PIB Regional. Santo André registrava 29,99% e São Caetano 20,99% de toda a geração de riqueza nos sete municípios. Perdiam individualmente para São Bernardo, que registrava 36,99%. Juntos, os três municípios acumulavam 87,97% do PIB Regional.
Cinquenta anos depois, em 2020, a participação relativa somada dos três municípios foi rebaixada para 71,66%. Ou seja: houve uma queda relativa de 18,54%. São Caetano foi quem mais perdeu, passando de 20,99% para 10,87%, ou (-) 48,21% de importância relativa na região. Santo André ficou um pouco abaixo no processo de desindustrialização, caindo de 29,99% para 22,93%. Ou 23,54% de rebaixamento.
COMO ANTES
Diferentemente de Santo André e São Caetano, São Bernardo se salvou no período (sempre considerando a participação relativa do PIB Geral interno) ao subir levemente. Em 1970 a participação relativa da Capital Econômica da região era de 36,99%, enquanto em 2020 passou para 37,86%. Mesmo com toda a catástrofe que tem nome e sobrenome: Dilma Rousseff.
Os demais municípios da região avançaram internamente na distribuição do PIB. Diadema saiu de 3,70% em 1970 para 11,73% em 2020. Mauá passou de 7,09% em 1970 e subiu para 13,34% em 2020. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra mantiveram-se participação conjunta de menos de 3% no PIB Regional durante o período analisado.
A reestruturação participativa interna do PIB dos sete municípios, que de fato impactou para o mal principalmente Santo André e São Caetano, e para o bem Diadema e Mauá, certamente poderia ser utilizada por ufanistas de plantão. Entretanto, quando em confronto com o PIB Nacional, apenas Diadema se salva. E Diadema se salva porque saiu praticamente do nada de participação relativa e depois de subir vertiginosamente caiu como um balão incendiado. Tanto que hoje não conta com PIB per capita sequer entre as primeiras 400 cidades do Estado de São Paulo.
PONTA A PONTA
Numa contagem ponta a ponta, ou seja, entre 1970 e 2020, São Caetano é o endereço regional que mais sucumbiu ante o crescimento médio do PIB Nacional. Saiu de 0,948% para 0,188%. Um mergulho de 80,17%. Santo André, antigo Viveiro Industrial, caiu 70,61% no mesmo período: contava com participação nacional de 1.354% e caiu para 0,398%. São Bernardo manteve a participação relativa infrarregião, mas sucumbiu no confronto nacional com queda de 51,48% -- de 1,671% para 0,657%.
Mauá também entra na lista de perdedores nacionais da região com queda de 27,81% no período de 50 anos. O PIB de Mauá representava 0,320% do PIB Nacional em 1970 e foi rebaixado a 0,231% em 2020. A situação foi amenizada por causa da influência da Doença Holandesa Petroquímica, que a beneficia. Como também beneficia Santo André. A diferença entre a perda mais acentuada de Santo André e a perda mais leve de Mauá entre o PIB de 1970 e o PIB de 2020 é que Santo André sofreu desindustrialização aguda em várias estruturas industriais. Cadeias produtivas de vários setores foram arrasadas. Com isso, a dependência do PIB de Santo André do setor petroquímico e químico é cada vez mais pronunciada.
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