Imprensa

CARTA ABERTA AO DONO DO
DIÁRIO DO GRANDE ABC (11)

DANIEL LIMA - 11/09/2023

A deputada estadual Carolina Serra e o deputado federal Alex Manente se elegeram no ano passado por algumas razões, umas mais que outras, mas em comum há o Diário do Grande ABC com uma política editorial que contradiz todos os manuais de bom jornalismo e, mais que isso, de responsabilidade coletiva.  

Carolina Serra, mulher do prefeito Paulinho Serra, e Alex Manente, um jovem-velho da política, várias vezes vereador e deputado estadual, são exemplos de competência extraordinária: eles, nas páginas do Diário do Grande ABC, são intocáveis. Não há registro qualquer de que sejam mortais, que cometem falhas.  

Mais que isso: a frequência com que ocupam as páginas do Diário do Grande ABC poderia levar algum incauto a conclusão surrealista: Carolina e Alex são os únicos políticos da região nos Legislativos mais graduados. Os demais aparecem e desaparecem como cometas, embora o petista Luiz Fernando Teixeira, novo reforço do clube de preferidos do jornal, comece a aparecer numa campanha antecipada à Prefeitura de São Bernardo. 

REVERSO DA MARCA  

Carolina Serra e Alex Manente são a antítese do que o Diário do Grande ABC exala na própria marca concebida após alguns anos de circulação do semanário News Seller pelos bravos quatro pioneiros que o fundaram.  

Embora o jornal de uns tempos para cá tenha impresso com recorrência a expressão “regionalidade” como nunca o fizera ao longo da história, o que persiste mesmo como símbolo editorial que também contempla alguns outros agentes políticos é a individualidade.  

Tudo se explica porque o PT e aliados do PT estão ocupando o Clube dos Prefeitos. O Diário do Grande ABC está visivelmente avermelhado nos últimos tempos, embora tenha flertado com o amarelado governador Tarcísio de Freitas. Não foi correspondido até agora. Com os azulados tucanos quase sempre foi um mar de rosas.  

Regionalidade não é uma matéria da qual o jornal tenha conhecimento sistêmico. A publicação a confunde com regionalização. Regionalidade está muito patamares acima.  

CONFLITO ISUPERÁVEL 

Parece desnecessário traçar uma linha filosófica prática para explicar o significado desses dois conceitos, como também dos dois anteriores, regionalidade e individualidade. Essas duas palavras tanto do ponto de vista etimológico quanto, principalmente, de tessitura social, são oponentes.  

Regionalidade e individualidade são verbetes antípodas quando colocados em confronto de qualquer natureza.  

Regionalidade no caso da região é o poderia ser chamado de suprassumo de uma pretensão, de um objetivo, de uma política pública e mesmo privada e social de dar uma sacudida nas imperfeições de uma área geoeconômica abatida duramente nos últimos 40 anos.  

Tão abatida que a participação de produção de riqueza em forma de PIB (Produto Interno Bruto) é assustadora. Representamos em 2020, segundo dados mais atualizados, apenas 38% do que contávamos de inserção relativa no PIB Nacional em 1970. Trocando em miúdos: desde 1970, o PIB Nacional, que não é lá essas coisas, correu a velocidade 62% superior ao PIB da região.  

Individualidade é a supressão da regionalidade porque é quasímodo por natureza. Quem obteve o privilégio de contar com benesses centralizadas em detrimento da concorrência, mesmo que concorrência signifique mais que embates, mas principalmente o aumento do potencial de amealhar votos, quem foi concebido sob esse prisma já torpedeou, por natureza, a alma da regionalidade.  

LEGADO NO LIXO  

Dono do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto abandonou completamente um dos legados que deixei no jornal quando ali estive pela última vez como Diretor de Redação, em abril de 2005, após cumprir jornada de 11 meses de um contrato previsto para cinco anos. Regionalidade e assemelhados compunham a partitura de uma revolução editorial que durou pouco.  

Nunca imaginei que depois de tanto tempo fora do Diário do Grande ABC, chegado que cheguei à Rua Catequese por causa da experiência mais vitoriosa que um jornalista da região poderia desejar, ou seja, criar um produto diferenciado, a revista de papel LivreMercado, nunca pensei, repito, que viveria dias como os atuais.  

Ao chegar ao Diário em julho de 2004 jamais imaginei que menos de 20 anos depois o jornal se tornaria cabo eleitoral de luxo de candidatos e de preferidos políticos a vários cargos, além de somar também derrotas em pretensões semelhantes. 

Deixar de dizer o que estou escrevendo seria contraproducente não só à informação de que a sociedade prescinde para entender o que se passa na região como também para evitar que se confundam o presente de privilégios com o passado de comprometimento com o conjunto da obra de recuperação regional.  

HISTÓRIA DIFERENTE?  

Talvez a história que a ex-primeira-dama Carolina Serra construa a partir de agora como deputada estadual, a bordo de uma matéria-prima fartamente encontrada na região, seja diferente da inutilidade regional de Alex Manente. 

O deputado federal já concorreu à Prefeitura de São Bernardo três vezes, uma como linha auxiliar do petista Luiz Marinho, outra como linha auxiliar de Orlando Morando e outra apenas por concorrer, para fortalecer a memória eleitoral e seguir como deputado.  

Alex Manente agora costura uma ação discreta em paralelo com o PT de São Bernardo para viabilizar-se novamente como possível reforço petista nas eleições do ano que vem, enquanto flerta, por outro lado, com partidos próximos de Orlando Morando para forçar a barra e ser o indicado do prefeito que não pode concorrer. Alex Manente tem os pés em duas canoas, portanto.  

MANENTE AUSENTE  

No léxico de Alex Manente regionalidade não existe, exceto e exclusivamente para buscar votos a cada quatro anos.  

Com as vantagens da máquina eleitoral azeitada por fundos eleitorais e emendas parlamentares, Alex Manente tem tudo para continuar deputado --como tantos outros deputados que gozam de benesses semelhantes.  

E se as circunstâncias o favorecerem, com um vácuo na Prefeitura de São Bernardo, que espera ser na próxima temporada, acabará por ocupar a principal cadeira do Executivo.  

Carolina Serra conquistou quase 90% dos votos que a levaram à Assembleia Legislativa (quase 200 mil) porque fez um trabalho intenso e dedicado nas camadas mais sofridas de uma Santo André empobrecida. O programa de recolhimento de material reciclável em troca de alimentos foi um sucesso. Há em Santo André, oficialmente, 120 instituições sociais que cuidam de pobres e desvalidados. É uma tapeceira imensa de necessitados.  

Não bastasse esse tiro certeiro numa matéria-prima abundante, toda a máquina da Prefeitura foi colocada em campo, de forma mais diversas. Vereadores e candidatos a deputado estadual e a deputado federal de Santo André entraram em campo apenas para jogar pelo time da primeira-dama. Nenhum deles foi eleito com votos suficientes em Santo André. A tarefa era eleger a mulher do prefeito.   

SEM CONHECIMENTO  

Quem se predispuser a ouvir tanto a primeira-dama quanto o deputado federal num encontro sobre regionalidade e intrincadíssimas equações à superação das dificuldades dos sete municípios, provavelmente ficará frustrado. Carolina Serra e Alex Manente jamais participaram de qualquer evento em que, por exemplo, Desenvolvimento Econômico fosse tratado como um desafio a sugestões e medidas.  

O caso de Alex Manente é muito mais grave, claro, porque está há quase duas décadas numa jornada político-partidária sem sequer formar um grupo de voluntários sedentos por mudanças. Não há em São Bernardo, onde detém domicílio eleitoral, nenhum sinal prático de que Alex Manente se preocupe para valer com questões essenciais ao futuro da cidade e da região.   

A recorrência com que Alex Manente e Carolina Serra aparecem nas páginas do Diário do Grande ABC poderá ser aferida na sequência. Fui ao meu arquivo de papel, cuja característica de seleção e uso deixo explicações a um texto específico, e encontrei material suficiente para que os eleitores e leitores entendam que tudo que se afirma sobre regionalidade e individualidade faz parte do acerto.  

PASSADO MAIS CUIDADOSO  

A amostra que se seguirá é o corolário incisivo, continuado, preferencial, descomunal, e tudo o mais, em favor dos dois políticos. Nada que esteja impresso nas páginas do Diário do Grande ABC escapa à realidade factual.  

Não oferecemos aos leitores nada que deixe o terreno da veracidade. Não há escolhas para justificar um texto como este. Não há descarte de qualquer texto condenatório a qualquer iniciativa dos dois políticos. O prevalecimento de textos que colocam Carolina Serra e Alex Manente como protagonistas indevassáveis é uma cronologia respaldada pelo histórico editorial do Diário do Grande ABC. E olhem que selecionamos apenas as matérias editorialmente mais visíveis. Notinhas foram deixadas de fora. 

O Diário do Grande ABC do passado anterior à chegada de Ronan Maria Pinto não estava imune a empreitada protetora a determinados políticos. Principalmente em Santo André, onde está a sede da empresa. 

Duas candidaturas podem ser rebocadas como provas cabais de que o Diário do Grande ABC pré-Ronan já navegava em águas de discriminação político-eleitoral, embora, a bem da verdade, com mais classe e sutileza. 

CELSO DANIEL IMBATÍVEL  

Duas das três vitórias eleitorais de Celso Daniel foram alcançadas diante de adversários alinhados ao Diário do Grande ABC.  

Em 1996, Celso Daniel derrotou o deputado federal Duílio Pisaneschi com quase 80% dos votos mesmo tendo a direção do jornal como suporte ao empresário do setor de transporte coletivo.   

Em 2000, à falta de um concorrente local, mobilizaram-se forças que rebocaram o deputado federal paulistano Celso Russomanno, que também apanhou feio.  

O que difere o Diário do Grande ABC do passado do Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto, entre outros pontos, é a força extrema de fazer de candidatos preferenciais vencedores ideais.  

Em novos capítulos mostraremos mais situações embaraçosas a uma publicação que erra duas vezes ao adotara política de privilégios. Primeiro deixa se esvair a capacidade crítica. Segundo porque imiscui-se além da conta na gestão pública. 

PROVA PROVADA  

E o pior de tudo é que ao confundi as bolas de regionalidade e individualidade, o resultado é desastroso. Veja na sequência um breve desfile do carnaval de lantejoulas e paetês editoriais do Diário do Grande ABC em apoio aos dois deputados.    

1. Edição de 9 de julho de 2022 – Manchetíssima de primeira página: “Fundo Social de Santo André distribui 10 mil itens de inverno a 350 famílias”.  

2. Edição de 3 de agosto de 2022 – Manchete de alto de página: “Ana Carolina e Alex se reúnem com esportistas”.  

3. Edição de 20 de agosto de 2022 – Manchete de alto de página interna: “Simone Tebet incluirá projetos de Santo André no plano de governo”.  

4. Edição de 17 de setembro de 2022 – Manchete de alto de página interna: “Ana Carolina Serra e Zacarias abrem comitê e São Caetano”.  

5. Edição de 18 de setembro de 2022 – Manchete de alto de página interna: “Ana Carolina Serra e Alex Manente reúnem apoiadores em Santo André”.  

6. Edição de 24 de setembro de 20222 – Manchete de alto de página interna: “Ana Carolina Serra e Zacarias destacam a gestão em comitê”.  

7. Edição de 1º de outubro de 2022 – Manchete de alto de página interna: “Ana Carolina e Alex defendem região mais forte e representativa”.  

8. Edição de 5 de outubro de 2022 – Manchete de entrevista de página inteira: “Vou trabalhar para fortalecer as entidades, diz Ana Carolina”.  

9. Edição de 14 de novembro de 2022 – Entrevista de página inteira: “A gente precisa discutir o emprego do futuro na região” – diz Alex Manente.  

10. Edição de 23 de novembro de 2022 -- Manchete de alto de página interna: “Instituição do Moeda Verde é aprovada pela Câmara”.  

11. Edição de 22 de dezembro de 2022 – Manchete de alto de página interna: “Alex Manente critica saída do Consórcio de três prefeitos da região”.  

12. Edição de 24 de dezembro de 2022 – Manchete do alto de página interna: “Santo André inaugura unidade de capacitação na área de culinária”.  

13. Edição de 25 de dezembro de 2022 – Manchete de alto de página interna: “Sto. André arrecada 21 toneladas de alimentos”.  

14. Edição de 28 de dezembro de 2022 – Manchete do alto de página interna: “Para deputados, decisão de sair do Consórcio é imatura”.  

15. Edição de sete de fevereiro de 2023 – Manchete de alto de página: “Projeto do deputado Alex Manente prevê proteção às mulheres em bares”.  

16. Edição de 24 de fevereiro de 2023 – Manchete de alto de página interna: “Momento é de apontar as soluções e não culpados, afirma Alex Manente”. 

17. Edição de 1º de março de 2023 – Manchetíssima de primeira página: “Alex Manente lidera a corrida para Prefeitura de S. Bernardo”.  

18. Edição de 16 de abril de 2023 – Entrevista de página inteira com o título “Quero mostrar na Assembleia a importância da política social”, diz Ana Carolina.  

19. Edição de 8 de maio de 2023 – Manchete de alto de página: “Projeto relatado por Alex Manente garante dignidade a quem não tem saneamento”.  

20. Edição de 23 de maio de 2023 – Manchete de alto de página interna: “Ana Carolina Serra reúne entidades sociais em seminário na Assembleia”.  

21. Edição de 27 de junho de 2023 – Entrevista de página inteira: “Pesquisas estimulam Alex para 2024: “Serei candidato”.  

22. Edição de 13 de julho de 2023 – Manchete de alto de página interna: “Metrô traria novas oportunidades ao Grande ABC”, diz Ana Carolina.  

23. Edição de 4 de agosto de 2023 – Manchete de alto de página interna: “Ana Carolina cobra celeridade das obras do Metrô na região”.  

24. Edição de 8 de agosto de 2023 – Manchete de alto de página: “Protocolo serve para evitar casos como o de Daniel Alves”, diz Alex. 

25. Edição de 24 de agosto de 2023 – Manchete de alto de página interna: “S. Caetano terá ação baseada na Moeda Verde de Sto. André”.   

26. Edição de sábado, 26 de agosto de 2023 – Manchete de alto de página: “Desoneração da folha salarial dá fôlego para economia do País”, com foto em destaque de Alex Manente, de função pouco expressiva na matéria.  

27. Edição de 27 de agosto de 2023 – Manchete de alto de página: “Eleger prefeito de São Bernardo vai ser prioridade do Cidadania”, com destaque a uma foto em que aparece Alex Manente, o candidato do Cidadania.  

28. Edição de 4 de setembro de 2023 – Manchetíssima de primeira página: “Secretário de Morando defende Alex à sua sucessão em S. Bernardo”.  

29. Edição de 4 de setembro de 2023 – Entrevista de página inteira: “Alex é o melhor para S. Bernardo”, diz o secretário da Pessoa com Deficiência e Cidadania, Pery Cartola. 



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