Alertei na edição de sexta-feira que o crescimento exponencial (e comprometedor) do PIB Público de São Caetano em relação ao PIB Industrial não era um caso isolado na região. Mais que isso: que o processo de crescimento de imposto municipal é a marca deste século na região. Agora temos a participação relativa dimensionada: o PIB Público dobrou de tamanho em confronto com o PIB Industrial e se aproxima da metade em participação relativa. No caso da região, é um péssimo resultado. O setor de transformação é que segura as pontas do Desenvolvimento Econômico. A desindustrialização tem sido um cadafalso à mobilidade social.
Não é nada interessante para qualquer endereço municipal ou nacional que a equação resultante de transformações econômicas resulte no que a região de sete municípios acumulou em duas décadas, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2020, tendo como base de cálculo os dados de dezembro de 1999.
O nosso século econômico é, portanto, e esclarecedoramente um desastre. Não deixe que ninguém tente convencer você de que PIB Público é bom e que PIB Industrial é ruim. Melhor dizendo: deixe que tentem convencer você dessa barbaridade provavelmente de cunho ideológico. Não custa nada ouvir disparates, desde que se saiba que são disparates. Quem dispara disparates a ouvintes despreparados, vai consagrar disparates disparatosos.
NO MESMO BARCO
O caso do comportamento de Indústria versus Administração Pública de São Caetano é o mais grave do século na região. Afinal, o PIB Público de São Caetano representava apenas 13,81% do PIB Industrial no começo do século e em 2020 chegou a 51,66%.
Mas há outros endereços que também causam grande preocupação quando se utilizava a mesma métrica. E mesmo outros que não são tão díspares não escapam do escrutínio de inquietação porque é a indústria de transformação que gera riqueza. A começar dos salários formais, em média 30% maiores que as demais atividades.
Mas vamos aos dados regionais para que não sobre pedra sobre pedras em defesa do Desenvolvimento Econômico de verdade.
DUAS DÉCADAS
O PIB Industrial da região em 1999 (portanto o último ano do século passado) correspondia a valor nominais (sem considerar a inflação do período que vai até dezembro de 2020) a R$ 11.885,82 bilhões. O PIB Público chegava a R$ 2.560, 77 bilhões. Portanto, uma participação geral de 21,54% bastante favorável à produção de riqueza industrial.
Vinte anos depois, em 2020, o PIB Público registrou 12.652,19 bilhões, enquanto o PIB Industrial chegou a R$ 30.582,55 bilhões. A velocidade de crescimento do PIB Público alcançou sempre em termos nominais o acumulado de 364,15%. Já o PIB Industrial registrou bem menos da metade, ou 141,72%. Uma diferença média geral de 222,43 pontos. Ou 2,2243 pontos percentuais ao ano. O que era participação relativa de 21,54% passou para 41,37%.
PERFIZ ECONOMICOS
Os dados gerais não deixam dúvida quando, estratificados por município, que os efeitos do perfil econômico da região predominam no comportamento final.
Quem é mais dependente do setor automotivo (casos de São Bernardo, São Caetano e Diadema) sofreu muito mais diante das sacolejadas de uma atividade fortemente competitiva. Já quem está na sombra e água fresca do Polo Petroquímico de Capuava e suas ramificações consegue atenuar os destroços.
Um exemplo de confronto de resultados emblemáticos dessa dicotomia que coloca a Doença Holandesa Automotiva de um lado e a Doença Holandesa Petroquímica de outra? Diadema, dependente demais do setor automotivo, registrou crescimento nominal de apenas 100,25% do PIB Industrial. Já Mauá, dependente do Polo Petroquímico, cresceu também em termos nominais nada menos que 348,51%.
Com esses dados da indústria de transformação como plataforma básica à compreensão do comportamento da economia dos dois municípios, basta dar uma passadinha pelo PIB Público. Enquanto Mauá, de muita produção industrial, acumulou crescimento de 402,21% de PIB Público, Diadema chegou a 434,50%.
Quer uma tradução desse conflito de números cruzados? Diadema se tornou um endereço muito mais complexo à gestão pública e principalmente aos empreendedores industriais porque a manutenção da máquina pública custa cada vez mais caro sem ter a retaguarda de criação de riqueza que só a indústria sustenta.
EFEITOS DIFERENTES
Ou seja: a Doença Holandesa Petroquímica de Mauá é uma benção, enquanto a Doença Holandesa Automotiva de Diadema é uma cruz pesada.
Como já expliquei e, mais que isso, batizei há muitos anos ao me referir às especificidades econômicas da região, Doença Holandesa é uma enfermidade em forma de dependência excessiva de determinado setor econômico. Mauá curte as vantagens que um dia podem terminar. Fosse diferente disso, não se chamaria Doença Holandesa.
Outro caso emblemático de diferenças que se cristalizam por causa de parque industriais antagônicos embora fisicamente tão próximos envolve Santo André e São Bernardo.
O PIB Industrial de São Bernardo neste século cresceu nominalmente apenas 80,44%. Um resultado dramático diante da inflação acumulada de 250,04%. Já o PIB Industrial de Santo André, fortemente influenciado pela Doença Holandesa Petroquímica, cresceu 216,01%. Uma distância e tanto.
ESCONDENDO DRAMAS
Mas nesse período, como prova provada de que a Doença Holandesa Petroquímica também dissimula de perdas nem sempre detectadas, Santo André praticamente viu desaparecerem todas as demais cadeias produtivas. O processo vem desde os anos 1980 do século passado. Ou seja: cada vez mais Santo André se torna refém da Doença Holandesa Petroquímica.
Diante da queda brutal do PIB Industrial, São Bernardo recorreu ao PIB Público nos 20 anos deste século para minimizar os estragos arrecadatórios. Tanto é que o PIB Público cresceu em termos nominais 313,57% ante 310,71% de Santo André.
Um comparativo entre os dois municípios implicaria em dois cenários conflitantes. No primeiro caso, Santo André teria resistido mais que São Bernardo no aumento do PIB Público, já que a diferença acumulada ao longo deste século é praticamente nula, ou seja, de 313,57% de São Bernardo e 310,71% de Santo André. A outra leitura é que Santo André poderia supostamente ter aliviado mais a carga tributária própria nas duas décadas, porque teria sofrido menos agressivamente as perdas do setor industrial, sobretudo graças ao Polo Petroquímico.
POUCA DIFERENÇA
O comportamento do PIB per capita dos dois municípios neste século aponta que Santo André registrou nominais R$ 9.201,16 mil em 1999 ante R$ 14.088,99 mil de São Bernardo. Ou seja: o PIB per capita de Santo André correspondia a 65,31 do PIB per capita de São Bernardo. Já em 2020, o PIB per capita de Santo André registrava 40.812,01 mil, enquanto o PIB per capita de São Bernardo apontava R$ 57.566,99 mil. A participação relativa de Santo André alcançou 70,89%. Uma diferença de 5,58 pontos percentuais.
Em termos nominais, o PIB per capita de Santo André avançou 343,55%, enquanto o PIB per capita de São Bernardo cresceu nominalmente 308,59%. Já o PIB per capita do Estado de São Paulo no mesmo período avançou 470,70%.
Completando o mapa do PIB Industrial e do PIB Público da região neste século, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra apresentam resultados igualmente negativos à geração de riqueza. Os dois municípios representam apenas 2,5% do PIB Geral da região.
Ribeirão Pires aumentou o peso relativo do PIB Público em relação ao PIB Industrial de 38,22% para 69,65 em 20 anos, enquanto Rio Grande da Serra saltou de 56,02% para 132,61%. Ou seja: Rio Grande da Serra depende mais de recursos do PIB Público do que do PIB Industrial.
O PIB Público de Ribeirão Pires aumentou nominalmente 369,48% no período, ante 157,67% do PIB Industrial. No caso de Rio Grande da Serra, o PIB Público cresceu 519,62% ante 213,75% do PIB Industrial.
QUEDAS E AVANÇOS
Em termos de participação relativa, o PIB Industrial de São Bernardo representava em 1999 o total de 46,43% do PIB Industrial da região. Santo André participava com 18,98%, São Caetano com 10,85%, Diadema com 16,61%, Mauá com 10,83%, Ribeirão Pires com 2,23% e Rio Grande da Serra com 0,052%.
Já a participação relativa do PIB Industrial de São Bernardo na chegada de 2020, depois de intensas mudanças, registrava 32,56%, com queda relativa de 13,87 pontos percentuais. Santo André passou para 23,32%, com ganho relativo de 4,34 pontos percentuais, mesmo crescendo em termos reais abaixo da inflação do período. São Caetano passou para participação relativa industrial na região de 9,64%, um pouco abaixo dos 10,85% do começo do século. Diadema registrou participação relativa de 12,92% no ano de 2020, 3,69 pontos abaixo do ano de 1999. Mauá registrou 18,88% de participação regional na indústria de transformação, ou 8,83 pontos acima do ano de 1999. Ribeirão Pires manteve participação praticamente inalterada com 2,23% em 2020, enquanto Rio Grande da Serra apontou 0,043%, ou seja, ainda inferior a 1999.
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