Economia

Paulinho e Morando ainda
sofrem com danos de Dilma

DANIEL LIMA - 20/11/2023

O prefeito Paulinho Serra (Santo André) e o prefeito Orlando Morando (São Bernardo), que comandam 60% do PIB do ABC Paulista, não eliminaram em 81 meses de dois mandatos o buraco do emprego industrial com carteira assinada aberto durante os dois anos dinamitadores de Dilma Rousseff -- entre 2015-2016. Eles assumiram em janeiro de 2017. 

Relativamente ao universo de trabalhadores de cada Município no setor industrial (essa análise vai se concentrar no emprego industrial formal, assim como no texto anterior tratou do emprego formal geral, em todas as atividades) São Bernardo conseguiu com Orlando Morando ser mais resiliente.  

Resiliência é a capacidade de atenuar o desempenho extraordinariamente nocivo da política econômica da então presidente da República, que, por sua vez, incrementou a bomba de gastança do segundo mandato do então presidente Lula da Silva. Não há como expor as vísceras de Dilma Rousseff sem atribuir o peso relativo de contaminação do antecessor. O PT se especializou em tratar os oito anos de Lula da Silva como uma coisa e os seis anos incompletos de Dilma Rousseff como outra coisa. Nada mais enganoso.   

SEM COMEMORAÇÕES   

O resultado obtido pelo prefeito Orlando Morando sobre Paulinho Serra não deve ser comemorado ruidosamente. A diferença é mínima. Como fora a favor de Paulinho Serra na análise anterior, de sexta-feira, quando os números se referem ao todo do mercado de trabalho na região, ou seja, em todas as atividades.  

A comparação envolvendo os dois prefeitos na atividade industrial significa, em resumo, que mesmo com perfiz econômicos diferentes, São Bernardo e Santo André seguem semelhantes no enfrentamento dos ônus e danos no mercado de trabalho após o desastre de Dilma Rousseff. 

Qualquer distinção significativa ao se tomar o pulso do emprego industrial da região, realçando um dos dois lados da balança desses dois municípios que concentram as principais faixas do PIB Regional não passa de imprecisão ou má-fé.  

BAIXA RESPONSABILIDADE  

Uma das maiores asneiras que o jornalismo regional pode cometer é medir o tamanho dos estragos do período de 81 meses dos prefeitos Paulinho Serra e Orlando Morando tendo como premissa a concentração de responsabilidade num ou nos dois titulares dos paços municipais. Seria algo como criminalizar o bilheteiro do circo pelo incêndio nos camarins.  

Orlando Morando e Paulinho Serra podem e devem sofrer críticas por não enxergarem a importância de a região contar com Planejamento Estratégico Econômico, que defendemos há mais de duas décadas.  

Daí, entretanto, ignorar ou minimizar os fatores cruciais do passado como explicação para a queda industrial da região vai um oceano de ignorância econômica.  

Por razões que já cansamos de analisar, as ações dos prefeitos da região no combate à desindustrialização e na quebra da dinâmica do emprego industrial são limitadas demais quando vistas no âmbito municipal.  

As medidas reativas, em grande parcela, dependem do quadro macroeconômico nacional e internacional, além claro, em proporções muito inferiores, ao ambiente municipal e regional. 

ERRO DOS PREFEITOS  

O erro de prefeitos da região na tentativa de iludir o distinto público quanto à eficiência de gestão é confundir as bolas com promessas mirabolantes e resultados falsos.  

Esse comportamento é sistemático ao longo de temporadas, mas o futuro sempre chega em forma de presente para desmascaramentos.  

Em resumo, não seria justo atribuir aos prefeitos de áreas industrializadas e desindustrializadas como o ABC Paulista o predomínio da carga de responsabilidade por derrocadas circunstanciais ou longevas.  

No caso da região, o peso do Clube dos Prefeitos é muito maior que a individualidade dos prefeitos em seus respectivos endereços. As principais soluções econômicas dos municípios passam necessariamente por abordagens de cunho regional. E o Clube dos Prefeitos sempre se converteu em fracasso anunciado e repetido. 

DÉFICIT CONTINUADO  

De volta aos números dos 81 meses dos dois prefeitos que têm em mãos a maior parcela do PIB Geral da região, há um rombo adicional de 7.289 empregos industriais pós-Dilma Rousseff entre janeiro de 2015 a dezembro de 2016. Dividido esse total por 550 trabalhadores demitidos pela Toyota recentemente, com o fechamento da fábrica de autopeças em São Bernardo, há ainda uma defasagem de 13 fábricas.  

Numericamente, São Bernardo conta com maior defasagem de empregos indústrias desde que Orlando Morando assumiu a Prefeitura e tendo os dados de 2016 como referencial. São 4.619 demissões o saldo negativo do setor industrial ante 2.670 de Santo André.  

Entretanto, essa contabilidade não deve ser considerada em qualquer análise comparativa sem incorrer em falha. O estoque histórico de trabalhadores industriais de São Bernardo é muito maior que o de Santo André. Ou seja: quem tem mais quantitativamente em relação ao concorrente sempre perde numericamente mais em situações como a que a região viveu com e após Dilma Rousseff.  

DIFERENÇA MÍNIMA  

Por isso a relativização dos dados é essencial. Quando Orlando Morando e Paulinho Serra assumiram as duas prefeituras, Santo André contava com 25,21 trabalhadores para cada grupo de 100 trabalhadores das duas cidades: 100.203. Desse total, 25.264 estavam no território de Santo André e 74.939 de São Bernardo.  

Em setembro último, data mais atualizada do mercado de trabalho na região e 81 após a posse dos dois prefeitos, são 24,32 os trabalhadores industriais de Santo André ante cada grupo de 100 trabalhadores dos dois municípios – 22.594 em Santo André e 70.320 em São Bernardo.   

Num embate direto, antes de assumirem os cargos de prefeitos, Santo André contava com 33,71% de trabalhadores em relação a São Bernardo. Oitenta e um meses depois a proporção é de 32,13%. Quando se volta mais no tempo e se apanha o ano de 2014, ou seja, antes da recessão dilmista, a proporção de trabalhadores industriais de Santo André frente a São Bernardo era de 36,26%. Eram 33.439 profissionais contratados em Santo André e 92.221 em São Bernardo. Traduzindo? Santo André perdeu até agora mais com Dilma Rousseff no poder e como os estragos consequentes de Dilma Rousseff pós-poder.  

VELOCIDADE CAI  

De qualquer maneira, há um olhar positivo que pode ser observado sem triunfalismo nos números de Santo André e São Bernardo desde a posse de Paulinho Serra e Orlando Morando. Antes de chegarem às prefeituras, a velocidade média de demissões líquidas de trabalhadores industriais era muito mais acelerada. 

Nos 24 meses de Dilma Rousseff, e antes que Paulinho Serra e Orlando Morando chegassem às prefeituras, Santo André perdeu por mês, em média, 340,73 trabalhadores, enquanto São Bernardo sofreu baixa mensal de 719,66. Esses dados revelam que Santo André perdeu 8.175 trabalhadores industriais nos últimos 24 meses de Dilma, enquanto São Bernardo perdeu 17.272. 

Com Paulinho Serra e Orlando Morando nos últimos 81 meses, a média mensal de quebra do mercado de trabalho industrial em Santo André caiu para 32,96 e 56,99. Não se pode esquecer jamais que esses são números quantitativos, não números relativos.  

Em termos relativos, Santo André dos 24 meses de Dilma Rousseff e dos 81 meses do prefeito Paulinho Serra perdeu 32,43 % do estoque de trabalhadores industriais registrado em 2014 – eram 33.439 e passaram a ser 22.594. No caso de São Bernardo, a quebra é de 31,14%.  

No período específico dos 81 meses ante o estoque deixado por Dilma Rousseff, Santo André contabiliza déficit de 2.670 trabalhadores demitidos e São Bernardo 4.619. O estoque de Santo André foi rebaixado em 11,81% enquanto o de São Bernardo não passou de 6,57%.



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