Não passa de lorota provinciana o que em outros tempos tinha lastro técnico suficiente para não ser contestada. De que se trata? É uma tremenda bobagem dizer que o ABC Paulista, outrora Grande ABC, conta com o quarto maior PIB do País. Entenda o que se segue para não cair nessa armadilha triunfalista.
Somos o terceiro PIB na Grande São Paulo e cairíamos brutalmente pelas tabelas se o conceito elástico e mais apropriado de regionalidade valer para todos, não apenas para o ajuntamento geográfico exclusivo dos sete municípios da região.
Ajuntamento geográfico ou geoeconômico ou qualquer coisa que signifique multiplicidade de endereços municipais mesmo que aparentemente menos próximos que o verificado na região é um conceito elástico. E muitas vezes subjetivo.
Um exemplo regional? Até que ponto, preto no branco para valer, há interação entre uma Diadema criada das costelas político-administrativas de São Bernardo e que está na continuidade da Zona Sul da cidade de São Paulo e uma Mauá, do outro lado, desgarrada que foi da original Santo André antes do dilúvio emancipacionista?
TORCIDA ORGANIZADA
Não cabe aqui um aprofundamento sobre o sentido de regionalidade. Apenas uma pincelada rápida já evidencia que nem tudo que parece reluzir de integração é ouro de efetivação.
Essa avaliação é a propósito da manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) do Diário do Grande ABC de sábado último.
O jornal explodiu com a notícia de que somos o quarto PIB Nacional. Tem sido assim sempre. O Diário do Grande ABC não perde a mania de tratar a Economia como quinquilharia, quando não torcida organizada. É um ação editorial de fragilidade exasperante. Não foi por outro motivo que criamos a revista LivreMercado, antecessora deste CapitalSocial. A região precisava de uma mídia que levasse a Economia regional a sério. E com profundos estudos.
Há vasto material de análises históricas que fiz sobre o PIB da região, confrontando-o com outros endereços municipais e regionais. Alertava muito sobre a possibilidade de a região ser ultrapassada pela Região Oeste da Grande São Paulo como a chegada do Rodoanel Mário Covas. Não deu outra. E também alertei muito sobre a aproximação da Região Norte da metrópole. E daqui a pouco seremos ultrapassados.
PROTEÇÃO DIRECIONADA
O que querem os enclausurados numa redoma que agride o passar do tempo e que desnuda o quanto a região se fragilizou? Fazer de conta que não temos contas a acertar com o presente, depois de tanta negligência no passado.
Quanto à competição nacional, na qual o ABC Paulista seria o quarto colocado, isso é conversa mole para boi dormir. Há inúmeros municípios geograficamente e economicamente de alguma forma complementares ou indutivos à interação à frente dos sete endereços da região. Exemplos práticos de sedes de regiões metropolitanas no Interior do Estado são Campinas, Sorocaba, São José dos Campos. Sem contar inúmeras capitais brasileiras e suas regiões metropolitanas.
O que quero dizer com isso é que esse estardalhaço feito de propósito para encobrir o fracasso da região e de, principalmente, autoridades públicas que não cansam de produzir fake news sobre enriquecimento econômico, só é prejudicial à saúde do que resta de cidadania regional.
RELATIVIZAÇÃO
Entendo que é difícil para o Diário do Grande ABC colocar os dados do PIB dos Municípios Brasileiros anunciado na última sexta-feira pelo IBGE sem tocar no queridinho da casa, o prefeito Paulinho Serra. Mas é preciso que a verdade se reproduza.
Santo André cresceu apenas 0,67% entre 2020 e 2021 e ficou na última posição entre os sete municípios. Pior que isso: São Bernardo do prefeito Orlando Morando, desafeto do jornal e do prefeito Paulinho Serra, cresceu oito vezes mais. E olhe que São Bernardo detém uma Doença Holandesa Automotiva que a coloca sempre e sempre em instabilidade.
O que causa espanto é que no fundo, no fundo, se atribui uma responsabilidade a Paulinho Serra que não se encaixa na responsabilidade de Paulinho Serra no sentido majoritário dessa porção de compromisso em dirigir Santo André. Na maioria dos casos, o PIB dos Municípios Brasileiros, como se identificam os dados do IBGE, revelam números que têm pouca participação efetiva dos prefeitos. É a macroeconomia que dita os rumos dos acontecimentos municipais.
FALAR DEMAIS
É claro que há configurações especiais. Muitas vezes os dados observados ao longo de anos explicitam sim ações municipais. Mas a parcela de contribuição positiva ou negativa depende muito de variáveis que precisam ser observadas com a máxima atenção.
O erro do prefeito Paulinho Serra e que provavelmente transfere a defesa inútil de esconder os dados, é que o prefeito Paulinho Serra fala demais, promete demais, diz que faz e acontece e o que se tem no campo econômico é uma sequência de maus resultados. Ou seja: na ânsia de praticar um marketing de sucesso, constrói a própria plataforma de embarque ao enforcamento.
Vamos aos números comparativos do PIB dos Municípios de 2021 anunciado pelo IBGE na semana passada. Os sete municípios da região registraram o total de R$ R$ 150.576.376 bilhões. A Região Oeste alcançou R$ 170.738.153 bilhões, enquanto a Região Norte registrou R$ 142.522.748 bilhões.
Em números relativos, a Região Oeste tem superioridade de 13,39% no PIB ante o ABC Paulista. E o ABC Paulista goza de vantagem ínfima, de apenas 5,65% diante da Região Norte.
Agora, vamos dar nomes aos concorrentes. Os municípios da região todos sabem quais são. Já a Região Oeste conta igualmente com sete municípios: Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Piraporinha e Santana de Parnaíba. A Região Norte conta com 11 municípios: Guarulhos, Arujá, Santa Izabel, Guararema, Salesópolis, Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim e Poá.
Acompanhe os números do PIB das três regiões dentro da Grande São Paulo:
1. Osasco -- R$ 86.111.260 bilhões.
2. Guarulhos – R$ 77.376.467 bilhões.
3. São Bernardo, 58.277.014 bilhões.
4. Barueri – R$ 58.027.667 bilhões.
5. Santo André, 32.620.295 bilhões.
6. Mauá, R$ 20.776.213 bilhões.
7. Mogi das Cruzes – R$ 19.604.517.
8. Diadema – R$ 18.484.356 bilhões.
9. São Caetano – R$ 15.566.768 bilhões.
10. Suzano – R$ 14.811.514 bilhões.
11. Itapevi – R$ 12.854.995 bilhões.
12. Santana de Parnaíba – R$ 11.544.903 bilhões.
13. Itaquaquecetuba – R$ 9.519.618 bilhões.
14. Arujá – R$ 8.293.370 bilhões.
15. Carapicuíba – R$ 6.854.706 bilhões.
16. Jandira – R$ 4.908.360 bilhões.
17. Ferraz de Vasconcelos – R$ 4.740.673 bilhões.
18. Ribeirão Pires – R$ 3.891.003 bilhões.
19. Poá – R$ 3.769.347 bilhões.
20. Santa Isabel – R$ 1.658.733 bilhão.
21. Guararema – R$ 1.546.741 bilhão.
22. Biritiba-Mirim – R$ 971.016 milhões.
23. Rio Grande da Serra – R$ 960.727 milhões.
24. Pirapora do Bom Jesus – R$ 826.672 milhões.
25. Salesópolis – R$ 251.752 milhões.
TRADIÇÃO DE DADOS
Já mostramos e analisamos fartamente ao longo de décadas, desde que CapitalSocial ganhou a forma inicial de LivreMercado em publicação de papel, que o processo de desindustrialização e aprofundamento da quebra de riqueza não têm paradeiro na região.
Nem poderia ser diferente. Resiste impunemente um jogo de cartas marcadas que protege os improdutivos especialmente na Administração Pública e pune quem ousa apontar os equívocos, quando não a preguiça e a negligência dos poderosos de plantão.
Sempre que a pauta for o PIB Geral da região é relevante munir-se de dados do passado para entender o presente. Quem se fiar exclusivamente em corrida de 100 metros rasos, como é o confronto entre o PIB de 2020 da epidemia do Coronavírus e o PIB de 2021, um PIB de recuperação, terá ingenuidade suficiente para ser ludibriado. O PIB da região cresceu 6,56% em 2021, mas isso não significa quase nada porque só entre janeiro de 2015 e dezembro de 2021, a queda acumulada chega a 20%. O governo catastrófico de Dilma Rousseff é o responsável por essa destruição.
VOLTANDO AO PASSADO
Na edição de abril de 2001 (portanto há 22 anos, 22 anos, 22 anos), produzi uma análise sobre o PIB da região, quando Fernando Henrique Cardoso era presidente da República. Mostrei naquele texto que entre 1970 e 1996, período de estudos do Ipea, o então Grande ABC viveu montanha-russa econômica. Subiu vertiginosamente entre 1970 e 1980, caiu desconfortavelmente na sequência e se recuperou levemente na ponta do estudo. Enfatizei que estávamos bem acima do que éramos no início dos anos 1970, mas caímos assustadoramente a partir de 1984.
Completaria aquele ciclo de análise, agora de forma sucinta, lembrando que entre 1997 e 2002, o presidente Fernando Henrique Cardoso deixou a região ao rés do chão, com perda de 33% do PIB. Na sequência, a região cresceu consideravelmente durante o primeiro mandato de Lula da Silva, em seguida começou a faltar fôlego fiscal com muita gastança sem suporte no segundo mandato e, com a chegada de Dilma Rousseff, o segundo mandato foi interrompido por causa de pedaladas fiscais que somente os fanáticos ousam contestar.
4,57% EM 1970
Voltando ao texto que produzi em abril de 2001, em 1970 a região contava com 4,57% de participação no PIB Nacional. Com os resultados anunciados sexta-feira pelo IBGE, registramos apenas 1,67%. Tem sido mais ou menos essa a toada. Trata-se de perda relativa e absoluta. Relativa porque o ABC Paulista conta com um PIB que em média cresce bem menos que o PIB por si só pífio da média nacional. E em valores absolutos, ou seja, Grande ABC versus Grande ABC, também rateia. A mobilidade social foi para o vinagre da desesperança.
Também comparamos o peso do PIB Geral da região frente o PIB Geral do Estado de São Paulo naquele balanço de 2001 tendo o ano de 1996 como âncora estatística. Se relativamente ao PIB brasileiro de 26 anos encerrados em meados dos anos 1990 a região perdera 60% de participação, no confronto com os paulistas não poderia haver grande diferença, porque os números gerais mostraram equilíbrio do Estado como um todo por conta da migração industrial da Região Metropolitana em direção ao Interior do Estado.
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