Economia

Igualdade socialista de
Diadema é um fracasso

DANIEL LIMA - 26/01/2024

A pretendida igualdade social de Diadema, uma igualdade sonhada por pretensos socialistas que ocupam o governo federal (e universidades a dar com o pau), deveria ser destrinchada pelos pretensos socialistas que ocupam o governo federal (e universidades a dar com pau) como elixir regenerador de conceitos.

Eles, os socialistas da boca para for ou não, vão chegar à conclusão de que a estrada da salvação não passa pelo desprezo ao capitalismo produtivo, muito confundido com capitalismo financeiro.

Capitalismo produtivo produz, com perdão da redundância. Capitalismo financeiro vive principalmente do déficit de competência de governos gastadores que constroem dívidas públicas recorrentemente prorrogadas em forma da diferença entre receitas e despesas. José Dirceu, Lula da Silva e tantos outros, além de economistas ignorantes ou maliciosos, esquecem essa equação.

Ao Estado populista o que interessa é gastar. A vezes, ou muitas vezes, o gasto ganha conotação de investimentos que não resistem à história em forma de transformações sociais que só se agravam. Na entrevista desta semana de José Dirceu à CNN, tivemos um clássico dessa distorção calculada. 

SOCIALISMO ESGOTADO 

O socialismo implantado à moda brasileira em Diadema, onde o PT elegeu em 1982 o primeiro prefeito no País, o metalúrgico Gilson Menezes, é um socialismo que se esgotou há muito tempo. Mais propriamente desde a queda do Muro de Berlim.

Ou alguém acredita que a porção oriental da Alemanha que se mandou sem mala e sem cuia à porção ocidental era formada por débeis mentais? 

Diadema goza de inúmeras vantagens competitivas no campo econômico, mas cansou de enxotar empreendedores com omissão ou sobrecarga tributária, agora em processo de recuo.

Por essas e outras despencou no ranking de PIB per capita no Estado de São Paulo. Passou à posição 400 entre pouco mais de 600 competidores. Uma situação incompatível, quando não irresponsável, ao se considerar o potencial econômico de que dispõe. 

POUCOS RICOS

A igualdade social em Diadema, a mais expressiva na região e uma das mais latentes no Brasil, é a igualdade do fracasso. Ricos são proporcionalmente uma minoria cada vez mais frágil. Pobres e Miseráveis avançam a cada temporada. 

A proporção de famílias de classe rica em Diadema, em confronto com as famílias de pobres e miseráveis, é muito menor do que nas três principais cidades da região. E a proporção de famílias de pobres e miseráveis também é muito maior em Diadema do que em Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Apenas 1,4% das famílias de Diadema são enquadradas no critério de ricos, enquanto os pobres e miseráveis chegam a 22,2%.

Em Santo André que jamais foi socialista e apesar de decadente há muito tempo, há 5,3% famílias de classe rica para cada grupo de 13,6% de pobres e miseráveis.

Em São Bernardo a proporção é de 4,9% de ricos para 17,6% de pobres e miseráveis, ante São Caetano de 7,4% e 16,3%. 

TRIO MAIS RICO

Conclusão preliminar? Não passa de enganação que a suposta desigualdade social em Santo André, São Bernardo e São Caetano, relativamente aos pobres e miseráveis, é muito maior que em Diadema. Afinal, supostamente, quanto menor a diferença de ricos ante pobres e miseráveis, menos desigual seria uma sociedade.

Diadema estaria, portanto, muito aquém da pretensa igualdade na disputa entre ricos, pobres e miseráveis. Santo André, São Bernardo e São Caetano seriam menos desumanas e não requereriam reparos. Se mais ricos das três cidades fossem pobres e miseráveis, teríamos uma sociedade mais próxima da perfeição socialista? Ou, alternativamente, a saída seria mesmo Diadema contar com mais ricos e menos pobres e miseráveis?

Se você chegou até aqui e ainda não entendeu essa equação é porque deixei para o que se segue agora exemplos definitivos de que os conceitos de desigualdade e igualdade precisam ser arbitrados com muito cuidado.   

FRATURAS EXPOSTAS

A diferença de consumo, em valores monetários, entre os 13.502 famílias de classe rica de Santo André e as 34.789 famílias de pobres e miseráveis é de 18,9 pontos percentuais. Os ricos de Santo André contavam com potencial de consumo no ano passado (segundo estudos especializados da Consultoria IPC) de 22,5% do total geral, enquanto os pobres e miseráveis não passavam de 3,6%.

Nesse jogo de 22,5% a 3,6%, temos uma goleada de diferença. Santo André é, supostamente, segundo a dialética socialista, extremamente desigual.

São Bernardo dos revolucionários sindicalistas liderados por Lula da Silva, não seria menos estupidamente desigual segundo a ótica socialista. Afinal, 20,1% do potencial de consumo disponível no ano passado, são detidos por ricos, cujas famílias representam 4,9% da população. Já os 17,5% de famílias de pobres e miseráveis ficaram com 5,9% do potencial de consumo.

São Caetano, que jamais flertou com o socialismo, feita pelo capitalismo industrial que também se esvai, oferece dados de desigualdade de consumo também expressivos: embora conte com 7,4% de famílias de classe rica, amealhou potencial de consumo no ano passado que representava 19,9% do total, enquanto os pobres e miseráveis, 16,3% da população, contava com apenas 4,1% de participação.

EMPATE EM DIADEMA 

E a socialista Diadema? Ora, o 1,4% de famílias de classe rica ficou com 10% do potencial de consumo, resultado tenuamente superior aos 9,0% de potencial de consumo de pobres e miseráveis, que representam 22,2% da população.

Resumo: enquanto em Santo André, São Bernardo e São Caetano as famílias de classe rica marcam superioridade sobre pobres e miseráveis no potencial de consumo, com respectivas diferenças de 18,9, 14,2 e 15,1 pontos percentuais em termos financeiros, em Diadema o que temos é um jogo praticamente empatado. A desigualdade social entre ricos e pobres/miseráveis, como montante monetário de consumo, tornaria Diadema socialista mesmo.

Me parece que essa segunda equação, de potencial de consumo monetário entre essas duas divisões de classe econômica, é mais apropriada do que a primeira como métrica à aferição de desigualdade social. 

MODELO DO FRACASSO

Sei que o assunto requer mais cuidados e abre espaços a contestações porque é sociologicamente nitroglicerina pura, mas os dados essenciais, básicos, fontes de qualquer tipo de desdobramento, estão aí. São irrefutáveis.

Diadema é menos agressivamente diferente na distribuição socioeconômica do que as três principais economias da região. Está portanto mais próxima da igualdade social sonhada por sonhadores ou demagogos de plantão. 

A má notícia é que a menos desigual Diadema está distante da riqueza social das supostas mais desiguais Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Traduzindo em termos mais elucidativos para quem tem dificuldade de juntar lé com cré: o modelo econômico voluntário que construiu as três principais cidades da região, no ritmo de uma industrialização decadente nas duas últimas décadas, foi muito mais efetivo em termos de transformações sociais do que o programado modelo socialista implantado em Diadema, desde Gilson Menezes, com os partidos de esquerda dividindo o comando do Paço Municipal. Exceção aos oito anos de um supostamente liberal Lauro Michels, que não interferiram no placar final.

COMPARAÇÃO CRUEL

Se alguém ainda tem dúvidas, basta comparar o potencial de consumo de Diadema com os concorrentes locais: o PIB de Consumo per capita de Diadema no ano passado era de R$ 32.415,34, enquanto Santo André contabilizava R$ 47.416,98, São Bernardo R$ 40.487,76 e São Caetano R$ 51,403,84. A menos desigual Diadema está muito aquém, portanto, das pretensas mais desiguais Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Para não dizerem que fiz escolhas direcionadas a enfrentamentos desajustados a determinadas realidades históricas, lembro que tanto o PIB de Consumo per capita de Mauá quanto de Ribeirão Pires também são superiores ao de Diadema.

Mauá registrou no ano passado R$ 36.552,13, enquanto Ribeirão Pires apontou 36.05989.  Diadema só supera Rio Grande da Serra, e mesmo assim por margem mínima: R$ 32.415,34 antes R$ 32.176.88.

Convenhamos que para quem está no ponto nobre da logística regional, bafejada pela sorte de contar com a vizinhança da Anchieta, da Imigrantes e do Rodoanel, Diadema é um case de extraordinário fracasso econômico preponderantemente porque não soube equilibrar com sabedoria o social e o econômico como partes da mesma laranja de desenvolvimento no sentido mais amplo do conceito. E está pagando caro por isso.

REPETIR DESASTRE

É uma pena que esse desenlace de reconfiguração problemática, porque a indústria de transformação foge da região como o diabo da cruz, acabou por contaminar o vigor e a tenacidade com que Diadema se especializou em políticas públicas, inclusive no setor cultural.

A revista de papel LivreMercado, criada por mim em 1990 e incorporada por CapitalSocial digital, não perdeu oportunidades para mostrar uma Diadema que parecia conciliar crescimento econômico e avanços sociais. Entretanto, ao se deixar levar pelo proselitismo ideológico do Estado Todo Poderoso também em nível municipal, Diadema deu com os burros nágua.

Algo que, como se observa, o governo federal, incorrigível Recruta Zero, pretende ressuscitar. O desastre já é conhecido, porque repetitivo.

Para quem não sabe o que significa potencial de consumo, e isso não é pecado, simplificadamente diria que é tudo o que cada família tem disponível em forma de rendimentos e reservas financeiras.

VIÉS POPULISTA

O sonho da igualdade social que Diadema acalentaria tendo, mesmo por base uma participação econômica muito abaixo de cidades mais ricas, ou menos problemáticas, se esvai exatamente quanto se dirige mais fundo nesse embaralhamento numérico de lógica social irrefutável.

Ser menos desigual socialmente não significa, portanto, que se tem o melhor dos mundos. Economias internacionais mais maduras são menos desiguais que um Brasil de desigualdades mais pronunciadas porque são sociedades que não enxotaram o capitalismo nem glorificaram o socialismo autoritário na forma ou no conteúdo, quando não duplamente.

Diadema, no caso, impôs com gestores municipais um viés populista que só recentemente se deu conta de que quem paga a conta do desenvolvimento social é quem produz riquezas, não impostos. O primeiro pode ser infindável, ou mais duradouro. O outro corre contra o relógio da exaustão.



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