Economia

Mauá lidera emprego;
pós-Dilma segue cruel

DANIEL LIMA - 31/01/2024

Detentora da cadeia de produção de químicos e petroquímicos como salvação de lavoura de empregos industriais e arrecadação tributária, Mauá liderou o saldo líquido de empregos formais em 2023 no conjunto de atividades econômicas. O resultado foi anunciado ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

A região como um todo acumulou saldo de 16.398 postos de trabalho. Ainda faltam 41.415 para zerar o estrago da então presidente Dilma Rousseff, em dezembro de 2016. Vamos fazer na edição de amanhã uma análise especifica sobre esse passivo, com estimativa de quando supostamente poderá ser liquidado. O prazo aumentou em relação aos primeiros meses do governo de Lula da Silva.

O montante deficitário dos últimos sete anos na região, ou seja, a partir de janeiro de 2017, quando três dos atuais prefeitos assumiram os cargos, equivale a 75 fábricas de empregos iguaizinhas as da Toyota, que deixou São Bernardo. A multinacional contava com 550 funcionários na produção de autopeças. 

CONTA SEM LOROTA

Qualquer informação que você tenha consumido que coloque outro Município na liderança do saldo de empregos formais na região na temporada passada não passa de fake news. A conta é de faz-de-contas para quem leva a economia a sério. Ou seja: o placar do emprego transformado em aparelhagem propagandística não passa de fake news.

A contabilidade que vale mesmo segundo especialistas e que foi adotada há muitos anos por CapitalSocial é formada de valores relativos, não de valores absolutos.

Valores absolutos, que têm tanta sustentação para a métrica de emprego industrial quanto um tiro nágua, se exprimem no caso de Santo André ao somar saldo de 5.948 empregos na temporada passada, de São Bernardo ter chegado a 4.926 do total regional de 16.398, enquanto Mauá chegou a 3.952, Diadema a 2.000, Ribeirão Pires a 456, Rio Grande da Serra a 129 e São Caetano ter registrado perda de 1.013. 

MAUÁ MELHOR ESTOQUE

Esses valores absolutos são a dimensão regional do comportamento bruto do emprego formal na região, mas não resistem a comparações internas e externas que vão muito além da superfície.  

O que vale mesmo, porque uniformiza diferenças de tamanhos dos respectivos territórios, é a contagem relativa. Quantos empregos cada Município somou na temporada passada levando-se em conta o estoque geral de dezembro do ano anterior? O total isoladamente não dá a dimensão dos fatos.  É preciso decodificá-lo.

É nesse ponto que Mauá lidera. O estoque de emprego geral, em todas as atividades, subiu 6,02% nos 12 meses. Ou seja: para cada 100 trabalhadores formais que constavam das planilhas das empresas de Mauá em dezembro de 2022, foram criados seis novos empregos.

ABSOLUTOS E RELATIVOS

No caso de Santo André, que somou mais empregos em números absolutos, o crescimento relativo e, portanto, revelador da temperatura de negócios, não passou de 2,93%. 

Santo André teve um desempenho um pouco superior ao 1,89% de São Bernardo. Diadema ficou próximo dos dois maiores municípios da região porque o saldo geral de 2.000 significou crescimento relativo de 2,29% do estoque anterior.

Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não entram na contabilidade individual dos municípios da região quando se trata de avaliação de emprego formal em números relativos.  As duas cidades não têm tração para competir nesse quesito porque contam com baixo estoque geral de trabalhadores formais, o que leva a potenciais oscilações contraproducentes a análises mais cuidadosas.

Os 456 empregos gerais de saldo do ano passado de Ribeirão Pires significam 0,12% de crescimento do estoque, enquanto em Rio Grande da Serra os 129 empregos gerados em 2023 impactaram o estoque de dezembro de 2022 em 5,12%, muito acima, portanto, de São Bernardo e de Santo André.

Já no caso de São Caetano, único endereço regional a contabilizar perda líquida em relação a dezembro de 2022, os 1.013 trabalhadores revelam queda de 0,98% no estoque de 109.032 carteiras assinadas. 

MAIS ATENÇÃO!

Voltando à questão metodológica antes de partir para o déficit histórico que a região herdou dos dois anos de recessão mais agressiva da história, entre 2015 e 2016, a métrica que divide o saldo de empregos pelo estoque é utilizada por todos os técnicos de distintas áreas para enquadrar municípios e Estados, quando não países, a um referencial sustentável.

Já repararam que na divulgação de índices de criminalidade os municípios e os Estados passam por decantação? Em números absolutos, por exemplo, por ser o Estado mais populoso do País, São Paulo lidera a contagem de homicídios, entre outros índices, inclusive no total de empregos formais. Por isso a conta bem feita é a conta que divide o total de crimes pela população e de empregos formais pelo estoque.   

O ranking dos municípios mais atingidos pela letalidade do Coronavírus também segue a lógica da mesma divisão. Caso contrário, Santo André, por exemplo, sempre teria mais casos de morte do que São Caetano, cuja população é apenas um quarto da vizinha. Quando se verifica a divisão dos casos de mortes pela população, São Caetano é disparadamente mais sensível. Densidade populacional e idade média mais avançada da população pesam mais.  

MUITO SURREAL

Tudo isso parece tão impressionantemente corriqueiro no jornalismo que a iniciativa de esclarecer o conceito chega a ser surreal, porque ainda se torna necessária para que os leitores não comprem gato de populismo informativo por lebre de cientificidade.

Resumo da história no caso de empregos formais no ano passado na região: Mauá mostrou-se mais resiliente que os demais municípios e São Caetano, único com perdas líquidas, deveria enveredar por um caminho de rastreamento detalhado das fontes de vazamento.

Sem maiores detalhes, que ficarão para a próxima edição, a região ainda sofre com déficit do emprego formal de 41.415 carteiras assinadas. Perdemos nos dois últimos anos da presidente Dilma Rousseff o total de 94.986 carteiras assinadas.

Durante os dois anos cheios do presidente-tampão Michel Temer e os quatro anos de Jair Bolsonaro, a região baixou o prejuízo para os 41.415 já mencionados. Basta dividir esse número por 550 empregos perdidos com a debandada da Toyota para verificar que o buraco ainda persistente equivale a 75 fábricas da multinacional japonesa em forma de empregos gerais, não exclusivamente industriais. 

DADOS NACIONAIS

Segundo boletim informativo no Ministério do Trabalho e Emprego, comandado por Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo durante parte do governo de Dilma Rousseff, o estoque de empregos formais no Brasil alcançou 43.928.023 postos de trabalho. Como a região conta com um estoque geral em dezembro passado de 747.077, a participação relativa é de 1,70%. O resultado é semelhante à participação da região no PIB Nacional de 2021 (os dados mais atualizados) que registrou 1,67%.

Em termos de participação relativa nos resultados do ano passado, os 16.398 adicionais de emprego com carteira assinada durante os 12 meses equivalem a 1,10% do total de 1.483.598 registrados no País. Ou seja: uma fatia abaixo da média histórica refletida no estoque geral da região.

A maior fatia do estoque de emprego formal na região se concentra nas atividades de serviços (388.683) e de comércio (154.055). A indústria contabiliza estoque histórico de 175.585 (participação relativa no total de empregos de 23,02%), enquanto a construção civil registra 44.952 e a agropecuária apenas 110 carteiras assinadas.

Num exemplo que confirma o prevalecimento de empregos relativos, o melhor desempenho do ano passado, segundo o Ministério, se deu no Norte do País, que gerou 106.373 postos de trabalho. Uma participação relativa de 5,2% no estoque geral interno. O Estado de São Paulo gerou quase quatro vezes mais saldo positivo (390.719) mas não passou de 3% de avanço do estoque. Menos relativamente aos 4,7% do Rio de Janeiro, que gerou 160.570 postos de trabalho.



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