Sociedade

Sete pecados capitais que justificam
a marca Província do Grande ABC

DANIEL LIMA - 22/07/2011


Perguntam-me leitores quais são os principais focos da enfermidade social que justificariam a expressão Província do Grande ABC que incorporei à tradicional identidade regional? Responderei de supetão nestas linhas, sem prévio estudo, baseado na experiência de muitos anos como profissional de jornalismo, nos encantos e nos desencantos que essa região proporciona.


Listo o que chamaria de Sete Pecados Capitais do Provincianismo do Grande ABC, mas alerto sobre a provisoriedade da expressão. Não porque acredite sinceramente que a relação venha a ser desbaratada pela mobilização regional. Muito pelo contrário. É provisória porque um mergulho mais profundo na realidade regional possivelmente me remeteria a nova leva de incorreções, por assim dizer.


Ou seja: os sete pecados abaixo relacionados e explicados sucintamente integram a Série A do Provincismo do Grande ABC. Quem sabe outros sete que não me ocorrem agora, nessa crônica feita às pressas, integrariam a Série B?


Territorialismo separatista – A Província do Grande ABC se exprime numa burra divisão em sete partes municipalistas que atomizam a força que o conjunto permitiria avançar sobre obstáculos nas esferas locais, estadual e federal. Somente em situações muito específicas, nas quais não brotem qualquer resquício de risco municipalista, os agentes públicos, principalmente, se dão conta de que podem ir adiante em conjunto. Nada contra a defesa de interesses municipais, legítimos, mas tudo contra a ausência do mesmo vigor em abordagens regionalistas despidas de preconceitos.


Exibicionismo midiático – A Província do Grande ABC mantém uma disputa surda envolvendo separadamente ou não dirigentes públicos e representações econômicas, sindicais e culturais para definir quem fica com o maior naco de representatividade municipal e extra-municipal. Disputar a vitrine midiática é uma guerra surda e ensandecida, movida principalmente pelo conceito de que apenas supostas boas notícias obteriam respaldo dos veículos de comunicação. Exceto em situações de notícias desagradáveis seletivamente orquestradas.


Mandraquismos estatísticos – Essa é uma especialidade patética de quem fura os olhos de ingenuidade, negligência e ignorância de agentes de comunicação para expor números e conceitos fantasiosos. Geralmente a guerrilha de mentiras despudoradas recheadas de engenhosidade semântica e de imprecisões históricas contempla interesses partidários e econômicos. Adota-se como escudo da política de aventureirismo informativo a impermeabilidade dos dados estatísticos a confrontos regionais, estaduais e nacionais. Dá-se enfoque de exclusividade a situações generalizadas ou se omitem descaradamente questões exclusivas que fujam do figurino de interesses localizados.


Protecionismo delinquente – Por mais que se odeiem não falta entre agentes públicos e privados o exercício solidário de um código de conduta corporativo provavelmente inspirado em máfias napolitanas. Trata-se da autoproteção contra intempéries de elementos estranhos ao ambiente de delinquência. A blindagem coletiva é aplicada seguindo vários modelos, mas o mais comum é o congelamento de relações com quem contrariar interesses que se antepõem ao conjunto da sociedade. Como o conjunto da sociedade é patético, o mandonismo prevalece.


Raquitismo organizacional – Por mais que indicadores sociais e econômicos sejam relevantes à construção de regionalidade embasada em dados que favoreçam investimentos, barricadas de individualismos prevalecem nas instituições públicas e privadas. Raramente expressões que tenham o significado tácito de ações regionais integram o léxico das lideranças. Apenas quando a conveniência está acima da territorialidade municipal ocorrem espasmos de coletivização regional. O cruzamento de banco de dados municipais, sistematizados e disponibilizados com ciência e competência em entidade regional do tipo Clube dos Prefeitos é apenas um sonho, mesmo após duas décadas de atuação da entidade.


Intelectualismo de araque – Esperar que a Província do Grande ABC saia do lamaçal tático e se projete rumo ao céu estratégico é desdenhar a realidade histórica de que as escolas de Ensino Superior da região não passam de depósitos de acadêmicos voltados ao próprio umbigo. Encontrar um especialista em regionalidade em qualquer dos endereços das faculdades e universidades da região tem sentido insano de procurar agulha em paiol. Um e outro especialista temático sem intimidade com a realidade regional são requisitados de vez em quando pela Imprensa para embromar a regionalização de análises, geralmente com viés edulcorado.


Fragmentismo social – Já se foram os tempos em que as comunidades locais se mobilizavam em sociedades amigos de bairros e assemelhados para reivindicar principalmente infraestrutura social. A penumbra midiática de uma área obscurecida pela pujança da Capital de veículos de comunicação absorvedores de audiência e os desarranjos econômicos provocados pela desindustrialização, entre outros vetores, se fazem inibidores dos valores culturais. Não restou praticamente nada que lembre movimentos coletivos. Que não podem ser confundidos com movimentos corporativos, válidos, legítimos, mas nem sempre favoráveis ao coletivo social.


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