Desde a maior depressão da economia do Grande ABC em todos os tempos (os anos 2015 e 2016, com Dilma Rousseff na presidência da República), o saldo de empregos com carteira assinada continua negativo, apesar da recuperação nos governos de Jair Bolsonaro e Lula da Silva. Ao se encerrar o segundo ano do terceiro mandato do ex-metalúrgico, o Grande ABC contabiliza déficit de 10.856 postos de trabalho. Esse número corresponde a arredondadas 20 fábricas da Toyota.
O saldo positivo da temporada de 2024, de 30.559 empregos formais, anunciado hoje pela mídia, confirma a recuperação no ano anterior, quando foram gerados 16.398 empregos na contabilidade líquida, entre contratações e demissões.
Ter a fábrica de autopeças da Toyota como referência quantitativa do comportamento do emprego formal na região é uma maneira de contar com um localizador bastante visível para traduzir a dimensão do desastre chamado Dilma Rousseff – um desastre negligenciado por todas as instituições do Grande ABC, porque jamais alertado, analisado e confrontado. Apenas este jornalista detectou a hecatombe e a tornou espécie de âncora editorial para efeitos econômicos e sociais. Nem poderia ser diferente. O diferente é ignorar o desastre e suas consequências.
TERRITÓRIO PERDIDO
Uma território que não leva em conta a conta negativa ou positiva do emprego formal e, pior que isso, com dados dantescos, não pode ser chamado de território comprometido com o futuro. Não se tratou o período de um atropelamento econômico. Foi uma catástrofe que ainda não se esgotou. Como se fosse possível se esgotar após tantos efeitos negativos nos oito anos que se seguiram até dezembro do ano passado.
Quem sabe ainda nesta temporada o governo Lula Silva consiga zerar o déficit provocado por Dilma Rousseff, a quem apoiou como sucessora presidencial.
A comparação entre emprego formal no Grande ABC com a fábrica da Toyota que se escafedeu de São Bernardo precisa ser relativizada. Trata-se de algo precário. Quantidade de postos de trabalho não é necessariamente qualidade.
FALTA MAIS IBGE
Quando o IBGE disponibilizar dados mais detalhados do mercado de trabalho nos municípios brasileiros, será possível produzir avaliação que junte qualidade e quantidade. O emprego industrial é agregador de mais valores monetários e qualidade de trabalho na maioria dos municípios brasileiros.
A redução do déficit do emprego formal na região pós-desastre de Dilma Rousseff começou mesmo e para valer nos quatro anos do então presidente Jair Bolsonaro. E ganhou mais fôlego com Lula da Silva. Bolsonaro enfrentou dois anos de pandemia do Coronavírus.
O balanço geral dos quatro anos de Bolsonaro apontou para a recuperação de 37% dos empregos com carteira assinada destruídos durante os dois últimos anos de Dilma Rousseff, quando o PIB Geral do Grande ABC caiu 22%. Nada sequer semelhante em todo o território nacional. A dependência do setor automotivo, a Doença Holandesa da região, é fatal nos dias tenebrosos.
Durante os 48 meses de presidência de Jair Bolsonaro, o Grande ABC acumulou saldo de 37.183 postos de trabalho. O PIB do Grande ABC no período ainda não está consumado pelo IBGE. Não se pode desconsiderar os estragos da pandemia no governo Jair Bolsonaro. Em 2020, foram perdidos 48.948 postos de trabalho. Mais, portanto, que todo o saldo geral de quatro anos.
PERIODOS TORMENTOSOS
Embora os números finais sempre passem por ajustes, durante os dois anos finais de Dilma Rousseff houve perda líquida de 100.132 postos de trabalho nas empresas de todas as atividades na região. Isso significa que a cada mês, em média, foram destruídos 4.172 empregos formais.
Já o déficit do emprego industrial durante esse período alcançou 67.814 postos de trabalho. Com Fernando Henrique Cardoso e desastrados oito anos na região (diferentemente do que significou para o País como um todo), foram perdidos arredondados 80 mil empregos industriais. O impacto do governo Dilma Rousseff foi proporcionalmente muito maior. Afinal, um período de dois anos e um período continuo de oito anos são coisas diferentes. Basta fazer as contas e observar qual foi a perda média a cada nova temporada.
A média mensal de empregos formais criados durante o governo de Jair Bolsonaro em quatro anos registrou 774. Bolsonaro garantiu saldo positivo de 9.295 carteiras assinadas a cada temporada – ou seja, a cada 12 meses.
A ancoragem dos dados de emprego formal é o ano de 2014, ou seja, antes do segundo mandato de Dilma Rousseff quando, já, de fato, o expansionismo fiscal, entre muitas bobagens macroeconômicas, levou o Brasil à maior recessão da história – nada comparável, repetimos, ao que ocorreu no Grande ABC. Em dezembro de 2014 o Grande ABC contava com 831.370 trabalhadores com carteira assinada.
Nas duas temporadas já encerradas do terceiro mandato do presidente Lula da Silva, o saldo de empregos formais chegou a 41.415, média mensal de 1.725. Portanto, muito acima da média consumada pelo antecessor abatido pelo Coronavírus.
MELHOR CÁLCULO
Numa próxima edição sobre o balanço desses dois anos de Lula da Silva vamos expor detalhadamente o comportamento de cada Município do Grande ABC. A quantidade de empregos gerados não é o mais adequado instrumento de medição da reação individual e mesmo conjunta da região.
CapitalSocial segue à risca a lógica de estabelecer medição que leve em conta o estoque de emprego formal. A evolução que avalia apenas os números absolutos leva a conclusões equivocadas. Uma cidade como Santo André sempre terá saldo de empregos maior que uma Rio Grande da Serra, assim como a Capital do Estado terá domínio sobre Santo André. Agentes públicos costumam ignorar esse preceito técnico-ético quando os números os favorecem. Confundem guaraná com groselha.
Em termos quantitativos, nos dois anos já encerrados de Lula da Silva, quem mais obteve saldo positivo foi São Bernardo com 16.044 novos postos de trabalho. Santo André contabilizou 14.243, São Caetano 3.338, Diadema 5.505, Mauá 6.219, Ribeirão Pires 1.477 e Rio Grande da Serra 131.
SOBE E DESCE
Numa edição de maio de 2018 escrevi para CapitalSocial que o Grande ABC precisaria de nove anos para recuperar o estoque de emprego industrial pós- Lula da Silva, em dezembro de 2010. Mais que isso: afirmei categoricamente que jamais recuperaríamos os empregos perdidos nos sete anos seguintes, a partir de janeiro de 2011. Numa das próximas edições vamos explorar essa pauta.
O déficit do emprego industrial formal pós-Lula da Silva, em dezembro de 2016, chegou a 63.674 trabalhadores. Quando Lula da Silva deixou a presidência depois de oito anos de governo a bordo de um PIB que cresceu 7,5% em 2010, turbinado pela gastança pública, a região contabilizava saldo positivo de 55.638 empregos no setor, contando-se a partir de janeiro de 2003, em substituição a Fernando Henrique Cardoso, que deixou um buraco de mais de 80 mil empregos.
O que veio depois de Lula da Silva em forma de Dilma Rousseff foi um desastre: perdemos a cada mês 758 trabalhadores industriais. Uma conta simples de fazer: o buraco chegou a 63.674 nesse período.
ANOS DOURADOS
Só para se ter uma ideia de como a cronologia do emprego industrial é devastadora na região, basta lembrar que em 1994, primeiro ano do Plano Real, que colocou ordem na casa monetária do País e provocou série de grandes mudanças microeconômicas e macroeconômicas, o Grande ABC contava com 276.650 empregos no setor.
Mesmo nos anos dourados de Lula da Silva, ao final de 2010, o Grande ABC não chegou muito perto disso ao contabilizar 249.472 trabalhadores no setor. Vamos atualizar esses dados numa próxima edição. De Jair Bolsonaro aos dois primeiros anos de Lula da Silva.
QUADRO NACIONAL
A Agência Brasil divulgou ontem que o Brasil fechou 2024 com saldo positivo de 1.693.673 empregos formais com carteira assinada. O número representa um crescimento no ano de 16,5% em relação ao período de janeiro e dezembro de 2023, quando o saldo ficou positivo em 1.454.124 empregos.
A Agência Brasil afirma que o saldo positivo de 2024 foi resultado de 25.567.548 contratações e 23.873.575 desligamentos. O estoque de vínculos celetistas ativos contabilizou 47.210.948 vínculos em dezembro, uma variação de 3,7% em relação ao estoque do ano anterior, quando foram contabilizados 45.517.275 vínculos. No acumulado de dois anos, 2023 e2024,o saldo de empregos no país foi positivo em 3.147.797empregos.
O setor de Serviços foi o que mais empregou em 2024,com 929.002 empregos. Na sequência – sempre segundo a agência -- vem o comércio, com 336.110 novas vagas; a indústria foram 306.889; na construção civil o saldo foi de 110.921 empregos; e, na agropecuária, foram gerados 10.808 empregos.
O resultado também foi positivo no ano passado em todas 27 unidades da federação, com destaque para São Paulo, com 459.371 empregos gerados; Rio de Janeiro, com 145.540; e Minas Gerais, com 139.503 empregos.
“O emprego foi também positivo nas cinco regiões brasileiras, com o Sudeste gerando 779.170 postos (+3,35%), o Nordeste +330.901 (+4,34%), o Sul, com a recuperação do Rio Grande do Sul, após o desastre das enchentes no início do ano, gerou 297.955 postos (+3,58%), ficando em 3º lugar entre as regiões. O Centro-Oeste gerou 137.327 postos (+3,38%) e o Norte 115.051 postos (+5,07%).
O salário médio real de admissão ficou em R$ 2.177,96, com aumento de R$ 55,02 (+2,59%) em comparação com o valor do mesmo período de 2023 (R$ 2.122,94). Para os trabalhadores considerados típicos o salário real de admissão foi R$ 2.211,13 (1,5%, mais elevado que o valor médio, enquanto para os trabalhadores não típicos R$ 1.941,72 (10,8%, menor que o valor médio).
Apesar do resultado positivo no ano, o saldo em dezembro apresentou uma redução de -535.547 de empregos, variação relativa de -1,12%, similar à registrada em períodos de crescimento do emprego.
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